OBSERVAÇÕES PARADIGMÁTICAS PARA SE COMPREENDER A TEOLOGIA
PENTECOSTAL DA SUBSEQUÊNCIA
Podemos
traça a legitimidade bíblica e teológica da experiência pentecostal da
subsequência, ou seja, do batismo com o Espírito Santo, elencando certas
observações necessárias. Na minha escrita não pretendo ser extenso, mas apenas
pontuar certos tópicos que leve-nos a entender, resumidamente, pelo menos neste
momento, a legitimidade doutrinária do paradigma da teologia pentecostal da
subsequência. Repito, este é um ensaio breve.
A
Divisão Canônica
Um resultado
da divisão canônica é que Lucas e Atos passaram a ser tratados como dois
gêneros literários diferentes, a saber, Evangelho e Atos (mera história). E por
isso, alguns teólogos entendem que os diferentes gêneros possuem diferentes
perspectivas teológicas. Sendo assim, o Evangelho de Lucas possui uma
perspectiva teológica e o Livro de Atos outra, perdendo assim a objetividade da
escrita e perspectiva harmônica que perpassa os dois volumes de Lucas.
Isso se
torna evidente quando estudiosos dão significado diferente, nos dois volumes de
Lucas, a expressão “cheio do Espírito Santo” que é característico em ambos os
volumes lucano. Corrigindo isso, deve-se entender a homogeneidade teológica dos
dois volumes escritos por Lucas. Em outras palavras, Lucas escreveu não dois
livros distintos, mas dois livros que se completam e que descrevem sua visão
doutrinária. Há sem dúvidas uma harmonia doutrinária nos escritos de Lucas.
Lucas: Historiador, Teólogo E Professor
Alguns
estudiosos se esquecem que Lucas não era um mero historiador e que a história
dos primeiros cristãos que ele relata não era mera história que deve ficar
guardada a sete chaves nos arquivos velhos do armário histórico do
cristianismo.
A produção
canônica de Lucas é muito mais do que mero exemplo da escrita histórica antiga,
ele é mais do que um simples historiador. Lucas é um teólogo ou professor
competente. Foi o erudito I. Howard
Marshall, em Luke: Historian and
Theologian, que salientou que Lucas escreveu sua narrativa em duas partes
sobre a origem e propagação do cristianismo como um teólogo intencional. Logo,
a erudição aceitou o significado teológico das narrativas históricas,
exemplificada pelas de Lucas.
Consequentemente,
é claro, Lucas também escreveu como um professor que narrou com objetivos didáticos.
Lucas escreveu seu relato narrativo de Atos para instruir Teófilo (e todos os
cristãos) de maneira mais completa e mais precisa sobre tudo que Jesus
continuou a ensinar e a fazer por meio de Seu Espírito ao capacitar os Seus
servos.
Estudiosos
como Roger Stronstad chegam a afirmar, e isso pode até assustar alguns
paulinistas, que “uma leitura sem preconceitos de Lucas-Atos mostra que ele
rivaliza com Paulo como o maior teólogo e mestre da igreja primitiva. Essa
observação significa que Lucas é um professor tão importante quanto Paulo. Isso
também significa, por exemplo, que seu ensinamento sobre ser “batizado no
Espírito Santo” é tão importante, se não mais importante, aqui me arrisco,
quanto o ensinamento de Paulo sobre ser “batizado no Espírito Santo” (1
Coríntios 12:13). Portanto, assim como as cartas de Paulo, quando interpretadas
corretamente, ensinam os cristãos do século XXI, a narrativa de duas partes de
Lucas, quando interpretada corretamente, também ensina aos cristãos do século
XXI importantes lições históricas e teológicas, entre as quais sua doutrina
distinta sobre ser batizado no Espírito Santo”[1].
Lucas Foi Independente De Paulo
É importante
observar para a compreensão da teologia pentecostal da subsequência que a
ênfase teológica de Lucas em relação ao Espírito Santo é independente e
diferente da de Paulo. Infelizmente, essa percepção não é aceita por certos
intérpretes de Atos que foram influenciados pela hermenêutica e teologia
reformada. Um exemplo popular é John
Stott que “insistiu como uma questão de princípio que todas as sete
referências ao batismo no Espírito Santo não devem apenas significar a mesma
coisa, mas devem significar o que Paulo quis dizer com o termo (1 Coríntios
12:13)”. Para mim, esse foi um erro do Dr. Stott visto que das sete referências
Paulo possui apenas uma e Lucas as seis restante.
Ao olhar as
narrativas de Lucas sobre o Espírito Santo através dos óculos de Paulo,
intérpretes como John Stott e James Dunn amordaçaram
Lucas e silenciaram sua mensagem distintiva sobre o Espírito Santo na Igreja
contemporânea. Deste modo, uma certa escola de intérpretes criou um cânone
paulino dentro do cânon maior do Novo Testamento. Surpreendentemente, apesar
das fortes críticas à sua abordagem de interpretar as narrativas de Lucas sobre
o Espírito Santo, Dunn persiste em
tornar os escritos de Paulo o padrão canônico. Mesmo reconhecendo o lugar de
Paulo na teologia do Novo Testamento, não devemos negligenciar a identidade e
propósito teológico dos demais escritores. Todos receberam palavras inspiradas
e foram movidos pelo Espírito Santo tanto quanto foi Paulo.
Interpretar
Lucas como um teólogo que não apenas escreve independentemente de Paulo, mas
que também tem perspectivas diferentes de Paulo, resulta na observação de que
Lucas relata uma atividade vocacional/carismática do Espírito Santo – tanto
para Jesus no Evangelho como para os discípulos e seus convertidos em Atos. Em
contraste, interpretar Lucas como se fosse Paulo leva a uma interpretação
soteriológica/conversão de iniciação do Espírito Santo nas narrativas de Lucas.
No entanto, a última abordagem é metodologicamente ilegítima.
A
independência dos escritores bíblicos não significa incompatibilidade, mas
diversidade na unidade do cânon sagrado.
Conclusões: Essas observações paradigmáticas da
teologia pentecostal da subsequência, servem-nos de alerta para que cada
escritor bíblico seja entendido sob sua própria perspectiva. Quando se entende
cada perspectiva doutrinária dos escritores, nós podemos, por assim dizer,
montar o mosaico da teologia do Novo Testamento.
É patente em
Lucas-Atos, que todos os que recebem o Espírito Santo primeiro obtiveram o pré-requisito
espiritual essencial, a saber, eles já estão salvos. O batismo com o Espírito
Santo foi uma bênção subsequente para todos aqueles que creram.
A doutrina
da subsequência na teologia lucana é incontestável. Lucas descreve que todos os
salvos podem desfrutar do batismo com o Espírito Santo. Ele citou a frase
basilar de Pedro: “A promessa é para vós, para vossos filhos, para os que estão
longe, isto é, para tantos quantos o Senhor nosso Deus chamar”.
IVAN TEIXEIRA
[1] STUDEBAKER, Steven M. Defining Issues in Pentecostalism: Classical and Emergent, p.132. Copyright
© 2008 Wipf and Stock Publishers. – (McMaster Divinity College Press Theological
Studies Series). (minha tradução e paginação em pdf).
Nenhum comentário:
Postar um comentário