“Você não precisa ACREDITAR em Deus; você deve SENTIR Deus!” – Dizem os gaiatos metidos a pregadores!
O Cristianismo é uma religião fundada na verdade revelacional (Deus falou!), consequentemente exibe proposições, teses e verdades objetivas, e também se fundamenta na verdade histórica (Deus fez!), portanto não é mera linguagem ou utopia, mas ações concretas na história da humanidade. A teologia não é o estudo de Deus em Si, mas de Deus na Sua revelação. Essa revelação não foi feita por meio de meros códigos que devam ser interpretados meramente como símbolos como faz a filosofia hegeliana (Georg W. F. Hegel 1770–1831) seguida pelos teólogos liberais e pelos pregadores desavisados e populares das redes sociais da atualidade. A perspectiva da filosofia idealista entende as doutrinas bíblicas como meros símbolos. Por exemplo, “termos como Filho de Deus não devem ser entendidos em um sentido literal, mas somente simbolicamente”[1]. Portanto, não se assustem quando certos pregadores atabalhoadamente surgir com interpretações simbólicas, mirabolantes, extravagantes e inovadoras dos textos bíblicos.
Por outro lado, temos gente (pregadores
e cia) tentando defender o Cristianismo na base do sentimento. Os pregoeiros
atuais seguem a “teologia do sentimento” do teólogo alemão Friedrich Schleiermacher (1973–1834). Esses dias vi um vídeo nas redes sociais onde
o cara afirma que não se deve acreditar em Deus, mas senti-lo, pois essa é a
verdadeira religião. Ele afirmou que não devemos acreditar em Deus, pois é
coisa da mente, da pura razão. O certo é manter um relacionamento com Deus por
meio dos sentimentos. Apenas pelo sentimento e não pela razão terei certeza de
ter intimidade com Deus. Isso nada mais é do que a religião encontrada no
sentimento para que a pessoa possa experimentar a Deus. Essa é a base do
liberalismo padrão de Schleiermacher.
Neste caminho as doutrinas tais como o nascimento virginal, a expiação
substitutiva e a deidade de Cristo que são compreendidas, cridas e acreditadas
pela razão e não meramente pelo sentimento ou pela religiosidade subjetiva são
descartadas. Para esses pregadores do sentimentismo pós-moderno a regeneração
não é crer ou acreditar na morte literal e ressurreição literal e corpórea de
Cristo na história, mas participar na vida experiencial e sentimental da
comunidade contemporânea num relacionamento e no sentir o Divino. O importante
é sentir, não acreditar em Deus!
O Senhor Jesus apontou que devemos amar
a Deus de todo o nosso entendimento sem negligenciar a alma, o coração e as
forças (Mateus 22.37). Negar a validade da mente, do entendimento ou da razão para
a compreensão da verdade de Deus, para ter um relacionamento com Ele e para
experimentar a grandiosa vontade é ser contra a exortação paulina em Romanos 12.2: “e não vos conformareis a
este mundo, mas transformai-vos por meio da renovação da vossa mente, e
discirnais qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”. Você não pode
discernir e experimentar algo que você não processa por meio da mente. O
cristão é chamado a transformação por meio da renovação da mente que se realiza
por meio do Espírito Santo quando apresenta a verdade de Deus em Cristo aos
homens. O Espírito convence (por meio de argumentos) sobre as verdades do
pecado, da justiça e do juízo relacionados à Jesus Cristo e a Sua obra
redentora (João 16.7-11). O Espírito Santo não faz as pessoas sentirem meramente
alguma coisa para se reconciliarem com Deus, Ele as convence de seus pecados e
da necessidade de arrependimento e fé no Salvador e Senhor Jesus Cristo. As
pessoas precisam sabem quem é Deus, o que Jesus fez e o que significa a Sua
morte e ressurreição para se reconciliarem com Deus.
O Cristianismo pneumático centra-se no
esclarecimento da verdade sobre Jesus Cristo para que as pessoas sejam salvas
após entender a obra redentora de Deus em Cristo. O Senhor Jesus disse que o
Espírito Santo é o Espírito da verdade que guiaria as pessoas “a toda verdade”
e “dará a conhecer os eventos futuros” (João 16.13). Jesus disse: “Ele me
glorificará, porque tomará do que é meu e o dará a conhecer a vós. Tudo quanto
o Pai tem é meu; por isso vos disse que tomará do que é meu, e o dará a
conhecer a vós” (vv.14,15). O Espírito Santo não faria com que as pessoas
“sintam” (Schleiermacher[2])
ou tenham meras “subjetividade” (Immanuel
Kant[3]),
ou mesmo deem um “salto de fé irracional” (Kierkegaard)
para conhecer a Deus e a Jesus Cristo. Ele, sendo o Espírito da verdade, daria
a conhecer a verdade para que fosse compreendida racionalmente. Ele guiará o
povo de Deus a toda a verdade. Ele testificará da verdade e ensinará a verdade
sobre Jesus Cristo (1Joao 2.20,27). Cremos para compreender, mas também
compreendemos para crer.
Infelizmente, as pessoas atabalhoadas
pelos pregadores atrapalhados e inovadores confundem (rejeitam ou mesmo negligenciam)
o ministério revelador, iluminador e pedagógico do Espírito Santo para elencar
os seus próprios sentimentos ou sensações subjetivas. O Espírito Santo é o guia
da verdade e não nossos sentimentos, as sensações ou impressões da realidade. O
relativismo ou a verdade relativizada é uma desgraça para a saúde da igreja e
da sociedade. O Cristianismo é produto da revelação objetiva, proposicional de
Deus em Cristo por meio do Espírito Santo. A religião cristã não é um amálgama
sentimental das inúmeras experiências dos diversos indivíduos na comunidade
formando um todo místico. O Cristianismo é a religião da revelação de Deus em
Cristo e que nos foi transmitida pela doutrina dos apóstolos. Sim, a fé que uma
vez por todas foi entregue aos santos e pela qual devemos batalhar de uma vez
por todas (Judas 3) é racional, pode ser apreendida e entendida pela razão –
por isso, o filósofo Kant estava errado quando postulou que não podemos
conhecer a Deus racionalmente. Claro, a galerianha do “não-me-toque” irá
discordar. Mas problema é deles!
[1] ENNS, Paul. Manual de Teologia Moody, p.666. São
Paulo, SP, Brasil: Editora Batista Regular do Brasil, 2010.
[2] Schleiermacher escreveu: “A
essência da religião é o sentimento de
dependência absoluta. Repudiei o pensamento racional em favor de uma
teologia do sentimento”. HICKS, Stephen R. C. Guerra Cultural: como o pós-modernismo criou uma narrativa de
desconstrução do Ocidente, p.51. São Paulo, SP, Brasil: Faro Editorial,
2021.
[3] Na história da filosofia,
Kant representa uma mudança fundamental – do padrão de objetividade para o
padrão da subjetividade. Apesar das conclusões negativas, os primeiros céticos
ainda associavam a verdade com a realidade. Kant deu um passo adiante e
redefiniu a verdade em bases subjetivas. A realidade externa é praticamente
descartada, e ficamos inescapavelmente presos na subjetividade. Sua filosofia,
portanto, é precursora das fortes posturas antirrealistas e antirrazão do
pós-modernismo. Cf. HICKS, p.40-42, 2021.
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