Nós pentecostais nos ocupamos de relatar os erros e distorções doutras fluentes da Cristandade, porém percebo que nós mesmo devemos ter cuidado com certos deslizes, erros teológicos e asneiras vistas e ouvidas em nossos púlpitos e congregações – tem muita coisa que não passa de heresias com roupagem do pós-modernismo. Vejamos brevemente algumas:
1. DESPERSONALIZAÇÃO PNEUMÁTICA
Certas pregações e cânticos parecem implicar numa tendência cada vez
mais crescente de tratar o Espírito Santo como uma força ou fonte de poder do
que como uma Pessoa poderosa da Divindade.
Muitas pregações e louvores no meio pentecostal parecem descrever o
Espírito Santo como uma “tomada elétrica” ou um “gerador de energia” que se você
descobrir os segredos ou os mistérios (está mais para truques!) então
encontrará o poder.
Já vi supostos teólogos no Facebook reduzindo as hipóstases (as Três
Pessoas) da Trindade a uma única pessoa: uma heresia conhecida como modalismo.
A trindade vai sumir! Certo amigo comentou comigo que tal ensino se encontra
nas notas de uma Bíblia de Estudo de certo pastor brasileiro.
Esse perigo não é visto apenas nas mídias sociais ou nas congregações
locais, pois até mesmo eruditos influenciados pelo filósofo idealista Georg W. F. Hegel estão
despersonalizando o Espírito. Para o dito filósofo o Espírito Santo não passava
de um “Espírito absoluto”, indistinguível do processo da história que seguia
adiante para a consumação imanente total. Além dessa influência existe também
um caráter romantizado e panteísta no Ocidente teológico. Um “Espírito”
genérico, inclusivo, uma brisazinha domesticável tem tomando lugar do Espírito
das Escrituras que se move poderosamente como um vento veemente e impetuoso. O
“Espírito” que se ver em certas teologizações se parece mais com uma “Grande
Mãozona” que abraça tudo e a todos indistintamente em seus seios espirituosos.
Aquele Espírito que peleja contra os rebeldes pecadores descrito por Isaías é
coisa do passado mitológico deste profeta (cf. Isaías 63.10). Cuidado
pentecostais!
Para muitos uma teologia cristocêntrica e teológica (do Pai) suscita o
espectro de divisões. O “Espírito” abraça mais a todos e a tudo, as classes
oprimidas sob o bastão de distinções de autoridade como se ver no conceito Pai
e Filho. No pluralismo do pós-modernismo, o Espírito parece a pessoa/coisa
certa – “ele” é neutro (na concepção Ocidental). Eis o perigo de certas
hermenêuticas ditas pentecostais. Essas são oriundas do inferno para enganar os
desprevenidos e romantizados cidadãos de uma pentecostalicidade sem Sinai e sem
Calvário.
Estes personagens da erudição progressista se distanciam das grandes
verdades doutrinárias do passado, eles querem reinventar as doutrinas,
romantiza-las e torna-las mais culturalmente adaptável. Querem ser relevantes
em suas teses, tornando o Espírito Santo uma abstração ideológica e subjetiva
de sua brasileiridade (falando aqui do nosso Brasil!). A pneumatologia de
alguns parece afirmar: “O Espírito é brasileiro!”, cheio de gírias e
malandragem. Oh prosélitos duas vezes filhos do inferno!
Abordagens com viés fenomenológico social e psicológico têm reduzido o
Movimento Pentecostal meramente a conceitos de religiões experimentais
pragmatistas. Perdeu-se o foco bíblico-teológico na abordagem do Movimento
Pentecostal. Lembremo-nos que o desvio das igrejas na Europa e nos EUA se deu
por meio de eruditos que promoveram como resultado dos seus estudos acadêmicos
o liberalismo que matou o povo. O pentecostalismo brasileiro (e noutros lugares)
corre este risco. Esses tais doutores são instrumentos de Satanás! Vamos
vigiar!
2. PRECEDÊNCIA PNEUMÁTICA
Um segundo erro, muito trágico, é a tendência pentecostal de dar
precedência ao Espírito Santo em detrimento do Pai e do Filho. Talvez alguns
pensem pelo fato do Espírito habitar em nós, que o Pai e o Filho estão distante
– lá em cima – e, por isso o Espírito é mais íntimo. Ledo engano, pois o Pai e
o Filho vieram habitar nos que creem (João 14.23) pelo Espírito Santo. O
próprio Espírito constrói a igreja para habitação de Deus, ou seja, de toda a
Deidade: Pai, Filho e Espírito Santo (Efésios 2.18,22). Eu não posso ter o
Espírito e não ter o Pai e o Filho; se tenho o Pai, tenho o Espírito e o Filho.
Não há precedência e nem detrimento das Pessoas da Santíssima Trindade numa
abordagem biblicamente saudável.
Somos informados pelas Escrituras que o Espírito Santo é o Espírito de
Jesus, o Espírito de Cristo, o Espírito do Pai e o Espírito de Deus.
O principal papel soteriológico do Espírito Santo é nos unir a Cristo
e nos conceder a vida do Pai. O Espírito Santo derrama o amor de Deus em nosso
coração (Romanos 5.5). Nós estamos na comunhão do Espírito, que é a comunhão do
Pai e do Filho (cf. 2Coríntios 13.14; 1João 1.3, ACF).
Pelo fato de o nosso primeiro contato com o Deus Triúno dever-se ao
Espírito Santo, que nos ressuscita da morte espiritual e habita em nós, pode-se
concluir, de modo errôneo, que o Espírito é a pessoa acessível da Trindade. Em
vez disso, deve-se considerar essa obra do Espírito iniciada pelo Pai e paga e
mediada pelo Filho. Mediante a ação do Espírito, as Três Pessoas aproximam-se
de nós e nos conduzem à Sua comunhão[1].
Como pentecostais bíblicos, nós devemos ter muito cuidado em nosso
fazer teológico.
3. PENTECOSTES SEM CÁLVARIO
Tenho alertado sobre este perigo constantemente. Como pentecostais
somos tendenciosos a descansar à sombra do evento de Pentecostes,
esquecendo-nos do fato de que só chegamos ao Pentecostes porque primeiro
passamos pelo Calvário. Pentecostes sem Calvário é uma grande comédia, e
Calvário sem Pentecostes seria uma grande tragédia. Calvário e Pentecostes nos
conduzem para o plano arquitetônico redentor de Deus aliado ao Sinai.
A eficácia da missão do Espírito por ocasião do Pentecostes é medida
por nossa concentração em Cristo no Calvário. O Pentecostes encontra-se
inextricavelmente ligado ao Calvário: Noutras palavras, a Missão pentecostal do
Espírito resulta e é inerente a Missão do Calvário de Cristo.
Certo escritor fez uma analogia precisa: “No templo jamais se verá a
bacia de água colocada antes do altar. O altar é o Calvário, e a bacia de água
é o dia de Pentecostes. Um representa o sangue do sacrifício, o outro
representa o Espírito santificador”[2].
Exatamente isso, nós não podemos nos banhar nas águas da bacia pentecostal, se
ainda não fomos aspergidos pelo sangue do altar do Calvário. No Antigo
Testamento, primeiramente se aplicava o sangue sobre a ponta da orelha direita,
sobre o polegar da mão direita e sobre o polegar do pé direito com vista a purificação
do leproso. Depois disso seria colocado o óleo sobre a orelha direita, no
polegar da mão direita e no polegar do pé direito – o óleo sobre o sangue da oferta pelas transgressões (Levítico 14).
Nunca se deve colocar o sangue sobre o óleo. É impossível o Pentecostes
preceder o Calvário, ou que o derramamento do Espírito pudesse ter vindo antes
do derramamento do sangue. Antes do derramamento do Espírito (Pentecostes), é
necessário o derramamento do sangue (Calvário).
O berço de Belém deve anteceder o berço do Cenáculo. O nascimento do
Filho de Deus, deve anteceder o nascimento da Igreja. O Espírito não pode vir,
se o Cristo não for. Se o Espírito está conosco, é prova de que o Cristo já foi
e assentou-se à destra do Pai.
Os pentecostais precisam entender que o Espírito Santo não deseja
manter nenhuma ligação com um cristianismo sem Cristo. O Cristianismo do
Pentecostes é cristológico – centrado em Cristo. Assim como o Cristianismo do
Calvário aponta para o Pentecostes pneumatológico.
A primeira experiência de uma pessoa com Deus é promovida pelo
Espírito, mas sempre unindo o pecador a Cristo e transformando o crente à
imagem de Cristo. Não pode haver Pentecostes sem Calvário, e Calvário sem
Pentecostes!
Podemos concentrar-nos no Pentecostes somente depois de termos
compreendido o Calvário. O evangelho não é o evangelho do Pentecostes se
primeiramente não for o evangelho da cruz de Cristo.
A pregação do evangelho não é sobre o Espírito e este no Pentecostes,
mas sobre Jesus Cristo e este crucificado, uma pregação que deve ser realizada
na demonstração do Espírito e de poder.
Só é possível ter certeza de onde o Espírito está ativo: onde quer que
Jesus Cristo seja declarado o Salvador de pecadores!
CONCLUO estes alertas aos
pares pentecostais afirmando o meu compromisso de fazer uma teologia nos
seguintes moldes: do Pai, em Cristo e pelo Espírito. A salvação é obra do Pai,
em Cristo e realizada na vida do pecador pelo Espírito.
Eu não temo adorar ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Sigo o grande
Credo Niceno: “o Espírito é adorado
e glorificado com o Pai e o Filho”. Não devemos manter o Espírito dividido do
Pai e do Filho, e nem preceder o Pai e o Filho pelo Espírito. Devemos preservar
e perseverar tanto na confissão da fé quanto na doxologia a doutrina ensinada
nas Escrituras da Bendita Triunidade. É nas reuniões congregacionais que essa
crença e esse louvor são mantidos ou perdidos. Nós devemos invocar O Pai, NO
Filho, PELO Espírito.
Não despersonalize o Espírito, muito menos faça malabarismos
interpretativos nos moldes da pós-modernidade. Abraçamo-nos as diretrizes
bíblicas e a sabedoria dos séculos em nossa teologia e vida.
Ivan Teixeira
[1] HORTON, Michael. Redescobrindo o Espírito Santo: a presença santificadora de Deus na
criação, na redenção e na vida cotidiana, p.28. São Paulo, SP, Brasil:
Cultura Cristã, 2018.
[2] GORDON, A. J. O Ministério do Espírito, p.28. São Paulo, SP, Brasil: Editora dos
Clássicos, 2012.
Gloria a Deus por está instrução
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