sábado, 30 de janeiro de 2021

TEOLOGIA PNEUMÁTICA

 


A importância da doutrina do Espírito na construção das demais doutrinas

Rumo a uma teologia pneumatológica

 

Precisamos de uma pneumatologia constitutiva, e não meramente adornativa no Sistema teológico. Constrói-se todo o sistema da Teologia em categorias teontológica e cristológica, tornando a pneumatologia como algo extra, um adendo, uma pincelada para prover simetria e equilíbrio ao design teológico. Pronto, terminou o trabalho Sistemático agora vamos adorná-lo pneumatologicamente!

Abraham Kuyper lamentou no final do século 19: “Apesar de honrarmos o Pai e crermos no Filho, quão pouco vivemos no Espírito Santo! Às vezes até pode parecer que para a nossa santificação concede-se o Espírito Santo apenas por acidente à grande obra da redenção”[1]. Nota-se claramente o trato tímido do Espírito nas doutrinas bíblicas pelos Sistemáticos. Apesar de se ver um tratamento mais extenso do Espírito de per si na Teologia Sistemática de Wayne Grudem[2], percebe-se logo a ausência do tratamento do Espírito relacionado às demais doutrinas.

É quase geral ver a doutrina do Espírito Santo como um pensamento posterior de nossa teologia, por isso se ver o súbito rebaixamento do Espírito em nossas orações, pregação, ensino, louvor e outros aspectos da vida e ministério cristão.

Evidentemente, o Pai é Deus, e os protestantes fiéis lutaram firmemente a favor da divindade plena do Filho. Entretanto, é comum que o Espírito seja considerado apenas um facilitador do nosso relacionamento com o Pai e o Filho. Contudo, o Espírito Santo é plenamente Deus no mesmo sentido que o Pai e o Filho? O Credo Niceno às vezes nos faz parar para refletir quando dizemos que o Espírito “juntamente com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”?[3] Sim ou não? Alguns temem adorar o Espírito!

Agora pense comigo: se a tendência de alguns é considerar o Filho inferior ao Pai, então com certeza a Terceira Pessoa descerá um nível ainda mais baixo na escala da divindade. Muitas seitas já despersonalizaram o Espírito, e muitos cristãos estão inferiorizando consciente ou inconscientemente o Espírito. Quando vejo pastores e teólogos depreciando a obra do Espírito na vida de cristãos com críticas infundadas e desavisadas, preocupo-me com o rumo tomado pelo púlpito e pela cátedra.

Meu empenho como pentecostal é explorar o papel distinto do Espírito Santo em todas as obras externas da Divindade no plano da redenção do mundo e da humanidade. Leio a Bíblia atentamente procurando entender o que ela diz sobre o Espírito para poder ouvir o que o Espírito diz às igrejas para depois pregar o que Ele diz para as igrejas. Se ouvirmos o que a Bíblia diz sobre o Espírito, escutaremos o que o Espírito nos diz. Quando a igreja ouve a Bíblia, ela escuta o que o Espírito diz. O Cristo glorificado nos ordena a ouvir a voz do Espírito às igrejas. Uma igreja que não ouve a voz do Espírito, desobedece ao Cristo glorificado!

O Espírito Santo não é um soprinho como uma brisa mansinha e dócil, Ele se manifestou na Era da Igreja como um som estrondoso como de um vento veemente e impetuoso. Isso quer dizer que o Espírito Santo não é domesticado pelas nossas teologias, muito menos barrado pelo nosso denominacionalismo, ou ainda manipulado pela nossa agenda. Todos devem saber que esse som estrondoso como de um vento veemente e impetuoso não se deixa domar ou domesticar, Ele sopra – e sopra poderosamente – onde quer!

É dispensável teologias sem uma ênfase distinta pneumatologicamente. Da Divindade à criação o Espírito está bem presente. O Espírito Santo é apresentado logo no segundo versículo da Bíblia (Gênesis 1.2), realizando um papel distinto na criação. Não se pode nem começar a tratar da pessoa e obra de Cristo (cristologia) à parte do papel do Espírito em Sua encarnação, ministério, milagres, pregação, obediência, morte e ressurreição. O Espírito está ali, e bem presente. Foi o Espírito que gerou o corpo humano do Verbo no ventre de Maria.

Concordo pungentemente com o teólogo Michael Horton: “Qualquer doutrina bíblica autêntica a respeito da criação, da providência, da pessoa e obra de Cristo, da Escritura, da pregação, dos sacramentos, da igreja e de escatologia deve incluir um relato robusto da ação do Espírito”[4]. Menos do que isso, é expor teologia trôpega. Não se pode falar do Pai sem o Filho e nem do Filho sem o Pai, muito menos falar do Pai e do Filho sem o Espírito. Não posso fazer teologia sem Aquele que revelou as profundezas teológicas (1Coríntios 2.9ss). Não posso desfrutar da vida de Cristo sem Aquele que vivifica (Romanos 8.11). A Teologia deve ser necessariamente pneumatológica. A pneumatologia é constitutiva da teologia e não meramente adornativa.

Antes mesmo das elaborações teológicas: cristologia, pneumatologia e etc., o conhecimento do Pai em Cristo pelo Espírito consistia na primeira realidade experimentada pelos cristãos. Eles não construíam grandes conceitos sobre o Espírito, mas experimentavam o batismo no Espírito e viviam na plenitude dos carismas e na dependência do poder do Espírito. A teologização se seguiu depois. O fazer teológico, a construção da catedral com seus pilares, se seguiu apenas para lidar com a narrativa (o que Deus fez na história) e as doutrinas (a interpretação divina desses acontecimentos), além da doxologia e do discipulado revelados na Escritura. Os cristãos do primeiro século viviam teologia, nós simplesmente estamos limitados a pensar teologia, e às vezes de maneira trôpega. Os cristãos do primeiro século estavam ultra dimensionados na pneumatologia, hoje muitos dentre nós limitamos a pneumatologia.

Uma leitura em qualquer compêndio sobre a História da Igreja logo se descobrirá, em especial no Ocidente, que a obra do Espírito Santo foi minimizada à medida que era transferida para o controle eclesiástico. Líderes vazios e déspotas sempre temeram a ação do Espírito na igreja. Eles sabem que não podem manipular o Espírito, Ele sopra onde quer!

O teólogo católico Yves Congar destaca que, em vez de serem vistos como meios das operações do Espírito, os sacramentos muitas vezes eram considerados eficientes em si e por si mesmos, o que tornou o Espírito um tanto irrelevante. O papa, os santos e a virgem Maria também poderiam tornar-se “substitutos do Espírito Santo”[5]. Como reação, surgiram diversos movimentos espirituais, colocando o Espírito em oposição à igreja e a seu ministério da Palavra e do sacramento. Ocorreu uma ruptura entre a instituição hierárquica, cheia de abusos, e indivíduos carismáticos à procura de uma experiência divina direta e pessoal por meio de visões, milagres e êxtase, mesmo à parte do ministério comum da igreja.

Teólogos como Benjamim B. Warfield, postulam que a Reforma constituiu numa das maiores redescobertas do Espírito Santo. A Teologia Medieval estava distante do Espírito ocupada com outros pontos, enquanto os reformadores começaram a anunciar “que o Espírito incriado é a dádiva que une os pecadores a Cristo com todos os seus benefícios”. Lutero escreveu que “[...] o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, me iluminou com Seus dons, me santificou e me manteve na fé verdadeira”. Mas é claro que Lutero criticou veementemente os “entusiastas”.

Reconhece-se amplamente entre os reformados calvinistas que João Calvino contribuiu de modo especial com a mais rica reflexão pneumatológica da época, a tal ponto de receber posteriormente o epíteto de “teólogo do Espírito”. Dentre os reformadores, como observa o teólogo pentecostal Veli-Matti Kárkkáinen, a teologia de Calvino era a mais impregnada pela pneumatologia, embora ele fosse tão crítico quanto Lutero do “entusiasmo” que separava o Espírito da Palavra[6]. Muitos pentecostais se inclinam consciente ou inconscientemente para essa ‘separação’ “entusiástica”, e as observações de João Calvino são saudáveis e pertinentes.

Brian Gaybba, teólogo católico romano, chega a dizer que, “com Calvino, existe a redescoberta — pelo menos no Ocidente — de uma ideia bíblica quase esquecida desde o período patrístico. Trata-se da ideia do Espírito de Deus em ação”[7]. Alguns estudiosos como Matthew Levering[8] e Michael Horton[9] entendem que Gaybba exageram um pouco, mas as riquezas das reflexões pneumatológicas de Calvino não devem ser negadas, mormente por se tratar de uma sistematização no fim do período medieval.

O grande humanista Desidério Erasmo escreveu uma carta desdenhosa a Guilherme Farel, o colega mais velho de Calvino, censurando Genebra: “Os refugiados franceses têm estas cinco palavras de forma contínua em seus lábios: evangelho, Palavra de Deus, fé, Cristo e Espírito Santo”[10]. Apesar de discordamos de certas conclusões teológicas do reformador genebrino, seria idiotice negar a contribuição teológica e pneumatológica de Calvino tanto para Genebra quanto para o mundo.

Os exemplos dos quatro parágrafos anteriores nos fazem pensar que a negligência vista hoje no meio Reformado é um distanciamento de suas próprias raízes. Muitos outros gigantes na História da Igreja poderiam ser citados: John Owen, William Perkins, Richard Sibbes e Thomas Goodwin, Abraham Kuyper e muitos outros. Querendo Deus, oportunamente abordaremos a obra destes eminentes teólogos.

Foi o teólogo metodista Delmar Lyle Dabney que estimulou certo número de não pentecostais, como o teólogo batista Clark Pinnock, a considerar a concessão da primazia ao Espírito em todos os loci[11] da Teologia Sistemática. Digna de nota são as palavras do Dr. Dabney:

Todo locus deveria ser enriquecido pela reflexão pneumatológica e, de fato, defendo a prática e procuro implementá-la neste livro. Entretanto, a pneumatologia deve consistir em uma aplicação da teologia trinitária, pois o Espírito e sua obra são inseparáveis do Pai e do Filho. Como consequência, apenas quando se reconhece a relação do Espírito com as outras pessoas por meio de processões e missões (ou seja, além de todos os loci teológicos), nossa pneumatologia permanece bíblica e presa à economia, e não como um critério separado e mais suscetível à especulação[12].

 

Os pentecostais têm se empenhado nesta tarefa enriquecedora com uma rica reflexão pneumatológica em todas as áreas da teologia. Para citar alguns: Frank Macchia, Simon Chan, Amos Yong, Henry Lederle, Charles Carrin e Wolfgang Vondey para citar alguns.

Postulo que um relato teológico sistemático não deve ofuscar a ênfase espiritual do Movimento Pentecostal. Tal ênfase no Espírito e nos Seus dons, não é mero invencionismo, mas um retorno às Escrituras Sagradas, à vida e ao ministério tal como visto no Novo Testamento nos primeiros cristãos e escritores.

Para sermos bíblicos, não devemos perder o ensino de que junto com o Pai e o Filho, o Espírito está no centro da ação, desde Gênesis 1.2 até Apocalipse 22.17 – não tem como separar a divindade das Pessoas: a ação de um é a ação dos Três, e a cada ação dos Três é a ação de UM. Como bem colocado por Michael Horton: “Cristo é de fato quem nos conduz ao Pai, mas isso só é possível por meio do Espírito. Ignorar o Espírito não só nos priva de encontrar uma pessoa da divindade; se for fraca, a pneumatologia (i.e., a teologia do Espírito) inevitavelmente estimula a distorção de outras doutrinas importantes, incluindo-se as da pessoa e da obra de Cristo”[13].

Creio que estamos diante de um grande avanço nos estudos teológicos. Desde o início do Movimento Pentecostal não apenas os dons e poderes do Espírito Santo têm sido reconhecido nas igrejas, mas também um apreço pela Pessoa e obra do Espírito Santo tem dominado corações e mentes. Eu sou uma delas, e você?

 

 

 

 

 



[1] KUYPER, Abraham. The Work of the Holy Spirit, p.xii. New York; Funk & Wagnall, 1900; reimp., Grand Rapids: Eerdmans, 1979.

[2] A Teologia de Grudem é de atual interesse pelo tratamento de temas ausentes nas demais teologias evangélicas. Cf. GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática: Atual e Exaustiva. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 1999.

[3] HORTON, Michael. Redescobrindo o Espírito Santo: a presença santificadora de Deus na criação, na redenção e na vida cotidiana, p.16,17. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã, 2018.

[4] HORTON, Michael. Redescobrindo o Espírito Santo: a presença santificadora de Deus na criação, na redenção e na vida cotidiana, p.16,17. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã, 2018.

[5] I believe in the Holy Spirit: the complete three-volume work in one volume, Vol. 1, p.160-166. Milestones in Catholic Theology: New York: Crossroad Herder, 1997.

[6] Pneumatology: The Holy Spirit in ecumenical International, and contextual perspective, p.46. Grand Rapids: Baker Academic, 2002.

[7] The Spirit of Love: theology of the Holy Spirit, p.100. London: Geoffrey Chapman, 1987.

[8] Engaging the doctrine of the Holy Spirit, p.321, nota 43. Grand Rapids: Eerdmans, 2016.

[9] HORTON, Michael. Redescobrindo o Espírito Santo: a presença santificadora de Deus na criação, na redenção e na vida cotidiana, p.19, nota 13. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã, 2018.

[10] Citado em Emile G. Leonard, The Reformation, in: H. H. Rowley, org., A History of Protestantism (London: Thomas Nelson and Sons, 1965), vol. 1, p. 306,2 vols.

[11] Loci é o plural de locus. O mesmo que: locais, locos, lugares. Lugar determinado; local específico.

[12] Why should the last be first? The priority of pneumatology in recent theological discussion”, in: Bradford E. Hinze; D. Lyle Dabney, orgs., Advents of the Spirit: an introduction to the current study of pneumatology (Milwaukee: Marquette University Press, 2001), p. 240-61.

[13] HORTON, Michael. Redescobrindo o Espírito Santo: a presença santificadora de Deus na criação, na redenção e na vida cotidiana, p.27. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã, 2018.

TRÊS PERIGOS QUE OS PENTECOSTAIS DEVEM EVITAR

 


Nós pentecostais nos ocupamos de relatar os erros e distorções doutras fluentes da Cristandade, porém percebo que nós mesmo devemos ter cuidado com certos deslizes, erros teológicos e asneiras vistas e ouvidas em nossos púlpitos e congregações – tem muita coisa que não passa de heresias com roupagem do pós-modernismo. Vejamos brevemente algumas:

1. DESPERSONALIZAÇÃO PNEUMÁTICA

Certas pregações e cânticos parecem implicar numa tendência cada vez mais crescente de tratar o Espírito Santo como uma força ou fonte de poder do que como uma Pessoa poderosa da Divindade.

Muitas pregações e louvores no meio pentecostal parecem descrever o Espírito Santo como uma “tomada elétrica” ou um “gerador de energia” que se você descobrir os segredos ou os mistérios (está mais para truques!) então encontrará o poder.

Já vi supostos teólogos no Facebook reduzindo as hipóstases (as Três Pessoas) da Trindade a uma única pessoa: uma heresia conhecida como modalismo. A trindade vai sumir! Certo amigo comentou comigo que tal ensino se encontra nas notas de uma Bíblia de Estudo de certo pastor brasileiro.

Esse perigo não é visto apenas nas mídias sociais ou nas congregações locais, pois até mesmo eruditos influenciados pelo filósofo idealista Georg W. F. Hegel estão despersonalizando o Espírito. Para o dito filósofo o Espírito Santo não passava de um “Espírito absoluto”, indistinguível do processo da história que seguia adiante para a consumação imanente total. Além dessa influência existe também um caráter romantizado e panteísta no Ocidente teológico. Um “Espírito” genérico, inclusivo, uma brisazinha domesticável tem tomando lugar do Espírito das Escrituras que se move poderosamente como um vento veemente e impetuoso. O “Espírito” que se ver em certas teologizações se parece mais com uma “Grande Mãozona” que abraça tudo e a todos indistintamente em seus seios espirituosos. Aquele Espírito que peleja contra os rebeldes pecadores descrito por Isaías é coisa do passado mitológico deste profeta (cf. Isaías 63.10). Cuidado pentecostais!

Para muitos uma teologia cristocêntrica e teológica (do Pai) suscita o espectro de divisões. O “Espírito” abraça mais a todos e a tudo, as classes oprimidas sob o bastão de distinções de autoridade como se ver no conceito Pai e Filho. No pluralismo do pós-modernismo, o Espírito parece a pessoa/coisa certa – “ele” é neutro (na concepção Ocidental). Eis o perigo de certas hermenêuticas ditas pentecostais. Essas são oriundas do inferno para enganar os desprevenidos e romantizados cidadãos de uma pentecostalicidade sem Sinai e sem Calvário.

Estes personagens da erudição progressista se distanciam das grandes verdades doutrinárias do passado, eles querem reinventar as doutrinas, romantiza-las e torna-las mais culturalmente adaptável. Querem ser relevantes em suas teses, tornando o Espírito Santo uma abstração ideológica e subjetiva de sua brasileiridade (falando aqui do nosso Brasil!). A pneumatologia de alguns parece afirmar: “O Espírito é brasileiro!”, cheio de gírias e malandragem. Oh prosélitos duas vezes filhos do inferno!

Abordagens com viés fenomenológico social e psicológico têm reduzido o Movimento Pentecostal meramente a conceitos de religiões experimentais pragmatistas. Perdeu-se o foco bíblico-teológico na abordagem do Movimento Pentecostal. Lembremo-nos que o desvio das igrejas na Europa e nos EUA se deu por meio de eruditos que promoveram como resultado dos seus estudos acadêmicos o liberalismo que matou o povo. O pentecostalismo brasileiro (e noutros lugares) corre este risco. Esses tais doutores são instrumentos de Satanás! Vamos vigiar!

 

2. PRECEDÊNCIA PNEUMÁTICA

Um segundo erro, muito trágico, é a tendência pentecostal de dar precedência ao Espírito Santo em detrimento do Pai e do Filho. Talvez alguns pensem pelo fato do Espírito habitar em nós, que o Pai e o Filho estão distante – lá em cima – e, por isso o Espírito é mais íntimo. Ledo engano, pois o Pai e o Filho vieram habitar nos que creem (João 14.23) pelo Espírito Santo. O próprio Espírito constrói a igreja para habitação de Deus, ou seja, de toda a Deidade: Pai, Filho e Espírito Santo (Efésios 2.18,22). Eu não posso ter o Espírito e não ter o Pai e o Filho; se tenho o Pai, tenho o Espírito e o Filho. Não há precedência e nem detrimento das Pessoas da Santíssima Trindade numa abordagem biblicamente saudável.

Somos informados pelas Escrituras que o Espírito Santo é o Espírito de Jesus, o Espírito de Cristo, o Espírito do Pai e o Espírito de Deus.

O principal papel soteriológico do Espírito Santo é nos unir a Cristo e nos conceder a vida do Pai. O Espírito Santo derrama o amor de Deus em nosso coração (Romanos 5.5). Nós estamos na comunhão do Espírito, que é a comunhão do Pai e do Filho (cf. 2Coríntios 13.14; 1João 1.3, ACF).

Pelo fato de o nosso primeiro contato com o Deus Triúno dever-se ao Espírito Santo, que nos ressuscita da morte espiritual e habita em nós, pode-se concluir, de modo errôneo, que o Espírito é a pessoa acessível da Trindade. Em vez disso, deve-se considerar essa obra do Espírito iniciada pelo Pai e paga e mediada pelo Filho. Mediante a ação do Espírito, as Três Pessoas aproximam-se de nós e nos conduzem à Sua comunhão[1].

Como pentecostais bíblicos, nós devemos ter muito cuidado em nosso fazer teológico.

 

3. PENTECOSTES SEM CÁLVARIO

Tenho alertado sobre este perigo constantemente. Como pentecostais somos tendenciosos a descansar à sombra do evento de Pentecostes, esquecendo-nos do fato de que só chegamos ao Pentecostes porque primeiro passamos pelo Calvário. Pentecostes sem Calvário é uma grande comédia, e Calvário sem Pentecostes seria uma grande tragédia. Calvário e Pentecostes nos conduzem para o plano arquitetônico redentor de Deus aliado ao Sinai.

A eficácia da missão do Espírito por ocasião do Pentecostes é medida por nossa concentração em Cristo no Calvário. O Pentecostes encontra-se inextricavelmente ligado ao Calvário: Noutras palavras, a Missão pentecostal do Espírito resulta e é inerente a Missão do Calvário de Cristo.

Certo escritor fez uma analogia precisa: “No templo jamais se verá a bacia de água colocada antes do altar. O altar é o Calvário, e a bacia de água é o dia de Pentecostes. Um representa o sangue do sacrifício, o outro representa o Espírito santificador”[2]. Exatamente isso, nós não podemos nos banhar nas águas da bacia pentecostal, se ainda não fomos aspergidos pelo sangue do altar do Calvário. No Antigo Testamento, primeiramente se aplicava o sangue sobre a ponta da orelha direita, sobre o polegar da mão direita e sobre o polegar do pé direito com vista a purificação do leproso. Depois disso seria colocado o óleo sobre a orelha direita, no polegar da mão direita e no polegar do pé direito – o óleo sobre o sangue da oferta pelas transgressões (Levítico 14). Nunca se deve colocar o sangue sobre o óleo. É impossível o Pentecostes preceder o Calvário, ou que o derramamento do Espírito pudesse ter vindo antes do derramamento do sangue. Antes do derramamento do Espírito (Pentecostes), é necessário o derramamento do sangue (Calvário).

O berço de Belém deve anteceder o berço do Cenáculo. O nascimento do Filho de Deus, deve anteceder o nascimento da Igreja. O Espírito não pode vir, se o Cristo não for. Se o Espírito está conosco, é prova de que o Cristo já foi e assentou-se à destra do Pai.

Os pentecostais precisam entender que o Espírito Santo não deseja manter nenhuma ligação com um cristianismo sem Cristo. O Cristianismo do Pentecostes é cristológico – centrado em Cristo. Assim como o Cristianismo do Calvário aponta para o Pentecostes pneumatológico.

A primeira experiência de uma pessoa com Deus é promovida pelo Espírito, mas sempre unindo o pecador a Cristo e transformando o crente à imagem de Cristo. Não pode haver Pentecostes sem Calvário, e Calvário sem Pentecostes!

Podemos concentrar-nos no Pentecostes somente depois de termos compreendido o Calvário. O evangelho não é o evangelho do Pentecostes se primeiramente não for o evangelho da cruz de Cristo.

A pregação do evangelho não é sobre o Espírito e este no Pentecostes, mas sobre Jesus Cristo e este crucificado, uma pregação que deve ser realizada na demonstração do Espírito e de poder.

Só é possível ter certeza de onde o Espírito está ativo: onde quer que Jesus Cristo seja declarado o Salvador de pecadores!

 

CONCLUO estes alertas aos pares pentecostais afirmando o meu compromisso de fazer uma teologia nos seguintes moldes: do Pai, em Cristo e pelo Espírito. A salvação é obra do Pai, em Cristo e realizada na vida do pecador pelo Espírito.

Eu não temo adorar ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Sigo o grande Credo Niceno: “o Espírito é adorado e glorificado com o Pai e o Filho”. Não devemos manter o Espírito dividido do Pai e do Filho, e nem preceder o Pai e o Filho pelo Espírito. Devemos preservar e perseverar tanto na confissão da fé quanto na doxologia a doutrina ensinada nas Escrituras da Bendita Triunidade. É nas reuniões congregacionais que essa crença e esse louvor são mantidos ou perdidos. Nós devemos invocar O Pai, NO Filho, PELO Espírito.

Não despersonalize o Espírito, muito menos faça malabarismos interpretativos nos moldes da pós-modernidade. Abraçamo-nos as diretrizes bíblicas e a sabedoria dos séculos em nossa teologia e vida.

 

Ivan Teixeira



[1] HORTON, Michael. Redescobrindo o Espírito Santo: a presença santificadora de Deus na criação, na redenção e na vida cotidiana, p.28. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã, 2018.

[2] GORDON, A. J. O Ministério do Espírito, p.28. São Paulo, SP, Brasil: Editora dos Clássicos, 2012.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O ESPÍRITO ANIMA A IGREJA

  


Desde cedo como estudante de teologia aprendi que as doutrinas bíblicas estão interligadas, e o crescimento na compreensão de uma lança luz nas demais. O fato de estudarmos elas separadamente, visa a didática, mas nunca um entendimento separatista e isolacionista. Uma doutrina lança luz noutra doutrina, e o conjunto das doutrinas produzem uma imagem perfeita da verdade revelacional de Deus.

A pneumatologia (doutrina do Espírito Santo) está relacionada com a eclesiologia (doutrina da igreja). Por isso, é legítimo articular uma pneumatologia eclesiológica e uma eclesiologia pneumatológica.

Nós temos tanto as verdades sobre o Espírito Santo relacionadas à Igreja, quanto verdades sobre a Igreja relacionadas ao Espírito. Aliás, sem a pneumatologia não há eclesiologia. O Espírito gera e anima a Igreja!

Claro que a Igreja não anima o Espírito, ela não deriva o Espírito. A Igreja não produz ou caracteriza o Espírito.

Mas o Espírito gera e anima a Igreja. O Espírito faz nascer a Igreja. O Espírito caracteriza e produz a Igreja. A Igreja é de Cristo e do Pai por causa da obra do Espírito Santo. O Espírito é o vínculo entre a Igreja e a Divindade, assim como Ele é o vínculo entre o Pai e o Filho.

Avivamento é uma obra do Espírito vivificando os que estão em Cristo para viver a vida plena do Pai. A vida cristã é animada pelo Espírito. A Igreja tem e vive a vida de Cristo, a imagem do Deus invisível, por meio da animação do Espírito.

O BATISMO pelo Espírito forma o Corpo de Cristo, a Igreja!

A OBRA do Espírito forma a família de Deus Pai, a Igreja!

A CONSTRUÇÃO do Espírito forma o santuário de Deus Espírito Santo, a Igreja!

Sim, o Espírito tem que estar presente para uma verdadeira eclesiologia!

Inácio dizia: “Onde está Cristo está a Igreja”; Tertuliano afirmava: “Onde estão os Três, Pai, Filho e Espírito Santo, aí também se encontra a Igreja, que é o corpo dos Três”; eu afirmo: “Onde está o Espírito, está a Igreja; e onde está a Igreja está o Espírito”. A consistência da Igreja é dependente da presença e ação do Espírito Santo. A Igreja é fruto das Duas Missões do Pai: O Verbo e o Espírito!

 

Sim, o Espírito anima a Igreja!

 

Ivan Teixeira

 

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O SUMIÇO DA TRINDADE



A doutrina teológica da triunidade de Deus é um ensino bíblico fundamental para a fé dos salvos; crê ou desacreditar na Triunidade distingue a Ortodoxia da Heresia.

Cremos que qualquer pessoa que nega a doutrina da triunidade de Deus nega o evangelho, pois as boas novas da salvação foram obras das Três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Pregar doutrina diferente é chamar a maldição divina para si. A anatematização não recai apenas aos que pregam um evangelho diferente do da graça, uma salvação por meio das próprias obras, mas também sobre os que negam as pessoas graciosas da santíssima triunidade.

Posto isso, uno-me com os primeiros pentecostais assembleianos quando condenaram o pentecostalismo unicista como heresia. No entanto, hoje em nome da academia há um diálogo entre os pentecostais trinitários e os pentecostais unitários. Paulo exortou a evitar os contenciosos doutrinários (Tito 3.10,11), mas os pentecostais mordenistas e progressitas sentam-se à mesa para tentar conciliar o inconciliável.

Mas o meu ponto é outro, vamos lá!

 

O QUE SE DIZ POR AÍ!

É meus irmãos, a coisa não está fácil. Existe um ensino sorrateiro seja bem ou mal articulado que prevê o término da Trindade baseado EISEgeticamente no texto de 1Coríntios 15.28: “E, quando todas as coisas lhe [Cristo] estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará Àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos” (ACF[1]); “Quando tudo lhe for submetido, também o Filho se submeterá Àquele que lhe submeteu tudo, e assim Deus será tudo em todos” (BP[2]).

A ideia básica é a seguinte: no final de tudo, na eternidade futura, a trindade findará para que Deus seja tudo em todos, implicando na absorção das Pessoas da Trindade numa ÚNICA pessoa da Divindade. Alguns tentam explicar que a Trindade, Três Pessoas na unidade da Divindade, foi (e é) um modo da revelação de Deus na economia da salvação. Então, quando todas as coisas estiverem concluídas, não será mais necessário a Trindade. Que ledo engano! Aliás, que heresia!

Sempre digo: Uma pequena erosão na doutrina hoje, amanhã se torna uma grande cratera (Grand Canyon); um pequeno desvio da moral hoje, amanhã se torna uma grande imoralidade.

 

Agora tenta explicar que esse tal ensino é uma heresia! A pessoa logo te atacará dizendo que você é o único ortodoxo da galáxia. Isso sem falar que você terá que explicar a explicação que você deu comprovando a heresia.

Claro que sempre ouvi tais ensinos, hoje, no entanto, se torna mais veloz e muito mais nocivo por causa das redes sociais. Tais ideias e ensinamentos percorrem as redes velozmente danificando o pensamento cristão e a saúde doutrinária das igrejas locais.

O cara ler um livro (quando ler) sobre um assunto ou viu um youtuber desigrejado falando certas coisas, e toma aquilo como certo e começa a ensinar. Agora, tente confrontar o pensamento dele à luz da Bíblia e da História teológica, ele logo irá vociferar contra você. A maioria desce do campo das ideias, e vomita impropérios contra sua pessoa.

Apesar disso devemos peremptoriamente combater esse tipo distorcido de ensinamento para resguardar nossos irmãos na congregação local.

Cuidado com quem você leva para sua igreja!

 

O QUE O TEXTO NÃO QUER DIZER

Primeiramente, o texto nada diz sobre o fim da trindade ou a absorção das pessoas numa única pessoa divina. Certo cidadão escreveu num comentário no Facebook: “O Pai, o Filho e o Espírito, será um só, um mesmo corpo, quando o Filho entregar o reino ao Pai” (pasmem, teve até um coraçãozinho de um teólogo!).

O texto bíblico nada diz que quando o Filho entregar o reino ao Pai as pessoas da Trindade serão um só, um mesmo corpo, ou mais articulado: as pessoas da Triunidade serão absorvidas numa/pela única pessoa (o Pai?). Em 1Coríntios 15.24 reza que quando o fim vier, Cristo, na Sua vinda, entregará o Reino a Deus, ao Pai, após ter aniquilado todo o império, e toda a potestade e força. O Cristo ressurreto recebeu autoridade para isso (cf. Mateus 28.18 – a autoridade do Reino pertence ao Deus-Homem). Os versículos nada dizem sobre o sumiço/absorção das pessoas da Trindade num único corpo ou pessoa. Outrossim, o v.28 nada diz que “O Pai, o Filho e o Espírito, será um só, um mesmo corpo, [...]” ou que haverá uma absorção das pessoas numa única pessoa. Esses versículos não apoiam a ideia do “término” ou “sumiço” da Trindade.

 

O QUE O TEXTO DIZ

Quando Cristo derrotar a morte, o último inimigo (vv.24-26), Ele entregará o Reino “a Deus, ao Pai” para que “Deus seja tudo em todos” (v.28). A frase “Deus seja tudo em todos” não significa que as Pessoas da Triunidade sumirão ou serão absorvidas numa única pessoa na unidade da divindade. O que quer dizer é que o Deus Triúno – Pai, Filho e Espírito Santo -, conforme revelado nas Escrituras será tudo em todos. Lemos em Apocalipse 22.1 que o trono ETERNO é “de Deus e do Cordeiro” – a distinção das pessoas permanece! A clara implicação é que as Três Pessoas da Santíssima Triunidade estarão presentes no Trono por toda a eternidade (cf. Apocalipse caps. 4 e 5 que falam da Pessoa do Espírito).

Lemos também em Efésios 5.5 sobre a “herança no Reino de Cristo e de Deus”; Apocalipse 11.15: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre”. O Reino é de Deus, sim, do Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo!

Certo escritor escreveu acertadamente:

[...] o único objetivo de Cristo era glorificar o Pai (Lucas 2.49, João 4.34; João 6.38; João 17.4, etc.); este fim foi alcançado aproximadamente na cruz (João 19.30), e será assim finalmente quando nosso Senhor, tendo “sujeitado todas as coisas a Si mesmo” (Filipenses 3.21), for capaz de apresentar ao Pai um reino dominado por Sua vontade e cheio de Seus filhos obedientes (cf. Mateus 6.9). Esta não é a cessação do governo de Cristo, mas a inauguração do reino eterno de Deus: παραδιδῷ = paradidõ não conota a perda de nada (ver João 17.10); é apenas a representação a outro do que é designado para Ele (cf. 1Coríntios 15.3; 1Coríntios 5.5, Romanos 8.32, Lucas 4.6; Lucas 10.22, etc.)[3].

 

Outro escritor de um comentário respeitado aponta:

O que exatamente significa παραδῷ τὴν βασιλείαν (paradõ tèn Basileían) está além de nossa compreensão. A soberania foi confiada ao Filho com um propósito definido: quando esse propósito foi cumprido, a soberania retorna à Fonte original. Não precisamos pensar em Cristo perdendo algo ou deixando de governar, mas levando a uma conclusão triunfante uma dispensação especial. É sua obra acabar com tudo que se opõe à soberania de Deus. Quando toda oposição é reduzida a nada, a soberania Divina, da qual o Filho participa (João 17:10; Efésios 5:5; Apocalipse 11:3,15, 22:1), será completo, e o reino de Deus, que é o reino do amor, não terá mais impedimento ou obstáculo. Nós nos perdemos, quando tentamos definir os detalhes dessa consumação: é mais sensato adotar uma reticência reverente e uma reserva[4].

 

Não é bíblico, portanto é contra a bíblia o ensino do “sumiço da Triunidade” ou a absorção das pessoas numa única pessoa. Se, como aprendemos no básico da Teologia Sistemática, cada Pessoa é eterna consequentemente a Trindade é eterna!

Não haverá ponto em que as pessoas da Triunidade sumirão ou serão absorvidas na unidade da divindade. Os textos usados, como vimos acima, nada falam sobre tais ideias.

 

O MESMO FILHO SE SUJEITARÁ AO PAI

Essa frase nada diz que o Filho será absorvido por Deus. Igualmente, o v.24 nada diz que o Filho se tornará uma pessoa na divindade com o Pai. Os textos dizem que o Filho entregará o Reino (v.24) e se sujeitará ao Pai (v.28). Acredito que nem preciso articular sobre as palavras gregas: παραδιδῷ = paradidõ “Ele deve entregar” (v.24); e ὑποταγήσεται = hypotagêsetai “será colocado em sujeição” (v.28). Já deixamos claro acima o significado.

O ponto da frase é que o reinado mediador do Deus-Homem, o Cristo, será entregue a Deus, Pai, para que o reinado do Filho, em união ou em unidade com o Pai, continue para sempre como único Deus verdadeiro. O Filho de Deus, em Sua natureza divina, como Deus, nunca cessará de Reinar e de Ser a Segunda Eterna Pessoa da Triunidade.

O reinado eterno não será exercido meramente como Deus-Homem, o Mediador, mas como “Deus de Deus” o Supremo e único Soberano.

 

PARA QUE DEUS SEJA TUDO EM TODOS

O próprio final para a entrega do Reino pelo Filho ao Pai e de Sua sujeição final ao Pai é para que Deus cumpra todas as relações em todas as criaturas. Acredita-se que o πᾶσιν = pasin = todos, inclua pessoas e coisas. O significado parece ser que não haverá mais necessidade de um Mediador: todas as relações entre o Criador e as criaturas, entre o Pai e a descendência, serão diretas.

Concluo afirmando que a palavra “Deus” deve ser corretamente entendida como a Divindade, a Natureza Divina, o Ser Espiritual, consistindo eternamente nas Três Benditas Pessoas da Santíssima Trindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Algum dia, compreenderemos melhor a Deus, mas, mesmo então, não o compreenderemos total e exaustivamente!

 

Concordo com Tertuliano ao afirmar que a doutrina da Trindade deve ter sido divinamente revelada, não construída por seres humanos. Por isso, não defendo a doutrina da Santíssima Trindade porque é evidente por si ou logicamente convincente. Defendo peremptoriamente porque Deus revelou que Ele é assim. Como alguém disse acerca da doutrina[5]:

Tente explica-la, e perderá a cabeça;

Mas tente negá-la, e perderá a alma.

 

Ivan Teixeira



[1] Almeida Corrida Fiel.

[2] Bíblia do Peregrino.

[3] FINDLAY, G. G. & NICOLL, W. Robertson. First Corinthians (The Expositor’s Greek Testament Book 5) (English Edition) eBook Kindle.

[4] PLUMMER, Alfred A. & ROBERTSON, Archibald. International Critical Commentary New Testament (ICC): 1 Corinthians.

[5] ERICSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática, p.139. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 1997.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

PENTECOSTALICIDADE DO ENCONTRO

 


Teologia Bíblica Pentecostal da Presença Relacional de Deus

 

Nós pentecostais somos fascinados pela presença de Deus. A presença de Deus nos cativa, nos acorrenta, nos impulsiona e é o maior desejo de um crente pentecostal. A presença de Deus é a marca da espiritualidade pentecostal. Apesar de entender que o querigma cristológico (pregação centrada em Cristo) é central na espiritualidade do pentecostalismo histórico, todavia o âmago deste centro espiritual e querigmático é a presença de Deus. Ou, como tenho argumentado noutro lugar, o encontro presencial com Deus é o centro da nossa espiritualidade e doxologia pentecostal.

Tenho proposto e desenvolvido a tese nos meus escritos que o encontro com Deus deve ser central em todo o contexto pentecostal. Defendo que o Evento de Pentecostes é o evento que torna a presença de Deus em nós – Igreja – pelo Espírito Santo. Apesar de que entendo que existam acusações de que o pentecostalismo seja uma religião subjetivista ou emocionalista, ou ainda centrada no homem – claro, que discordo peremptoriamente. Minha proposta é postular um pentecostalismo centrado no encontro com Deus. Apensar de o encontro litúrgico pentecostal ser teológico (ser centrado em Deus), eu entendo que também seja antropológico[1], pois pessoas se reúnem ali para esse encontra.

Creio que por meio do Espírito Santo nós podemos ter um encontro presencial e relacional com Deus. A Bíblia Sagrada revela que a presença de Deus é relacional e que Ele deseja Se encontrar com o Seu povo.

Olhando a Teologia do Antigo Testamento percebemos que “conhecer a Deus” significa, na mente judaica, ter um relacionamento com Deus, desfrutar de Sua presença relacional. O “conhecer a Deus” no Antigo Testamento não significa meramente obter informações sobre uma pessoa, mas conhece-la e manter comunhão com ela. Noutras palavras, desfrutar de sua presença. Por isso, defendo que a teologia pentecostal – conhecimento de Deus pentecostal – deve seguir esse matiz da mentalidade judaica e não escorregar para um mero conhecimento filosófico e especulativo que traz mais confusão do que edificação para a igreja. Ou usando as palavras de Paulo: nossa teologia deve equilibrar-se numa admoestação que visa o amor que procede de coração puro e de consciência boa e de fé sem hipocrisia, e não se perdendo em loquacidade frívolas. Nossa teologia pentecostal deve promover o serviço de Deus e na fé (cf. 1Timóteo 1.4-6). Noutras palavras, nossa teologia pentecostal ou o labor pentecostal teológico deve nos levar a um encontro com Deus, ao mesmo tempo que leva o povo que ministramos para encontrar-se com Deus.

O pentecostalismo de encontro pode ser desdobrado num variado contexto: Adoração, pregação, missão, discipulado, ministério, hermenêutica, teologia e etc.,

Para exemplificar posso dizer que o encontro com Deus é o centro da adoração pentecostal (Salmo 27.4; 84.2; 95.2; 100.2; Miquéias 6.6-8).

O centro proposital da PREGAÇÃO deve ser mostrar a centralidade de Deus em Cristo por meio do dinamismo do Espírito Santo (1Coríntios 2.1-5; 1Tessalonicenses 1.5-6). Em Gálatas 3.1,2, Paulo usa uma expressão gráfica para dizer que apresentou o Cristo crucificado diante dos olhos das igrejas na Galácia.

A MISSÃO da Igreja deve ser a proclamação da centralidade da glória e das obras de Deus às nações (Salmo 96.3), ou seja, levar os povos a se encontrar com este Deus glorioso e que faz maravilhas. Certa ocasião li nalgum lugar que “liberalismo é levar as pessoas a Cristo, e o Cristianismo é levar Cristo às pessoas”. Talvez haja alguma diferença noutro contexto, mas entendo que tanto levar as pessoas a Cristo como levar Cristo às pessoas resulta num encontro da pessoa com Cristo.

A IGREJA deve levar às pessoas a terem um encontro com Cristo para serem salvas e receberem o refrigério pela presença do Senhor (Atos 3.20).

O DISCIPULADO e o MINISTÉRIO pentecostais devem também se centralizar em levar o novo crente à maturidade de Cristo Jesus por meio da pedagogia do Espírito Santo (Efésios 4.12-16; 1João 2.20; Colossenses 4.12).

A VIDA CRISTÃ deve ser um contínuo desfrutar da presença justa, alegre e tranquilizadora de Jesus por meio do Espírito Santo (Romanos 14.17).

Na COMPREENSÃO das Escrituras o Espírito Santo nos guia na verdade, testifica dela, ilumina a verdade e nos faz conhecer a Deus por meio da verdade (João 14.26; 15.26; 16.13.13-15; 1João 2.20,27). Chamo isso de hermenêutica do Espírito onde o Espírito no leva a compreender a verdade de Deus e nos conduz a um encontro salvador e santificador com Cristo Jesus. O Espírito Santo faz com que a verdade seja viva a tal ponto de nos transforma. Ele é o Espírito que vivifica a Palavra de Deus (João 6.63). E essa Palavra nos vivifica (Salmo 119.25,50,93,107,154).

Assim como estudiosos têm apontado clara e convincentemente que a presença relacional de Deus é realmente o tema central da teologia bíblica[2], seguindo essa visão nós devemos postular que o encontro com a presença relacional de Deus deve ser o coração da teologia pentecostal.

Desde o início no Gênesis percebemos que os seres humanos foram criados para a glória de Deus e para desfrutar a presença relacional de Deus. Todavia, esse relacionamento foi quebrado pela desobediência e pecado. O restante da Bíblia descreve a restauração e renovação desse relacionamento, culminando com Deus habitando com o Seu povo no livro de Apocalipse.


Ivan Teixeira 

 



[1] Isso não tem nada a ver com um culto antropocêntrico.

[2] DUVALL, J. Scott & HAYS, J. Daniel. God Relational Presence: The Cohesive Center of Biblical Theology. PO Box 6287, Grand Rapids, MI 49516-6287. Ebook edition created 2019.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

JUSTIÇA DE CRISTO E O FRUTO DA JUSTIÇA DO ESPÍRITO

 


A JUSTIÇA DE CRISTO E O FRUTO DA JUSTIÇA DO ESPÍRITO SÃO INDISPENSÁVEIS PARA A SALVAÇÃO COMPLETA DO PECADOR CRENTE

 

Cristo Jesus providenciou Sua própria justiça aos pecadores para que fossem salvos por Deus visando dá glória unicamente a Deus e não as obras humanas. A obediência de Cristo é a causa material da salvação dos pecadores. Nós não fomos salvos por causa da nossa obediência e pela prática da nossa justiça, mas única e somente pela justiça de Cristo, Sua obediência na vida e morte. Dizer que Deus ver a obediência do pecador e o salva, não condiz com o ensino do Novo Testamento. Mas dizer que Deus salva os pecadores pela fé, causa instrumental, na base da obediência de Cristo, causa material, por causa da misericórdia e amor gracioso de Deus, causa eficiente, e para o louvor de Deus, causa final, é totalmente bíblico!

Agora, nos salvos, o Espírito Santo providencia o fruto da justiça para que não se exaltem em suas obras cristãs para que Deus continue recebendo a glória devida em todo o processo da salvação. As boas obras da vida cristã santificada foram feitas por Deus para que andássemos nelas segundo o Espírito Santo (Efésios 2.1; Gálatas 5.25).

João Calvino fala da “habitação do Espírito Santo” no salvo como o “outro benefício” de quando Deus por meio da justiça de Cristo nos remiu gratuitamente de nossos pecados nos reputando por justos e nos reconciliando consigo mesmo. Ele escreveu que em virtude do Espírito Santo “[...] a concupiscência de nossa carne é paulatinamente mortificada; e que somos santificados; isto é, somos consagrados ao Senhor para a verdadeira pureza de vida, com nosso coração conformados à obediência da lei, a fim de que esta seja nossa principal vontade: servir à Sua vontade e promover, de todos os modos, unicamente Sua glória”[1].

É ensino claro das Escrituras que a justiça da lei é cumprida no salvo pelo Espírito Santo (Romanos 8.4, ACF[2]), como também o fruto da justiça é gerado no salvo pelo mesmo Espírito Santo (Efésios 5.9, ACF; cf. Filipenses 1.11; Hebreus 12.11). O Espírito Santo não só nos ingressa na salvação, mas também nos mantém e produz crescimento soteriológico visando a perfeição na glorificação. Tenho pontuado alhures que a justiça de Jesus é a justiça do Reino de Deus, e a justiça do Reino é a justiça do Espírito, portanto, sem a justiça cristológica e pneumatológica não há salvação, santificação e glorificação!

Nenhuma justiça será aceita por Deus para a salvação, a não ser a justiça de Jesus; semelhantemente, nenhum fruto de justiça será aceito diante de Deus para a santificação, crescimento e glorificação, senão o do Espírito Santo. Calvino diz: “Não temos sequer uma obra que proceda dos próprios santos, as quais, se julgadas em si, não mereçam a justa recompensa do infortúnio”[3]. Mas se produzidas pelo Espírito Santo conduzirá os santos para a glorificação.

Portanto, para a glorificação do pecador tanto a justiça de Cristo quanto o fruto da justiça do Espírito Santo são essenciais. Lembremo-nos que a natureza essencial do fruto do Espírito é a reprodução da vida de Cristo no crente. Não estamos sendo conformados à imagem do Espírito Santo, mas à imagem de Cristo pelo Espírito de “glória em glória” (cf. Romanos 8.29; 2Coríntios 3.18). Cada aspecto da vida cristã, dentro da maior amplitude possível, é obra do Espírito Santo. O que Deus fez em nosso favor em Cristo nos é dado e aplicado por meio do Espírito Santo.

A salvação do pecador não se baseia somente numa relação correta baseada na justiça de Cristo, mas também no viver correto baseado no fruto da justiça do Espírito Santo. O que Deus fez por nós em Cristo (justificando), deve continuar a ser feito em nós pelo Espírito (santificando) para que sejamos perfeitos (glorificação), pelo poder do Espírito Santo que em nós habita, por ocasião da manifestação de Cristo em Sua Vinda. A implicação soteriológica é: não apenas somos declarados justos, mas também estamos sendo feitos justos para alcançar a perfeição do Pai Celeste (Mateus 5.48).

Nunca devemos esquecer: “Na Escritura, a salvação ocorre no tempo perfeito (ou seja, uma ação completa com efeitos contínuos), bem como nos tempos presente (contínuo) e futuro”[4].

O Espírito salvador gera em nós o fruto da justiça da vida de Cristo para que a salvação seja uma certeza (fomos salvos), uma experiência constante (estamos sendo salvos) e uma bendita esperança (seremos salvos). Uno-me ao apóstolo que diz: “Tendo por certo isto mesmo, que Aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1.6, ACF). “Fiel é o que vos chama, o qual também o fará” (1Tessalonicenses 5.24, ACF). Na mesma tonalidade, Pedro escreveu: “E o Deus de toda a graça, que em Cristo Jesus nos chamou à Sua eterna glória, depois de havermos padecido um pouco, Ele mesmo vos aperfeiçoe, confirme, fortifique e estabeleça” (1Pedro 5.10).

A bendita obra de salvação será concluída nos crentes (os que creem) até o final pelo poder de Deus Espírito Santo!

 

Soli Deo Glória!



[1] Institutas da Religião Cristã III, cap.14.9 – Editora Cultura Cristã.

[2] Almeida Corrigida Fiel – Sociedade Bíblica Trinitariana, 2011.

[3] Institutas da Religião Cristã III, cap.14.9 – Editora Cultura Cristã.

[4] CHAN, Simon. A Systematic Study of the Christian Life (©1998). InterVarsity Press. P.O. Box 1400, Downers Grove, IL 60515.