sábado, 30 de janeiro de 2021

TRÊS PERIGOS QUE OS PENTECOSTAIS DEVEM EVITAR

 


Nós pentecostais nos ocupamos de relatar os erros e distorções doutras fluentes da Cristandade, porém percebo que nós mesmo devemos ter cuidado com certos deslizes, erros teológicos e asneiras vistas e ouvidas em nossos púlpitos e congregações – tem muita coisa que não passa de heresias com roupagem do pós-modernismo. Vejamos brevemente algumas:

1. DESPERSONALIZAÇÃO PNEUMÁTICA

Certas pregações e cânticos parecem implicar numa tendência cada vez mais crescente de tratar o Espírito Santo como uma força ou fonte de poder do que como uma Pessoa poderosa da Divindade.

Muitas pregações e louvores no meio pentecostal parecem descrever o Espírito Santo como uma “tomada elétrica” ou um “gerador de energia” que se você descobrir os segredos ou os mistérios (está mais para truques!) então encontrará o poder.

Já vi supostos teólogos no Facebook reduzindo as hipóstases (as Três Pessoas) da Trindade a uma única pessoa: uma heresia conhecida como modalismo. A trindade vai sumir! Certo amigo comentou comigo que tal ensino se encontra nas notas de uma Bíblia de Estudo de certo pastor brasileiro.

Esse perigo não é visto apenas nas mídias sociais ou nas congregações locais, pois até mesmo eruditos influenciados pelo filósofo idealista Georg W. F. Hegel estão despersonalizando o Espírito. Para o dito filósofo o Espírito Santo não passava de um “Espírito absoluto”, indistinguível do processo da história que seguia adiante para a consumação imanente total. Além dessa influência existe também um caráter romantizado e panteísta no Ocidente teológico. Um “Espírito” genérico, inclusivo, uma brisazinha domesticável tem tomando lugar do Espírito das Escrituras que se move poderosamente como um vento veemente e impetuoso. O “Espírito” que se ver em certas teologizações se parece mais com uma “Grande Mãozona” que abraça tudo e a todos indistintamente em seus seios espirituosos. Aquele Espírito que peleja contra os rebeldes pecadores descrito por Isaías é coisa do passado mitológico deste profeta (cf. Isaías 63.10). Cuidado pentecostais!

Para muitos uma teologia cristocêntrica e teológica (do Pai) suscita o espectro de divisões. O “Espírito” abraça mais a todos e a tudo, as classes oprimidas sob o bastão de distinções de autoridade como se ver no conceito Pai e Filho. No pluralismo do pós-modernismo, o Espírito parece a pessoa/coisa certa – “ele” é neutro (na concepção Ocidental). Eis o perigo de certas hermenêuticas ditas pentecostais. Essas são oriundas do inferno para enganar os desprevenidos e romantizados cidadãos de uma pentecostalicidade sem Sinai e sem Calvário.

Estes personagens da erudição progressista se distanciam das grandes verdades doutrinárias do passado, eles querem reinventar as doutrinas, romantiza-las e torna-las mais culturalmente adaptável. Querem ser relevantes em suas teses, tornando o Espírito Santo uma abstração ideológica e subjetiva de sua brasileiridade (falando aqui do nosso Brasil!). A pneumatologia de alguns parece afirmar: “O Espírito é brasileiro!”, cheio de gírias e malandragem. Oh prosélitos duas vezes filhos do inferno!

Abordagens com viés fenomenológico social e psicológico têm reduzido o Movimento Pentecostal meramente a conceitos de religiões experimentais pragmatistas. Perdeu-se o foco bíblico-teológico na abordagem do Movimento Pentecostal. Lembremo-nos que o desvio das igrejas na Europa e nos EUA se deu por meio de eruditos que promoveram como resultado dos seus estudos acadêmicos o liberalismo que matou o povo. O pentecostalismo brasileiro (e noutros lugares) corre este risco. Esses tais doutores são instrumentos de Satanás! Vamos vigiar!

 

2. PRECEDÊNCIA PNEUMÁTICA

Um segundo erro, muito trágico, é a tendência pentecostal de dar precedência ao Espírito Santo em detrimento do Pai e do Filho. Talvez alguns pensem pelo fato do Espírito habitar em nós, que o Pai e o Filho estão distante – lá em cima – e, por isso o Espírito é mais íntimo. Ledo engano, pois o Pai e o Filho vieram habitar nos que creem (João 14.23) pelo Espírito Santo. O próprio Espírito constrói a igreja para habitação de Deus, ou seja, de toda a Deidade: Pai, Filho e Espírito Santo (Efésios 2.18,22). Eu não posso ter o Espírito e não ter o Pai e o Filho; se tenho o Pai, tenho o Espírito e o Filho. Não há precedência e nem detrimento das Pessoas da Santíssima Trindade numa abordagem biblicamente saudável.

Somos informados pelas Escrituras que o Espírito Santo é o Espírito de Jesus, o Espírito de Cristo, o Espírito do Pai e o Espírito de Deus.

O principal papel soteriológico do Espírito Santo é nos unir a Cristo e nos conceder a vida do Pai. O Espírito Santo derrama o amor de Deus em nosso coração (Romanos 5.5). Nós estamos na comunhão do Espírito, que é a comunhão do Pai e do Filho (cf. 2Coríntios 13.14; 1João 1.3, ACF).

Pelo fato de o nosso primeiro contato com o Deus Triúno dever-se ao Espírito Santo, que nos ressuscita da morte espiritual e habita em nós, pode-se concluir, de modo errôneo, que o Espírito é a pessoa acessível da Trindade. Em vez disso, deve-se considerar essa obra do Espírito iniciada pelo Pai e paga e mediada pelo Filho. Mediante a ação do Espírito, as Três Pessoas aproximam-se de nós e nos conduzem à Sua comunhão[1].

Como pentecostais bíblicos, nós devemos ter muito cuidado em nosso fazer teológico.

 

3. PENTECOSTES SEM CÁLVARIO

Tenho alertado sobre este perigo constantemente. Como pentecostais somos tendenciosos a descansar à sombra do evento de Pentecostes, esquecendo-nos do fato de que só chegamos ao Pentecostes porque primeiro passamos pelo Calvário. Pentecostes sem Calvário é uma grande comédia, e Calvário sem Pentecostes seria uma grande tragédia. Calvário e Pentecostes nos conduzem para o plano arquitetônico redentor de Deus aliado ao Sinai.

A eficácia da missão do Espírito por ocasião do Pentecostes é medida por nossa concentração em Cristo no Calvário. O Pentecostes encontra-se inextricavelmente ligado ao Calvário: Noutras palavras, a Missão pentecostal do Espírito resulta e é inerente a Missão do Calvário de Cristo.

Certo escritor fez uma analogia precisa: “No templo jamais se verá a bacia de água colocada antes do altar. O altar é o Calvário, e a bacia de água é o dia de Pentecostes. Um representa o sangue do sacrifício, o outro representa o Espírito santificador”[2]. Exatamente isso, nós não podemos nos banhar nas águas da bacia pentecostal, se ainda não fomos aspergidos pelo sangue do altar do Calvário. No Antigo Testamento, primeiramente se aplicava o sangue sobre a ponta da orelha direita, sobre o polegar da mão direita e sobre o polegar do pé direito com vista a purificação do leproso. Depois disso seria colocado o óleo sobre a orelha direita, no polegar da mão direita e no polegar do pé direito – o óleo sobre o sangue da oferta pelas transgressões (Levítico 14). Nunca se deve colocar o sangue sobre o óleo. É impossível o Pentecostes preceder o Calvário, ou que o derramamento do Espírito pudesse ter vindo antes do derramamento do sangue. Antes do derramamento do Espírito (Pentecostes), é necessário o derramamento do sangue (Calvário).

O berço de Belém deve anteceder o berço do Cenáculo. O nascimento do Filho de Deus, deve anteceder o nascimento da Igreja. O Espírito não pode vir, se o Cristo não for. Se o Espírito está conosco, é prova de que o Cristo já foi e assentou-se à destra do Pai.

Os pentecostais precisam entender que o Espírito Santo não deseja manter nenhuma ligação com um cristianismo sem Cristo. O Cristianismo do Pentecostes é cristológico – centrado em Cristo. Assim como o Cristianismo do Calvário aponta para o Pentecostes pneumatológico.

A primeira experiência de uma pessoa com Deus é promovida pelo Espírito, mas sempre unindo o pecador a Cristo e transformando o crente à imagem de Cristo. Não pode haver Pentecostes sem Calvário, e Calvário sem Pentecostes!

Podemos concentrar-nos no Pentecostes somente depois de termos compreendido o Calvário. O evangelho não é o evangelho do Pentecostes se primeiramente não for o evangelho da cruz de Cristo.

A pregação do evangelho não é sobre o Espírito e este no Pentecostes, mas sobre Jesus Cristo e este crucificado, uma pregação que deve ser realizada na demonstração do Espírito e de poder.

Só é possível ter certeza de onde o Espírito está ativo: onde quer que Jesus Cristo seja declarado o Salvador de pecadores!

 

CONCLUO estes alertas aos pares pentecostais afirmando o meu compromisso de fazer uma teologia nos seguintes moldes: do Pai, em Cristo e pelo Espírito. A salvação é obra do Pai, em Cristo e realizada na vida do pecador pelo Espírito.

Eu não temo adorar ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Sigo o grande Credo Niceno: “o Espírito é adorado e glorificado com o Pai e o Filho”. Não devemos manter o Espírito dividido do Pai e do Filho, e nem preceder o Pai e o Filho pelo Espírito. Devemos preservar e perseverar tanto na confissão da fé quanto na doxologia a doutrina ensinada nas Escrituras da Bendita Triunidade. É nas reuniões congregacionais que essa crença e esse louvor são mantidos ou perdidos. Nós devemos invocar O Pai, NO Filho, PELO Espírito.

Não despersonalize o Espírito, muito menos faça malabarismos interpretativos nos moldes da pós-modernidade. Abraçamo-nos as diretrizes bíblicas e a sabedoria dos séculos em nossa teologia e vida.

 

Ivan Teixeira



[1] HORTON, Michael. Redescobrindo o Espírito Santo: a presença santificadora de Deus na criação, na redenção e na vida cotidiana, p.28. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã, 2018.

[2] GORDON, A. J. O Ministério do Espírito, p.28. São Paulo, SP, Brasil: Editora dos Clássicos, 2012.

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