sexta-feira, 28 de agosto de 2020

DEUS (YHWH) O SER INSONDÁVEL QUE SE REVELOU! AS DUAS MÃOS DE DEUS! (Santo Ireneu)

 Representação pictórica de Deus (Manus Dei)

Separação da Luz da Escuridão, de Michelangelo, - primeira metade de 1512


AS DUAS MÃOS DE DEUS!

(Santo Ireneu)

 

Eu creio que todos aqueles que estudam teologia, em especial a matéria chamada teontologia (doutrina do Ser de Deus) tem se maravilhado e dado uma pausa na leitura para admirar este Ser dos seres, Deus dos deuses e o Criador de todas as coisas. Quantas vezes debruçado nas Escrituras uma grandiosa e inenarrável alegria me inundou e minha mente perplexa ante a revelação de Deus inclinou-se para adorá-lo na beleza de Sua santidade!

O grande Anselmo de Cantuária mostra à luz da fé e da razão que “Deus é o Ser do qual não se pode pensar nada maior e, também, que é impossível pensá-lo não existente”. Eu não tenho dúvidas de que todos os seres existentes só são seres por causa do grande Ser. Eu sou o que sou por causa do EU SOU o que SOU (heb. Ehyeh Asher Ehyeh). Essa expressão hebraica também pode ser traduzida como EU SEREI O QUE SEREI (Êxodo 3.14, BTX). Deus nunca deixou de Ser o que Ele sempre foi e nunca deixará de Ser o que Ele É e sempre É o Ser que tem sido desde toda a eternidade, antes de todas as coisas. Ele é o Ser que É o Ser que sempre É: EU SOU!

Nós, cristãos, temos que pontuar com Bernand Ram que o teólogo não estuda Deus em Si, mas Deus em Sua revelação. Quando os escritores bíblicos falam sobre Deus não fazem segundo os seus pensamentos sobre algum “ser”, mas sobre aquilo que o Ser Eterno revelou de Si mesmo. Os teólogos dizem que Deus manifesta a Si mesmo na “economia”, isto é, no processo ordenado de Sua auto-revelação. Deus se revelou, e nós podemos conhecê-lo. O Senhor Jesus disse que a essencialidade da vida eterna é conhecer o Pai como o único Deus verdadeiro e a Ele, o Seu enviado (João 17.3). A Bíblia não é a palavra de homens acerca de Deus, mas a auto-revelação de Deus em palavras humanas. Isso foi necessário para termos um conhecimento do Ser Insondável em Sua revelação sondável. Ele é incognoscível em Seu Ser eterno, mas cognoscível em Sua revelação tempo-espaço aos Seus servos e servas!

Nos escritos de Santo Ireneu do ponto de vista de Seu Ser intrínseco, Deus é o Pai de todas as coisas, inefavelmente Uno e contendo em Si mesmo desde toda a eternidade Seu Verbo e Sua Sabedoria (o Espírito Santo) (Adversus Hereses IV. 20,1-3; Demons. Pred. Apost. 47).


As Duas Mãos do Ser Eterno (YHWH)!

Agora, segundo Santo Ireneu, do ponto de vista de Sua auto-revelação, ou empenhando-se na Criação e na Redenção, Deus extrapola ou manifesta o Verbo e a Sabedoria. Estes, como Filho e Espírito, são Suas “Mãos”, imagem sem dúvida tirada de Jó 10.8: “Tuas Mãos me fizeram, e me plasmaram todo”; e de Salmos 119.73: “Tuas Mãos me fizeram e me formaram”. Assim, Santo Ireneu afirma que “pela própria essência e natureza de Seu Ser existe apenas Um só Deus”, enquanto que ao mesmo tempo, “de acordo com a economia de nossa Redenção existem tanto o Pai como o Filho”, ao que poderia acrescentar: “e o Espírito Santo”. (Adversus Hereses IV. 20,1-3; Demons. Pred. Apost. 47).

Santo Ireneu ensina a coexistência do Verbo com o Pai desde toda a eternidade. Ele ainda ensina que o Verbo e o Espírito Santo colaboram no trabalho da criação sendo, se tal fosse possível, as “Mãos” de Deus. Devo pontuar, que a metáfora das Duas Pessoas da Trindade como as “Duas Mãos de Deus” subscreve apenas o trabalho do Verbo e do Espírito Santo tanto na criação quanto na redenção, e não que o Verbo e o Espírito sejam literalmente as mãos de Deus. Como diz o grande bispo: “Foi função do Verbo trazer as criaturas à existência, e do Espírito ordená-los e adorná-los”. (Adversus Hereses IV, pref., 4; 5,1,3; 5,5,1; 5,6,1). O uso da linguagem figurada insere-se na “economia” da auto-revelação de Deus que falamos acima.

 

Deus possibilita o conhecimento de Deus e o Revela!

Podemos dizer que a possibilidade do conhecimento de Deus se dá pelo próprio Deus. O bispo de Lyon escreveu que “[...] era [e é!] impossível conhecer a Deus sem a ajuda de Deus, então Ele ensina os homens a conhecerem a Deus por meio do Seu Verbo” (Adv. Hereses IV. 5,1;). Isso foi ensinado pelo grande apóstolo Paulo quando se referiu a possibilidade de tal conhecimento de Deus ou de Suas profundezas pelo Espírito Santo. Ele escreveu: “e Deus as revelou a nós por meio do Espírito; porque o Espírito tudo o esquadrinha, ainda as profundezas de Deus” (1Coríntios 2.10, BTX).

Notamos pelas Escrituras que o conhecimento e revelação do Ser de Deus em Suas profundezas é peculiar as Pessoas do Verbo e do Espírito Santo. Sobre o Espírito já vimos que o apóstolo salientou: “[...] o Espírito tudo o esquadrinha, ainda as profundezas de Deus”. Sobre o Verbo, Ele mesmo disse sobre Si em Mateus 11.27: “[...] Ninguém conhece plenamente o Filho senão o Pai, e ninguém conhece plenamente o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Bíblia Textual, BTX). O pleno conhecimento das Pessoas da Divindade é peculiar a cada Pessoa. A revelação e o conhecimento de cada Pessoa-Divina às pessoas-criaturas dependem da outra Pessoa-Divina o quiser revelar!

As Pessoas eternas conhecem uma a outra eterna e plenamente. As Pessoas eternas do Verbo e do Espírito conhecem plenamente o Pai e o revelam a quem Eles querem! Afirma Santo Ireneu: “Deus é inefável, mas o Verbo o declara para nós”; e também: “o que é invisível no Filho é o Pai, e o que é visível no Pai é o Filho”. Nas Teofanias do Velho Testamento foi realmente o Verbo que falou com os patriarcas. (Adv. Hereses 4,6,3; 4,6,6; 4,9,1; 4,10,1). Sobre o Espírito Santo, o bispo Ireneu postula: “[...] sem o Espírito Santo, é impossível ver o Verbo de Deus”; e também “o conhecimento do Pai é o Filho, mas o conhecimento do Filho de Deus somente pode ser obtido através do Espirito Santo”. Nossa santificação é totalmente obra do Espírito Santo, “o qual o Filho ministra e dispensa a quem o Pai quer e como quer” (S. Ireneu: Demonst. 6,7).

Essa teologização Trinitária (se assim posso dizer!) deságua na glorificação eterna e recíproca de cada Pessoa na unidade da Divindade. O Senhor Jesus disse: “E agora Pai, glorifica-me Tu junto a Ti mesmo, com a glória que tinha contigo antes de existir o mundo” (João 17.5, BTX). Pai e Filho se deliciam juntinhos (“junto a Ti”) na glória da Divindade desde toda a eternidade (“antes de existir o mundo”). Existe claramente um externar de amor e glória um para com outro eternamente! O Espírito é o elo ontológico do amor do Pai e do Filho na Divindade. Esse mesmo Espírito derrama esse mesmo amor do Pai e do Filho, em glória, no coração de cada crente elevando-o à comunhão plena da Divindade (Romanos 5.2), fazendo-os participantes da natureza divina (2Pedro 1.4). Isso não significa que serenos deuses, mas que o Cristo em Sua vinda nos glorificará pelo Seu Espírito para sermos como Ele é (cf. 2Tessalonicenses 1.10; Romanos 8.29,30; 2Coríntios 3.18; Filipenses 3.21; 1João 3.2). Essa glorificação é a (re)criação da imagem da divindade em nós quando alcançarmos a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade e à medida estatura da plenitude do Cristo (Efésios 4.13). Esse é o alvo, disse Paulo, que todo cristão deve prosseguir “para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filipenses 3.14).

O amor e glória Divinos gerados pelo Espírito nos filhos leva-os a clamar: Aba, Pai! (Romanos 8.15). Sendo feitos filhos no Filho pelo Espírito Santo todos os cristãos participam do amor trinitário do Pai e do Filho pelo amor do Espírito. O Espírito que liga, por assim dizer, o Pai e o Filho neste amor e glória eternos, agora, no Filho, une os filhos de Deus e os faz participantes do amor e da glória da Divindade!

Não apenas nós não compreendemos Este Ser insondável, mas também participamos dessa comunhão amorosa, gloriosa e insondável das Pessoas da Santíssima Trindade! Semelhante ao apóstolo, devemos nos quedar e adorar:

Ó profundidade da riqueza,

Tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus!

Quão insondáveis são os Seus juízos e quão inescrutáveis os Seus caminhos!

Ou quem primeiro lhe deu a Ele para que lhe venha a ser restituído?

Porque d’Ele e por meio d’Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém.

(Romanos 11.33-36).

 

Ivan Teixeira

 

 

ATENÁGORAS DE ATENAS_TRINDADE

 12 citações contra a sodomia que todos os católicos deveriam conhecer

Pai Grego e sua defensa da Doutrina Cristã da Trindade

 

Atenágoras escreveu para os imperadores Marco Aurélio e a seu filho Cômodo, por volta, provavelmente, do ano 177 a.D.

Os cristãos eram acusados de ateísmo e outros, por conseguintes sentenciados a morte. O grande apologista Atenágoras escreveu para estes imperadores orientando-os primeiramente a entender as acusações e não meramente condenar os acusados só porque usam o nome de “cristão”. Ele escreveu aos imperadores: “Com efeito, vossa justiça não diz que, quando se acusa a outros, não se pode condená-los antes de tê-los interrogado? Quanto a nós, porém, vale mais o nome do que as provas do julgamento, pois os juízes não buscam averiguar se o acusado cometeu algum crime, mas tratam-no com insolência por causa do nome [cristão], como se fosse crime” (PADRES APOLOGISTAS, posição 178,9/521, (epub). Editora Paulus).

Sem entrar em detalhes aqui, nos reservamos a postular que Atenágoras esclarece que “os cristãos não são ateus, mas adoram o Deus único, criador do universo. O Deus dos cristãos é único, mas também Trino”. Notem, que alguns desinformados atualmente creditam o ensino da Trindade a Igreja Romana e a Constantino (272–337 a.D.). Esses desinformados distorcem totalmente a verdade histórica para confundir e aliciar com seus falsos ensinos os desavisados e instáveis na fé doutrinal. Nós cristãos acreditamos que existe UM SÓ Deus subsistente eternamente em TRÊS PESSOAS. Rejeitamos o Triteísmo que ensina três deuses, e abraçamos a doutrina da Trindade que ensina Três Pessoas numa única essência ou Divindade – um ÚNICO DEUS!

O ateísmo do qual os cristãos eram acusados orbitava no entendimento dos cristãos em não oferecer sacrifícios aos deuses. Atenágoras escreve: “Os cristãos não oferecem sacrifícios não porque são ateus, mas porque o Deus verdadeiro só aprecia sacrifícios espirituais. Se eles se recusam a cultuar os deuses, é porque os julgam indignos de qualquer espécie de culto”. Os cristãos, segundo Atenágoras, praticam um culto mais puro, mais elevado e perfeito que os pagãos (caps.4-30).

Algumas citações do grande apologista Atenágoras de Atenas servem-nos para finalizar esse nosso conciso artigo:

“[...] nossa doutrina admite UM só Deus, Criador de todo este mundo, e Ele não foi criado — pois não se cria o que Existe, mas o que não existe —, e sim Ele é Criador de todas as coisas por meio do Verbo que d’Ele procede” (posição 195,4/521, epub).

Na parte Afirmação da Fé Monoteísta e Trinitária, escreve Atenágoras:

Desse modo, fica suficientemente demonstrado que não somos ateus, pois admitimos UM só Deus, incriado, eterno, e invisível, impassível, incompreensível e imenso, compreensível à razão só pela inteligência, rodeado de luz, beleza, espírito e poder inenarrável, pelo qual tudo foi feito através do Verbo que d’Ele vem, e pelo qual tudo foi ordenado e se conserva. De fato, d'Ele vem, e pelo qual tudo foi ordenado e se conserva. De fato, reconhecemos também um Filho de Deus. E que ninguém considere ridículo que, para mim, Deus tenha um Filho. Com efeito, nós não pensamos sobre Deus, e também Pai, e sobre Seu Filho como fantasiam vossos poetas, mostrando-nos deuses que não são em nada melhores do que os homens, mas que o Filho de Deus é o Verbo do Pai em ideia e operação, pois conforme a Ele e por Seu intermédio tudo foi feito, sendo o Pai e o Filho UM SÓ [DEUS]. Estando o Filho no Pai e o Pai no Filho por UNIDADE e poder do espírito, o Filho de Deus é inteligência e Verbo do Pai. (posição 204,5 e 205,1/521).

É notório que para o grande Atenágoras o Pai e o Filho são UM Só Deus verdadeiro! O bispo de Atenas não separa a UNIDADE das Pessoas e nem as confunde como fazem os hereges. Nós, cristãos, postulamos que o Pai não é o Filho e que o Filho não é o Pai e que nem o Pai e o Filho são o Espírito, mas entendemos que na UNIDADE simples e indivisível da Divindade subsiste eternamente o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Com os Pais e todos os cristãos adoro a Unidade da Trindade e a Trindade na Unidade!

Glórias a Pai!

Glórias ao Filho!

Glórias ao Espírito Santo!

 

Ivan Teixeira


quinta-feira, 27 de agosto de 2020

A IGREJA O REFÚGIO CONTRA AS HERESIAS

 


Santo Ireneu descreveu os hereges como aqueles “que abandonam a doutrina da Igreja”. Ele diz que os hereges acusam de “ingenuidade” e simplicidade os líderes da igreja, pensando que encontraram “algo superior à verdade” (Adv. Haer. V, 20.2). Isso soa (“algo superior”) semelhante as palavras que o Cristo glorificado condenou nas heresias da profetisa Jezabel: “profundezas de Satanás” (Apocalipse 2.24). Essas “profundezas de Satanás” equivalem a doutrinas falsas ou mesmo a “algo superior” que a igreja normalmente ensina. Notem que os seguidores de Jezabel caçoavam dos cristãos “que não conheciam as profundezas de Satanás” (v.24). Mas Cristo diz para estes cristãos: “[...] Outra carga não jogarei sobre vós” (v.24). O Senhor ressurreto vai guarda-los destes hereges jezabelitas. O Cristo glorificado condena fortemente os falsos ensinos!

Heresias nada mais são do que “profundezas de Satanás” produzidas na “sinagoga de Satanás” vindo direto do “Trono de Satanás” (Apocalipse 2.9,13). Os cristãos devem ter cuidado com aqueles que se dizem possuidores de “verdades superiores e reveladas”, mas que diferem gritantemente das doutrinas essenciais da Igreja Cristã.

Normalmente os hereges dizem que encontraram uma “nova verdade” ou “verdades profundas” que os líderes da igreja não conseguiram detectar. O herege sempre sai, segundo eles, da “bolha religiosa”, postulando novas revelações.

Santo Ireneu diz que os tais hereges “[...] andam por caminhos tortuosos, sempre novos e inseguros, mudam continuamente de opinião e como cegos conduzidos por cegos fatalmente cairão na fossa da ignorância aberta diante deles, destinados a procurar sempre e nunca encontrar a verdade” (Adv. Haer. V, 20.2). Pode-se dizer que os tais nunca chegarão ao conhecimento da verdade. Os hereges são homens que resistem à verdade como Janes e Jambres. São pessoas “de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé; eles, todavia, não irão avante; porque a sua insensatez será a todos evidente, como também aconteceu com a daqueles” (2Timóteo 3.7-9). Um herege se autodestruirá, pois, disse o apóstolo Paulo “nada podemos contra a verdade senão em favor da própria verdade” (2Coríntios 13.8).

 

Igreja: Refúgio contra as heresias e Seio para alimentar os crentes!

As igrejas devem ser refúgios contra as heresias perniciosas. As igrejas locais devem ser o seio da educação doutrinária. Posso dizer altissonante que o Espírito Santo alimenta os novos convertidos nos seios da Igreja-Mãe por meio de mestres ungidos. Os mestres são como pais e mães dos cristãos (1Tessalonicenses 2.7,11,12; 2Timóteo 2.1), existe tanto o cuidado disciplinar e firme do pai quanto o afeto, a ternura e o amamentar da mãe. Os Pais já diziam que aqueles que não tem a igreja como Mãe não podem ter a Deus como Pai. São Cipriano de Catargo escreveu: “Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Como ninguém se pôde salvar fora da arca de Noé, assim ninguém se salva fora da Igreja”. São Cipriano fala dos obstinados que, conhecendo a verdade, insistem, por ódio ou comodismo pagão, em se apartar da Igreja de Cristo. As palavras de São Cipriano devem ser entendidas no contexto daqueles que estão nas congregações locais e promovem cismas, divisões, dissensões e acabam por prejudicar a unidade congregacional. Sobre os tais o apóstolo Paulo falou que o próprio Deus os destruirá (1Coríntios 3.16,17).

Os pastores devem se dedicar para proporcionar um ambiente de refúgio nas congregações locais aos santos contra as heresias. Os pastores devem proporcionar um ambiente materno nas congregações para alimentar bem os novos convertidos. Os hereges não dormitam em sua semeadura herege. Os pastores devem vacinar os cristãos com a verdade do evangelho para resguardá-los dos vírus mortais dos falsos ensinos.

Nós, disse João, não precisamos que os hereges nos ensinem suas profundezas porque já temos a Unção do Santo que nos ensina todas as coisas e essa Unção é verdadeira (1João 2.20,27). O crente não precisa destes falsos mestres com suas “revelações” e verdades “profundas”, pois o Espírito Santo já vem educando os cristãos por meio de mestres capacitados e ungidos por Ele.

A tonalidade bíblica é que qualquer um que não fale de acordo com o evangelho de Cristo Jesus seja amaldiçoado por Deus! Até mesmo, disse Paulo, se um anjo anunciar outro evangelho (ou perverter o evangelho que recebemos) deve ser rejeitado peremptoriamente (Gálatas 1.6-9). Esses ditos mestres querem “perturbar” a paz doutrinal da Igreja (Gálatas 1.7), e aliciar os incautos e inconstantes que não se firmam na verdade da fé doutrinal. Paulo salientou em Efésios 4.14 que os tais usam de artimanha e astúcia para conduzir os “meninos” ao erro.

Paulo salientou que a igreja deve ser a coluna e firmeza da verdade (1Timóteo 3.15). Ireneu escreveu que “com efeito, em todo lugar, a Igreja prega a verdade, verdadeiro candelabro de sete braços, trazendo a luz de Cristo” (Adv. Haer. V, 20,1). Para o grande bispo de Lyon “A Igreja é como paraíso plantado neste mundo. Portanto, comereis do fruto de todas as árvores do paraíso, diz o Espírito de Deus, o que significa: alimentai-vos de todas as Escrituras divinas, mas não o façais com intelecto orgulhoso e não tenhais nenhum contato com a dissensão dos hereges. Eles afirmam possuírem o conhecimento do bem e do mal e elevam seus pensamentos acima do Deus que os criou, e com a sua inteligência ultrapassam a medida da inteligência” (Adv. Haer. V, 20,2).

Os hereges sempre apontam para o “fruto do conhecimento do bem e do mal” como um passo para alcançar a divindade. Nós, os cristãos, devemos nos deleitar no conhecimento de Deus que foi revelado em Cristo e que nos é ensinado pelo Espírito da Verdade (João 14.17). Nós, os cristãos, não precisamos conhecer as grandes “gnoses” da “árvore do conhecimento do bem e do mal” proposta pelos hereges, pois já temos o Paraklêtos que nos guia em toda a verdade substancializada nas coisas do porvir e na glorificação do Cristo (João 16.13,14).

Nós, cristãos, não precisamos, tal como os hereges, conhecer as “profundezas de Satanás”, pois já temos conhecimento pelo Espírito Santo das “profundezas de Deus” (1Coríntios 2.10) e estamos, pelo mesmo Espírito, crescendo para alcançar o pleno conhecimento do Cristo (Colossenses 1.9,10).

Concluo com as palavras do grande bispo de Lyon: “Todos os hereges são estúpidos e ignorantes quando tratam da economia de Deus e estão por nada ao corrente das obras relativas ao homem, e como cegos, diante da verdade, eles próprios se levantam contra a sua salvação” (Adv. Haer. V, 19.2).

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

JESUS É DEUS_SANTO IRENEU_PEQUENA INTRODUÇÃO

 

Qualquer pessoa que nega essa verdade é inimiga do Evangelho!

(Introdução da visão de Santo Ireneu sobre a Divindade do Senhor Jesus)

 

Certos hereges atualmente tentam manipular e omitir dados históricos quando afirmam que a ideia de que Jesus é Deus foi uma postulação posterior no IV século com Constantino e outros de Roma – já ouvimos muitos dizerem: “Trindade é coisa da Igreja Romana e de Constantino” e etc.,. Esses hereges dão um salto gigante e manipulador em 200 anos iniciais de História da Igreja, ignorando vários Pais da Igreja propositalmente, para enganar os incautos e desavisados com suas afirmações esdrúxulas e heréticas.

Para deixar claro a manipulação dos dados históricos pelos hereges atuais, citou Santo Ireneu, um dos grandes Pais apologistas (defensores da Fé Bíblica) na defesa da plena Divindade do Verbo.

Santo Ireneu (Irineu) não era romano, mas foi um bispo grego, teólogo e escritor, nascido em Esmirna(?) na Ásia Menor (atual Turquia de hoje). Nasceu em 130 d.C., e morreu na atual cidade de Lyon, na França, em 202 d.C., onde foi bispo. Foi discípulo de São Policarpo, que, por sua vez, conviveu diretamente com o Apóstolo São João, o Evangelista. Santo Ireneu foi um dos grandes defensores da fé evangélica, combateu assídua e corajosamente o gnosticismo e os hereges como Valentim (100–160 d.C).

Para vocês terem uma ideia do que o grande Santo Ireneu combateu, nota-se que os valentinianos defendiam, por exemplo, que havia um lugar de plenitude chamado PLEROMA, que era habitado por seres divinos, os Éons. Um desses Éons teria criado o mundo corruptível e mortal, o mundo visível, tal como o conhecemos. Pois bem, Jesus Cristo, para os valentinianos, teria recebido, no momento de seu batismo (quem lembra que certo pregador dos Gideões ensinou isso?), a infusão de outro Éon, que teria um plano salvador para os homens. Nas palavras de Cristo reproduzidas nos Evangelhos, esse Éon teria deixado as “pistas”, o “caminho” para se conhecer o Pleroma, isto é, para se poder habitar o mundo da plenitude dos seres perfeitos.

O grande apologista destacou que o Verbo encarnou não numa pessoa qualquer, mas numa natureza preparada e gerada pelo Espírito Santo. Pois, como disse Santo Ireneu: “[...] como poderia uma criatura separada e infinitamente distanciada do Pai, sustentar o Verbo?”; Desbancando os hereges gnósticos e os valentinianos, Santo Ireneu escreveu: “Como poderia uma criação exterior ao Pleroma conter Aquele que contém todo o Pleroma?” (Adv. Haer. V, 18.1). Aqui Ireneu, no meu ver, faz eco as palavras do apóstolo Paulo e do apóstolo João: Colossenses 1.19: “porque aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a PLENITUDE (gr. πλήρωμα)”; João 1.16: “Porque todos nós temos recebido da Sua PLENITUDE (gr. πληρώματος), e graça sobre graça”. Jesus, o Cristo, meus irmãos não era um mero Éon do Pleroma, mas Aquele que contém TODO o Pleroma da Divindade. Ele não é apenas divino ou como alguns sorrateiramente dizem: “Filho de Deus [apenas]”, ou mesmo uma fagulha do Pleroma, mas o próprio Deus-Pleroma. JESUS É DEUS EM SUA PLENITUDE!

Santo Ireneu identificou nos argumentos valentinianos uma série de graves consequências. Uma delas foi a pressuposição de duas divindades rivais, o criador do mundo corruptível e o salvador. Essa posição dos gnósticos precisava ser refutada, segundo Ireneu, porque eram contrárias, por exemplo, ao dogma da Trindade, que admite a coexistência de Três Pessoas na figura de UM SÓ DEUS, e também ao dogma da Encarnação e da Ressurreição, que admite que o Ser Divino na Pessoa do Verbo (Logos) encarnou no mundo perecível e abriu, neste mundo, a via da redenção dos pecados.

Santo Ireneu afirmou a encarnação do Verbo na carne humana da virgem Maria, Sua morte física e ressurreição corporal no Seu tabernacular entre nós. Ensino negado pelos gnósticos de sua época, bem como da época do apóstolo João (1João 5.6-12). Ele escreveu também que: “Assim como Eva foi seduzida pela fala de anjo e afastou-se de Deus, transgredindo a Sua Palavra, Maria recebeu a boa-nova pela boca de anjo e trouxe DEUS em seu seio, obedecendo à sua palavra” (Adv. Haer. V, 19.1). Jesus é claramente Deus!

Santo Ireneu escreveu concordando que Jesus era Deus citando o apóstolo João: “[...] Também João, o discípulo do Senhor, afirma tudo isso, quando diz no seu Evangelho: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e O VERBO ERA DEUS. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio d’Ele e sem Ele nada foi feito” (Adv. Haer. V, 18.2).

No Volume V de sua grande obra Contra as Heresias 18.3, Santo Ireneu escreveu: “O verdadeiro Criador do mundo é o Verbo de Deus. Este é nosso Senhor, que nos últimos tempos se fez homem, Ele que já estava no mundo e invisivelmente sustenta todas as coisas criadas e está impresso em toda a criação, como Verbo de Deus que tudo governa e dispõe; [...]”(Adv. Haer. V, 18.3).

Concluo com as claras palavras de Santo Ireneu postulando que Jesus não é meramente um filho de Deus, mas Deus: “Esta vinda visível do Verbo, Davi a anunciou, quando disse: “O nosso DEUS virá de maneira manifesta e não se calará.” E depois anunciou o julgamento que ELE traria, dizendo: “O fogo arderá diante d’Ele e à Sua volta se lançará a tempestade. Chamará os céus do alto e a terra para julgar o seu povo” (cf. Salmo 50.2,3,4) (Adv. Haer. V, 18.3).

Claramente para o grande bispo Ireneu Jesus era Deus, o Verbo que esteve entre nós por meio da Virgem que nela o Espírito Santo gerou a humanidade da encarnação. Ele não recebeu nenhum Éon no batismo. O Verbo não tinha nenhuma fagulha do Pleroma, mas Ele é o Pleroma da Deidade. Negar a Divindade de Jesus Cristo é negar uma das doutrinas pelas quais o Cristianismo está de pé ou caído.

Como cristão rejeito peremptoriamente qualquer ensino que distorça a verdade fundamental de que Jesus é Deus. Tenho como inimigos do evangelho qualquer pastor, bispo, presbítero e seja lá o que for que nega o claro ensino da Bíblia sobre a plena Divindade do meu Senhor Jesus!

Só Deus é digno de toda adoração! Jesus é o Cordeiro digno de toda adoração nos céus (Apocalipse 5)!

 

Ivan Teixeira

terça-feira, 25 de agosto de 2020

FUTURISMO POR JOHN MACARTHUR

 upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/da/Joh...

Uno-me ao pastor John MacArthur quando postula em sua belíssima Teologia Sistemática uma posição sobre o futurismo e o pré-milenarismo como visões interpretativas coerente para entendermos as profecias bíblicas.

O futurismo afirma que as profecias relativas à Tribulação, à ascensão do Anticristo, à salvação de Israel, ao retorno de Jesus, ao milênio e ao estado eterno aguardam satisfação futura. Os acontecimentos de Daniel 9.24-27; Mateus 24-25; e Apocalipse 6-20 será cumprido em uma era futura. O futurismo não afirma que todas as profecias na Bíblia ainda são futuras, porque muitas já foram cumpridas, mas afirma que há profecias importantes que ainda precisam acontecer, assim como outras aconteceram no passado.

O argumento para o futurismo é forte. Primeiro, muitos eventos proféticos simplesmente ainda não aconteceram. Em 2 Tessalonicenses 2, Paulo previu um a vinda do Homem da Iniquidade que entrará no templo de Deus declarando-se ser Deus, atraindo assim a ira do Filho de Deus que retornará, e que destruirá essa pessoa perversa (2Tessalonicenses 2.3-4,8). Este evento ainda não ocorreu na história. Em 2 Pedro 3, Pedro falou de um dia do Senhor em que a terra seria purificada com fogo. Apocalipse 6-19 detalha os julgamentos globais sobre a terra que ainda não aconteceram. Além disso, o retorno de Jesus permanece futuro.

O futurismo sustenta que a septuagésima semana de Daniel (Daniel 9.27) e os eventos que descreve ainda são futuros. Os futuristas também percebem que as principais áreas de realização coincidem com as duas vindas de Jesus. Assim como a primeira vinda de Jesus trouxe muitas áreas da profecia do Antigo Testamento para a realização, assim também a segunda vinda de Jesus (Atos 3.18-21). Os críticos às vezes afirmam que se o livro de Apocalipse se refere a eventos que não aconteceriam por milhares de anos, isso era irrelevante para o público original de João. Isso é impreciso. Os eventos apresentados no Apocalipse estão ligados à iminência, o que significa que eles poderiam entrar na cena a qualquer momento e que os cristãos devem estar espiritualmente prontos. Com a perspectiva de retrospectiva, sabemos agora que esses eventos não ocorreram para os leitores originais do Apocalipse, Mas isso não significa que as advertências de Apocalipse eram irrelevantes para o público original. As advertências e descrições são relevantes para todas as gerações, inclusive a nossa, mesmo que o Senhor demore em Sua vinda.

O futurismo coincide com a visão favorecida de que o apóstolo João escreveu o livro de Apocalipse nos anos 90, bem depois da destruição de Jerusalém em 70 d.C., Isto significa que, de seu ponto de vista histórico, a Tribulação que ele escreveu não poderia ter sido cumprida em 70, mas deve ser cumprida no futuro.

 

PRÉ-MILENIALISMO FUTURISTA

Muitas abordagens diferentes para a escatologia cósmica foram oferecidas. O que acreditamos ser a mais fiel às Escrituras é o pré-milenismo futurista. Como um refinamento do pré-milenismo dispensacional, o pré-milenismo futurista afirma uma visão futurista da sétima semana de Daniel (Daniel 9:27), que inclui os eventos de Mateus 24 e os julgamentos de selos, trombetas e taças descritos em Apocalipse 6-18. Não só o futuro milenar do Apocalipse 20, como também o período da Tribulação que precede o milênio. Esta compreensão futurista da sétima semana de Daniel contrasta com outras abordagens escatológicas, como o amilenismo e o pós-milenismo, que colocam a septuagésima semana de Daniel e o período da Tribulação nesta época.

O pré-milenismo futurista baseia-se em três crenças principais. Em primeiro lugar, concorda com o uso consistente do método de interpretação gramatical-histórica para todas as áreas da Bíblia, incluindo suas passagens proféticas e escatológicas. Isso significa que as passagens proféticas devem ser entendidas de acordo com seu sentido normal e natural. Esta abordagem leva em consideração os vários gêneros encontrados na Bíblia e o uso de símbolos que transmitem verdades literais. Como resultado, o pré-milenismo futurista espera um cumprimento literal de todas as bênçãos físicas, nacionais, terrestres e espirituais na Bíblia, incluindo as de Israel e as nações.

Segundo, o pré-milenismo futurista mantém a distinção bíblica entre Israel e a igreja e entende que a Bíblia não confunde os dois. A identidade de Israel na Bíblia sempre inclui descendentes físicos de Abraão, Isaque e Jacó. Na verdade, todos os setenta e sete usos de Israel no Novo Testamento referem-se a Israel étnico. Às vezes, o termo Israel é usado apenas para os judeus crentes (Romanos 9.6; Gálatas 6.16), mas nunca é usado para falar de uma comunidade espiritual, independentemente da etnia. Além disso, a igreja nunca é chamada de Israel. Por exemplo, no livro de Atos, Lucas se refere à igreja dezenove vezes e a Israel vinte vezes, mas ele nunca chama a igreja de Israel [e Israel de Igreja]. Isso compelindo demonstra a intenção de Deus em manter essas identidades distintas.

O pré-millenialismo futurista rejeita todas as formas de substituição teológica ou supersessionismo, em que a igreja é vista como a substituição ou o cumprimento de promessas ao Israel nacional de tal forma que elimina o significado teológico de Israel nos planos de Deus. Ela afirma a grande importância da igreja nos propósitos do reino de Deus, mas espera um cumprimento futuro das promessas da aliança de Deus a Israel e às nações em um futuro reino milenar. Israel será salvo e restaurado, e terá um papel de liderança para com as nações. O pré-milenismo futurista entende que a identidade de Israel não se expande para incluir os gentios. Em vez disso, “o povo de Deus” se expande para incluir os gentios ao lado do Israel crente (Isaías 19.24-25). O pré-milenarismo futurista também afirma que o cumprimento das promessas de Deus ocorre por etapas. O que não foi cumprido com a primeira vinda de Jesus deve ser cumprido com eventos que levarão até e incluindo Sua Segunda Vinda.

Terceiro, o pré-milenismo futurista reconhece que a Escritura apresenta um cumprimento vindouro da sétima semana de Daniel, que é um período de sete anos de Tribulação e que vem antes do Reino Milenar terrestre de Jesus (Daniel 9.27). Enquanto a igreja enfrenta a tribulação geralmente nesta era, um futuro período especial de Tribulação envolverá os julgamentos e a ira única e catastrófica de Deus em toda a terra (Apocalipse 6-19). Esta Tribulação inclui os julgamentos dos selos, das trombetas e das taças descritos em Apocalipse 6-16. Esta Tribulação próxima culmina no retorno de Jesus e no estabelecimento de Seu Reino de mil anos na terra. O pré-milenismo futurista contrasta com as crenças teológicas que muitas vezes veem esta era presente entre as Duas Vinda de Jesus como o período de tribulação previsto e o reino de Jesus.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

DOUTRINA PENTECOSTAL DA IGREJA

 

(Insights iniciais)


Qualquer observador entenderá que a igreja evangélica brasileira enfrenta crises, e que certas deficiências são notadas em seu meio. Nós não precisamos nos esforçar muito para diagnosticar o quão moribunda se encontra as igrejas locais. É claro que há suas exceções e muitos pastores estão orando, pregando e liderando as igrejas para uma desenvoltura, reforma e avivamento. Apesar disso, vemos vários sinais de declínio, capitulação e deficiências nas igrejas locais.

Particularmente, eu creio e prego que nós devemos voltar àquela dependência do Espírito vista nos cristãos neotestamentário sob à luz do Evento do Calvário e do Pentecostes para uma restauração poderosa das nossas congregações locais. Caso as igrejas locais almejam ser bíblicas precisam andar nos trilhos das verdades reveladas tanto no Calvário quanto no Pentecostes. Noutras palavras, a igreja deve ser centrada e edificada por Cristo e n’Ele, mas também é construída pelo Espírito e vivificada, crescente e capacitada n’Ele. Nossa eclesiologia se sustenta sobre o Evento do Cristo crucificado e ressurreto, no Calvário, e sobre o Evento fundante, capacitante e movente do Espírito Santo no Pentecostes. Calvário e Pentecostes são a glória da redenção da humanidade.

Acredito que a eclesiologia pentecostal deve ser construída sobre os pilares do Pentecostes tendo uma consciência retrospectiva da redenção realizada no Calvário. O Calvário aponta para o Pentecostes, e o Pentecostes retrocede para o Calvário. O Cristo e o Espírito, como é peculiar ao Movimento Pentecostal, não são (e não deve ser!) meros adendos externos na construção do edifício eclesiástico. Cristo é a pedra angular, e o Espírito o construtor da morada espiritual de Deus sobre o fundamento dos apóstolos. Os cristãos são pedras vivas na edificação, construção e crescimento do edifício eclesial (1Pedro 2.5). Na eclesiologia fundada pelos apóstolos com o Cristo como pedra angular, nota-se a perpétua e movente ação carismática e pneumática do Espírito para tornar o edifício eclesial numa morada pneumática ou espiritual para Deus Pai (Efésios 2.20-22). Nós pentecostais devemos propor uma eclesiologia formada pelo Espírito sobre o fundamento dos apóstolos tendo o Cristo como a pedra angular.

Essa edificação eclesial pelo Espírito torna os cristãos uma casa do Espírito (ou espiritual) para que sejam um sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais (pelo Espírito ou pneumático), agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo (1Pedro 2.5).

Uma eclesiologia pentecostal deve se desenvolver, primeiro, a partir do evento do Calvário que pelo sangue (morte) do Cristo destruiu toda hostilidade do pecador para com Deus Pai, e reconciliou toda a humanidade crente com Deus, formando um só corpo, a Igreja (Efésios 2.14-17). Segundo, articula-se no evento do Pentecostes afirmando que no Cristo, pelo Espírito e por meio do mesmo Espírito, todos os cristãos têm acesso ao Pai (v.18). Essa Igreja Pentecostal, fundada, inaugurada e nascida no Dia de Pentecoste, é totalmente dependente do Espírito para centrar-se no Cristo e n’Ele ser construída. Terceiro, a igreja pelo Espírito fundante-movente e pelo dinamis (poder) capacitador se torna missionária (uma eclesia enviada) e testemunhal (uma eclesia orante) do Cristo ressurreto e exaltado à Destra do Pai (uma eclesia adoradora). A Igreja Pentecostal é missionária, testemunha e adoradora do Cristo que morreu no Calvário e ressuscitou ao terceiro dia e foi assunto à Destra do Pai.

Pode-se dizer que no Cristo, a pedra angular do edifício eclesial, existe uma mega construção pneumática (do Espírito) para morada espiritual de Deus Pai (Efésios 2.20).

O planetário eclesial pentecostal deve orbitar no Calvário e no Pentecostes!

quinta-feira, 13 de agosto de 2020

HERMENÊUTICA PENTECOSTAL: EXPECTATIVA DO ENCONTRO

Exegese do Encontro com Deus

Quando Pentecostais leem a Bíblia uma expectativa de encontro permeia a leitura, a interpretação e a pregação. O Pentecostal ler a Bíblia não meramente para absorver entendimentos teológicos, mas para se encontrar com o Deus que se revelou em Cristo e, agora, é acessível pelo Espírito. Pentecostais não leem a Bíblia como um livro qualquer de História que ficou distante de sua vida, mas eles vêem as histórias bíblicas como suas próprias, e encarnam em si os personagens bíblicos com seus desafios, pecados, derrotas e vitórias por meio de um Deus que não está distante, mas que se envolve, intervém poderosamente salvando, curando, santificando, batizando no Espírito e gerando uma esperança bendita na Vinda do Senhor Jesus. Para o Pentecostal o ambiente da leitura e interpretação (Pregação e ensino também) é gerado ou proporcionado pelo Espírito. Ou seja, ele ler no Espírito, interpreta no Espírito, prega no Espírito, adora e canta no Espírito, evangeliza no Espírito e vive a vida cristã no e pelo Espírito. É o Espírito Santo que proporciona um ambiente expectante do encontro com Deus em Cristo.

 

Isso postula, queiram certos Pentecostais ou não, que nossa hermenêutica (e leitura) da Bíblia difere dos demais - pelo menos de uma grande maioria protestante. MORMENTE, DOS CESSSACIONISTAS!

Podemos, sem medo, pelo menos particularmente, afirmar que a expectativa se torna um fator peculiar na hermenêutica pentecostal e para o hermeneuta, pregador e ouvintes Pentecostais. Tanto o evento da leitura e da interpretação geram uma expectativa, bem como no evento da Pregação, pois tanto o pregador quanto os ouvintes Pentecostais se envolvem na mesma expectativa. Tenho chamado de expectativa do encontro com Deus.

A hermenêutica pentecostal é uma exegese do *encontro com Deus*. A leitura do texto bíblico gera pelo Espírito no crente pentecostal a expectativa de tornar as histórias bíblicas suas próprias histórias.

O crente pentecostal não deve simplesmente divagar no/sobre o texto para meramente angariar informações e postular proposições teológicas. Seu objetivo é existencial, experimentar Deus e se encher da plenitude do conhecimento de Cristo pelo dinamismo do Espírito Santo.

PODE-SE dizer que os Pentecostais seguem a linha da expectativa do judeu na Teologia do Antigo Testamento que entende o conhecer a Deus como um relacionamento real e existencial com Deus, e não meramente um conhecimento teórico sobre Deus, mas DE Deus.

Ivan Teixeira
Pentecostal de Mente e Coração.

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

A PROFECIA DO PROFETA ÁGABO

 

Noto que no embate discursivo sobre o dom da profecia certos intérpretes têm postulado que o profeta Ágabo errou nos detalhes como que fazendo acréscimos à mensagem, ou interpretações próprias, que recebeu do Espírito. Vamos a texto de Atos 21.10,11:

Demorando-nos ali alguns dias, desceu da Judeia um profeta chamado Ágabo; e, vindo ter conosco, tomando o cinto de Paulo, ligando com ele os próprios pés e mãos, declarou: Isto diz o Espírito Santo: Assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios.

 

Deve-se notar que antes do profeta Ágabo certos discípulos “movidos pelo Espírito”, recomendavam a Paulo que não fosse a Jerusalém (Atos 20.4). Lucas não registra nenhuma palavra de Paulo sobre o assunto. De Tiro[1] a caravana paulina chegou a Ptolemaida, onde saudaram os irmãos, passando um dia com eles (v.7). No dia seguinte, foram para Cesaréia; e ficaram na casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, e ele tinha quatro filhas que profetizavam (v.8). Interessante notar que as profetisas não tiveram nenhuma mensagem para Paulo, pelo menos Lucas não registra. Isso pode ensinar muito aos irmãos que nem todas as vezes se deve profetizar ou procurar “forçar” uma profecia. Precisa ser do Espírito, e não de mera preocupação com a “reputação de profeta”, visto que alguns pensam que sendo profetas têm que profetizar a todo o momento. Esse incidente das filhas de Filipe ensina muita coisa com relação ao ministério profético e sobre o exercício do dom de profecia.

Depois de alguns dias desceu da Judeia um profeta chamado Ágabo (v.9), o mesmo profeta que profetizou, pelo Espírito, que estava por vir grande fome por todo o mundo, a qual sobreveio nos dias de Cláudio (11.28). Flávio Josefo relata que ocorreu uma fome por volta do ano 46. Possivelmente na casa do grande evangelista, Ágabo pegou o cinto de Paulo atou-se com ele de mãos e pés, e disse: “Isto diz o Espírito Santo: o dono deste cinto será amarrado em Jerusalém pelos judeus, que o entregarão aos gentios” (v.11).

 

Lições que devemos pontuar!

Creio que algumas observações sobre o incidente como um todo trazem grandes lições para os profetas e sobre o ministério do dom de profecia.

Primeiro, nem todas as vezes o Espírito Santo usa os que reconhecidamente têm o dom de profecia.

Segundo, nem todas as vezes o Espírito falava diretamente com Paulo, mas usava outras pessoas para lhe falar (20.23).

Terceiro, o Espírito Santo pode mover pessoas de longe para trazer uma palavra profética para nós. Ele moveu Ágabo da Judeia para a Cesaréia para entregar uma mensagem à Paulo.

Quarto, o ministério profético e o exercício do dom de profecia eram exercidos tanto por homens quanto por mulheres. Não há menção de exclusividade ministerial. Aqueles ou aquelas que foram capacitados pelo Espírito Santo estavam “livres” para o exercício ministerial, eclesial e missional.

Quinto, os carismas do Espírito eram bastante presentes e abundantes nas reuniões congregacionais dos cristãos do primeiro século, não obstante a presença dos doze apóstolos e dos demais como Paulo. O apostolado das testemunhas oculares do Cristo ressurreto nunca foi um obstáculo ao exercício dos dons espirituais pelos demais crentes. Restringir os carismas e os milagres ao ministério apostólico dos doze é ir contra as Escrituras. Os dons e os milagres eram distribuídos e operados por todos aqueles que o Espírito Santo soberanamente dava.

Sexto, o Espírito Santo é soberano na utilização dos Seus instrumentos. Ele usa quem quer, onde quer e os envia para qualquer lugar. Pode-se indagar o porquê o Espírito Santo não usou as filhas de Filipe ou mesmo outro irmão ali presente, mas foi necessário vir um profeta de longe para falar com Paulo. Apesar de que podemos fazer tais indagações, deve-se entender que em última análise a resposta do Espírito é: Eu quis que fosse assim! Nossa reação deve ser a mesma dos discípulos: “Faça-se a vontade do Senhor” (v.14).

Sétimo, deve-se abrir mão da vontade pessoal e da opinião dos amigos para se fazer a vontade de Deus. Podemos dizer que Paulo abriu mão de tal forma de sua própria vontade que a vontade de Deus se tornou a sua. Noutras palavras, sua vontade era fazer a vontade de Deus e os discípulos compreenderam isso.

Oitavo, os planos de Deus sempre nos surpreenderão e estarão além do nosso alcance e entendimento. Nós devemos à semelhança de Paulo ter prontidão para fazer tudo aquilo que for da vontade de Deus. Se for, como Paulo, para morrer em Jerusalém que morramos. Mas sabemos que não foi da vontade de Deus que Paulo morresse em Jerusalém, pois ainda havia alguma estrada para se caminhar. A vontade e o plano de Deus sempre estarão além das nossas expectativas e, no final nos surpreenderá. O Senhor Jesus disse para Pedro: “O que eu faço não o sabes agora, compreendê-lo-ás depois” (João 13.7).

Nono, um detalhe interessante é que Paulo não se apressa a chegar em Jerusalém. Já se haviam passado seis semanas desde que ele deixara Filipos. De Cesaréia, ele teria de viajar 105km até Jerusalém. Essa jornada levaria dois, senão três dias. Devido aos diversos avisos que Paulo recebera em muitos lugares (20.23), ele não tinha pressa de chegar em Jerusalém. Paulo mesmo sabendo da vontade de Deus e da revelação do Espírito Santo sobre as cadeias e sofrimentos que o esperava ele não se apressa, mas continua exercendo o ministério por onde ele passa. Ele se demora em alguns lugares para pregar aos irmãos e ter comunhão com os santos.

 

Entregue a profecia, sem mais explicações!

Devemos pontuar que a profecia de Ágabo descrevia o que aconteceria a Paulo em Jerusalém caso ele fosse, mas o profeta não deu palpite se ele deveria ir ou não. Ele simplesmente entregou o que o Espírito Santo lhe revelou. Esse é outro aprendizado que os atuais profetas e os que recebem o dom de profecia precisam atentar. Deve-se entregar a mensagem sem mais explicações. A decisão é da pessoa que recebe a mensagem do Espírito. E o texto mostra que Paulo decidiu enfrentar o perigo, pois seu objetivo era anunciar o evangelho de Cristo Jesus também aos gentios. O próprio Senhor Jesus disse a Paulo: “[...]Vai, porque Eu te enviarei para longe aos gentios” (22.21). Era um plano revelado do Senhor Jesus a Paulo ir aos gentios para testemunhar do evangelho da graça. Ágabo, pelo Espírito, o confirmou! Isso é peculiar ao ministério profético e ao dom de profecia.

 

Atos proféticos ou simbolismos encenados!

Outro detalhe, a profecia de Ágabo foi combinada com um “ato profético”, relembrando o simbolismo encenado dalguns profetas do Antigo Testamento. Exemplos, Aías (1Reis 11.29-31), “Isaías, Jeremias e Ezequiel também usaram sinais visuais para avisar os israelitas de seu exílio iminente (cf. Isaías 20.2; Jeremias 13.1-11; Ezequiel 4.1-12)”[2]. É bom notar que as palavras do profeta[3] Ágabo “não são muito diferentes das predições de Jesus a Seu próprio respeito (Lucas 9.44; 18.32; 24.7), bem como as predições do Senhor a respeito de Pedro (João 21.18)”[4].

Sobre isso aprendemos que se pode entregar uma profecia ou uma mensagem do Senhor por meio de atos proféticos para ilustrar ou interpretar a revelação dada pelo Espírito. Não vejo motivo para não o fazer caso necessário. O que não se deve fazer é distorcer ou manipular a revelação dada pelo Espírito. “Atos proféticos” são saudáveis e peculiares ao ministério profético, serve para dramatizar a profecia.

 

Cumprimento da profecia de Ágabo

Agora, leiamos o incidente do cumprimento da profecia de Ágabo em Atos 21:

v.27: Quando já estavam por findar os sete dias, os judeus vindos da Ásia, tendo visto Paulo no templo, alvoroçaram todo o povo e o agarraram, v.30: Agitou-se toda a cidade, havendo concorrência do povo; e, agarrando a Paulo, arrastaram-no para fora do templo, e imediatamente foram fechadas as portas. v.31: Procurando eles matá-lo, chegou ao conhecimento do comandante da força que toda a Jerusalém estava amotinada. v.32: Então, este, levando logo soldados e centuriões, correu para o meio do povo. Ao verem chegar o comandante e os soldados, cessaram de espancar Paulo. v.33: Aproximando-se o comandante, apoderou-se de Paulo e ordenou que fosse acorrentado com duas cadeias, perguntando quem era e o que havia feito.

 

Segundo o texto de Atos 21.11, a essência da profecia de Ágabo era que Paulo seria preso e encarcerado, e ele o foi. Então, não há motivos para afirmar que Ágabo exagerou na profecia ou mesmo que errou ou ainda que fez acréscimos. Ele, tal como outros profetas antes dele, encenou a profecia e a proferiu. E o cumprimento teve detalhes que Ágabo não previu ou que o Espírito Santo não lhe mostrou. É exagero de certos continuístas declarar algum “defeito” ou “erros” na profecia de Ágabo para apoiar o ponto de vista da profecia falível e não canônica (ou seja, aquelas que foram compostas como Escrituras). Não precisamos deste malabarismo para apoiar ou postular o que as Escrituras deixam claro sobre profecias e certos escritos que não entraram na composição dos livros bíblicos.

Nós sabemos que nas diversas igrejas do primeiro século, sem dúvidas, haviam dezenas e até centenas de profetas, profecias e escritos que não foram inseridos nos 27 livros do Novo Testamento, e nem por isso o ministério profético, as profecias e certos escritos não devem ser considerados  como não dados pelo Espírito para as necessidades dos cristãos e das congregações locais. Temos noção de que pelo menos duas outras Cartas de Paulo aos coríntios não estão na composição dos 27 livros do Novo Testamento. Então, repito, não há motivo para “manipular” o texto da profecia de Ágabo em busca de falhas para provar que o dom de profecia ou o ministério profético ainda estão em evidência nas igrejas. Basta entendermos que os dons do Espírito Santo foram dados para a igreja com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério no labor congregacional para a edificação. Por isso, rejeito as postulações do Dr. Wayne Grudem e de outros estudiosos sobre os “defeitos” da profecia de Ágabo, ou como uma “predição quase correta” e que “continha imprecisões em detalhes”[5]. A explicação de Grudem de que “Ágabo teve uma visão de Paulo prisioneiro dos romanos em Jerusalém cercado de uma multidão irada dos judeus”, pode até ser atraente, mas deixa de ser profecia (“diz o Espírito Santo”, v.11) para se tornar uma “interpretação de tal ‘visão’ ou ‘revelação’ do Espírito Santo”[6].

O Dr. Grudem postula tal explicação para se encaixar no “tipo de profecia falível” de sua proposta, no sentido do profeta falhar quando em suas palavras relata ou interpreta algo que Deus lhe trouxe de maneira espontânea à mente (seja por revelação, visão ou sonho). Essa é uma posição interessante, mas usar o texto de Atos 21.10,11 para apoiar, creio que é forçar goela abaixo.

 

A tabela abaixo nos ajuda a compreender melhor.

 21.11

21.27-33

ligado (gr. δήσας);

Agarraram (gr. χεῖρας); (vv.27,30)

entregarão (gr. παραδώσουσιν)

Arrastado (gr. εἷλκον); (v.30)

 

Intencionavam “matá-lo” (gr. ἀποκτεῖναι); (v.31).

 

Espancado (gr. τύπτοντες); (v.32)

 

Acorrentado (gr. δεθῆναι); (v.33)

 

Pode-se dizer que a profecia de Ágabo se cumpriu!

O profeta disse que o apóstolo Paulo seria ligado, semelhantemente como ele se ligou ou agarrou com o cinto de Paulo seus pés e mãos. Sabemos que Paulo foi ligado, agarrado, arrastado e até espancado. Certamente o arrastaram segurando ou ligando seus pés e mãos enquanto outros o espancavam.

A profecia de Ágabo se cumpriu, apesar do seu “ato profético” para ilustrar o que aconteceria com Paulo pelas mãos dos judeus. E por fim, Paulo foi “entregue” aos gentios e encaminhado a César para testemunhar do evangelho de Cristo Jesus perante as autoridades e reis. Embora os judeus não entregassem Paulo voluntariamente nas mãos dos soldados romanos, mas, sim, os romanos o tiraram das mãos deles (conforme Lucas narra naquela ocasião), os judeus foram os responsáveis pelo fato de Paulo cair nas mãos dos romanos e permanecer em custódia. É interessante pontuar que o próprio Paulo afirmou que ele foi “entregue nas mãos dos romanos” vindo preso desde Jerusalém (28.17), exatamente conforme o profeta Ágabo havia predito: “e o entregarão nas mãos dos gentios” (21.11). Isso coloca por terra toda e qualquer inexatidão levantada por alguns estudiosos atuais sobre a profecia de Ágabo.

 

Contexto nos contextos!

Esse incidente com o apóstolo Paulo deve ser tratado à luz doutros textos bíblicos relacionados à sua chamada divina para sofrer pelo nome de Jesus. Pode-se dizer que a primeira profecia que Paulo recebeu foi de Ananias quando o Senhor o disse: “[...] este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel; pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (9.15,17). Paulo estava plenamente convicto dessa chamada, pois o Espírito Santo sempre lhe revelava: “E agora, movido pelo Espírito, vou para Jerusalém, não sabendo o que ali me acontecerá, senão que o Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações. Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto” (20.22-25). Paulo estava ciente que sofreria. O Espírito o movia e o revelava. Ele estava decidido a completar a carreira e o ministério que recebeu do Senhor Jesus, mesmo que isso lhe custasse cadeias, sofrimentos e até a própria vida.

Quando Paulo saiu de Mileto e chegou em Tiro, encontra alguns discípulos que confirma aquilo que o Espírito Santo já havia lhe revelado anteriormente (21.4). Depois, mais uma confirmação por meio do profeta Ágabo (21.11). Apesar do rogo dos irmãos para que ele não subisse a Jerusalém, Paulo afirmou: “[...] estou pronto não só para ser preso [conforme a profecia de Ágabo], mas até para morrer em Jerusalém, pelo nome do Senhor Jesus” (21.13). Os irmãos conformados disseram: “Faça-se a vontade do Senhor” (v.14).

Paulo entendeu que não apenas seria preso, mas que também poderia morrer. Ele disse para os irmãos em Mileto: “Agora, eu sei que todos vós, em cujo meio passei pregando o reino, não vereis mais o meu rosto” (20.25). Paulo estava completamente disposto a enfrentar não somente o que foi desenhado pelo ato profético de Ágabo como também uma possível morte em Jerusalém. O que ele mais queria era cumprir o ministério que havia recebido do Senhor: “testemunhar o evangelho da graça de Deus” (20.24; cf. 9.15,16; 22.21).

Realmente, Paulo foi preso, agarrado, arrastado, espancado, acorrentado e quase o mataram (21.27,30,32,33). A profecia de Ágabo cumpriu-se com mais detalhes ainda que o profeta não falou!

É digo de nota que o Espírito Santo predisse a prisão e o encarceramento de Paulo, mas não sua morte. Por implicação, seu ministério iria continuar mesmo na prisão[7].

O Espírito Santo sempre guiou o apóstolo em todos os momentos de seu ministério, movendo-o e ocasionalmente (ou sempre!) revelando-lhe os acontecimentos que lhe aguardavam. Paulo sofreu tremendamente, mas o Espírito Santo o preservou até à sua chegada em Roma. Em Atos 28.30,31, Lucas nos dá sua última narrativa sobre o grande apóstolo:

Por dois anos permaneceu Paulo na sua própria casa, que alugara, onde recebia a todos que o procuravam, pregando o Reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo.

 

Pode-se dizer que Paulo em sua expectativa limitada à luz das profecias e dos eventos que lhe aguardavam como prisão, espancamento e etc., acreditava que seu fim estava próximo (“estou pronto a morrer!”), no entanto, o Espírito Santo lhe surpreendeu a tal ponto que o apóstolo depois que chegou a Roma ficou dois anos tranquilo em sua própria casa recebendo os irmãos e pregando o Reino de Deus e ensinando com toda intrepidez, sem impedimento algum, as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo.

Ele realmente foi ligado, entregue aos gentios e quase morreu, mas o Espírito Santo preservou Seu servo para testemunhar do evangelho da graça perante os gentios, reis, o imperador e também perante os seus patrícios que residiam em Roma. Deus lhe deu uma casa e uma grande oportunidade para pregar e ensinar. Glorificado seja Deus!

 

Soli Deo Gloria!

 



[1] Tiro fica a cerca de 180km ao norte-noroeste de Jerusalém e cerca de 105km de Cesaréia.

[2] KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: Exposição de Atos, Vol.2, p.338. São Paulo, SP, Brasil. Editora Cultura Cristã, 2003.

[3] A diferença entre os profetas do Antigo e os do Novo Testamentos não deve ser ignorada. Enquanto a função dos profetas do Antigo Testamento era revelar a vinda do Messias, Ágabo predisse acontecimentos futuros imediatos. Consultar GUTHRIE, Donald. New Testament Theology (Downers Grove: Inter-Varsity, 1981), p.740.

[4] WILLIAMS, David J. Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Atos, p.208. São Paulo, SP, Brasil: Editora Vida, 1996.

[5] GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática, p.894. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 1999.

[6] GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática, p.894. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 1999.

[7] KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: Exposição de Atos, Vol.2, p.339. São Paulo, SP, Brasil. Editora Cultura Cristã, 2003.