quinta-feira, 22 de junho de 2017

TENTABILIDADE E IMPECABILIDADE DO REDENTOR

A Tentabilidade e a Impecabilidade de Jesus Cristo

Duas grandes verdades sobre o Redentor, Jesus Cristo, que todo cristão deveria entender para sua edificação para a glória de Deus!

Sua Tentabilidade
É importante destacar esta doutrina cristológica. Sabemos pelas Escrituras que Jesus é Deus e que Deus não pode ser tentado (cf.. Jo 20.28,31; Tg 1.13). Então como podemos afirmar que Jesus, sendo Deus, foi tentado? Isso é invenção dos teólogos ou um ensino doutrinário das Escrituras Sagradas?
Devemos afirmar com as Escrituras que Jesus é Deus-Homem, o Verbo que se fez Homem (carne). Ele é verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem. Há uma única personalidade no Redentor, mas duas naturezas. Então, podemos afirmar que a tentação do Senhor Jesus foi possível dada à Sua natureza humana, como também afirmamos a verdade consequente: Ele não poderia pecar por Ser Deus! Sua impecabilidade, como Deus-Homem, é um dos efeitos da unio personalis na Pessoa do Redentor.
A Tentabilidade do Salvador é escriturística: Mateus 4.1: “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo” (grifo nosso); Lucas 4.1: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome” (grifo nosso).
A intenção de Satanás na tentação era levar Cristo a pecar, frustrando assim o plano de Deus para a redenção do homem, desqualificando o Salvador.
O propósito Divino (observe que foi o Espírito Santo quem conduziu Jesus ao deserto para a tentação) era provar que Seu Filho era sem pecado e, assim, um Salvador digno.

Hebreus 4.15: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi Ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (grifo nosso).
Esta frase não significa que Cristo tenha experimentado todas as tentações pelas quais os homens passam, mas que Ele foi tentado em todas as áreas em que os homens são tentados (a concupiscência da carne, dos olhos e a soberba da vida, 1Jo 2.16), e com tentações especialmente preparadas para Ele. Tal provação só foi possível por ter Ele assumido a semelhança de carne pecaminosa (Rm 8.3), pois se não tivesse havido encarnação, Jesus não poderia ter sido tentado (cf. Tg 1.13)[1].
Fica claro que Jesus foi realmente tentado; é igualmente claro que ele era (e permaneceu) sem pecado. O texto de Segunda Coríntios 5.21, não diz que Jesus se tornou um pecador, mas que Deus o fez pecado por nós. Ele não cometeu pecado algum, mas levou, como Cordeiro Imaculado, os pecados de Seu povo que Ele quis redimir.
Mas já que o Senhor Jesus Cristo era Deus, as tentações foram reais? Sim, porque o propósito delas era mostrar a pureza de Cristo (a não existência de pecado n’Ele) e mostrar que Ele está qualificado como Salvador. E, como Homem, o Senhor Jesus foi capaz de resistir à tentação ao depender (a) do poder do Espírito Santo e (b) da verdade da Palavra de Deus.

Sua Impecabilidade
Que Cristo não pecou é plenamente compatível com o ensinamento das Escrituras Sagradas. Assim sendo, Ele pôde oferecer-Se como sacrifício perfeito pelos pecados dos outros porque Ele não precisava fazer sacrifício por Si mesmo (cf. Jo 1.29; 1Pe 1.18-20; 1Pe 2.21,22; Hb 4.15; 7.26,27; Jo 18.38).
Será que Cristo, por ser humano, tinha a capacidade de pecar? Era Ele pecável ou impecável?
A chave para a solução do problema é o fato de Cristo ser Uma Pessoa e não duas pessoas. A união das duas naturezas – divina e humana –, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação concorreu em uma única Pessoa (prosõpon) e uma subsistência (hypostasis).
Há uma falácia no raciocínio que diz: ‘Assim como o primeiro Adão, um ser humano não caído, pôde pecar; de alguma forma a humanidade não caída de Cristo poderia ter pecado’. Como diz Lewis S. Chafer: “É nessa altura que o erro entra”[2].
É inadmissível afirmar que Cristo poderia pecar! Ou, mesmo afirmar que a humanidade de Cristo poderia pecar. A grande causa de muita confusão geral em nossas mentes é o fato de nos esquecemos de que Ele é uma só Pessoa, e quando Ele age é uma Pessoa agindo, não uma de Suas naturezas agindo independentemente de Sua Pessoa. É uma Pessoa que diz: ‘Tenho sede’ (Jo 19.28), mesmo que seja uma propriedade de Sua natureza humana o ter sede. Também, é uma e a mesma Pessoa que diz: ‘Se alguém tem sede, venha a Mim, e beba’ (Jo 7.37; cf. Jo 4.10,14), mesmo que seja uma propriedade de Sua natureza divina ser o que dessedenta a sede de todos os que creem. Então, “por causa da unidade de Sua Pessoa, Sua humanidade não poderia pecar sem que necessariamente Deus pecasse”[3].
Perguntam-se: ‘Cristo poderia pecar’? Assim formulada essa questão seria reduzida à pergunta tola que diz: “Deus poderia pecar?”. Se é admitido que Deus não pode pecar (1Jo 1.5; Tg 1.17) – não meramente não pecaria, deveria ser admitido que Cristo não poderia pecar – não meramente não pecaria. Pois Cristo é Deus! Falta somente observar que, visto que Ele é “o mesmo ontem, hoje, e eternamente” (Hb 13.8), tivesse sido capaz de pecar na terra, ainda é capaz de pecar agora. Em tal situação, a posição do crente que permanece em Cristo deve também estar numa situação de profundo dano. É uma questão de Uma Pessoa Teantrópica poder pecar[4].
A Pessoa impecável do Cristo é bem demonstrada pelo Dr. Charles Lee Feinberg:

Primeiramente, a união hypostática deu ao mundo uma Pessoa impecável [...]. Não é suficiente dizer que Cristo não pecou; deve ser declarado inequivocamente que Ele não poderia pecar. Acalentar por um momento o pensamento de que Cristo poderia pecar, envolveria questões que justificam uma revolução radical em nossa concepção da divindade. Dizer que Cristo não poderia pecar não é equivalente a manter que Ele não poderia ser tentado. Porque era homem, poderia ser tentado; mas porque era Deus, não poderia pecar, porque não havia princípio em Cristo que poderia ou que responderia à solicitação do pecado. Quando Satanás tentou o Último Adão no deserto, Ele foi tentado e testado em todos os pontos (1Jo 2.16) como aconteceu com o primeiro Adão, e com a raça humana desde então; todavia, no caso de Cristo, sem pecado. O pecado como natureza inerente ou como um ato exterior foi estranho a Cristo. Lucas registra que o anjo revelou a Maria que dela seria nascido um ‘ente Santo’ que seria chamado ‘Filho de Deus’ (Lc 1.35). A natureza hereditária do pecado que Maria havia recebido mediatamente de Adão através de seus progenitores não foi transmitida a Cristo por causa da Sua concepção miraculosa através da operação do Espírito Santo. Cristo pôde desafiar posteriormente, não a Seus amigos, mas a Seus inimigos, que queriam convencê-Lo de pecado (Jo 8.46). Ele sabia que quando o príncipe deste mundo viesse, este nada teria com Cristo (Jo 14.30). Paulo diz d’Ele que Deus fez pecado por nós, aquEle que nenhum pecado cometeu (2Co 5.21). Embora tentado em todas as coisas como nós, Ele, não obstante, era sem pecado (Hb 4.15); na verdade, é-nos dito que Ele era santo, sem mancha, sem defeito e separado dos pecadores (Hb 7.26). Em resumo, o testemunho combinado da Escritura revela que n’Ele não há pecado (1Jo 3.5)[5].

Pecabilidade do Redentor?
Há certas pessoas nos círculos evangélicos que defendem a pecabilidade do Redentor. Você notou que neste livro defendo a impecabilidade de nosso Salvador e Redentor, Jesus Cristo, e, por conseguinte rejeito a pecabilidade do Redentor. Entendemos, pelas Escrituras, que nosso Redentor não era pecável, mas tentável. Ele poderia ser tentando, por ter assumido a natureza humana, mas não poderia ser pecável por Ser Deus. A diferença está entre a heresia e a verdade.
Muitos argumentam contra a impecabilidade perguntando: se Ele não poderia pecar, como avaliaremos a sua real humanidade? Essa questão pode levar à conclusão errônea de que a pecabilidade tem necessariamente algo a ver com a humidade, o que não é verdade. Na verdade, o fato do Senhor Jesus ter impecabilidade não afeta em nada a Sua verdadeira humanidade, antes a evidencia. A humanidade de uma pessoa não está vinculada à sua capacidade ou possibilidade de pecar. Chegará o dia em que nunca mais haveremos de pecar, e, todavia, continuaremos a ser perfeitamente seres humanos[6].
O que fica bem claro é que Cristo não pecou e não poderia ter pecado e, assim sendo, preencheu os requisitos de Deus para Se tornar o Redentor e Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2.5).
Cristo é o “...Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29. E, se Cristo Jesus não tivesse sido o ‘Cordeiro sem mácula’, em cuja a boca não se achou engano (2Pe 2.22), Ele não só não teria garantido a salvação de ninguém, mas Ele próprio teria necessidade de um Salvador. A multidão de pecados que Cristo carregou sobre Si na cruz requeria um sacrifício perfeito. Tal sacrifício tinha de ser feito por alguém que fosse isento de pecados[7]. Ele o foi!

Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini



[1] RYRIE, Charles C. A Bíblia Anotada, p.1540 (Hb 4.14). São Paulo, SP, Brasil: Mundo Cristão, 1994.
[2] Em Teologia Sistemática – Vols. Um e Dois – Editora Hagnos.
[3] SHEDD, W. G. T., apud CHAFER, Lewis S., ibid.
[4] CHAFER, Lewis S., ibid.
[5] Apud CHAFER, Lewis S.  ibid.
[6] CAMPOS, 2004, p.359.
[7] SPROUL, R. C., ibid.

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