Nós devemos
exortar os evangélicos brasileiros a buscar uma eclesiologia adequada para
sarar as deficiências de nossas igrejas. Precisamos sempre ter uma eclesiologia
em movimento, não estática. Nosso pensar sobre a igreja precisa do movimento do
Espírito em sua iluminação das verdades bíblicas e da nossa experiência
eclesial e missional.
➽Nossas igrejas pentecostais precisam sempre serem renovadas pelo Espírito Santo. Particularmente não quero uma igreja estática, mera organização, mas uma igreja movente, viva e crescente!
➽Olhando para a Bíblia podemos formular que a Igreja é um mistério teológico (de Deus) no Antigo Testamento, uma promessa cristológica (de Cristo) nos Evangelhos, uma realidade pneumática (do Espírito) em Atos, uma Família-Corpo-Santuário Trinitariana (Família do Pai, Corpo de Cristo e Santuário do Espírito) nas Epístolas e uma Noiva-Esposa-Cidade em Apocalipse.
➽A Igreja é uma revelação do fim dos tempos na Era do Espírito Santo.
O apóstolo
Paulo, quando escreveu à igreja dos Tessalonicenses, entendeu que havia
deficiências na fé daqueles irmãos que precisavam ser sanadas. Ele escreveu:
“orando noite e dia com máximo empenho, para vos ver pessoalmente, e reparar as deficiências de vossa fé?”
(1Tessalonicenses 3.10).
Com uma
doutrina da igreja adequada, bíblica, histórica e pentecostal, nós podemos
trazer cura, reforma e renovo para nossas igrejas locais. Com isso em mente,
entendo a importância de se falar de três grandes fatores promotores de reforma
e avivamento para nossas igrejas.
Um fator introdutório sobre o
rumo de nossa proposta
Pela riqueza
das tradições históricas e interpretações na área eclesiológica do Cristianismo
ou na Cristandade ouvimos falar sobre “marcas de uma igreja reformada,
sacramental, evangélica, pentecostal e etc.,”. Alguns chegam a dizer “somos
evangélicos (entenda-se protestante, reformado, calvinista e etc.,), e eles são
pentecostais. Ou somos pentecostais, e eles evangélicos.
O membro comum
da igreja às vezes fica confuso e certos pregadores e teólogos trazem mais
confusão do que exposição sobre a temática das marcas de uma igreja verdadeira.
Por exemplo, será que uma igreja que se diz calvinista, reformada, luterana,
anglicana, anabatista, arminiana e etc., é mais verdadeira do que uma igreja
que diz pentecostal, carismática e etc.,? Ou, no lugar destes polos, nós
poderíamos robustecer nossa eclesiologia (doutrina da igreja) aprendendo de cada
uma destas ricas heranças do Cristianismo histórico?
Lamento que de
todos lados dos espectros da Cristandade pastores, teólogos e pregadores
vociferam ódio às demais tradições que eles não concordam. Muitos deles
postulam que pertencem a única igreja verdadeira, e chamam outros irmãos de
hereges por causa de pontos secundários e até periféricos da doutrina. Todos
nós devemos entender os postulados essenciais e biblicamente afirmados para se
ter uma igreja verdadeira, e é por isso que não devemos ficar presos a certas
tradições que tomam para si a patente de única igreja de Jesus Cristo na terra.
Creio que todas as tradições e denominações, reconhecidamente cristãs, têm
contribuído para entendermos o que seja uma igreja verdadeira ou ainda as
marcas de uma igreja autêntica.
Para chegarmos
a uma eclesiologia saudável não precisamos rejeitar as demais contribuições das
Tradições da Cristandade ao assumirmos uma para nossas igrejas e elaborarmos
postulados credais em nossas denominações. Por exemplo, posso claramente
abraçar certos postulados de uma tradição e fortalecer o pensamento por meio de
outros postulados das demais tradições. Posso muito bem abraçar as
contribuições das igrejas reformadas (calvinistas, anglicanas, luteranas,
arminiana e etc.,) e também das igrejas pentecostais e carismáticas para melhor
expressar uma eclesiologia bíblica, histórica e teológica (essa é minha proposta!).
No lugar de me enclausurar num único sistema, eu posso analisar à luz da Bíblia
todas as contribuições das Tradições da Cristandade para melhor apreço e
configuração de uma eclesiologia sadia, ampla, global ecumênica (católica!) e
robusta.
Note que as
Tradições acima se referem apenas ao Cristianismo Ocidental. Temos também uma
rica herança do Cristianismo Oriental. Roma não é a única igreja antiga, existe
a Pentarquia: Roma, Constantinopla, Antioquia, Jerusalém e Alexandria. Cada uma
rica em Tradições eclesiásticas.
Creio que seria
um grande fracasso escolher restritamente entre uma tradição ou outra? Ser
pentecostal, evangélico ou sacramental? Ou será que poderíamos elaborar uma
eclesiologia tanto quanto evangélica, pentecostal e sacramental? Creio que
podemos, e por isso ergo minha tese e postulados neste rumo!
Creio que um
dos homens que contribuiu poderosamente para um enriquecimento de uma
eclesiologia cristã católica (ecumênica e global) foi Lesslie Newbigin quando publicou um dos livros mais importantes
sobre eclesiologia (The Household of God:
Lectures on the Nature of Church = A Casa de Deus: Palestras sobre a
Natureza da Igreja, 1953). Ele argumentou com perspicácia teológica sobre a
natureza da igreja, ou o que significa ser o povo de Deus. Nesta publicação ele
fala da igreja, em capítulos distintos, como protestante, católico e
pentecostal. Por PROTESTANTE, ele quis dizer a tradição luterana e evangélica
de enfatizar a importância da fé em resposta à Palavra pregada. Por CATÓLICO,
ele quis dizer a perspectiva que concede aos sacramentos um lugar de destaque
na vida religiosa. E por PENTECOSTAL, ele quis dizer aquela perspectiva que
enfatizava, em suas palavras, “efeitos experientes”.
Ou, colocando
diferentemente (ainda Newbigin), no PRIMEIRO, a igreja é a reunião daqueles que
ouvem e creem no evangelho; no SEGUNDO, a igreja é encontrada na participação
sacramental na comunidade que está em continuidade histórica com os apóstolos;
e no TERCEIRO, a igreja é a comunhão daqueles que recebem e permanecem no
Espírito.
Embora eu vá
usar uma linguagem diferente para esclarecer minha proposta e tese (rumo a uma
eclesiologia bíblica, histórica e pentecostal), a percepção do Dr. Newbigin é fundamental de que existem
três ângulos distintos pelos quais podemos considerar e viver na graça do
Cristo ascendido e no poder do Espírito descendido. Nós não precisamos escolher
um deles. De fato, talvez seja imperativo que não escolhamos, mas realmente
abracemos e envolvamos cada um como a contrapartida necessária do outro. Em
outras palavras, não só não é necessário escolher, é crucial que aprendamos
como cada um é um meio essencial em interação dinâmica com o outro, pelo qual
nos apropriamos da graça multifacetada de Deus nas heranças do Cristianismo
Histórico.
Essa
consideração desses três ângulos ou perspectivas sugere que há uma ecologia da
graça – uma dinâmica, uma espécie de ecossistema, com contornos distintos que
nos leva a uma apreciação do próprio modo como a graça funciona, com um
contraponto gerativo entre a Palavra, o sacramento, e a presença imediata do
Espírito, com cada um conhecido e experimentado na plenitude da graça
precisamente porque é assim que a graça funciona. Seguindo este caminho, eu não
tenho dúvidas de que nossa eclesiologia será mais robusta bíblica, histórica e
teologicamente. Não é em vão, que eu convido ao leitor para juntos caminharmos
para uma Eclesiologia Ecumênica: Bíblico,
Histórico-Evangélico-Sacramental e Pentecostal.
IVAN TEIXEIRA.