quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Evidência do Batismo no Espírito Santo: As Línguas!

 


 


Boa parte dos estudiosos que concordam com a atualidade do dom de línguas não se ofendem com a descrição de Paulo (1Coríntios 12 e 14); TODAVIA, não aceitam a descrição de Lucas de que as línguas são evidência do batismo no Espírito Santo. E quando "aceitam" a perspectiva de Lucas a leem ou submetendo-a a perspectiva paulina da conversão (1Coríntios 12.13) ou a perspectiva da crítica de eruditos do século XX como Hans Conzelmann[1] que divide a história lucana em três períodos dando base a que se entenda o batismo no Espírito Santo dos samaritanos, de Cornélio e os dos efésios como uma experiência ligada a períodos de transição na história da salvação, relacionando o batismo como incorporação no Corpo de Cristo. Por isso, muitos pontuam que os três eventos citados simplesmente descrevem pontos críticos na história da salvação que não mais se repetirão – que o batismo no Espírito, as línguas e as profecias foram pertencentes àquele período e que Lucas não quis postular que tal experiência é normativa ou paradigmática para todos os cristãos em todo o período da igreja, ou mesmo que Lucas quis transmitir que os cristãos do primeiro século falavam em línguas e profetizavam como resultado do batismo no Espírito Santo. Particularmente, entendo, que para Lucas o batismo no Espírito Santo, as línguas e os enunciados proféticos pertencem como promessa do Pai a todos quantos Deus chamar para fazer parte de Sua igreja (cf. Atos 2.39). Seria de grande valia os estudiosos atentarem para essas palavras de Pedro quando explicava o evento aos seus ouvintes que presenciaram os discípulos cheios do Espírito Santo falando noutras línguas.

Lucas claramente associa as línguas ao que João Batista (Lucas 3.16), Jesus (Atos 1.5) e Pedro (Atos 11.16) chamaram CLARAMENTE de batismo no Espírito Santo. Ou seja, para Lucas – e seus ouvintes – o batismo no Espírito Santo foi (e é!) evidenciado pelo falar em línguas (Atos 2.4; 10.46; 19.6), bem como nalguns casos pela profecia (Atos 19.6) e glorificação ou enaltecimento de Deus – adoração-louvor – (Atos 2.11 e 10.46). As línguas, a profecia e os enunciados proféticos-litúrgicos glorificando a Deus não se limitaram a períodos transicionais da História da Salvação, mas pertencem a todos quantos o Senhor nosso Deus chamar – ou seja, a toda a igreja até a vinda do Senhor!

Em três ocasiões explícitas – do que João Batista, Jesus e Pedro chamam de Batismo no Espírito Santo – na narrativa em Atos, Lucas descreve as línguas como evidência de que as pessoas receberam a promessa do Pai – ou o derramamento do Espírito Santo conforme profetizado por Joel. As línguas são no mínimo formas de evidenciar o batismo no Espírito Santo, o que fica inconfundivelmente claro no texto de Atos 10.44-47: “sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo, POIS, os ouvimos falando em línguas e engrandecendo a Deus”. Em duas ocasiões (Atos 8 e 9) as línguas e a profecia estão em vista implicitamente, caso contrário à proposta de Simão ficaria sem sentido (Atos 8.19)! A proposta do erudito James Dunn[2] de que os samaritanos não se converteram, de fato, até que os apóstolos de Jerusalém viessem e impusessem as mãos sobre eles é insustentável à luz do contexto de Atos 8 e do restante do livro escrito por Lucas! Claramente os samaritanos se converteram, mas ainda não haviam recebido o batismo no Espírito Santo – essa é a crença pentecostal clássica!

Você pode até não crê que o dom de línguas ou as línguas como evidência do batismo no Espírito Santo não seja para hoje, ficando restrita ao primeiro século – coisa que não creio! – MAS negar que as línguas, na narrativa lucana, constitua a prova de que as pessoas receberam o “batismo no Espírito Santo” (não que receberam o Espírito na conversão!) é negar a veracidade da narrativa do livro de Atos, portanto é negar a Palavra de Deus por meio de Lucas!

Neste ponto vale pontuar que a proposta do erudito Hans Conzelmann que divide a história lucana em três períodos dando base a que se entenda o batismo no Espírito Santo dos samaritanos, de Cornélio e o dos efésios como pertencente a períodos de transição na história da salvação, relacionando o batismo como incorporação no Corpo de Cristo pode até ser compreensível numa tese ou postulado Sistemático, mas não se sustenta como resultado de exegese quando nega o batismo no Espírito Santo como posterior à salvação, pois todos os cinco eventos citados por Lucas faz referência a experiências de pessoas convertidas recebendo o dom do Espírito Santo evidenciado pelo falar em línguas, profecias e enaltecimento de Deus. Pode-se pontuar que a única exceção seja no caso de Cornélio e os de sua casa que receberam a salvação e o batismo concomitantemente, fato que se pode testemunhar em centenas e em até milhares de vezes quando uma pessoa crê em Cristo e ao mesmo tempo ou concomitantemente recebe o batismo no Espírito Santo. Testemunhei isso várias vezes no meu ministério! Mesmo assim, o batismo no Espírito Santo foi para os salvos e não para que fossem salvos.


TEIXEIRA, Ivan. Batismo no Espírito Santo e Fogo: A Crença Pentecostal na Promessa do Pai, p.59-62. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Editora RUJA, 2021 (prelo).




[1] CONZELMAMM, Hans. The Theology of St. Luke. 2nd ed. Nova York: Harper & Row, 1961.

[2] DUNN, James D. G. Baptism in the Holy Spirit: a re-examination of the New Testament teaching on the gift of the Spirit in relation to Pentecostalism today, p.55-72. Philadelphia/London, Reino Unido: Westminster/SCM, 1970.

sábado, 17 de outubro de 2020

FAZER TEOLOGIA SAUDAVELMENTE À LUZ DAS ESCRITURAS

 

PONTOS CRÍTICOS DA REVELAÇÃO: SINAI, CALVÁRIO E PENTECOSTES

 

Uma vantagem de anos de estudos teológicos é a capacidade de perceber o quanto do fazer teológico tem sido a mera projeção humana de Deus, e não o esforço humano investigativo para compreender a revelação de Deus sobre Si mesmo. O que percebo é o homem falando através de um Deus mudo, em vez de um Deus falante, “assim diz YHWH”, pelo Verbo, o Cristo, sob a iluminação do Espírito Santo, falar, através do homem.

Noto, no fazer teologia, as reflexões humanas a respeito de seus próprios sentimentos. A sistematização das próprias ideias humanas acerca de determinado assunto da Teologia – estudo de Deus. No lugar de uma construção Sistemática da revelação de Deus no Cristo pela obra e iluminação do Espírito Santo, enxergamos uma construção sistemática dos pressupostos humanos acerca de Deus.

A teologia não deve partir do homem para Deus, mas do evento da revelação de Deus ao homem no Cristo encarnado e entendida pela plenitude do Espírito. Os eventos Trinitários no Sinai, no Calvário e no Pentecostes devem nortear e compor o conteúdo da investigação científica do homem na construção da teologia. É meu entendimento que toda a compreensão cristã legítima sobre Deus deve ser fundamentada na revelação de Deus sobre Si mesmo contida nas Escrituras Sagradas. Daí, rejeito as meras ideias humanas formadas pelas projeções especulativas da razão humana sem a iluminação do Espírito Santo.

O pressuposto do teólogo cristão é que Deus se revelou e o fez plenamente no Cristo, pelo qual mantemos comunhão com o Pai no Espírito Santo, e essa revelação vem a nós pelo Espírito que penetra todas as coisas até mesmo as profundezas de Deus. A teologia cristã saudável é possível apenas baseada neste pressuposto da revelação e da iluminação e ensino do Espírito. Caso contrário, teremos meras projeções humanas sobre Deus, e não o meditar humano sobre a revelação de Deus.

A humildade do teólogo o impede de impor teorias arbitrárias sobre o objeto que investiga, mas o leva a está sempre aberto para aprender novas coisas constantemente. A humildade o leva a refletir teologia à luz da Palavra de Deus, e não meramente repetir o que teólogos disseram. Ele não procura simplesmente transmitir o pensamento dos teólogos, mas a revelação de Deus sobre Si mesmo no Cristo sob os auspícios do Espírito Santo. O pensamento teológico genuíno surge da revelação, isto é, das Escrituras, e se torna grande inimigo de construtos teóricos sistemas racionalistas que são em geral, esquematismos que se originam na mente do próprio teólogo e que forçam o ensino das Escrituras para dentro de sistemas que são como a cama de Procrustes.

A teologia cristã (ou o teólogo cristão) não deve buscar legitimar nenhuma tradição teológica, seja ela: patrística, medieval, reformada, católica, protestante, calvinista, arminiana, fundamentalista ou pentecostal. Cada geração de estudantes deve ficar inteiramente livre e sem amarras denominacionais ou de qualquer tipo, para avaliar as Tradições Teológicas à luz de um re-exame das Escrituras Sagradas feito cristocentricamente no entendimento de que Jesus Cristo é a auto-revelação de Deus para a humanidade. Portanto, um teólogo deve se preocupar acima de tudo com a singularidade e a centralidade de Cristo e do Evangelho. Afirmo peremptoriamente que essa cristocentricidade teológica se torna possível apenas pneumatologicamente. Sem o fator pneumático o teólogo se torna refém dos seus próprios sentimentos e pressupostos, bem como preso a razão especulativa em sua investigação científica sobre Deus. O Espírito e a razão não se opõem, mas a razão precisa ser iluminada pelo Espírito, a Unção que nos ensina. A verdade de Deus e sobre Ele – revelação de Si mesmo no Cristo – é-nos dada, ensinada e testificada pelo Espírito Santo nas Escrituras (João 14.16,17,26; 15.26; 16.13-15). Acima de tudo o fazer teológico deve ser pneumático, ou seja, capacitado pelo Espírito Santo. Ele é o Espírito da verdade, não o teólogo!

O pressuposto da teologia cristã é que o Deus absolutamente soberano, poderoso, majestoso, supremo e transcendente chega em infinita condescendência a dar a Si mesmo ou a ofertar-se a Si mesmo a humanidade em graça incondicional e liberdade infinita em Cristo por meio do Espírito Santo. Esse é o João 3.16 da teologia cristã!

Deus se ofereceu a Si mesmo em Cristo no poder do Espírito Santo para salvar a humanidade, ela toda (2Coríntios 5.19). E Cristo, pelo Espírito, se ofereceu a Si mesmo sem mácula a Deus para a humanidade servir ao Deus vivo (Hebreus 9.14). Esse oferecimento de Deus de Si mesmo não deve ser enfraquecido, limitado, encurtado e estreitado pelos pressupostos de certas teologias a tal ponto que não possa alcançar a todas as pessoas, em todos os lugares, em todos os tempos em todo o mundo. A limitação do “oferecimento de Deus no Cristo pelo Espírito” é limitar o amor, diminuir a graça e enfraquecer a cruz.

 

Calvário e Pentecostes!

A teologia da revelação de Deus no Cristo pelo Espírito é uma teologia da cruz e uma teologia do Pentecostes. É na cruz que a plena graça e o amor infinito de Deus rasga do homem todos os farrapos e trapos de imundícias do seu autoengano, despindo-o do seu orgulho e de sua vaidade e de toda sua pretensão religiosa de conhecer a Deus por si mesmo e nos seus sentimentos e por meio de suas preconcepções, vestindo-o posteriormente da justiça divina pelo Espírito Santo (1Coríntios 6.11) para fazê-lo uma “nova criação” em Cristo Jesus (1Coríntios 5.17) capaz de ficar de pé como uma criança diante de seu Pai Celestial, e portanto, clamar, pelo Espírito de Adoção, Aba Pai (Romanos 8.14-16; Gálatas 4.6,7). É no Pentecostes que a plenitude do Espírito Santo capacita o homem com a vestimenta de poder para torna-lo testemunha da revelação de Deus em Cristo por meio da proclamação do evangelho de Deus.

O teólogo cristão não recusa a razão, mas recusa a razão humana que de per si não pode conhecer a Deus pela sua própria sabedoria, por isso, aprouve a Deus salvar os que creem por meio da loucura da pregação da cruz (1Coríntios 1.21). A teologia do Cristo crucificado – revelação, mistério e testemunho de Deus – é loucura para os que se perdem, mas para nós que cremos e somos salvos é o poder e a sabedoria de Deus.

A teologia originada da sabedoria humana dilui, distorce e rejeita a revelação de Deus em Cristo como mera religiosidade de certo povo – os judeus. Essa teologia consiste apenas em palavras persuasivas de sabedoria humana cujo apoio para a fé salvadora é fraco e autodestrutivo. No entanto, o fazer teologia baseado na revelação de Deus na “fraqueza e loucura da Cruz” e, claro, no poder do Pentecostes, é construir o edifício da fé no poder e sabedoria de Deus por meio da pregação em demonstração do Espírito e de poder (1Coríntios 2.4,5). Essa teologia baseada na revelação da Cruz e proclamada no poder do Pentecostes faz com que os que creem se gloriam única e exclusivamente no Senhor (1Coríntios 1.31). A teologia baseada nos sentimentos, nas pressuposições e na razão humana podem e se gloriam em seus esforços investigativos. Mas o teólogo cristão se gloria na revelação de Deus em Cristo comparando as coisas espirituais com as espirituais, visto que Deus no-las revelou pelo Seu Espírito; o Espírito que penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus (1Coríntios 2.10). Por isso, que sempre digo que estudar teologia é estudar a revelação do Espírito das profundezas de Deus! Não é um estudo raso!

O trabalho investigativo do teólogo cristão deve ser um engajamento feito na dependência e iluminação do Espírito – a Unção que nos ensina – para entender, compreender a revelação de Deus em Cristo resultando na comunhão Trinitária.

A revelação é um ato de Deus, um evento dinâmico que se impõe a nós no Sinai, no Calvário e no Pentecostes e em nossa realidade presente por meio do estudo das Escrituras e da iluminação do Espírito Santo. Qualquer outro tipo de reflexão teológica deságua na mente carnal, mundana e diabólica. A reflexão humana a parte da revelação na teologia significa um arrastar do conhecimento de Deus para os círculos da própria subjetividade do pensador humana.

Fazer teologia sob as bênçãos da revelação conduz o teólogo a adoração. Uno-me ao apóstolo:

Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!

Quem, pois, conheceu a Mente do Senhor? Ou quem foi o Seu conselheiro?

Ou quem primeiro deu a Ele para que lhe venha a ser restituído?

Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!

 

Romanos 11:33-36