quinta-feira, 22 de junho de 2017

TENTABILIDADE E IMPECABILIDADE DO REDENTOR

A Tentabilidade e a Impecabilidade de Jesus Cristo

Duas grandes verdades sobre o Redentor, Jesus Cristo, que todo cristão deveria entender para sua edificação para a glória de Deus!

Sua Tentabilidade
É importante destacar esta doutrina cristológica. Sabemos pelas Escrituras que Jesus é Deus e que Deus não pode ser tentado (cf.. Jo 20.28,31; Tg 1.13). Então como podemos afirmar que Jesus, sendo Deus, foi tentado? Isso é invenção dos teólogos ou um ensino doutrinário das Escrituras Sagradas?
Devemos afirmar com as Escrituras que Jesus é Deus-Homem, o Verbo que se fez Homem (carne). Ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem. Há uma única personalidade no Redentor, mas duas naturezas. Então, podemos afirmar que a tentação do Senhor Jesus foi possível dada à Sua natureza humana, como também afirmamos a verdade consequente: Ele não poderia pecar por Ser Deus! Sua impecabilidade, como Deus-Homem, é um dos efeitos da unio personalis na Pessoa do Redentor.
A Tentabilidade do Salvador é escriturística: Mateus 4.1: “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (grifo nosso); Lucas 4.1: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome” (grifo nosso).
A intenção de Satanás na tentação era levar Cristo a pecar, frustrando assim o plano de Deus para a redenção do homem, desqualificando o Salvador.
O propósito Divino (observe que foi o Espírito Santo quem conduziu Jesus ao deserto para a tentação) era provar que Seu Filho era sem pecado e, assim, um Salvador digno.

Hebreus 4.15: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi Ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (grifo nosso).
Esta frase não significa que Cristo tenha experimentado todas as tentações pelas quais os homens passam, mas que Ele foi tentado em todas as áreas em que os homens são tentados (a concupiscência da carne, dos olhos e a soberba da vida, 1Jo 2.16), e com tentações especialmente preparadas para Ele. Tal provação só foi possível por ter Ele assumido a semelhança de carne pecaminosa (Rm 8.3), pois se não tivesse havido encarnação, Jesus não poderia ter sido tentado (cf. Tg 1.13)[1].
Fica claro que Jesus foi realmente tentado; é igualmente claro que ele era (e permaneceu) sem pecado. O texto de Segunda Coríntios 5.21, não diz que Jesus se tornou um pecador, mas que Deus o fez pecado por nós. Ele não cometeu pecado algum, mas levou, como Cordeiro Imaculado, os pecados de Seu povo que Ele quis redimir.
Mas já que o Senhor Jesus Cristo era Deus, as tentações foram reais? Sim, porque o propósito delas era mostrar a pureza de Cristo (a não existência de pecado n’Ele) e mostrar que Ele está qualificado como Salvador. E, como Homem, o Senhor Jesus foi capaz de resistir à tentação ao depender (a) do poder do Espírito Santo e (b) da verdade da Palavra de Deus.

Sua Impecabilidade
Que Cristo não pecou é plenamente compatível com o ensinamento das Escrituras Sagradas. Assim sendo, Ele pôde oferecer-Se como sacrifício perfeito pelos pecados dos outros porque Ele não precisava fazer sacrifício por Si mesmo (cf. Jo 1.29; 1Pe 1.18-20; 1Pe 2.21,22; Hb 4.15; 7.26,27; Jo 18.38).
Será que Cristo, por ser humano, tinha a capacidade de pecar? Era Ele pecável ou impecável?
A chave para a solução do problema é o fato de Cristo ser Uma Pessoa e não duas pessoas. A união das duas naturezas – divina e humana –, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação concorreu em uma única Pessoa (prosõpon) e uma subsistência (hypostasis).
Há uma falácia no raciocínio que diz: ‘Assim como o primeiro Adão, um ser humano não caído, pôde pecar; de alguma forma a humanidade não caída de Cristo poderia ter pecado’. Como diz Lewis S. Chafer: “É nessa altura que o erro entra”[2].
É inadmissível afirmar que Cristo poderia pecar! Ou, mesmo afirmar que a humanidade de Cristo poderia pecar. A grande causa de muita confusão geral em nossas mentes é o fato de nos esquecemos de que Ele é uma só Pessoa, e quando Ele age é uma Pessoa agindo, não uma de Suas naturezas agindo independentemente de Sua Pessoa. É uma Pessoa que diz: ‘Tenho sede’ (Jo 19.28), mesmo que seja uma propriedade de Sua natureza humana o ter sede. Também, é uma e a mesma Pessoa que diz: ‘Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba’ (Jo 7.37; cf. Jo 4.10,14), mesmo que seja uma propriedade de Sua natureza divina ser o que dessedenta a sede de todos os que creem. Então, “por causa da unidade de Sua Pessoa, Sua humanidade não poderia pecar sem que necessariamente Deus pecasse”[3].
Perguntam-se: ‘Cristo poderia pecar’? Assim formulada essa questão seria reduzida à pergunta tola que diz: “Deus poderia pecar?”. Se é admitido que Deus não pode pecar (1Jo 1.5; Tg 1.17) – não meramente não pecaria, deveria ser admitido que Cristo não poderia pecar – não meramente não pecaria. Pois Cristo é Deus! Falta somente observar que, visto que Ele é “o mesmo ontem, hoje, e eternamente” (Hb 13.8), tivesse sido capaz de pecar na terra, ainda é capaz de pecar agora. Em tal situação, a posição do crente que permanece em Cristo deve também estar numa situação de profundo dano. É uma questão de Uma Pessoa Teantrópica poder pecar[4].
A Pessoa impecável do Cristo é bem demonstrada pelo Dr. Charles Lee Feinberg:

Primeiramente, a união hypostática deu ao mundo uma Pessoa impecável [...]. Não é suficiente dizer que Cristo não pecou; deve ser declarado inequivocamente que Ele não poderia pecar. Acalentar por um momento o pensamento de que Cristo poderia pecar, envolveria questões que justificam uma revolução radical em nossa concepção da divindade. Dizer que Cristo não poderia pecar não é equivalente a manter que Ele não poderia ser tentado. Porque era homem, poderia ser tentado; mas porque era Deus, não poderia pecar, porque não havia princípio em Cristo que poderia ou que responderia à solicitação do pecado. Quando Satanás tentou o Último Adão no deserto, Ele foi tentado e testado em todos os pontos (1Jo 2.16) como aconteceu com o primeiro Adão, e com a raça humana desde então; todavia, no caso de Cristo, sem pecado. O pecado como natureza inerente ou como um ato exterior foi estranho a Cristo. Lucas registra que o anjo revelou a Maria que dela seria nascido um ‘ente Santo’ que seria chamado ‘Filho de Deus’ (Lc 1.35). A natureza hereditária do pecado que Maria havia recebido mediatamente de Adão através de seus progenitores não foi transmitida a Cristo por causa da Sua concepção miraculosa através da operação do Espírito Santo. Cristo pôde desafiar posteriormente, não a Seus amigos, mas a Seus inimigos, que queriam convencê-Lo de pecado (Jo 8.46). Ele sabia que quando o príncipe deste mundo viesse, este nada teria com Cristo (Jo 14.30). Paulo diz d’Ele que Deus fez pecado por nós, aquEle que nenhum pecado cometeu (2Co 5.21). Embora tentado em todas as coisas como nós, Ele, não obstante, era sem pecado (Hb 4.15); na verdade, é-nos dito que Ele era santo, sem mancha, sem defeito e separado dos pecadores (Hb 7.26). Em resumo, o testemunho combinado da Escritura revela que n’Ele não há pecado (1Jo 3.5)[5].

Pecabilidade do Redentor?
Há certas pessoas nos círculos evangélicos que defendem a pecabilidade do Redentor. Você notou que neste livro defendo a impecabilidade de nosso Salvador e Redentor, Jesus Cristo, e, por conseguinte rejeito a pecabilidade do Redentor. Entendemos, pelas Escrituras, que nosso Redentor não era pecável, mas tentável. Ele poderia ser tentando, por ter assumido a natureza humana, mas não poderia ser pecável por Ser Deus. A diferença está entre a heresia e a verdade.
Muitos argumentam contra a impecabilidade perguntando: se Ele não poderia pecar, como avaliaremos a sua real humanidade? Essa questão pode levar à conclusão errônea de que a pecabilidade tem necessariamente algo a ver com a humidade, o que não é verdade. Na verdade, o fato do Senhor Jesus ter impecabilidade não afeta em nada a Sua verdadeira humanidade, antes a evidencia. A humanidade de uma pessoa não está vinculada à sua capacidade ou possibilidade de pecar. Chegará o dia em que nunca mais haveremos de pecar, e, todavia, continuaremos a ser perfeitamente seres humanos[6].
O que fica bem claro é que Cristo não pecou e não poderia ter pecado e, assim sendo, preencheu os requisitos de Deus para Se tornar o Redentor e Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5).
Cristo é o “...Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29. E, se Cristo Jesus não tivesse sido o ‘Cordeiro sem mácula’, em cuja a boca não se achou engano (2Pe 2.22), Ele não só não teria garantido a salvação de ninguém, mas Ele próprio teria necessidade de um Salvador. A multidão de pecados que Cristo carregou sobre Si na cruz requeria um sacrifício perfeito. Tal sacrifício tinha de ser feito por alguém que fosse isento de pecados[7]. Ele o foi!

Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini



[1] RYRIE, Charles C. A Bíblia Anotada, p.1540 (Hb 4.14). São Paulo, SP, Brasil: Mundo Cristão, 1994.
[2] Em Teologia Sistemática – Vols. Um e Dois – Editora Hagnos.
[3] SHEDD, W. G. T., apud CHAFER, Lewis S., ibid.
[4] CHAFER, Lewis S., ibid.
[5] Apud CHAFER, Lewis S.  ibid.
[6] CAMPOS, 2004, p.359.
[7] SPROUL, R. C., ibid.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

VOCÊ É SALVO?

Você é verdadeiramente salvo em 

Cristo Jesus?

Leitura Seleta: 1 João 1.1–2.6.

Introdução: Como posso saber que sou salvo? Quais evidências revelam uma verdadeira conversão? Há provas de um novo nascimento na vida de uma pessoa? Há marcas que destacam uma pessoa crente em Jesus Cristo? O que distingue uma pessoa crente de outra descrente?
Deus falou por meio do profeta Malaquias 3.18:
Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve.

Tais perguntas parecem fora de moda. Não são perguntas que se ouve hoje em dia. Você nunca ouviu falar de uma campanha que traga um título sobre, por exemplo, “como saber que sou verdadeiramente cristã?”; “quais sinais de um novo nascimento?”.

Exortação ao autoexame
Folheando as Escrituras Sagradas encontramos exortações para um exame de nossa profissão de fé.
Paulo escreveu em 1 Coríntios 11.28:
Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice.

Ele escreveu em 2 Coríntios 13.5:
Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.

Também escreveu em Gálatas 6.3-4:
Porque se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana.
Mas prove cada um o seu labor, e então terá motivo de gloriar-se unicamente em si, e não em outro.

Paulo exorta-os a considerar a possibilidade da reprovação, pois caso sejam reprovados eles perecerão eternamente mesmos sendo membros de uma igreja local. A reprovação conduz ao endurecimento do coração, o endurecimento a morte espiritual.
Declínio espiritual é caracterizado por falta de oração, desobediência ao claro ensino das Escrituras, não frequência a igreja e isolar-se dos outros crentes.

No século XVIII, o teólogo Jonathan Edwards chegou a conclusão de que “prova máxima da verdadeira conversão é o que ele chamou de “afeições santas”, ou seja, um zelo pelas coisas santas e um desejo de Deus e da santidade pessoal”.
Segundo Edwards, a verdadeira salvação sempre produz uma constante mudança de natureza no verdadeiro convertido. Ele escreveu: “Nunca se deve desfrutar da certeza com base em uma experiência do passado. É necessária a obra presente e contínua do Espírito Santo [...], dando certeza”.
O apóstolo João, como os escritores do Novo Testamento, se preocupou sobre a questão da verdadeira conversão. Ele dedicou sua primeira Carta ao assunto, afirmando seu tema no final:
Estas coisas vos escrevi a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o Nome do Filho de Deus.

Nesta Carta de João encontramos uma série de testes que determinam se temos realmente a vida eterna, ou seja, se somos realmente salvos.

1. Você desfruta de comunhão com Cristo e com o Pai?
O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com Seu Filho Jesus Cristo (1Jo 1.3).

É característicos dos incrédulos odiar a Cristo Jesus.
Nosso Senhor disse:
Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a Mim (Jo 15.18).
Quem odeia, odeia também a Meu Pai (Jo 15.23).

É característico de todo verdadeiro cristão amar a Cristo e o Pai.
Lemos em 1 João 5.1-2:
Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que Dele é nascido.

Você ama a Jesus acima de tudo e de todos?
Mateus 10.37-39:
Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a Mim não é digno de Mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a Mim não é digno de Mim;
E quem não toma a sua cruz, e vem após Mim não é digno de Mim.
Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por Minha causa achá-la-á.

Lucas 14.26:
Se alguém vem a Mim, e não aborrece a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo.

Lucas 10.27:
A isto ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento [...].

Cristo Jesus nosso maior tesouro e deleite
Se eu amo a Cristo por causa de alguma coisa (bens, diversão e etc.,) não estou amando-o de verdadeiramente. Ninguém pode amá-Lo verdadeiramente mediado por qualquer coisa. Sendo assim, amor a Cristo por causa do que Ele pode me oferecer e não por causa de Quem Ele é.

Agostinho
“Fizeste-nos para Ti, e inquieto está nosso coração, enquanto não repousa em Ti”[1].
Aquele que tem Deus é feliz. Não porque Deus dá saúde, prosperidade e propriedade, mas porque Deus é o lugar de descanso da nossa alma. Tornar isso conhecido e experimentado por meio de Jesus Cristo é o alvo do evangelismo e das missões mundiais.
“Aquele que Ti ama junto com outra coisa, ama-Te mui pouco; pois não ama tal coisa por amor de Ti”.
Nos salmos Deus é o bem mais precioso e o maior deleite dos salmistas (cf. Sl 34.8; 84.2; 42.1,2).

Onde está o nosso tesouro aí estará o nosso coração (cf. Mt 6.19-21). Pergunte ao homem o que ele ama e não o que ele faz para conhecê-lo. Ao jovem rico faltava-lhe um tesouro no céu (cf. Mc 10.21).
O alvo de Paulo deve ser o nosso alvo (cf. Fp 3.7-14)

O que é esta comunhão com Cristo?
Paulo a descreveu com as seguintes palavras:
Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo;
Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo se entregou por mim (Gl 2.19-20).

O mundo só me encanta quando Cristo não vive em mim; quando não vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo se entregou por mim. Paulo também salientou:
Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo (Gl 6.14).

2. Você é sensível ao pecado?
Ora, a mensagem que, da parte Dele, temos ouvido e vos anunciamos é esta: que Deus é luz, e não há Nele treva nenhuma.
Se dissermos que não mantemos comunhão com Ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.
Se, porém, andarmos na luz, como Ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado (1Jo 1.5-7).

Luz e trevas não coexistem!
 É característico dos incrédulos para os pecados em suas vidas.
Os cristãos, por outro lado andam na luz, como Ele está na luz (v.7). Nós andamos em um caminho virtuoso e, além disso, confessamos os nosso pecados (v.9).
Os verdadeiros cristãos têm uma noção correta do pecado. Sabem que se quiserem ter um relacionamento com Deus, eles têm de ser santos. Quando o pecado ocorre em suas vidas, eles sabem que têm de confessá-lo.
Os verdadeiros cristãos percebem que não devem pecar. Mas, quando pecam, eles sabem a quem recorrer – Jesus Cristo, o Advogado do cristão (1Jo 2.1-2).
A pessoa realmente salva é sensível a realidade do pecado em sua vida (Rm 7.14-25).
Se você está lutando diariamente contra o pecado é sinal de que você nasceu de novo, afirma John Owen.

3. Você obedece a Palavra de Deus?
Temos uma declaração clara em 1 João 2.3-6:
Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os Seus mandamentos.
Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os Seus mandamentos é mentiroso, e Nele não está a verdade.
Aquele, entretanto, que guarda a Sua Palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos Nele:
Aquele que diz que permanece Nele, esse deve também andar assim como Ele andou.

Você quer saber como pode dizer se é um verdadeiro cristão? Não é pelo sentimento, mas pela obediência.
Se você obedece a Palavra de Deus é sinal de que você ama a Cristo:
Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos (Jo 14.15).
Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor; assim como também Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai e no Seu amor permaneço (Jo 15.14).

4. Você rejeita este mundo perverso?
Leiamos 1 João 2.15-17.

5. Você espera ansiosamente a volta de Cristo?
Leiamos um grandioso texto em 1 João 3.1-3.


Soli Deo Gloria!



[1] Confissões, Livro I – 15. Op. Cit.,

quinta-feira, 8 de junho de 2017

3a PARTE VISÃO DE IGREJA MULTIPLICADORA (3)

2a PARTE VISÃO DE IGREJA MULTIPLICADORA (2)

EXPONDO A VISÃO DE IGREJA MULTIPLICADORA (1)


CONGREGAÇÃO DE BODOCONGÓ, CAMPINA GRANDE-PB


MUDANÇA DE MENTALIDADE: DE EVENTO PARA DISCIPULADO!


Confesso que estou exausto de tanto realizar ou participar de eventos! Eventos e mais eventos são elaborados e distribuídos para as pessoas se envolverem. Muitas de nossas igrejas locais estão empanturradas de eventos e programações. Essa é uma mentalidade cruel, exaustiva e descentralizadora do que as Escrituras nos têm chamado a nos dedicar.
Os pastores Colin Marshall e Tony Payne fizeram a seguinte observação:
Tipicamente, as igrejas adotam uma abordagem de evangelização baseada em eventos. Elas usam eventos variados para proclamar o evangelho: reuniões da igreja, cultos evangelísticos, reuniões de missões, café de homens, jantar de mulheres e muitos outros ajuntamentos criativos. A fim de parecerem bem-sucedidas, as igrejas continuam mantendo mais e mais desses eventos.

No afã de evangelizar, muitas igrejas locais promovem mais e mais eventos. No entanto, em muitos destes eventos os próprios membros das igrejas são irregulares na frequência. Se gasta muita energia na elaboração e realização do evento. Quando termina o espetáculo o povo está exausto e, percebe-se que não houve crescimento espiritual. Isso sem falar daquelas intermináveis e cansativas reuniões de ministério, que mais enfadam do que edificam.
Essa “mentalidade de eventos” é a responsável pelo desvio bíblico da “mentalidade de treinamento e discipulado” dos santos para o desempenho do serviço cristão. Em vez de treinar os santos para a obra do ministério, muitos estão divertindo os membros das igrejas locais com shows e espetáculos de entretenimento. Em vez de alimentar as ovelhas, os bodes estão sendo entretidos! No lugar de energizar as pessoas com as verdades espirituais, muitos estão exaurindo as forças do povo de Deus com eventos e mais eventos, festas e mais festas, programas e mais programas. As pessoas são meras peças na engrenagem denominacional.
Essa “mentalidade de eventos” têm erguido novos ministérios nas igrejas locais: ministério de evento, ministério de shows, ministério de danças, ministério de cortina, ministério dos lanches e etc. Tais ministérios têm exaurido tempo e energia preciosos que deveriam ter sido canalizados na obra do ministério daquilo que chamo de “mentalidade de treinamento” ou “mentalidade de discipulado”.
A abordagem atual da “mentalidade de evento” se ocupa na realização de cruzadas, shows, louvorzão, marchas, desfiles, caça talentos, reality shows e etc.
Nesta ora exorto a você a mudar radicalmente para a “mentalidade de treinamento ou discipulado”. Isso será possível pelo poder do Espírito Santo e submissão às Escrituras. Creio que todo verdadeiro avivamento, reforma e revitalização é resultado de um retorno às Escrituras Sagradas.

Jesus e os apóstolos
O Senhor Jesus e Seus apóstolos não possuíam uma “mentalidade de evento”. Nosso Senhor não gastava energia e nem o tempo das pessoas realizando grandes eventos ou concentrações e shows. Ele se empenhava em ensinar as grandes verdades do Reino de Deus (cf. Mt 5–7). Em Marcos 1.38, lemos sobre o propósito primário do ministério terreno do Senhor Jesus: “Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que Eu pregue também ali, pois para isto é que Eu vim”. Seu objetivo era ensinar as pessoas e chamá-las ao arrependimento e a fé no Deus justo e amoroso (Mc 1.14-15).
O Senhor Jesus não se empenhava na elaboração de grandes eventos, e nem em grandes programas maçantes, mas dedicava-se peremptoriamente a discipular pessoas para o Reino de Deus. Jesus se preocupava com o Reino de Deus, não com o “reino dos eventos”. Nós temos esquecido as realizações do Reino de Deus – “mentalidade de discipulado”, e abraçado a “mentalidade de evento” – shows e etc.

Contraste entre as duas mentalidades
A “mentalidade de evento” é comida e bebida, mas a “mentalidade de discipulado” é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14.17).
A “mentalidade de evento” consiste em palavras persuasivas da sabedoria humana (1Co 4.20ª; 2.4ª), mas a “mentalidade de discipulado” consiste no poder de Deus e na demonstração do Espírito Santo (1Co 2.4b; 4.20b).
A “mentalidade de evento” postula o denominacionalismo patologizado que desgasta as pessoas por meio das programações e eventos intermináveis, iludindo-as com o pensamento de que estão fazendo a obra de Deus (na realidade estão fazendo eventos para si mesmos!), porém a “mentalidade de discipulado” postula igrejas saudáveis, fundamentadas na Palavra e na Oração, para o crescimento e a maturidade dos membros e, consequentemente a evangelização dos perdidos.
A “mentalidade de evento” escraviza às pessoas em atividades legalistas. Já a “mentalidade de discipulado” chama às pessoas para adornar o evangelho por meio de uma vida piedosa.
A “mentalidade de evento” está preocupada com realizações fantásticas e marqueteiras como: “transforma pedras em pães”; “pular de cima do pináculo do templo” e “ajoelhar-se aos pés das demandas secularistas”. A “mentalidade de discipulado” entende que nem só de pão viverá o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus. A “mentalidade de treinamento” não tenta ao Senhor Deus e também não abre mão do verdadeiro objeto da adoração – o Deus Triúno!

Não se preocupe com a publicidade!
A “mentalidade de evento” se preocupa com a publicidade. Enquanto a “mentalidade de treinamento ou discipulado” se preocupa com o crescimento paciente.
Você deve se lembrar de que o Senhor fez uma advertência veemente para que o leproso não o expusesse a publicidade (cf. Mc 1.43-45). Essa advertência não é a da mentalidade de “evento”, mas a de “discipulado”. A “mentalidade de evento” quer publicidade. Aliás, depende dela para a realização da sua agenda. No entanto, a “mentalidade de discipulado” almeja gerar uma atitude de testemunho da grandeza de Deus ao povo. O Senhor Jesus insistiu com o leproso para que sua cura fosse um “testemunho ao povo” (v.44), e não uma publicidade marqueteira para promoção de um curandeiro.
A desobediência do leproso a ordem do Senhor promoveu um impedimento para que o Senhor Jesus continuasse Seu ministério de ensino. A publicidade da cura prejudicou o ministério de ensino do Senhor Jesus (Mc 1.45) e desviou a atenção do povo para longe da mensagem.
Num certo sentido a “mentalidade de publicidade” é oriunda dos demônios. Veja que em Marcos 3.12, o Senhor Jesus advertiu severamente “os espíritos imundos” que o não expusesse à publicidade. A orientação do Senhor Jesus ao leproso curado foi sobre a “mentalidade de testemunho”.
Aqui são dignas de nota as palavras do pastor Caio Fábio:
Agora, compare isto com os modelos de “igreja” atuais. Sim; com a ênfase na propaganda, no mercado, nos nichos, na promoção, no show da fé, na massificação sem rosto, no crescimento quantitativo, na artificialidade dos modelos de crescimento piramidal; ou ainda: compare com a venda do “Evangelho” como produto de salvação; sempre para fora; sempre para o mercado; sempre segundo a Coca-Cola, ou a Pepsi, e nunca segundo Jesus; o Qual, entre nós, fazia tudo com discrição, sem o afã das promoções; e que mais que frequentemente, pedia que d’Ele não se fizesse propaganda, ou que se O expusesse à publicidade; posto que Seu modus operandi cumprisse a profecia que dizia: “Nas praças [Ele] não fará ouvir a Sua voz!”.
O que isto significa? Que não se pode fazer propaganda de Jesus?
Sim; significa isto mesmo!
O Jesus propaganda é o Jesus do Mercado; é o Jesus do Bazar; é o Jesus da Venda; é o Jesus do Mundo!
Na realidade se diz que “a fama de Jesus corria por toda parte”[1] e que “as multidões vinham ouvi-Lo de todos os lugares”.
Todavia, isso acontecia porque acontecia; porque era verdade; porque não se consegue esconder a luz; porque se o sal for jogado na terra nota-se a diferença pelo sabor; porque se a semente virar árvore as aves dos céus a encontram com naturalidade; porque o achar da “pérola de grande valor” faz aquele que a acha sair alegre com tal descoberta; porque o “tesouro escondido no campo”, uma vez que nele se tropece, faz o achador vender tudo e comprar o campo, a qualquer custo ou preço, tornando qualquer esforço apenas um ganho, uma alegria!
Assim deveria crescer o “reino de Deus” entre os homens; e assim deveria ser com a Igreja dos discípulos de Jesus como expressão do “reino de Deus” na História[2].

Eu creio nisso e luto perseverantemente por uma mentalidade de discípulo e de treinamento.
Não esposo essa mentalidade marqueteira, de eventos e programas sem fins que mais cansam o povo do que promove renovação e crescimento nas verdades do santo evangelho. Precisamos mudar radicalmente nossa mentalidade!


IVAN TEIXEIRA
Minister Verbi Divini


[1] Isso difere diametralmente do marketing das igrejas de hoje. Algo forçado, programado, mascarado e maquiado.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

IGREJA BOTE-SALVA-VIDAS!



ATIVIDADES MINISTERIAIS DO SENHOR JESUS!

Três Grandes Atividades do Ministério do Senhor Jesus

Leitura Seleta: Mateus 4.23–25.
Comentário: Esta passagem tem muita importância para nossas vidas e ministério porque nos dá um breve, mas marcante, sumário da trilogia ministerial do Senhor Jesus.
Todo ministro do evangelho deveria estudar esse tríplice aspecto ministerial de nosso Senhor Jesus.

1. Pregando o Evangelho do Reino.
A pregação consiste em proclamação de certezas. Por tanto, o Senhor Jesus vinha derrotando a ignorância humana. O Senhor Jesus vinha pregando a verdade acerca de Deus, verdade que nunca descobriríamos por nós mesmos.
Com a pregação do evangelho do Reino nosso Senhor vinha pondo ponto final nas suposições sobre Deus e mostrando realmente quem é Deus. Com a pregação todas as astúcias dos homens eram eliminadas e a verdade de como é Deus vinha sendo revelada.

2. Ensinando nas Sinagogas.
Qual a diferença entre pregar e ensinar? Pregar é a proclamação sem reservas da certeza; ensinamento são a explicação de seu significado e relevância. Por tanto, o Senhor Jesus veio para derrotar os falsos entendidos dos seres humanos. Às vezes as pessoas conhecem a verdade e a interpretam mal. Outras vezes as pessoas conhecem a verdade e extraem conclusões erradas dela. O Senhor Jesus veio ensinando para revelar o sentido da verdadeira religião.
No Sermão do Monte vemos a maravilhosa explicação da lei de Deus que os intérpretes passados haviam ofuscado com suas tradições e falsas conclusões. No Sermão do Monte vemos o Senhor mostrando-nos o significado verdadeiro e a relevância da lei de Deus para nossas vidas.

Significa que o Senhor Jesus veio para derrotar a dor e o sofrimento dos seres humanos que creem Nele.
Umas das coisas mais importando revelado no ministério e vida do Senhor Jesus é que Ele não se conformou apenas em pregar a verdade meramente em palavras; Ele veio para por a verdade em ação. A verdade liberta! (Jo 8.32,36).
Florence Allshorn, um grande mestre missionário, dizia: “Um ideal não é nunca teu até que te saia pelas pontas dos dedos”. O ideal não é nosso até que se materialize em obras. O Senhor Jesus transformava em realidade Seu próprio ensinamento em obras de ajuda e saúde.
Devemos ornar as doutrinas sagradas com nossas vidas como diz as Escrituras:
Quanto aos homens [...] às mulheres [...] aos moços [...] Torna-te pessoalmente, padrão de boas obras [...] aos servos [...] dêem prova de toda a fidelidade, a fim de ornarem, em todas as coisas, a doutrina de Deus, nosso Salvador (Tt 2.1–10).


4. Numerosas Multidões O Seguiam (Mt 4.25).
Havia entre as multidões àqueles que vinham para serem curados (v.24), mas também havia àqueles que vinham para segui-Lo. Estes, O seguia vindo de longe, sem motivação de receberem curas.

Conclusão: O Senhor Jesus veio pregado para derrotar toda ignorância. Ele veio ensinando para derrotar todos os mal entendidos sobre Deus e Seu evangelho. Também veio curando para derrotar todo sofrimento. A vida e ministério do Senhor Jesus é suficiente para todas as nossas necessidades.
Cada um de nós, como ministros de Cristo, devemos proclamar nossas certezas; nós, também, devemos está dispostos a explicar nossa fé; e por último devemos traduzir o ideal em ação e obras para a glória de Deus e salvação dos homens. Tudo isto para que as pessoas sigam ao Senhor Jesus de todo coração.

IVAN TEIXEIRA

Minister Verbi Divini

segunda-feira, 5 de junho de 2017

ACEITOS POR DEUS!

Como Deus Nos Aceita?

Creio que essa é uma pergunta de suma importância para cada pessoa neste mundo. Como um Deus santo, justo, perfeito, bom, Todo-Poderoso e que abomina o pecado, aceita pessoas pecadoras, imperfeitas, transgressoras, ímpias e inimigas de Sua vontade e as adotas como filhos e filhas?
É uma pergunta que devemos fazer e procurar a resposta não nas filosofias ou ideias humanas, mas na sempre graciosa e aurifulgente Palavra de Deus. Proponho procurar entender o que as Escrituras dizem sobre Deus e sobre as pessoas que Ele salva, justifica e toma para Si. Depois irei discorrer sobre como um Deus santo, justo, perfeito e amoroso ama e aceita pecadores e ímpios como nós e nos torna Seus filhos e filhas para Sua glória e louvor de Sua graça.

Quem é Deus?
Sabemos pelas Escrituras que Deus é tão santo que não pode ver o mal sem puni-lo (Hc 1.13). Ele não tolera pecados. O Santo de Israel não pode lançar nossos pecados para debaixo do tapete do universo como se nada tivesse acontecido, como se nunca tivéssemos desonrado Sua santidade. Ele não pode ignorar pecadores e não puni-los. Deus é íntegro, justo, perfeito e amoroso. Seu amor é santo, sua vontade é santa, todo o Seu Ser é santo. Ele não pode amar o pecado, ele o aborrece na totalidade do Seu Ser. O Deus das Escrituras não apenas aborrece o pecado, mas também Sua justa ira está voltada contra o pecador. Há pecados porque há pecadores! Ele não pode punir pecados sem punir pecadores.

Quem nós somos?
As Escrituras dizem que fomos criados perfeitos, segundo a imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). Fomos criados para a glória de Deus (Is 43.7). Porém, a triste continuidade da História da Criação está marcada com a Queda da humanidade em pecado revoltante contra seu Bendito e Santo Criador e Provedor (Gn 3).
O retrato que as Escrituras pontuam sobre quem somos é claro e fiel. Por elas sabemos que somos pecadores incapazes de agradar a Deus (Rm 3.9-18), fracos, iníquos, ímpios, inimigos de Deus e mortos em nossos delitos e pecados (cf. Rm 5; Ef 2). Nossas melhores obras são como um “trapo de imundícia” diante de Deus (Is 64.6), ou seja, o que há de melhor em nós não agrada a Deus, pois está manchado pelo nosso orgulho e injustiça. Deus que é perfeito e santo não pode aceitar nada menos do que a perfeição. Então, como nós que somos pecadores, incapazes, fracos podemos ser aceitos por um Deus tão santo e sermos salvos?

Como podemos ser aceitos?
Há apenas duas formas de sermos aceitos por Deus. Uma é pelos nossos próprios méritos e justiça própria. Se conseguirmos obedecer perfeitamente os mandamentos de Deus e cumprir a lei, Ele deve nos recompensar aceitando-nos e nos abençoando, pois trabalhamos e alcançamos total obediência. Sendo assim, recebemos nossa recompensa, a salvação. As Escrituras chamam isso de salvação pelas obras, pelo trabalho e por uma obediência perfeita. No entanto, o testemunho uníssono das Escrituras é que a salvação não é uma recompensa, mas uma dádiva. A salvação não é uma conquista meritória, mas um presente de Deus. A salvação não é por obras humanas, mas pela obra de Deus. Não é por mérito, é por pura graça. Isso não vem de nós, é um dom de Deus (Ef 2.8).
Outra forma de sermos aceitos por Deus é pela justiça e méritos de outro que nos represente perfeita e justamente. Assim, como todos nós somos pecadores por causa da desobediência de Adão, nosso representante, assim, diz a Escritura (cf. Rm 5.12-21), podemos ser salvos, aceitos e reconciliados com Deus, somente pela obediência perfeita de Cristo Jesus quando cremos n’Ele como Senhor e Salvador de nossas vidas. Isso é salvação pela graça de Deus, para que ninguém se glorie.
Paulo salienta estas duas formas de possível salvação no texto de Romanos 4.1-5:
Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e, sim, como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça (grifos nosso).

Nossa salvação ou é um favor de Deus para nós (Sua graça) ou uma dívida de Deus para conosco (nosso trabalho). Não podem ser as duas coisas, pois uma necessariamente exclui a outra (a recompensa exclui a dádiva; a dádiva exclui a recompensa, mas nos chama para desenvolver a salvação e receber a recompensa). O que Paulo argumenta é: ou somos salvos pela graça (o trabalho de Deus por, em e para nós por meio de Cristo somente) ou pelas nossas obras (nosso trabalho em alcançar e obedecer perfeitamente toda a lei de Deus).
Paulo fala daqueles que “trabalha” cujo “salário não é considerado como favor, e, sim, como dívida” (v.4). E fala também daqueles “que não trabalha”, mas crê em Deus para salvá-los, a fé deles lhe é atribuída como justiça (v.5). Confiamos no trabalho de Deus (isso é o evangelho) ou confiamos no nosso trabalho (outro evangelho).
Salvação pelas nossas obras nos proporciona uma glória, mas não diante de Deus. Mas salvação pela graça proporciona nos gloriarmos em Deus!

As duas lógicas
Podemos analisar duas correntes lógicas no texto elencado acima.
Primeiro, temos a lógica do trabalhador: Isso fala daqueles que tem obras, do obreiro (trabalhador) que se esmera para ganhar seu salário. As obras indicam que há uma dívida. Quando uma pessoa trabalha, alguém lhe deve. Se a pessoa pudesse trabalhar para ganhar sua justiça, então Deus estaria em dívida com ela. Mas, Deus, sendo Deus, é completamente autossuficiente; portanto, não pode ser devedor de ninguém. Ele não pode ser obrigado a fazer algo. Ele não pode ser obrigado a nos salvar, a recompensar salvadoramente nossas ações. A salvação não é uma dívida que Deus tenha para com o pecador. A única dívida, por assim dizer, que Deus tem com os pecadores é pagar-lhes com condenação eterna por causa de seus pecadores, pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Sendo, assim, alvos de Sua eterna Ira.
Estudiosos judeus acreditavam que Abraão havia obedecido a lei de forma perfeita, inclusive antes de ela ser entregue. A interpretação judia de Abraão enfatizava suas obras como essência de piedade e a base de sua extraordinária e exemplar relação com Deus. No entanto, Paulo demonstra que essa interpretação não está de acordo com o Antigo Testamento. A interpretação paulina de Gênesis 15.6, despoja Abraão da condição que tinha para os judeus de modelo de obediência da Torah, transformando-o em um modelo de fé[1]. Abraão não foi justificado pelas obras, mas pela fé somente.

Segundo, temos a lógica da fé: Aqui temos a lógica da justificação de Abraão e também da nossa. Observamos a vida de Abraão e vemos logicamente que uma pessoa é justificada não pelas obras, mas sim pela fé somente.
Abraão não foi justificado pelas obras, porque as obras não podem dar direito a uma pessoa para gloriar-se diante de Deus. Note o seguinte: Se Abraão houvesse sido justificado pelas obras:
1. Teria direito de gloriar-se diante dos homens.
2. Mas não teria direito de gloriar-se diante de Deus.
Pense nisso: a lógica, a claridade do assunto. Não há nenhuma pessoa que tenha o direito de gloriar-se diante de Deus. Nenhum ato, obra ou combinação de ações e obras poderia elevar uma pessoa a uma altura tal que possa gloriar-se ou chegar a ter o direito de gloriar-se diante de Deus[2].
Devemos entender que nem nossa obediência externa, nem nossa santidade interna constituem uma porção de justiça pela qual possamos ser justificados (declarados justos diante de Deus) ou aceitos por Deus.
A justiça pela qual somos aceitos ou justificados por um Deus santo deve ser absolutamente perfeita. Pois a justiça da santidade Divina precisa ser vindicada e satisfeita.
Já que não somos salvos pela nossa própria justiça, obediência, santidade e pelas obras da lei, então por qual justiça somos salvos, justificados e aceitos por Deus para desfrutar de Sua bendita comunhão? Unicamente a justiça que vem pela fé, a justiça de Deus em Cristo (Rm 1.17; 3.21-31; 5.1).
Vale pontuar aqui que não trabalhamos para sermos salvos, mas trabalhamos para desenvolver a nossa salvação. Isso é ensinado por Paulo em Filipenses 2.12: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (grifo nosso).
A salvação biblicamente falando é tanto um estado (sou salvo), um processo (estou sendo salvo), como também um objetivo Divino (serei salvo). O meio e o fim são tão certos como o início, conforme Romanos 8.30: predestinou, chamou, justificou e glorificou. Os tempos destes verbos demonstram que nossa salvação é tão certa que pode ser considerada como algo já realizada/consumada.

IVAN TEIXEIRA
Minister Verbi Divini



[1] MOO, Douglas J. Comentario a La Epístola de Romanos, p.297-301. Viladecavalls, Barcelona, España: Editorial CLIE, 2014.
[2] Biblia de Bosquejos y Sermones, Tomo 7, Romanos, p.67. Grand Rapids, Michigan 49501, USA: Editorial Portavoz, 1998.