domingo, 9 de dezembro de 2018

TEOLOGIA PENTECOSTAL DA SUBSEQUÊNCIA


OBSERVAÇÕES PARADIGMÁTICAS PARA SE COMPREENDER A TEOLOGIA PENTECOSTAL DA SUBSEQUÊNCIA

Podemos traça a legitimidade bíblica e teológica da experiência pentecostal da subsequência, ou seja, do batismo com o Espírito Santo, elencando certas observações necessárias. Na minha escrita não pretendo ser extenso, mas apenas pontuar certos tópicos que leve-nos a entender, resumidamente, pelo menos neste momento, a legitimidade doutrinária do paradigma da teologia pentecostal da subsequência. Repito, este é um ensaio breve.

A Divisão Canônica
Um resultado da divisão canônica é que Lucas e Atos passaram a ser tratados como dois gêneros literários diferentes, a saber, Evangelho e Atos (mera história). E por isso, alguns teólogos entendem que os diferentes gêneros possuem diferentes perspectivas teológicas. Sendo assim, o Evangelho de Lucas possui uma perspectiva teológica e o Livro de Atos outra, perdendo assim a objetividade da escrita e perspectiva harmônica que perpassa os dois volumes de Lucas.
Isso se torna evidente quando estudiosos dão significado diferente, nos dois volumes de Lucas, a expressão “cheio do Espírito Santo” que é característico em ambos os volumes lucano. Corrigindo isso, deve-se entender a homogeneidade teológica dos dois volumes escritos por Lucas. Em outras palavras, Lucas escreveu não dois livros distintos, mas dois livros que se completam e que descrevem sua visão doutrinária. Há sem dúvidas uma harmonia doutrinária nos escritos de Lucas.

Lucas: Historiador, Teólogo E Professor
Alguns estudiosos se esquecem que Lucas não era um mero historiador e que a história dos primeiros cristãos que ele relata não era mera história que deve ficar guardada a sete chaves nos arquivos velhos do armário histórico do cristianismo.
A produção canônica de Lucas é muito mais do que mero exemplo da escrita histórica antiga, ele é mais do que um simples historiador. Lucas é um teólogo ou professor competente. Foi o erudito I. Howard Marshall, em Luke: Historian and Theologian, que salientou que Lucas escreveu sua narrativa em duas partes sobre a origem e propagação do cristianismo como um teólogo intencional. Logo, a erudição aceitou o significado teológico das narrativas históricas, exemplificada pelas de Lucas.
Consequentemente, é claro, Lucas também escreveu como um professor que narrou com objetivos didáticos. Lucas escreveu seu relato narrativo de Atos para instruir Teófilo (e todos os cristãos) de maneira mais completa e mais precisa sobre tudo que Jesus continuou a ensinar e a fazer por meio de Seu Espírito ao capacitar os Seus servos.
Estudiosos como Roger Stronstad chegam a afirmar, e isso pode até assustar alguns paulinistas, que “uma leitura sem preconceitos de Lucas-Atos mostra que ele rivaliza com Paulo como o maior teólogo e mestre da igreja primitiva. Essa observação significa que Lucas é um professor tão importante quanto Paulo. Isso também significa, por exemplo, que seu ensinamento sobre ser “batizado no Espírito Santo” é tão importante, se não mais importante, aqui me arrisco, quanto o ensinamento de Paulo sobre ser “batizado no Espírito Santo” (1 Coríntios 12:13). Portanto, assim como as cartas de Paulo, quando interpretadas corretamente, ensinam os cristãos do século XXI, a narrativa de duas partes de Lucas, quando interpretada corretamente, também ensina aos cristãos do século XXI importantes lições históricas e teológicas, entre as quais sua doutrina distinta sobre ser batizado no Espírito Santo”[1].

Lucas Foi Independente De Paulo
É importante observar para a compreensão da teologia pentecostal da subsequência que a ênfase teológica de Lucas em relação ao Espírito Santo é independente e diferente da de Paulo. Infelizmente, essa percepção não é aceita por certos intérpretes de Atos que foram influenciados pela hermenêutica e teologia reformada. Um exemplo popular é John Stott que “insistiu como uma questão de princípio que todas as sete referências ao batismo no Espírito Santo não devem apenas significar a mesma coisa, mas devem significar o que Paulo quis dizer com o termo (1 Coríntios 12:13)”. Para mim, esse foi um erro do Dr. Stott visto que das sete referências Paulo possui apenas uma e Lucas as seis restante.
Ao olhar as narrativas de Lucas sobre o Espírito Santo através dos óculos de Paulo, intérpretes como John Stott e James Dunn amordaçaram Lucas e silenciaram sua mensagem distintiva sobre o Espírito Santo na Igreja contemporânea. Deste modo, uma certa escola de intérpretes criou um cânone paulino dentro do cânon maior do Novo Testamento. Surpreendentemente, apesar das fortes críticas à sua abordagem de interpretar as narrativas de Lucas sobre o Espírito Santo, Dunn persiste em tornar os escritos de Paulo o padrão canônico. Mesmo reconhecendo o lugar de Paulo na teologia do Novo Testamento, não devemos negligenciar a identidade e propósito teológico dos demais escritores. Todos receberam palavras inspiradas e foram movidos pelo Espírito Santo tanto quanto foi Paulo.
Interpretar Lucas como um teólogo que não apenas escreve independentemente de Paulo, mas que também tem perspectivas diferentes de Paulo, resulta na observação de que Lucas relata uma atividade vocacional/carismática do Espírito Santo – tanto para Jesus no Evangelho como para os discípulos e seus convertidos em Atos. Em contraste, interpretar Lucas como se fosse Paulo leva a uma interpretação soteriológica/conversão de iniciação do Espírito Santo nas narrativas de Lucas. No entanto, a última abordagem é metodologicamente ilegítima.

A independência dos escritores bíblicos não significa incompatibilidade, mas diversidade na unidade do cânon sagrado.

Conclusões: Essas observações paradigmáticas da teologia pentecostal da subsequência, servem-nos de alerta para que cada escritor bíblico seja entendido sob sua própria perspectiva. Quando se entende cada perspectiva doutrinária dos escritores, nós podemos, por assim dizer, montar o mosaico da teologia do Novo Testamento.
É patente em Lucas-Atos, que todos os que recebem o Espírito Santo primeiro obtiveram o pré-requisito espiritual essencial, a saber, eles já estão salvos. O batismo com o Espírito Santo foi uma bênção subsequente para todos aqueles que creram.
A doutrina da subsequência na teologia lucana é incontestável. Lucas descreve que todos os salvos podem desfrutar do batismo com o Espírito Santo. Ele citou a frase basilar de Pedro: “A promessa é para vós, para vossos filhos, para os que estão longe, isto é, para tantos quantos o Senhor nosso Deus chamar”.

IVAN TEIXEIRA


[1] STUDEBAKER, Steven M. Defining Issues in Pentecostalism: Classical and Emergent, p.132. Copyright © 2008 Wipf and Stock Publishers. – (McMaster Divinity College Press Theological Studies Series). (minha tradução e paginação em pdf).

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