segunda-feira, 5 de junho de 2017

ACEITOS POR DEUS!

Como Deus Nos Aceita?

Creio que essa é uma pergunta de suma importância para cada pessoa neste mundo. Como um Deus santo, justo, perfeito, bom, Todo-Poderoso e que abomina o pecado, aceita pessoas pecadoras, imperfeitas, transgressoras, ímpias e inimigas de Sua vontade e as adotas como filhos e filhas?
É uma pergunta que devemos fazer e procurar a resposta não nas filosofias ou ideias humanas, mas na sempre graciosa e aurifulgente Palavra de Deus. Proponho procurar entender o que as Escrituras dizem sobre Deus e sobre as pessoas que Ele salva, justifica e toma para Si. Depois irei discorrer sobre como um Deus santo, justo, perfeito e amoroso ama e aceita pecadores e ímpios como nós e nos torna Seus filhos e filhas para Sua glória e louvor de Sua graça.

Quem é Deus?
Sabemos pelas Escrituras que Deus é tão santo que não pode ver o mal sem puni-lo (Hc 1.13). Ele não tolera pecados. O Santo de Israel não pode lançar nossos pecados para debaixo do tapete do universo como se nada tivesse acontecido, como se nunca tivéssemos desonrado Sua santidade. Ele não pode ignorar pecadores e não puni-los. Deus é íntegro, justo, perfeito e amoroso. Seu amor é santo, sua vontade é santa, todo o Seu Ser é santo. Ele não pode amar o pecado, ele o aborrece na totalidade do Seu Ser. O Deus das Escrituras não apenas aborrece o pecado, mas também Sua justa ira está voltada contra o pecador. Há pecados porque há pecadores! Ele não pode punir pecados sem punir pecadores.

Quem nós somos?
As Escrituras dizem que fomos criados perfeitos, segundo a imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). Fomos criados para a glória de Deus (Is 43.7). Porém, a triste continuidade da História da Criação está marcada com a Queda da humanidade em pecado revoltante contra seu Bendito e Santo Criador e Provedor (Gn 3).
O retrato que as Escrituras pontuam sobre quem somos é claro e fiel. Por elas sabemos que somos pecadores incapazes de agradar a Deus (Rm 3.9-18), fracos, iníquos, ímpios, inimigos de Deus e mortos em nossos delitos e pecados (cf. Rm 5; Ef 2). Nossas melhores obras são como um “trapo de imundícia” diante de Deus (Is 64.6), ou seja, o que há de melhor em nós não agrada a Deus, pois está manchado pelo nosso orgulho e injustiça. Deus que é perfeito e santo não pode aceitar nada menos do que a perfeição. Então, como nós que somos pecadores, incapazes, fracos podemos ser aceitos por um Deus tão santo e sermos salvos?

Como podemos ser aceitos?
Há apenas duas formas de sermos aceitos por Deus. Uma é pelos nossos próprios méritos e justiça própria. Se conseguirmos obedecer perfeitamente os mandamentos de Deus e cumprir a lei, Ele deve nos recompensar aceitando-nos e nos abençoando, pois trabalhamos e alcançamos total obediência. Sendo assim, recebemos nossa recompensa, a salvação. As Escrituras chamam isso de salvação pelas obras, pelo trabalho e por uma obediência perfeita. No entanto, o testemunho uníssono das Escrituras é que a salvação não é uma recompensa, mas uma dádiva. A salvação não é uma conquista meritória, mas um presente de Deus. A salvação não é por obras humanas, mas pela obra de Deus. Não é por mérito, é por pura graça. Isso não vem de nós, é um dom de Deus (Ef 2.8).
Outra forma de sermos aceitos por Deus é pela justiça e méritos de outro que nos represente perfeita e justamente. Assim, como todos nós somos pecadores por causa da desobediência de Adão, nosso representante, assim, diz a Escritura (cf. Rm 5.12-21), podemos ser salvos, aceitos e reconciliados com Deus, somente pela obediência perfeita de Cristo Jesus quando cremos n’Ele como Senhor e Salvador de nossas vidas. Isso é salvação pela graça de Deus, para que ninguém se glorie.
Paulo salienta estas duas formas de possível salvação no texto de Romanos 4.1-5:
Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e, sim, como dívida. Mas ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica ao ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça (grifos nosso).

Nossa salvação ou é um favor de Deus para nós (Sua graça) ou uma dívida de Deus para conosco (nosso trabalho). Não podem ser as duas coisas, pois uma necessariamente exclui a outra (a recompensa exclui a dádiva; a dádiva exclui a recompensa, mas nos chama para desenvolver a salvação e receber a recompensa). O que Paulo argumenta é: ou somos salvos pela graça (o trabalho de Deus por, em e para nós por meio de Cristo somente) ou pelas nossas obras (nosso trabalho em alcançar e obedecer perfeitamente toda a lei de Deus).
Paulo fala daqueles que “trabalha” cujo “salário não é considerado como favor, e, sim, como dívida” (v.4). E fala também daqueles “que não trabalha”, mas crê em Deus para salvá-los, a fé deles lhe é atribuída como justiça (v.5). Confiamos no trabalho de Deus (isso é o evangelho) ou confiamos no nosso trabalho (outro evangelho).
Salvação pelas nossas obras nos proporciona uma glória, mas não diante de Deus. Mas salvação pela graça proporciona nos gloriarmos em Deus!

As duas lógicas
Podemos analisar duas correntes lógicas no texto elencado acima.
Primeiro, temos a lógica do trabalhador: Isso fala daqueles que tem obras, do obreiro (trabalhador) que se esmera para ganhar seu salário. As obras indicam que há uma dívida. Quando uma pessoa trabalha, alguém lhe deve. Se a pessoa pudesse trabalhar para ganhar sua justiça, então Deus estaria em dívida com ela. Mas, Deus, sendo Deus, é completamente autossuficiente; portanto, não pode ser devedor de ninguém. Ele não pode ser obrigado a fazer algo. Ele não pode ser obrigado a nos salvar, a recompensar salvadoramente nossas ações. A salvação não é uma dívida que Deus tenha para com o pecador. A única dívida, por assim dizer, que Deus tem com os pecadores é pagar-lhes com condenação eterna por causa de seus pecadores, pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Sendo, assim, alvos de Sua eterna Ira.
Estudiosos judeus acreditavam que Abraão havia obedecido a lei de forma perfeita, inclusive antes de ela ser entregue. A interpretação judia de Abraão enfatizava suas obras como essência de piedade e a base de sua extraordinária e exemplar relação com Deus. No entanto, Paulo demonstra que essa interpretação não está de acordo com o Antigo Testamento. A interpretação paulina de Gênesis 15.6, despoja Abraão da condição que tinha para os judeus de modelo de obediência da Torah, transformando-o em um modelo de fé[1]. Abraão não foi justificado pelas obras, mas pela fé somente.

Segundo, temos a lógica da fé: Aqui temos a lógica da justificação de Abraão e também da nossa. Observamos a vida de Abraão e vemos logicamente que uma pessoa é justificada não pelas obras, mas sim pela fé somente.
Abraão não foi justificado pelas obras, porque as obras não podem dar direito a uma pessoa para gloriar-se diante de Deus. Note o seguinte: Se Abraão houvesse sido justificado pelas obras:
1. Teria direito de gloriar-se diante dos homens.
2. Mas não teria direito de gloriar-se diante de Deus.
Pense nisso: a lógica, a claridade do assunto. Não há nenhuma pessoa que tenha o direito de gloriar-se diante de Deus. Nenhum ato, obra ou combinação de ações e obras poderia elevar uma pessoa a uma altura tal que possa gloriar-se ou chegar a ter o direito de gloriar-se diante de Deus[2].
Devemos entender que nem nossa obediência externa, nem nossa santidade interna constituem uma porção de justiça pela qual possamos ser justificados (declarados justos diante de Deus) ou aceitos por Deus.
A justiça pela qual somos aceitos ou justificados por um Deus santo deve ser absolutamente perfeita. Pois a justiça da santidade Divina precisa ser vindicada e satisfeita.
Já que não somos salvos pela nossa própria justiça, obediência, santidade e pelas obras da lei, então por qual justiça somos salvos, justificados e aceitos por Deus para desfrutar de Sua bendita comunhão? Unicamente a justiça que vem pela fé, a justiça de Deus em Cristo (Rm 1.17; 3.21-31; 5.1).
Vale pontuar aqui que não trabalhamos para sermos salvos, mas trabalhamos para desenvolver a nossa salvação. Isso é ensinado por Paulo em Filipenses 2.12: “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (grifo nosso).
A salvação biblicamente falando é tanto um estado (sou salvo), um processo (estou sendo salvo), como também um objetivo Divino (serei salvo). O meio e o fim são tão certos como o início, conforme Romanos 8.30: predestinou, chamou, justificou e glorificou. Os tempos destes verbos demonstram que nossa salvação é tão certa que pode ser considerada como algo já realizada/consumada.

IVAN TEIXEIRA
Minister Verbi Divini



[1] MOO, Douglas J. Comentario a La Epístola de Romanos, p.297-301. Viladecavalls, Barcelona, España: Editorial CLIE, 2014.
[2] Biblia de Bosquejos y Sermones, Tomo 7, Romanos, p.67. Grand Rapids, Michigan 49501, USA: Editorial Portavoz, 1998.

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