Para
compreender um pouco o crescimento dos evangélicos no Brasil, é necessário
analisar resumidamente as três ondas do pentecostalismo que são destacadas pelo
sociólogo Paul Freston incluindo
outra vertente que é a renovação carismática.
I. Primeira Onda (1910–1950):
A primeira onda
é conhecida como Pentecostalismo Clássico. Essa vertente é identificada pelo
Batismo “com”, “do” e “no” Espírito Santo com glossolalia, curas, profecias, interpretações de línguas e rejeição
do mundo, ela ficou marcada no Brasil por duas denominações que vieram para o
país como fruto do avivamento da Rua Azusa que são: (1) Congregação Cristã do Brasil e (2) Assembleia de Deus.
Louis Francescon (1866–1964) fundador
da Congregação Cristã do Brasil recebeu o Batismo do Espírito Santo um mês depois
da sua esposa Rosina Balzano ter
recebido. Em Setembro de 1909, Louis Francescon foi para Argentina como
missionário, depois veio para o Brasil em março de 1910. Ficou na cidade de São
Paulo frequentando a igreja presbiteriana do Brás, onde provocou uma “divisão”
por causa da doutrina do Espírito Santo. Diante disso, formou a Congregação
Cristã do Brasil com alguns Presbiterianos, Metodistas, Batistas e até
Católicos[1].
Gunnar Vingren (1879–1933) e Daniel Berg
(1885–1963) foram os fundadores da Assembleia de Deus no Brasil. Ambos eram
filhos de jardineiros suecos, que foram para os Estados Unidos onde conheceram
o pentecostalismo. Receberam uma revelação de Adolf Ulldin sobre assumir um ministério além – mar, em um lugar
cujo nome era Pará, eles vieram para o Brasil em novembro de 1910, em Belém do
Pará frequentaram a Igreja Batista do pastor Erik Nilson que também era Sueco e nesse ministério provocaram uma “divisão”
por causa da doutrina do Espírito Santo.
Gunnar Vingren passou pela experiência
do Batismo com o Espírito Santo, conforme pregado pelos pentecostais. Como era
mais preparado, liderou o movimento pregando, batizando e abrindo novas
congregações. Suas pregações como as de Daniel Berg eram sobre a Salvação em
Cristo e o Batismo com o Espírito Santo.
A Igreja,
organizada realmente, ocorreu em 18 de Junho de 1911 como Missão Apostólica,
copiando assim o nome que foi colocado naquele movimento da Rua Azusa, depois
de sete anos, em janeiro de 1918, o nome foi trocado por Assembleia de Deus,
essa igreja foi fundada no extremo Norte do Brasil e foi a que teve maior
crescimento no lugar. No início, rejeitava o aprendizado e aprofundamento
formal e teológico[2].
Tal rejeição talvez se deu pelo predomínio da teologia liberal nas Faculdades.
II. Segundo Onda (década de 50):
A segunda onda
é conhecida como Pentecostalismo Neoclássico ou Deuteropentecostalismo, o
segundo nome é mais usado. Essa segunda
vertente ficou marcada pela sua ênfase na Cura Divina, utilizou fortemente o
meio de evangelização em massa. As denominações expoentes dessa vertente são: (1) Igreja do Evangelho Quadrangular, (2) Igreja Evangélica O Brasil para
Cristo e (3) Igreja Pentecostal Deus
é Amor.
A Igreja do Evangelho Quadrangular foi
fundada nos Estados Unidos em 1927 na cidade de Los Angeles por Aimée Semple McPherson, que era
canadense. Ela teve a experiência Pentecostal em 1907 e aos 17 anos começou a
pregar pelo país em tendas com ministrações de Cura Divina, faleceu em 1940 com
54 anos.
Um dos
convertidos desse movimento foi Harold
Willians, que era ex-ator de filmes de faroeste em Holywood, veio para o
Brasil como missionário e implantou a primeira Igreja do Evangelho Quadrangular
em São João da Boa Vista no estado de São Paulo em 1951. Em 1953 ele começou
com a Cruzada Nacional de Evangelização ao lado de Raymond Boatright, que era um ex-caubói. Raymond Boatright cantava, tocava guitarra e usava chapéu de
vaqueiro, ele foi o principal evangelista nessa cruzada, enquanto pregava,
Harold Willians interpretava.
A cruzada de
evangelização funcionava em uma tenda desmontável de 1.200 lugares, mesmo recurso
utilizado por Aimée Semple McPherson. Harold Willians trouxe essa tenda dos
Estados Unidos.
O primeiro nome
da igreja do Evangelho Quadrangular foi Igreja Evangélica do Brasil (1951) com
a doutrina Quadrangular, porém, mudou para o nome atual em 1958. Sua
peculiaridade é a ênfase no ministério feminino, isto é, mulheres pastoras, e
não poderia ser diferente, pois a mesma foi fundada por uma mulher[3].
Existia um
homem conhecido como Manoel de Mello
que era pernambucano, servente de pedreiro, pedreiro, eletricista, encanador,
carpinteiro, pintor e mestre de obras, e ao mesmo tempo evangelista da
Assembleia de Deus, depois se tornou um dos primeiros pastores da Igreja do
Evangelho Quadrangular, logo após, ele saiu da Quadrangular e fundou a sua
igreja em 1955 com 26 anos, conhecida como Igreja Evangélica O Brasil para
Cristo, esse homem ficou conhecido como o pregador das multidões, pois pregou
nos maiores auditórios e estádios do país, foi tão ousado que conseguiu filiar
sua igreja à CMI (Conselho Mundial das Igrejas) em 1969, sendo a única igreja
Pentecostal a se filiar nesse conselho até então, contudo, essa filiação
terminou em 1986. Manoel Mello morreu no dia 5 de maio de 1990, três dias
depois de ter tido um derrame na rua, no mesmo dia em que iria gravar seu
primeiro programa de televisão na rede Bandeirantes[4].
Um sulino do
Paraná conhecido como David Miranda
veio para São Paulo em 1957, esse homem era muito católico como toda a sua
família, seu pai morreu e sua mãe, influenciada pela filha mais velha,
converteu-se em uma igreja evangélica, todos seus irmãos foram se convertendo
sendo ele o último, em uma pequena igreja pentecostal. Em 1961, aos 25 anos,
após ter lido a bíblia duas vezes, sentiu um chamado para “uma grande obra” que
Deus estava fazendo, contudo não sabia onde era, depois descobriu que era na
denominação Deus é Amor, no entanto, ele não encontrava essa igreja, então,
recebeu a orientação de Deus que era para ele fundar a mesma, organizou-a na
Vila Maria em 1962 com sua mãe e irmã mais velha. A igreja era notável pelo seu
legalismo, assim como a Congregação Cristã do Brasil onde homens têm que se
sentar de um lado e mulheres de outro, não podem estudar teologia nem se
relacionar com outras igrejas, pois, segundo eles, são todas mundanas.
Sua sede fica
na Baixada do Glicério, utiliza emissoras de rádios para seus programas que
abrangem toda a América Latina. É normal ver o nome de David Miranda escrito
junto com o nome da igreja nos templos[5].
A igreja
Universal do Reino de Deus vai usar de forma mais expressiva e notável algumas
práticas que já pertenciam à Igreja Pentecostal Deus é Amor, como o exorcismo e
a teologia da prosperidade.
III. Terceira Onda (década de 70):
A terceira onda
é conhecida como Neopentecostalismo, essa terceira vertente ficou marcada pela
sua ênfase na teologia da prosperidade e no exorcismo. Eles utilizam fortemente
a mídia eletrônica e o televangelismo, e, também, criaram uma força social e
política[6].
As denominações
expoentes dessa vertente são: (1) Igreja
Universal do Reino de Deus; (2)
Igreja Internacional da Graça de Deus; (3)
Comunidade Sara Nossa Terra; (4) Renascer
em Cristo; (5) Igreja Mundial do
Poder de Deus e (6) Paz e Vida. Além
dessas cinco, existem outras, entretanto, essas são as mais expressivas.
O presente
estudo só se concentrará em uma: Igreja Universal do Reino de Deus.
A Igreja
Universal do Reino de Deus foi fundada pelo Bispo Edir Macedo que nasceu em 1944, em Rio das Flores no estado do Rio
de Janeiro, e vive até os dias de hoje. Morou na cidade do Rio de Janeiro onde
trabalhou em uma casa lotérica e frequentou um centro de umbanda por pouco
tempo, converteu-se na Igreja da Nova Vida, em Botafogo, RJ. O pastor dessa
igreja era Robert McAllister. Não se
sabe exatamente o porquê, mas Edir
Macedo e R.R Soares (que é seu
cunhado) deixaram a igreja e fundaram no dia 9 de Setembro de 1977 a Igreja da
Benção, que depois de um ano passou a ser chamada de Igreja Universal do Reino
de Deus – outro homem que se juntou a eles foi Miguel Ângelo.
R.R Soares e Miguel Ângelo se separaram de Edir
Macedo e da Igreja Universal do Reino de Deus, sendo que o primeiro fundou
a Igreja Internacional da Graça e o segundo fundou a Igreja Cristo Vive. Edir
Macedo comprou a Rede Record de televisão.
Sendo enfático
nesse momento, a Igreja Universal do Reino de Deus não tem sua concentração na
glossolalia, mas, sim, na teologia da prosperidade que abrange tanto a saúde,
como as finanças e o amor; a guerra espiritual e o exorcismo; e seu sincretismo
com a umbanda[7].
Segundo o ponto
de vista do artigo: Os pentecostais: entre a fé a política[8], o
crescimento pentecostal, especialmente o neopentecostal, especificamente a
Igreja Universal do Reino de Deus, ocorre por causa do crescimento da pobreza
no Brasil:
Sociologicamente
se fala de pentecostalismo como da ‘religião dos pobres’... Os pobres não
possuem livros, e mesmo que os tivessem,
não disporiam de tempo e de preparação para estudá-los. Isso leva a uma
religião que dá pouca importância ao fator intelectual e muita ao emocional,
aos sentimentos… Se tais considerações estão corretas, em um continente em que
a pobreza não cessa de crescer, as razões para o crescimento de tais movimentos
e organizações religiosas parecem ser evidentes… Essas inquietações nos
conduzem a Max Weber, para quem a
rotinização do carisma e a apropriação dos poderes que dela decorrem, pode se
constituir em fator explicativo para tal crescimento… O apelo emocional dos
seus líderes, os cantos estridentes, a violência nos atos de exorcismo, a
exploração dos fiéis na cobrança do dízimo são evidências da manipulação
realizada por pessoas pouco escrupulosas em face de um povo ignorante[9].
Antes de Paul Freston ter analisado essas três
ondas, C. Peter Wagner já havia
feito essa análise[10]. Entretanto, Paul Freston a trouxe para a realidade brasileira.
Nesse espaço
deve ficar notório que existe para alguns a segunda onda do neopentecostalismo
praticado por várias igrejas que têm sido abertas pelas ruas da cidade com seus
nomes particulares e não filiadas a nenhuma convenção ou denominação, mas
adeptas às mesmas práticas das grandes igrejas pentecostais, como: (teologia da
prosperidade, batalha espiritual e etc.). Este movimento pode ser intitulado
como neopentecostalismo de segunda onda.
IV. Renovação carismática (década de 60 e 70):
Houve um
movimento do pentecostalismo dentro das denominações históricas e do
catolicismo romano, esse movimento ficou conhecido como “renovação carismática”
(do grego “charismata” que significa “dons” especificamente “dons
espirituais”),[11]
isto é, o movimento começou a enfatizar os dons espirituais nas denominações
que outrora não davam ênfase a isso, e, também, começaram a enfatizar as
manifestações pentecostais, porém, não quiseram romper com o sistema que a
denominação utilizava. Através disso, surgiram novas denominações com o nome
das denominações antigas e com o mesmo sistema, todavia, com práticas
pentecostais ou carismáticas, que são: (1)
Igreja Presbiteriana Renovada do Brasil; (2)
Convenção Batista Nacional e (3) Igreja
Metodista Wesleyana.
Esse movimento
tem crescido e sido perceptível no catolicismo romano, o qual será enfocado
nesse momento.
Em 1964 a
diocese de Pittsburg na Pensilvânia adquiriu uma propriedade que ficou
conhecida como “a arca e a pomba”, o lugar se tornou um centro de retiros
espirituais. Em 1967, nesse mesmo lugar, nasceu o movimento de renovação
carismática do Catolicismo Romano. Ocorreu um derramar do Espírito Santo em
fevereiro com um grupo de 15 estudantes e 2 professores que buscavam o Batismo
do Espírito Santo, faziam isso através de cânticos gregorianos, orações
esporádicas e estudo de Atos 1–4. Isso já vinha ocorrendo um tempo antes de
haver o derramar. A partir daí, houve o nascimento do grupo carismático.
Três anos
depois dois missionários americanos e jesuítas (Harold J. Rahm e Edward J.
Dougherty) vieram para o Brasil trazendo esse movimento, com retiros na
cidade de Campinas, estado de São Paulo. Muitos católicos e padres foram
contagiados. Um padre do Vale da Paraíba (SP) imergiu neste movimento,
conhecido como Jonas Abib, esse
homem fundou a Canção Nova, que é o maior referencial da renovação carismática
do Catolicismo Romano no Brasil. Eles têm programas de rádio e televisão e
vendem jornais, livros e CDs. Sua SEDE fica em Cachoeira Paulista, no estado de
São Paulo.
CONCLUSÃO: O que vimos elenca um
pequeno conhecimento básico das “ondas” do pentecostalismo no Brasil e seus
desdobramentos.
Ivan Teixeira
[1] CÉSAR,
Elben M. Lenz. História da Evangelização
do Brasil: Dos Jesuítas aos Neopentecostais. 2° Edição. Viçosa: Ultimato,
2000, p.113–114.
[2] CÉSAR,
Elben M. Lenz. História da Evangelização
do Brasil: Dos Jesuítas aos Neopentecostais. 2° Edição. Viçosa: Ultimato,
2000, p. 117 – 122; MATOS, Alderi Souza de. O movimento Pentecostal: Reflexões a propósito do seu primeiro centenário.
Fides Reformata: Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, 1999, Volume 11/2,
28 p.
[3]
6 CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil: Dos Jesuítas aos Neopentecostais. 2°
Edição. Viçosa: Ultimato, 2000, p.117–122. MATOS, Alderi Souza de. O movimento Pentecostal: Reflexões a
propósito do seu primeiro centenário. Fides Reformata: Centro de
Pós-Graduação Andrew Jumper, 1999, Volume 11/2, 28 p.
[4] CÉSAR,
Elben M. Lenz. História da Evangelização
do Brasil: Dos Jesuítas aos Neopentecostais. 2° Edição. Viçosa: Ultimato,
2000, p.117–122. MATOS, Alderi Souza de. O
movimento Pentecostal: Reflexões a propósito do seu primeiro centenário. Fides
Reformata: Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, 1999, Volume 11/2, 28 p.
[5]
CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil: Dos Jesuítas aos Neopentecostais.
2° Edição. Viçosa: Ultimato, 2000, p. 117–122. MATOS, Alderi Souza de. O movimento Pentecostal: Reflexões a
propósito do seu primeiro centenário. Fides Reformata: Centro de
Pós-Graduação Andrew Jumper, 1999, Volume 11/2, 28 p.
[6]
SOUZA, Caloy Bovkalovski de. Os pentecostais: entre a fé e a política.
[7]
CÉSAR, Elben M. Lenz. História da Evangelização do Brasil: Dos Jesuítas aos Neopentecostais.
2° Edição. Viçosa: Ultimato, 2000, p. 117 – 122. MATOS, Alderi Souza de. O movimento Pentecostal: Reflexões a
propósito do seu primeiro centenário. Fides Reformata: Centro de
Pós-Graduação Andrew Jumper, 1999, Volume 11/2, 28 p.
[8] SOUZA, Caloy Bovkalovski de. Os Pentecostais: Entre A Fé e a Política. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882002000100006>.
[9]
SOUZA, Caloy Bovkalovski de. Os pentecostais: entre a fé e a política.
[10]
MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a teologia
cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, 659 p.161.
[11]
MCGRATH, Alister E. Teologia sistemática, histórica e filosófica: uma introdução a teologia
cristã. São Paulo: Vida Nova, 2005, 659 p.161.
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