sexta-feira, 23 de março de 2018

AS DUAS ESPADAS DE DEUS!



A Igreja e O Governo

Deus estabeleceu tanto a igreja quanto o governo para refrear o mal.
Afirmar que a igreja ou os cristãos não devem se envolver na política está errada porque ignora o fato de que Deus deu tanto a igreja quanto o governo para restringir o mal nesta era.
Como cristãos todos nós devemos concordar que uma maneira significativa pela qual Deus restringe o mal no mundo é através da mudança do coração das pessoas quando elas confiam em Cristo como seu Salvador (ver 2Co 5.17). Mas nós não devemos transformar este caminho na única maneira que Deus restringe o mal nesta era. Deus também usa o governo civil para restringir o mal, e há muito mal que só pode ser contido pelo poder do governo civil, pois sempre haverá muitos que não confiam em Cristo como seu Salvador e muitos que não o obedecem totalmente.
Por exemplo, por que precisamos de leis contra dirigir embriagado? Alguém poderia dizer: “Nós realmente não precisamos de leis contra dirigir embriagado. A influência do Evangelho deve ser suficiente para mudar a sociedade. Se os cristãos estivessem realmente fazendo seu trabalho de testemunhar aos outros, e se os cristãos estivessem realmente sendo um bom exemplo de direção sóbria, isso seria suficiente para eliminar todos os alcoólatras do nosso país”.
Claro, essa é uma posição tola. Nós reconhecemos que nesta era atual há muitas pessoas que não aceitam o Evangelho. (E infelizmente, até mesmo alguns daqueles que confiam em Cristo continuam a fazer coisas tão tolas). Até que Cristo volte, sempre haverá condutores embriagados que não serão persuadidos pelo Evangelho Cristão ou por sua consciência ou pelo exemplo de outros ou pelo senso comum. Eles ainda se embebedarão e então dirigirão em nossas ruas a menos que haja algum outro meio de restringir este mal do que apenas pregar o Evangelho.
A maneira que Deus estabeleceu para parar os motoristas bêbados nesta era é o poder do governo civil. O governo foi “instituído por Deus” para que “não fosse um terror para a boa conduta, mas para o mal” (Rm 13.1,3). O principal meio que Deus usa para parar os que dirigem embriagados hoje é o governo civil tirar a liberdade de dirigir desses motoristas bêbados. Se persistirem em dirigir de qualquer maneira, irão para a cadeia. Deus os restringe dirigir embriagados não apenas quando a igreja pregar o Evangelho, mas também pelo poder do governo civil. O governo é enviado “para punir os que praticam o mal e louvar os que praticam o bem” (1Pedro 2.14).
Para dar outro exemplo, quando as pessoas em certos países pararam de possuir escravos? Não foi quando o Evangelho foi pregado em todo o lugar, mas depois que o governo tornou ilegal tal prática. Isso aconteceu quando muitos abolicionistas cristãos (e outros) influenciaram o governo a mudar suas leis.
Deus usa a igreja e também o governo para refrear o mal na sociedade. Ambos são instrumentos de Deus em âmbitos diferentes, mas que se sobrepõem.

O REINO DE DEUS E O GOVERNO CIVIL, EMBORA DISTINTOS EM NATUREZA E FUNÇÃO, NÃO SE EXCLUEM MUTUAMENTE, NEM SÃO INCOMPATÍVEIS ENTRE SI.

Capítulo XVI - Sobre o Governo Civil - Institutas (E) Vol 4.
Sobre o Governo Civil
1. Transição do governo eclesiástico para o governo civil. Distinção
[1536] Sendo, pois, que foram constituídos para o homem dois regimes e que já falamos suficientemente sobre o primeiro, que reside na alam, ou no homem interior, e que concerne à vida eterna, aqui se requer que também exponhamos claramente o segundo, que visa a unicamente estabelecer uma justiça civil e aperfeiçoar os costumes exteriores.
Primeiro, antes de avançar no assunto, devemos recordar a distinção anteriormente exposta para não suceder o que comumente sucede com muitos, o erro de confundir inconsideradamente as duas coisas, as quais são totalmente diferentes. Porque eles, quando ouvem no evangelho a promessa de uma liberdade que não reconhece rei nem senhor entre os homens, mas se atém unicamente a Cristo, acham que não gozarão nenhum fruto essa liberdade enquanto virem algum poder acima deles. E pensam que nada irá bem, a não ser que todo o mundo se converta a uma nova forma, na qual não haja nem julgamentos, nem leis, nem magistrados nem coisa alguma semelhante pela qual considerem que a sua liberdade está sendo impedida. Mas quem souber discernir entre corpo e alma, entre esta presente vida transitória e a vida por vir, que é eterna, entenderá igualmente muito bem que o reino espiritual de Cristo e a ordem civil são coisas muito diferentes.

Visto, pois, que é uma loucura judaica cercar e encerrar o reino de Cristo sob os elementos deste mundo, e nós, antes, pensamos (como a Escritura nos ensina amplamente) [Gl 5; 2Co 7.21] que o fruto que nos cabe receber da graça de Cristo é espiritual, cuidemos zelosamente de manter dentro dos seus limites esta liberdade, a qual nos é prometida e oferecida em Cristo. Pois, por que é que o próprio apóstolo que nos ordena que não ordena que não nos submetamos de novo “a jugo de escravidão”, noutra passagem ensina que os servos não devem preocupar-se com o estado no qual estejam, sendo que a liberdade espiritual pode muito bem subsistir na servidão civil? Nesse sentido também devem ser entendidas outras declarações que ele faz, quais sejam: que no reino de Deus “não pode haver judeu nem grego; nem escravo num liberto; nem homem nem mulher” [Gl 3.28]. E igualmente: “não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos” [CL 3.11]. Com essas sentenças Paulo quer dizer que é indiferente a condição a que pertencemos entre os homens, ou qual a nação a cujas leis devemos obediência, visto que o reino de Cristo não se localiza nestas coisas.

2. A distinção feita não autoriza a negligência quanto aos deveres civis e cívicos
Todavia, esta distinção não tem como finalidade levar-nos a considerar que as determinações legais relacionadas com práticas manchadas pelo mal não dizem respeito aos cristãos. É a pura verdade que alguns amantes de utopias hoje em dia falam dessa maneira, isto é, afirmam que, como fomos mortos por Cristo para os elementos deste mundo e fomos transferidos para o reino de Deus, para as realidades celestes, devemos considerar como coisa vil e indigna da nossa excelência ocupar-nos dessas solicitudes imundas e profanas concernentes aos negócios deste mundo, dos quais os cristãos devem ficar longe e totalmente afastados. “Para que servem as leis”, dizem eles, “não havendo litigantes nem julgamentos? E que é que têm que ver os litigantes com o homem cristão? E mesmo considerando a proibição de matar, com que propósito nós haveríamos de ter leis e julgamentos?” Mas, como pouco acima advertimos que essa espécie de regime é diferente do reino espiritual e interior de Cristo, também nos é necessário saber, por outro lado, que de forma alguma o repugna.

3. O cristão neste mundo aspirar à eternidade
Dizemos o que acima foi dito porque o reino espiritual já na terra nos faz sentir certo gosto do reino celestes, e nesta vida mortal e transitória certo gosto da bem-aventurança imoral e incorruptível. Mas o objetivo do reino temporal é fazer que possamos adaptar-nos à companhia dos homens durante o tempo que nos cabe viver entre eles, estabelecer os nossos costumes em termo de uma justiça civil, viver em harmonia uns com os outros, e promover e manter paz e tranquilidade comum. Reconheço que todas estas coisas seriam supérfluas, se o reino de Deus, que ora se matem em nós, anulasse a presente existência. Mas se é da vontade de Deus que caminhemos na terra enquanto aspiramos à nossa verdadeira pátria, a se, ademais, tais acessórios são necessários nessa viagem para lá, os que querem separá-los do homem vão contra a sua natureza humana.

Porque, no tocante ao que os tais sonhadores alegam, que deve existir na igreja uma perfeição tal que seja suficiente para cobrir todas as leis, ou que as torne dispensáveis, é pura imaginação deles tal perfeição; jamais se poderá encontrar na comunidade dos homens. Pois, se a insolência dos maus é tão grande e a maldade tão rebelde que a duras penas se pode manter a ordem pelo rigor das leis, que se poderá esperar deles, se descobrirem que gozam de desenfreada liberdade para a prática do mal? Pois é preciso um esforço enorme para à força contê-los e impedi-los de praticar o mal!

4. Alguns benefícios do governo civil
Haverá, porém, logo adiante, um espaço mais oportuno para se falar da utilidade do governo civil. No presente, queremos tão-somente dar a entender que, querer rejeitá-lo é uma barbárie desumana, pois que a sua necessidade entre os homens não é menor que a de pão, água, sol e ar, e a sua dignidade é muito maior ainda. Porque não se relaciona apenas com o que os homens comem, bebem e buscam para o seu sustento (se bem que abrange todas estas coisas, tornando possível aos homens viverem juntos). Contudo, não se limita a isso, mas também visa a benefícios como os seguintes: impedir que a idolatria, as blasfêmias contra o nome de Deus e contra a sua verdade, e outros escândalos relacionados com a religião sejam publicamente fomentados e semeados entre o povo; velar para que a tranquilidade pública não seja perturbada; proteger a propriedade de cada um; vigiar para que os homens façam seus negócios sem fraude nem prejuízo; em suma, que possa expressar-se uma forma pública da religião entre os cristãos, e que a humanidade subsista entre os seres humanos.

Bibliografia
GRUDEM, W. A. (2010). Politics according to the Bible: A Comprehensive Resource for Understanding Modern Political Issues in Light of Scripture (p.48–49). Grand Rapids, MI: Zondervan.
CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã, p.144-148. Edição Clássica (LIVRO IV - Cap. XX), Editora Cultura Cristã.
CALVIN, J., & BEVERIDGE, H. (1845). Institutes of the Christian religion (Vol.3, p.518–521). Edinburgh: The Calvin Translation Society.

Ivan Teixeira

A Bíblia, a Igreja e a Política.


A Bíblia, a Igreja e a Política.



Estou convicto de que Deus pretende que a Bíblia ofereça orientação para todas as áreas da vida, inclusive no tocante ao modo como os governos deve atuar!
Meu propósito neste trabalho é apresentar uma cosmovisão e uma perspectiva bíblicas sobre questões de política, lei e governo. Não pretendo fazer uma exposição secular de posicionamentos políticos, mas apresentar o ensino bíblico sobre os temas.
Concordo com o teólogo Wayne Grudem quando escreve que “a perspectiva de Deus sobre a política é alegre ‘boa-nova’, assim como o restante da Bíblia é boa-nova para todas as áreas da vida! Creio que os ensinos bíblicos a respeito de questões políticas promoverão esperança e mudanças benéficas para as pessoas de todas as nações em que forem aplicados”[1].
Cremos que as boas novas da Bíblia para os oprimidos, para aqueles que anseiam por justiça, para aqueles que desejam paz, para jovens e velhos, fracos e poderosos, ricos e pobres são caminhos maravilhosos da liberdade e de um governo sensato que glorifica a Deus e abençoa a cada ser humano.
A Bíblia como Palavra de Deus tem poder para parar o declínio moral e social de qualquer país. No lugar de declínio, se nós abraçarmos os princípios bíblicos, veremos progresso constante rumo a sociedades melhores, mais agradáveis e produtivas e com menos criminalidade; sociedades mais livres, gentis e felizes, nas quais poderemos viver.
A História comprova que os países que experimentaram grandes visitações de Deus nos avivamentos se tornaram sociedades melhores, mais agradáveis e com governos sensatos e mais justos.
Os princípios e ensinamentos da Bíblia contêm sabedoria proveitosa para todas as nações e para todos os governos.
Mesmos aqueles que não acreditam que a Bíblia é a Palavra de Deus devem analisar e considerar os princípios e ensinamentos bíblicos para um governo e política sensatos.

Pontos de vistas incorretos sobre a igreja e a política:
Meu objetivo aqui ao falar sobre esta temática é esclarecer muitos irmãos e irmãs a respeito destas visões. Não sou exaustivo, mas apenas aponto os tópicos e as referências para situar cada membro das igrejas locais. Um estudo mais profundo, é claro, exigiria uma exposição mais extensa. No entanto, acredito que Deus abençoará meu esforço a tornar este importante tema, igreja e política, claro, acessível e simples para o membro da igreja local.
Afirmo ainda que meu tom não é de erudição, mas sim pastoral. Sempre prezo como pregador e pastor uma tonalidade mais acessível ao povo de Deus. Não gosto de ser aquele “teólogo da varanda”, que apenas ver as pessoas passar nas estradas da vida atinando distante para suas perguntas, dilemas e problemas, mas aquele “teólogo do caminho” que caminhando na estrada ao lado dos transeuntes ouve suas indagações e entende suas dificuldades e desafio, e então fala uma linguagem compreensível ao membro comum da igreja local.

1. O governo deve impor a religião: Um governo sensato não deve, em momento algum, tentar obrigar as pessoas a crer numa religião específica ou segui-la; antes, deve garantir a liberdade religiosa para os seguidores de todas as religiões dentro da nação.
Concordo com as palavras do grande Thomas Jefferson quando redigiu a Declaração de Virgínia para a Instituição da Liberdade Religiosa (1779): “[...] todos os homens terão liberdade de professar e, por argumentos, defender suas opiniões em questões religiosas, o que não diminuirá, nem aumentará, nem afetará de qualquer outro modo sua capacidade civil”.
A visão de impor a religião é contrária à Bíblia e equivocada. Essa visão é incompatível com os ensinamentos do Senhor Jesus e com a própria natureza da fé. Sabemos que a fé ela vem pelo ouvir a pregação, e a pregação da Palavra de Cristo (Rm 10.17). Uma religião imposta não produz conversões verdadeiras. Conversões verdadeiras é obra de Deus Espírito Santo por meio da pregação do santo evangelho que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (cf. Jo 16.7-11; Rm 1.16).

2. O governo deve excluir a religião: Esse ponto de vista entende que é importante excluir a religião totalmente da vida pública. Religião é coisa da vida privada. Se uma pessoa quer ser religiosa que o faça no quarto de sua casa. Os deveres religiosos devem ser praticados em casa de modo discreto.
A visão se excluir a religião do governo é equivocada porque transforma liberdade religiosa em ausência de religião.
Uma coisa é impor uma religião como oficial; outra coisa é a religião influenciar na vida pública e política.
Excluir a religião vai contra a liberdade religiosa e a liberdade de expressão protegidas pela Constituição Federal. “O Estado [deve] prestar proteção e garantia ao livre exercício de todas as religiões”, pois “o Brasil é um país laico”.
A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença, assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.

Expressar uma opinião religiosa em público não é o mesmo que obrigar as pessoas a aceitar esse ponto de vista! Então, a visão de que o governo deve excluir a religião é equivocada e prejudicial para a sociedade livre. Pode-se acrescentar que a visão de excluir a religião do governo tem de partir do pressuposto de que não existe Deus ou de que, se Ele existe, não temos como conhecer Seus padrões morais. Visto que a Bíblia diz, que a autoridade governamental é “serva de Deus para o teu bem” (Rm 13.4). A Bíblia também afirma que os governantes são “enviados para punir os praticantes do mal e honrar os que fazem o bem” (1Pe 2.14), mas como podem fazer isso se não é permitido a porta-vozes de religião alguma lhes dar conselhos a respeito do “bem” e do “mal”?[2]
O perigo dessa visão é que torna o governo um deus e, por conseguinte uma religião.

3. Todos os governos são perversos e demoníacos: Os proponentes desta visão afirmam que o âmbito do poder governamental é o âmbito de Satanás e de suas forças. Afirma-se também que todo governo civil é “demoníaco”[3].
Para basear tal visão tomam-se as palavras de Satanás em Lucas 4.6: “Dar-Te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e a dou a quem eu quiser”.
Afirma-se que Satanás é em termos funcionais “o diretor executivo de todos os governos da terra”.
Rejeitamos peremptoriamente este ponto de vista, pois textos bíblicos retratam o governo civil como uma dádiva de Deus, sujeita ao domínio de Deus (e não de Satanás), usada por Deus para Seus propósitos. Eis alguns desses textos:
Daniel 4.17: Esta sentença é por decreto dos vigilantes, e esta ordem por mandado dos santos; a fim de que conheçam os viventes que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer, e até ao mais humilde dos homens constitui sobre eles.
Romanos 13.1-6: Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por Ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço.
1ª Pedro 2.13-14: Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como enviadas por Ele, tanto para castigo dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem.

Destaca-se que tanto Paulo como Pedro considera que o governo civil sensato se opõe à ação de Satanás na execução da recompensa dos que praticam o bem e no castigo dos que praticam o mal. Satanás incentiva o mal e não o bem. Quando um governo castiga os que praticam o mal está se opondo a Satanás e glorificando e cumprindo o propósito de Deus.
Claro que Satanás pode influenciar alguns indivíduos no governo, mas não está no controle.
Não é bíblica a visão de que todos os governos são demoníacos.

4. A igreja deve se dedicar ao evangelismo, e não à política: Há certos grupos que afastam totalmente sua mente de um engajamento na sociedade e na política. Entende que a igreja, ou os membros dela, deve apenas se dedicar ao evangelismo. Nesta rota entende-se que a igreja é chamada somente para “pregar o evangelho”, e não para falar de política.
No entanto, a pregação do evangelho deve incluir também aquilo que a Bíblia diz a respeito do governo civil. Isso significa que os cristãos aprenderão na Bíblia sobre como influenciar governos de modo que Deus seja honrado, glorificado e a sociedade abençoada. Porventura, os cristãos não são sal e luz do mundo? (Mt 5.13-14). Isso não significa afastamento, mas engajamento.
Mateus 5.13: sal da terra. Como o sal é benéfico de várias maneiras (como conservante, tempero etc.), assim são os discípulos de Jesus que influenciam o mundo para o bem. Mateus 5.14: luz do mundo. Os discípulos de Jesus têm a vida do reino dentro deles como um testemunho vivo para aqueles no mundo que ainda não têm a luz[4].
Deve-se destacar que muitos evangélicos entendem que “devemos apenas pregar o evangelho, e que esse é o único modo pelo qual os cristãos têm esperança de transformar o coração das pessoas e transformar nossa sociedade”. Entendo que a suprema Missão da Igreja em relação ao mundo seja pregar o evangelho a toda a criatura, porém isso não impede os cristãos de se envolverem sabiamente em assuntos civis, políticos e etc., para o bem-estar da sociedade.
Temos exemplo de cristãos dedicados que fizeram um grande serviço na política. Um deles é o grande William Wilberforce, que se envolveu na política tornando-se um grande proponente para o fim da escravatura na Inglaterra. Ele foi o líder do movimento abolicionista do tráfico negreiro. E o que dizer do pastor Martin Luther King? Pastor que se tornou um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e no mundo.
Sabemos que o Senhor Jesus e Seus apóstolos exemplificaram e ensinaram que Deus não está apenas preocupado com o bem-estar espiritual das pessoas, mas também com o bem-estar físico, social e governamental. Nosso Senhor curou as pessoas de enfermidades físicas, ensinou que deveríamos dar a César o que é de César. Seus apóstolos orientaram os cristãos a viverem de forma sensata, justa e piedosamente neste mundo (Tt 2.12).
Paulo conclamou os cristãos a orar “pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e serena, em toda piedade e honestidade” (1Tm 2.2). Oração e ação, essa é a tônica do Cristianismo bíblico! Os cristãos têm uma responsabilidade para com os governos!

5. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo.
É claro que uma visão que diz que a igreja deve apenas tentar mudar as leis e a cultura e não evangelizar é totalmente anti-bíblica e espúria.
Essa foi uma ênfase do Evangelho Social no final do século XIX e início do século XX, com suas campanhas para fazer a igreja trabalhar agressivamente para superar a pobreza, as favelas, o crime, a discriminação racial e outros males sociais. É claro que estas são boas causas, mas o movimento dava pouca ênfase à necessidade de os indivíduos colocarem a confiança pessoal em Cristo como Salvador ou a necessidade de proclamar a Bíblia inteira como a Palavra de Deus e digna de nossa crença.
Muitos bons cristãos podem inconsciente e erroneamente defender essa ideia quando pensam que apenas as boas leis irão resolver os problemas de uma nação ou trazer uma sociedade justa e sensata.
A menos que haja simultaneamente uma mudança interior nos corações e mentes das pessoas, as boas leis por si só trarão má vontade, o cumprimento externo do nível mínimo de obediência necessário para evitar a punição. O bom governo e as boas leis podem impedir muito o mau comportamento, e podem ensinar às pessoas o que a sociedade aprova, mas elas não podem por si mesmas produzir boas pessoas. Cal Thomas e Ed Dobson corretamente advertem: “Mas nós, que somos cristãos, estamos iludidos se achamos que mudaremos nossa cultura apenas por meio do poder político”[5].

PERSPECTIVA EQUILIBRADA!
Essas são perspectivas desequilibradas e até extremas sobre a temática “igreja e política”. A meu ver, precisamos buscar uma tonalidade bíblica que direcione nossa posição sobre o referido tema. Não devemos nos deixar levar pelos extremos, mas procurar equilíbrio desde que seja bíblico.
Entendo que há uma sexta perspectiva que seja equilibra e bíblica: 6. Deve haver uma influência [não imposição] cristã expressiva sobre o governo.
É interessante ter o cuidado para evitar o erro comum de usar versículos bíblicos fora de contexto para corroborar praticamente qualquer posicionamento a respeito de controvérsias políticas atuais. Nós devemos entender os textos em seus contextos e extrair os claros princípios para nossa temática.
Com relação a princípios extraídos dos textos bíblicos, nós devemos entender duas coisas: (1) aqueles princípios bíblicos que são claro, direto e categórico. Por exemplo, a Bíblia ensina claramente que os governos civis foram instituídos por Deus para punir o mal e recompensar o bem; a ideia de que as leis de uma nação devem proteger a vida das pessoas, especialmente das crianças que ainda não nasceram (por isso, sou peremptoriamente contra o aborto). (2) Há aqueles argumentos que lançam mão ou se baseiam em princípios mais amplos. Um exemplo é que a forma preferível de governo é algum tipo de democracia. Nesse caso, o argumento de um governo democrático, não se baseia em princípios bíblicos diretos e específicos, mas em princípios mais amplos (como a igualdade de todas as pessoas, uma vez que foram criadas à imagem de Deus, e a importância de estabelecer limites para o poder do governo humano).
Ainda pode-se argumentar que existem aqueles argumentos baseados numa avaliação dos fatos relevantes no mundo de hoje ou resultados atuais de certas políticas adotadas. Exemplo disso é entender se certas políticas de menos ou mais impostos contribuem para um crescimento ou não da economia de determinado país. Pode-se adquirir em certas políticas de aumento de impostos um crescimento econômico e um grande benefício para os cidadãos. Noutro espectro pode-se obter resultados negativos. Então, devem-se avaliar os resultados atuais de certas políticas adotadas.

SEJA UM INTRUMENTO DE BÊNÇÃO PARA TEU PAÍS, NÃO UM MURMURADOR QUE AMALDIÇOA!
É triste constatar que muitos crentes amaldiçoam o país onde residem. Isso não é sábio e muito menos bíblico. Como cristãos conscienciosos nós devemos seguir os ensinos bíblicos sobre a postura correta para viver num determinado país.
Nós devemos ser luz de bênção, instrução, exemplo, trabalho e testemunho para a sociedade onde vivemos e não trevas que só sabe amaldiçoar e nada faz para mudar, influenciar e redirecionar as pessoas e a nação.
Nós devemos ser sal moderado para preservar o bem-estar e a saúde moral da sociedade onde vivemos e não pessoas insalubres que só sabem reclamar e amaldiçoar as pessoas.

Cada cristão deve buscar o bem-estar da cidade, estado e país onde vive!
O conselho que Jeremias proclamou aos exilados judeus na Babilônia também apoia a ideia de que os crentes podem influenciar leis, culturas e os governos. Jeremias disse a esses exilados: “Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua paz vós tereis paz” (Jr 29.7). Os crentes fiéis a Deus entendem a responsabilidade de se empenharem na promoção do bem-estar social, cultural e político de determinada cidade, Estado ou país. O verdadeiro “bem-estar” de tal cidade será promovido através de leis e políticas governamentais que sejam consistentes com o ensino de Deus na Bíblia, não por aqueles que são contrários aos ensinamentos da Bíblia.
Cada cristão deve oportunamente procurar influenciar a cultura, a política e o governo de tal maneira que possam desfrutar de momentos de paz, felicidade, prosperidade e justiça.
Então, em vez de ficar resmungando, reclamando, choramingando, murmurando e amaldiçoando levante-se e se empenhe para influenciar o país pelas verdades de Deus e orar para que Deus tenha misericórdia e nos dê um governo mais justo! Como Deus disse por intermédio de Jeremias: “na sua paz vós tereis paz”.

Ivan Teixeira


[1] GRUDEM, W. Política Segundo a Bíblia: Princípios que todo cristão deve conhecer, p.19. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 2014.
[2] GRUDEM, 2014, p.44.
[3] BOYD, Greg. The Myth of a Christian Nation, p.21. Grand Rapids: Zondervan, 2005.
[4] Crossway Bibles. (2008). The ESV Study Bible (p.1828). Wheaton, IL: Crossway Bibles.
[5] THOMAS, Cal and DOBSON, Ed, Blinded By Might: Why the Religious Right Can’t Save America (Grand Rapids: Zondervan, 1999), p.51.

domingo, 18 de março de 2018

O DEUS QUE NOS ASSOMBRA!


O DEUS QUE NOS ASSOMBRA!

Essa expressão a primeira vista parece nos assombrar, no entanto ela é bíblica e sua contextura bíblico-teológico têm-se perdido atualmente. O Deus Soberano, Santo, Amoroso e Todo Poderoso parece não nos assombrar. Ele está bem domesticado por alguns.
O texto de minha meditação encontra-se em Lucas 5.9, onde lemos que Pedro ao contemplar o milagre da pesca de uma grande quantidade de peixes “prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor retira-te de mim, porque sou pecador!” (v.8). Ele agiu assim, “pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros” (v.9). Ele foi tomado por um assombro sobrenatural.
A versão ARA reza que a admiração se apoderou de Pedro e os demais que estavam com ele. A palavra admiração é a tradução do grego thambos que pode muito bem ser traduzido como assombro, ou “o espanto o agarrou”[1]. θάμβος … περιέσχεν αὐτὸν. Lit. “O espanto subjugou, domino, triunfou ou venceu ele”[2].
No Novo Testamento thambos aparece apenas mais duas vezes (Lc 4.36 e At 3.10). Em todas estas ocasiões, este assombro aparece como decorrência de uma misericordiosa ação milagrosa do Senhor Jesus[3].
Depois que o Senhor Jesus curou um possesso em Cafarnaum lê-se: “todos foram tomados de grande assombro” (Lc 4.36). Em Atos dos Apóstolos, ao ser restaurado o aleijado, consta: “Encheram-se de admiração e assombro por isso que acontecera” (3.10).
No texto de Lucas 5.9, “Pedro está sobrecarregado pelo seu próprio sentimento de pecaminosidade e indignidade”[4] diante da presença poderosa e santa de Jesus Cristo. Os atos milagrosos, a pregação e o ensino e a presença santa de Jesus produziram reverência assombrosa naqueles que compreenderam que realmente Ele era. Jesus é santo e os homens são pecadores! Isso deveria nos assombrar!
Sempre haverá uma distinção entre nós e o Senhor Jesus Cristo. Ele não é nosso ursinho de pelúcia no qual podemos brincar com Ele. Ele não é um deusinho pacato que podemos manipular. Ele é Santo e isso deveria nos levar a temê-Lo mais e mais.

Assombro e não alegria?
Somos tentados a perguntar: por que temor ou espanto dominante, porque este sentimento dominou Pedro e os demais? Não seriam de esperar antes alegria e louvor, quando o Senhor Jesus agiu poderosamente na grande pesca?
E ainda mais: por que não somos tomados de temor, espanto dominante ou assombro quando estamos diante de Jesus?

A culpa é do Iluminismo!
O fato de hoje não sermos mais tomados de espanto e temor quando Deus interfere é culpa da influência do Iluminismo em nossas teologias e pregações.
A influência do Iluminismo na teologia e na pregação transformou o Deus, ao qual o próprio Jesus, o Filho, na oração sacerdotal se dirige com as palavras “Pai Santo” (Jo 17.11), em Deus queridinho, fraco, pusilânime. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento estão cheios dos testemunhos de que o ser humano se assusta e teme quando Deus se aproxima. Desse espanto sagrado, desse reverente temor é que Simão está repleto, quando o Deus (cheio de límpida bondade) se aproxima dele em um evento palpável, pela ação do homem em quem ele reconhece o Messias vindouro.
A igreja primitiva e todos aqueles que contemplavam a vida dos cristãos estavam tomados por este assombro (cf. At 2.43: “Em cada alma havia temor; [...]”). “E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos quantos ouviram a notícia destes acontecimentos” (At 5.11).
O Deus Santo e Soberano estava agindo na igreja e através da igreja por isso as pessoas se assombravam e temiam a grandeza deste Deus! Esse é o Deus que disse para Moisés: “Eu Sou o Deus dos teus pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Moisés, temendo de medo, não ousava contemplá-lo. Disse-lhe o Senhor: Tira a sandália dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (At 7.32-33).
O Deus da Bíblia é Santo! Seu poder é santo, Seu amor é santo e tudo que Ele faz é para glorificar Seu Santo Nome!
Esse poderoso Deus nunca será domesticado ou manipulado pelas nossas ideias e desejos. Ele é Santo e Soberano e jamais se deixará domesticar pelas criaturas!

O que Jesus faz quando nos assombramos com Sua santidade?
Uma realidade muito grande e nova atingiu Pedro quando reconheceu sua pecaminosidade, a santidade de Jesus e qual terrível e perigoso é para um pecador está na presença do Deus Santo, que Jesus não sentencia nem condena o “pecador” que reconhece seu pecado e sua culpa, mas o agracia e o atrai para o Seu coração Redentor.
O Senhor Jesus olhou para Pedro ajoelhado diante d’Ele e disse-lhe amorosamente: “não temas!”. Como o coração de Pedro deve ter ficado feliz quando foi alçado das profundezas da consciência de pecado para as alturas do perdão de pecados! Bem-aventurado é aquele que é conduzido ao arrependimento pela misericórdia do Senhor!
Quando estamos diante da santidade do Deus Soberano e reconhecemos temerosamente que somos pecadores, Ele é poderoso para amorosamente nos perdoar de nossos pecadores e nos erguer para nos transformar em “pescadores de homens”! Oh maravilhosa graça que nos assombra!
Deus transforma nossos temores em maravilhosos motivos de alegria e gozo[5]!

Soli Deo Gloria!



[1] FARRAR, F. W. (1891). The Gospel according to St Luke, with Maps, Notes and Introduction (p.114). Cambridge: Cambridge University Press.
[2] CULY, M. M., PARSONS, M. C., & STIGALL, J. J. (2010). Luke: A Handbook on the Greek Text (p.159). Waco, TX: Baylor University Press.
[3] RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança: Evangelho de Lucas, 133. Curitiba, PR, Brasil: Editora Evangélica Esperança, 2005.
[4] EVANS, C. A. (2001). Fifth Sunday after the Epiphany, Year C. In R. E. Van Harn (Org.), The lectionary commentary: theological exegesis for Sunday’s texts, volume three (p.330). Grand Rapids, MI: Eerdmans.
[5] CEVALLOS, J. C., & ZORZOLI, R. O. (2007). Comentario Bíblico Mundo Hispano, Tomo 16: Lucas (p.127). El Paso, TX: Editorial Mundo Hispano.

quinta-feira, 8 de março de 2018

NESSE DIA DA MULHER, QUAL MULHER VOCÊ TEM SIDO?


Marta e Maria: UMA PERCEPÇÃO INTERPRETATIVA (Lc 10.38ss)

É notório como a percepção e entendimento das pessoas têm mudado com relação ao texto de Lucas 10.38-41, que fala de Marta e Maria. Parece-me que aquilo que foi motivo de repreensão da parte do Senhor Jesus, as pessoas de nossa época estão aprovando e louvando. Aquilo que Ele elogiou, as pessoas estão menosprezando. Será que isso não seja uma inversão dos valores contextuais?
Observo que as pessoas estão enaltecendo a atitude de Marta, afirmando que nosso Senhor Jesus precisa tanto de Marias aos Seus pés como também de Martas com seus serviços prestados a Jesus. É claro que não devemos depreciar os valores serviçais de Marta, mas pergunto: Qual o entendimento do texto que pretende sobressair para os ouvintes e leitores de Lucas e para nós? Qual é o ensino do contexto e não o nosso ensino preferencial?
Em certo sentido posso afirmar que a percepção interpretativa atual e popular do texto é um entendimento errado do evangelho ou mesmo uma distorção do evangelho pelo espírito da nossa época. Não é Jesus que precisa de nossos serviços, somos nós que precisamos sentar-se para ouvir a Palavra de Jesus Cristo.
Compreendemos que tal interpretação é oriunda de uma sociedade que impera o ativismo, o pragmatismo, o materialismo, o individualismo, o consumismo e que é marcada pela ansiedade e, por conseguinte pela depressão. As pessoas estão correndo de um lado para outro com o pretexto de estarem fazendo as coisas para Jesus, mas não têm tempo para se sentarem para ouvir a Palavra de Jesus.
Atualmente louvam-se aqueles que fazem serviços para Jesus. Aplaudem-se os agitados, os preocupados e aqueles que são inquietos com muitas coisas. Num certo sentido aplaude-se e admira as Martas em vez daquela que foi apreciada e louvada pelo Senhor Jesus.
A sociedade, porventura, não valoriza tais Martas? Será que o espírito de Marta não é admirado e até imitado pelo mundo? Enquanto as Marias, as mulheres de oração, de estudo e que se dedicam a buscar a Deus diuturnamente, não são depreciadas e chamadas de beatas de igrejas?
Notem que as pessoas que são agitadas e envolvidas com muitos serviços são as verdadeiramente importantes para a sociedade e cultura consumista. Entende-se que aquelas pessoas que têm dois trabalhos ou empregos, muitas especialidades, muitos cartões de créditos e etc., são as que verdadeiramente importam. Pessoas com estas qualidades num mercado competitivo serão as vencedoras.
Na Suíça as pessoas primeiramente perguntam o que você faz? Qual seu trabalho? Não importa quem você é ou o que você pensa de Deus e da moralidade, o que importa é o que você faz e qual o seu emprego. Claramente as Marias não servem, mas as Martas são bem-vindas!
No entanto, as pessoas se esquecem de que a mensagem do texto enfatiza não o que fazemos para Cristo, mas aquilo que Jesus fez por nós. Não aquilo que podemos fazer ou oferecer para Jesus, mas aquilo que Jesus pode nos dá e nos ensinar. João no seu Evangelho pretende levar seus ouvintes e leitores para crerem que Jesus é o Filho de Deus e crendo terem vida eterna em Seu Nome (20.31).
Numa ocasião lemos que Pedro estava disposto a morrer por Jesus, mas não admitia que Jesus morresse por Ele (Mt 16.22; Lc 22.33). Que heroísmo este de Pedro! Estava disposto a ser preso e até a morrer por Jesus, mas não entendia que o mais importante, e isso não será tirado daqueles que entendem, é Cristo Jesus morrer em nosso lugar. Tal como Marta e Pedro nós estamos dispostos a fazer muitas coisas para Jesus, mas dificilmente queremos sentar aos pés de Jesus.
Somos produtos de uma sociedade inquieta, agitada, ocupada, preocupada e ansiosa com muitas coisas para ter tempo de sentar-se aos pés de Jesus para ouvir Seus ensinamentos. Não é a toa que muitos frequentadores das igrejas locais gostem dos cultos rápidos, sermões rápidos e curtos. Mas se tivermos um show, uma discoteca, uma balada ou um comício gospels, certamente teremos todo o tempo possível para nos divertir. Suportamos a noite toda. Como disse Paulo, haverá um tempo em que não suportarão a sã doutrina.
Com isso não quero dizer que as atividades e os serviços congregacionais e administrativos não sejam importantes, mas o mais importante é estar aos pés de Jesus. A agitação, preocupação e a ansiedade de Marta foram peremptoriamente repreendidas por Jesus, mas a quietude meditativa, a paciência de está aos pés do Mestre, a atenção devida ao Senhor Jesus e o ouvir Suas Palavras são a coisa mais importante e essencial para um cristão. Essas coisas foram e são apreciadas pelo Senhor Jesus, mesmo que não seja popular em nossas igrejas locais e sociedade.

I. Adorando como Maria, mas controlados pelos sentimentos de agitação, inquietude e trabalho como Marta.
Muitos de nós enfrentamos este conflito. Queremos adorar e estar aos pés do Senhor Jesus como Maria, todavia os sentimentos de ativismos, inquietude, preocupação e agitação nos dominam como dominou Marta. Temos um desejo de Maria, mas agimos como Marta. Queremos estar aos pés do Senhor Jesus, mas quando nos reunimos na igreja ficamos pra lá e pra cá como Marta, ocupados com muitas coisas.
Como pastor, tenho observado que o ativismo congregacional tem substituído a adoração congregacional. Pessoas pensam que fazer a obra, servir a Deus é estar ocupado com muitas coisas, atividades, programações exaustivas e etc., mas sabemos que isso não é o mais importante. Precisamos nos quedar como Maria aos pés do Senhor para admirá-Lo, adorá-Lo e aprender d’Ele.
Somos facilmente distraídos pelas coisas menos importantes e essenciais na vida. Isso é verdade também na vida cristã. Ficamos agitados e inquietos com muitas coisas e não nos quedamos para ouvir o que é mais importante e essencial para nossas vidas como servos e servas de Deus.
Frequentemente aplicamos nossas forças e preocupações no desempenho (performance: realizar, conquistar). Quando o correto, mais sábio e proveitoso é empenhar nossos sentidos a ouvir e adorar o Senhor Jesus, como fez Maria.
Em vez da preocupação e ansiedade pelo servir um banquete digno do Senhor, um prato seria suficiente; e Maria preferiu o banquete espiritual aos pés de Cristo: a melhor parte (At 6.2,4; Mc 10.45; Jo 4.32-34; Ap 3.20).

II. Com quem nos identificamos mais: com Maria ou com Marta?
Se formos sinceros, claramente nos identificamos mais com Marta do que com Maria. Marta representa exatamente quem realmente nós somos: preocupados, agitados, envolvidos com muitas coisas, ansiosos e até mesmo irritantes com as pessoas. Não é essa a descrição textual de Marta? Agitada, ocupada em muitos serviços, irritada com sua irmã, sentindo-se sozinha, inquieta, preocupada com muitas coisas e ansiosa.
Será que nos sentimos raivosos quando vemos as pessoas sentadas quietas e atenciosas aprendendo dos grandes ensinamentos de Jesus Cristo? Marta se sentiu assim ao ver Maria sentada despretensiosamente aos pés do Mestre.
As pessoas movidas pelo ativismo serviçal sempre se irritarão com aqueles que se assentam para aprender as grandes verdades da Palavra de Deus. Estes não veem o tempo passar, pois não há maior prazer do que está assentado para ouvir a Palavra de Deus. Porém, aqueles como Marta sempre estão olhando para o relógio, cronometrando o tempo, vendo o que se tem para fazer e envolvidos em muitas coisas e ainda com o coração inquieto e ansioso com tanto serviço.
As Marias que são raras em nossos dias sempre escolhem a boa parte sem negligenciar suas responsabilidades. De forma alguma perderão a oportunidade de ouvir Jesus ensinando a Palavra de Deus.

IVAN TEIXEIRA
Servo da Palavra!

quarta-feira, 7 de março de 2018

FRACASSOS HUMANOS E A AÇÃO DE DEUS!



NOSSOS FRACASSOS NÃO IMPEDEM A AÇÃO DIVINA!
Respondeu-lhe Simão: Mestre, havendo trabalhado toda a noite, nada apanhamos, mas sobre a Tua Palavra lançarei as redes (Lc 5.5).

Como pescador experiente Pedro fracassou. É uma grande decepção quando um pescador experiente sai para pescar durante toda uma noite e nada apanha. Para Pedro e os demais aquela noite foi uma noite de fracasso. Mas ao romper do dia um grande milagre aconteceu para Pedro e os demais pescadores.

A lição é pungente: O fracasso de Pedro não impediu a ação divina. O fracasso de Pedro não impediu a benção Divina.

Nós podemos fracassar mesmo no campo de nossas habilidades como Pedro e os demais fracassaram. Mas devemos entender que nossos fracassos não tornam Deus inoperante. Ele pode operar apesar de nossos fracassos. Deus pode operar um milagre apesar de nossos fracassos. Nossos fracassos não significa que o fim chegou, mas podem se tornar oportunidades para os milagres de Deus.
Ele fez na vida de Pedro e pode fazer em nossas vidas também. Ele continua o mesmo!

O FRACASSO DE PEDRO NÃO O LEVOU PARA UMA DERROTA DEFINITIVA, MAS PARA UM NOVO CAMPO DE AÇÃO!
Pedro, experiente pescador, numa daquelas noites de amargar. Ele, por assim dizer, tropeçou no terreno que ele bem conhecia. Talvez ele tenha saído e dito para um dos seus sócios: hoje a maré está pra peixes! Porém, depois de uma longa noite, pois parece que as derrotas alongam as noites e os dias, ele nada apanhou.
Ele foi muito claro para o Senhor Jesus: nada apanhamos! No entanto, esse fracasso de Pedro não foi definitivo na vida dele. Pelo contrário, esse fracasso de Pedro fez com que Jesus o chamasse para uma obra muito superior do que a de pescar peixes. Jesus o chamou para ser pescador de homens! O fracasso de Pedro o fez entender que muitas das nossas derrotas são placas de sinalização na estrada para mudarmos de direção: não mais pescador de peixes, mas, agora, pescador de homens!
Nossas derrotas, fracassos e decepções num lugar não são definitivos. Podem ser o momento de mudar de direção ou lugar.

Moisés fracassou no Egito matando um homem. No entanto, não é apenas no Egito que Deus levanta Seus instrumentos. Ele os levanta no deserto também. As derrotas de Moisés não mudaram a obra de Deus em sua vida. Mudou apenas o lugar, do Egito para o deserto! É claro que ele pagou as consequências de seus erros e derrotas, porém, seus fracassos não impediram de Deus o levantar noutro lugar.
Nós podemos fracassar num certo ministério na igreja local, mas isso não é o fim. Deus pode nos levantar noutros ministérios. O Reino de Deus é extenso! A seara é grande! Deus tem diversos ministérios para nos colocar, tirar e recolocar!
O fracasso da dupla Barnabé e Paulo não foi uma derrota definitiva para a igreja do primeiro século. Eles foram derrotados, mas não definitivamente. Deus operou no meio dos Seus servos e em vez de uma dupla apenas, Deus, poderosamente, levantou duas duplas para edificação da igreja e evangelização dos perdidos: de um lado Barnabé e Marcos; do outro Paulo e Silas! Repito: nossos fracassos e dissensões não nos levam a uma derrota definitiva, mas a um novo campo de ação e muitas das vezes com companheiros diferentes!
Nossos fracassos não nos levam a uma derrota definitiva, mas para um novo campo de ação!



IVAN TEIXEIRA
Minister Verbi Divini