UMA QUESTÃO IMPORTANTE
O anacronismo
semântico do pastor Paulo Junior
Sua pregação sobre o
divórcio é mais uma SELEÇÃO do que uma EXPOSIÇÃO, por isso gera mais CONFUSÃO
do que COMPREENSÃO.
O divórcio tem
sido um dos assuntos polêmicos e difíceis. Lamentavelmente muitos pastores ou
ignoram o assunto ou exibem posições extremas e muitas das vezes não bíblicas.
Como todo assunto tocado pelas Escrituras o divórcio precisa ser entendido por
meio de um estudo detido e paciente das passagens.
Como pregadores
e ensinadores e pastores precisamos ter uma posição bíblica sobre o casamento,
o divórcio e o novo casamento. Precisamos nos enforçar para entender as
passagens que tratam sobre o assunto à luz dos contextos e da teologia bíblica.
Não devemos negligenciar um assunto tão importante para a prática pastoral.
Porém, lamento
que alguns pastores e pregadores tenham tomado posições absurdas, extremas e na
maioria das vezes ambíguas. Muitas pregações sobre o assunto tem trago mais
confusão do que compreensão ao povo de Deus. E como cristão e pregador e pastor
me preocupo com este assunto e preciso me debruçar nas Escrituras para
compreendê-lo.
Como exemplo de
pregações que tem trago mais confusão do que compreensão é a do pastor Paulo
Junior, muito conhecido e apreciado por muitos. O nobre pastor tem sido
instrumento divino para nossa época e tem trago edificação para o corpo de
Cristo aqui no Brasil. No entanto, no seu vídeo sobre o divorcio, o nobre
pastor faz uma pregação que mais traz confusão do que compreensão. Para muitos
que compreendem e tem estudado as posições relacionadas sobre o divórcio e o
novo casamento (que são quatro) podem captar a posição dele, mas muitos leigos
têm estado confusos pelas posições elencadas pelo nobre companheiro. Entendo
que o pastor Paulo Junior não fez uma exposição sobre o assunto, mas usando
pontas soltas advogou sua posição que mais trouxe confusão do que compreensão.
Sua afirmativa é que o casamento só pode ser desfeito pela morte de um dos
cônjuges, negligenciando assim textos que falam claramente que o divórcio é
possível e permitido (não exigido!) pela prostituição-adultério no caso de um
casal crente (Mt 19.9), e também pelo abandono no caso de um casal em que um
dos cônjuges é descrente e não quer permanecer com o irmão ou a irmã (1Co
7.12-16). Isso sem levar em conta que o “princípio do abandono” pode ser
aplicado ao casal crente em que um dos cônjuges cometa barbáries (espancamento
e etc – isso seria outro artigo).
A tônica da
posição do pastor Paulo Junior é que a palavra grega “porneia” (relações
sexuais ilícitas – ARA) usada em Mateus
19.9 não se aplica a pessoas casadas, mas a pessoas que são noivas
(referindo-se a primeira fase do casamento em Israel que só poderia ser
dissolvido pelo divórcio). Caso um dos nubentes cometa infidelidade pode-se
divorciar e casar novamente. Mas, para ele “porneia” não se aplica às pessoas
casadas, concluindo que não há base para o divórcio caso um dos cônjuges seja
infiel por meio de qualquer tipo de imoralidade sexual (significado abrangente
da palavra grega “porneia”). O lado não adúltero precisa manter-se casado
aconteça o que acontecer, visto que o novo casamento, na posição de Paulo
Junior, só é aceito após a morte de um dos cônjuges. Então, o irmão ou a irmão
ficam sujeitos à servidão (claro que aqui já estou colocando a situação em que
o cônjuge adúltero não se arrependa e continue na infidelidade – o pastor
precisa lutar perseverantemente pela restauração do casamento, porém entendemos
que o divórcio é possível e permitido (mas, não exigido ou incentivado) com
base na “imoralidade sexual” = adultério).
Porém, a
posição elencada pelo nobre pastor é baseada num falso entendimento da palavra
grega “porneia”. Paulo Junior cai num erro exegético que os teólogos chamam de
anacronismo semântico, que, em palavras simples, significa você transportar
para o texto bíblico ou para uma palavra usada no texto bíblico um significado
que não tinha na época – significado que não estava na mente do escritor
bíblico e nem na dos seus ouvintes/leitores. Isso aconteceu muito com a palavra
“poder” em Atos 1.8, que no grego é “dynamis”.
Muitos desavisadamente transportam para o texto bíblico o significado moderno
de “dinamite” afirmando que recebemos a dinamite do Espírito Santo para
explodir o inferno. Enquanto o texto está se referindo a capacitação do
Espírito Santo para sermos testemunhas de Jesus Cristo.
Vamos
esclarecer um pouco mais!
A CLÁUSULA DE EXCEÇÃO: “EXCETO POR PORNEIA”
De acordo com a
exceção, mencionada em Mateus 5.32 (παρεκτὸς λόγου πορνείας
= paraktos logou porneias) e Mateus 19.9
(μὴ ἐπὶ
πορνείᾳ = mê epi porneia), o divórcio é ilegítimo, exceto no caso de
“infidelidade” (NVI); “exceto por imoralidade sexual” (ARA); “exceto em caso de
relações sexuais ilícitas” (ARC). Em outras palavras, a Bíblia reconhece a
legitimidade do divórcio por causa da infidelidade conjugal.
Entendamos uma
coisa antes de prosseguir. A reação dos discípulos em Mateus 19.10 prova que o Senhor Jesus defendia uma postura do ideal
divino para o casamento: “o divórcio é proibido uma vez que o casamento foi
consumado”, AINDA QUE abrisse exceção para o divórcio no caso de imoralidade
sexual-adultério. Ademais, embora o judaísmo contemporâneo EXIGISSE o divórcio
no caso de imoralidade sexual (cf. m. Sotá
5:1), o Senhor Jesus apenas o PERMITIU (e, portanto, deixou implícita a
NECESSIDADE DE PERDÃO)[1].
A postura
evangélica mais ampla é que o divórcio e o novo casamento são PERMITIDOS (não
EXIGIDOS - sempre buscamos, como pastores, o perdão, a reconciliação e a
restauração) no caso de imoralidade sexual. Ou seja, não é permitido se
divorciar por qualquer motivo, mas, é PERMITIDO, e não EXIGIDO, divorciar
APENAS, no contexto de Mateus, por causa da imoralidade sexual. Isso não foi
levado em conta na pregação de Paulo Junior que apenas afirmou que isso se
referia ao noivado. Todavia, tal afirmação é baseada numa má compreensão da
palavra “porneia” como nós veremos a seguir.
Porneia se refere à dissolução do
compromisso do noivado?
Alguns advogam
(Paulo Junior) que a palavra “porneia” se refere à dissolução do compromisso de
noivado, não, porém do casamento. Pontuando, que não é permitido se divorciar
mesmo que um dos cônjuges cometa adultério.
Aqui é
necessário compreender o sentido dos termos “porneia” e “moichao” (adultério).
Usando a
tradução “fornicação” para “porneia” alguns advogam que Jesus se referia ao
rompimento do compromisso de noivado, não ao casamento em si. Tal compreensão é
baseada no significado dado a palavra fornicação: “pecado sexual por pessoas
não casadas”. Já adultério significa “pecado sexual que envolve pessoa casada”.
Então, baseado neste significado “moderno” muitos chegam à conclusão (aqui está
o anacronismo semântico) que o divórcio foi permitido por Jesus somente no caso
de fornicação (durante o compromisso de noivado) e NUNCA no caso de adultério.
Esse é o ponto advogado por Paulo Junior e alguns.
Contudo, ESSA
DISTINÇÃO NÃO DEVE SER INSERIDA NA BÍBLIA (isso é o erro exegético chamado
anacronismo semântico). Fazer isso, como Paulo Junior o fez, é ser descuidado
na exegese. É negligenciar porções das Escrituras. Os reformadores já diziam
que é a Bíblia que interpreta a Bíblia. Mas, Paulo Junior, aqui, não seguiu o
conselho dos reformadores, mas seguiu os dicionários modernos. Então, em vez de
interpretar a Bíblia pela Bíblia, ele, e alguns, interpretaram a Bíblia pelo
dicionário!
Os escritores
da Bíblia empregaram a palavra “porneia” (fornicação) para descrever o pecado
SEXUAL EM GERAL (não apenas entre pessoas solteiras – como afirmado por Paulo
Junior), e, na Bíblia, refere-se a casos de incesto (1Co 5.1), homossexualismo
(Jd 7) e até adultério (Jr 3.1,2,6,8 – aqui uma adúltera sofre o divórcio por
causa da sua fornicação (porneia; cf. os versículos 2 e 6 na LXX; Cf. Os 2.2-5)[2].
“Porneia” era de fato uma palavra genérica aplicada a infidelidade sexual ou
“infidelidade conjugal” (Arndt-Gingrich)[3].
Nas duas
passagens (Jr 3 e Os 2), “porneia” e o verbo relacionado “poerneuõ” se referem
ao rompimento da aliança de casamento de Israel com Yahweh por causa da
“imoralidade” espiritual, à qual os termos justapostos “porneia” e “moicheia”
(ou verbos correspondentes) se referem reciprocamente. Além de não haver
NENHUMA DISTIÇÃO NÍTIDA entre as duas expressões, há, de fato, continuidade. Em
nenhum desses contextos o escopo de referência de “porneia” é limitado apenas
ao rompimento de um noivado conforme ensinado pelo pastor Paulo Junior. Fica
evidente nos textos acima que se refere a UMA ALIANÇA DE CASAMENTO EXCLUSIVA E
VITALÍCIA. Ademais, em Mateus 19.9, além de “porneia” e “moicheuõ”, também é
usado o termo “gameõ” (que significa “casar-se”, ou, no presente contexto,
“casar-se novamente”). Por esses motivos, parece difícil NEGAR que o tema em
discussão nessas passagens seja CASAMENTO E VIOLAÇÃO DA ALIANÇA DE CASAMENTO, e
não apenas rompimento de um NOIVADO[4].
Por isso, posso
afirmar com todo respeito que o nobre pastor Paulo Junior não fez uma EXPOSIÇÃO,
mas uma SELEÇÃO dos textos para apoiar sua proposição principal – novo
casamento só com a morte do cônjuge. Diferente dos vídeos dos pastores Augustus
Nicodemus, Hernandes Dias e John MacArthur sobre o assunto, Paulo Junior
escorrega grosseiramente em sua exegese. Trazendo mais confusão (como aconteceu
aqui em Campina Grande-PB num aconselhamento que fiz com dois casais após
ouvirem sua pregação) do que esclarecimento. Aconselho que os leitores escutem
as palestras dos pastores citados. Suas exposições trazem esclarecimento e não
confusão. A exposição bíblica deve trazer ESCLARECIMENTO e não AMBIGUIDADES e
CONFUSÕES. Aconselharia Paulo Junior excluir o vídeo da pregação feita por ele
e estudar mais o assunto e expor seu argumento revelando outros pontos aceitos
pela maioria dos evangélicos do mundo (pra citar alguns: Jay Adams, John
MacArthur, R. C. Sproul, John Stott, Andreas Kostenberger, David Jones, Craig
Blomberg, D. A. Carson, John Murray, Robert Stein, William Heth; também se
encontra expressão na Confissão de Fé de Westminster). Agora, entendam, neste
ponto, sobre divórcio e novo casamento, o nobre pastor Paulo Junior foi infeliz
em suas colocações negligenciando assim uma boa e apurada exegese. Sua
pregação, sobre este assunto, por si só se destrói. Pastoralmente falando não é
válida, pois negligenciou muitos pontos importantes das Escrituras. Todavia,
não invalida o que ele tem feito em outras exposições. Por favor, sejamos
maduros e compreensíveis aqui, pois, lamentavelmente, tem gente que defende
pessoas com suas asneiras sem conhecimento de nada.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS!
1. É correto dizer que, nas Escrituras,
Deus reconhece a existência do divórcio e o regulamenta cuidadosamente. Então,
o que nos cabe fazer como líderes e oficiais da igreja de Cristo é procurar
regulamentá-lo para o povo de Deus, de acordo com os princípios expostos da
Bíblia.
2. O Senhor Jesus reconheceu e declarou
especificamente que o divórcio é algo que constituiu uma mudança do ideal
divino: “desde o princípio não foi assim” (Mt 19.9). No mesmo versículo Ele
declarou que foi por causa da dureza de coração dos judeus que Moisés
“permitiu” (“epitrepo”) o divórcio. Então, conceder ou permitir uma prática não
é o mesmo que originá-la, estabelecê-la ou instituí-la.
3. Diversamente do casamento, o
divórcio é uma instituição humana. As evidências disponíveis, (bíblicas)
mostram que, embora o divórcio seja reconhecido, permitido e regulamentado na
Bíblia, diferentemente do casamento não foi instituído por Deus. Faz parte da
Queda, por isso Deus o regulamentou (Dt 24) e o Senhor Jesus e Paulo pontou
detalhes instrutivos.
4. Contrariamente a algumas opiniões, o
conceito de divórcio é bíblico. A Bíblia reconhece e regulamenta o divórcio.
Foram feitas certas provisões para essa prática. Essa verdade deve ser afirmada
claramente e sem hesitação. Visto que o divórcio é um conceito bíblico, ao qual
se faz frequente referência nas páginas da Bíblia, os cristãos deverão fazer
tudo o que puderem para entender e ensinar o que Deus, em Sua Palavra, diz a
respeito do assunto. Além disso, requer-se que a igreja aplique a casos
individuais os princípios escriturístico relacionados com o divórcio.
5. A igreja precisa ser uma comunidade
terapêutica trazendo às pessoas para o bálsamo das Escrituras, sejam elas
casadas, solteiras, celibatas, viúvas ou divorciadas. É duro constatar a
inabilidade bíblica e pastoral de muitos líderes com relação às pessoas
divorciadas como se tivessem cometido um pecado imperdoável. Lembre-se que o
ÚNICO PECADO IMPERDOÁVEL É A BLASFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO!
6. O pecado de divorciar-se do seu cônjuge
sobre bases NÃO BÍBLICAS é ruim, não somente devido à miséria que ocasiona, mas
por que é uma ofensa contra um santo Deus. Contudo, não é tão indelevelmente
impresso na vida do pecador que não possa ser expiado pelo sangue de Cristo.
Aqui, tenho que afirmar que Paulo Junior que anuncia tanto o evangelho
esquece-se de anunciá-lo aos divorciados! Todas as vezes que o Senhor Jesus e
Paulo falam sobre o divórcio eles anunciam o evangelho ao falar de perdão,
reconciliação e restauração! Paulo Junior anuncia a lei, mostrando o santo
padrão de Deus, mas esquece-se, depois que o pecador se desespera diante da
santidade de nosso Deus, de anunciar o perdão e a reconciliação pelos méritos
sacrossantos de Jesus Cristo! A igreja não deve perder isso de vista, senão o
legalismo toma de conta!
7. Uma vez que o pecado do divórcio não
é um pecado imperdoável, claro está que pode ser perdoado. O divórcio, mesmo
quando próprio, sempre é ocasionado pelo pecado de alguém. Ou seja, todo
divórcio é ocasionado pelo pecado, mas nem todo divórcio é pecaminoso. Todavia,
mesmo no melhor dos casos, o divórcio sempre trás infelicidade e dor. Por isso
Deus o odeia. Mas, mesmo aquele que obteve o divórcio por meios pecaminosos
pode ser perdoado, purificado e restaurado à comunhão da igreja de Cristo,
precisamente como os beberrões e os homossexuais mencionados em 1Coríntios
6.9-11, desde que ARREPENDIDOS.
8. É importante desenvolver uma atitude
bíblica, equilibrada (e não confusa, no caso de Paulo Junior e outros), para
com o divórcio – por um lado, odiando todas as coisas que Deus odeia quanto ao
divórcio, embora reconhecendo, por outro lado, que neste mundo pecaminoso há
situações nas quais (como o próprio Deus demonstrou, pode ser necessário obter
o divórcio).
O texto já
ficou longo demais para a maioria, mas para mim e outros que gostam de se
aprofundar está curto demais! Porém, acredito que alcancei o pretendido.
Alertando aos leitores que poderia ampliar o assunto. Ainda, esclareço que não
fiz um artigo sobre casamento e novo casamento, mas especificamente sobre um
ponto relacionado ao divórcio citado pelo nobre pastor Paulo Junior.
IVAN TEIXEIRA
Minister Verbi Divini
Soli Deo Gloria!
[1]
KÖSTENBERGE, Andreas J. Deus, Casamento
e Família: Reconstruindo o Fundamento Bíblico, p.236. São Paulo, SP,
Brasil: Vida Nova, 2011.
[2]
ADAMS, Jay E. Casamento, Divórcio e Novo
Casamento na Bíblia, p.99. São Paulo, SP, Brasil: PES, 2012.
[3]
STOTT, John. Grandes Questões Sobre o
Sexo, p.83. Niterói, RJ, Brasil: VINDE, 1993.
[4]
KÖSTENBERGE, 2011, p. 238.
O casamento aos olhos de Deus é tão valorizado que Deus faz paralelos à Cristo e a Igreja!
ResponderExcluirDepois Deus odeia o divórcio;
Depois Deus dos 2 faz um;
Depois Deus até que a morte os Separe;
Depois Deus um só estará livre com a morte do ortro;
Depois Jesus No princípio não foi assim;
Depois os discípulos também entenderam que sendo assim o melhor é não casar;
Depois Jesus nem todos são aptos para tal;
Depois Paulo em 1 Coríntios 7:1...reforça esse ponto;
Depois 1 Coríntios 7:10...claro como a Luz que Brilha, reprova separação e nova União;
Aí nós por causa de Mt 19:9, vemos a brexa que os Fariseus tanto se agradam a ponto de o experimentar Jesus;
Erramos por não conhecer as escrituras e a vontade de Deus e ou perverter o evangelho!
Mt 24 Jesus deixa Claro que tudo isso aconteceria!
Suas Profecias tem se cumprido dia após dia!
Que o Santo Espirito de Deus possa nós lembrar dos ensinamentos do Pai e do Filho!
Aleluia!
Paz do Senhor! Grato pelo esclarecimento, divorciado por infidelidade, posso casar de novo, graças a Deus.
ResponderExcluirPb Rodrigo de Caxias do Sul RS