quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O SUMIÇO DA TRINDADE



A doutrina teológica da triunidade de Deus é um ensino bíblico fundamental para a fé dos salvos; crê ou desacreditar na Triunidade distingue a Ortodoxia da Heresia.

Cremos que qualquer pessoa que nega a doutrina da triunidade de Deus nega o evangelho, pois as boas novas da salvação foram obras das Três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Pregar doutrina diferente é chamar a maldição divina para si. A anatematização não recai apenas aos que pregam um evangelho diferente do da graça, uma salvação por meio das próprias obras, mas também sobre os que negam as pessoas graciosas da santíssima triunidade.

Posto isso, uno-me com os primeiros pentecostais assembleianos quando condenaram o pentecostalismo unicista como heresia. No entanto, hoje em nome da academia há um diálogo entre os pentecostais trinitários e os pentecostais unitários. Paulo exortou a evitar os contenciosos doutrinários (Tito 3.10,11), mas os pentecostais mordenistas e progressitas sentam-se à mesa para tentar conciliar o inconciliável.

Mas o meu ponto é outro, vamos lá!

 

O QUE SE DIZ POR AÍ!

É meus irmãos, a coisa não está fácil. Existe um ensino sorrateiro seja bem ou mal articulado que prevê o término da Trindade baseado EISEgeticamente no texto de 1Coríntios 15.28: “E, quando todas as coisas lhe [Cristo] estiverem sujeitas, então também o mesmo Filho se sujeitará Àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos” (ACF[1]); “Quando tudo lhe for submetido, também o Filho se submeterá Àquele que lhe submeteu tudo, e assim Deus será tudo em todos” (BP[2]).

A ideia básica é a seguinte: no final de tudo, na eternidade futura, a trindade findará para que Deus seja tudo em todos, implicando na absorção das Pessoas da Trindade numa ÚNICA pessoa da Divindade. Alguns tentam explicar que a Trindade, Três Pessoas na unidade da Divindade, foi (e é) um modo da revelação de Deus na economia da salvação. Então, quando todas as coisas estiverem concluídas, não será mais necessário a Trindade. Que ledo engano! Aliás, que heresia!

Sempre digo: Uma pequena erosão na doutrina hoje, amanhã se torna uma grande cratera (Grand Canyon); um pequeno desvio da moral hoje, amanhã se torna uma grande imoralidade.

 

Agora tenta explicar que esse tal ensino é uma heresia! A pessoa logo te atacará dizendo que você é o único ortodoxo da galáxia. Isso sem falar que você terá que explicar a explicação que você deu comprovando a heresia.

Claro que sempre ouvi tais ensinos, hoje, no entanto, se torna mais veloz e muito mais nocivo por causa das redes sociais. Tais ideias e ensinamentos percorrem as redes velozmente danificando o pensamento cristão e a saúde doutrinária das igrejas locais.

O cara ler um livro (quando ler) sobre um assunto ou viu um youtuber desigrejado falando certas coisas, e toma aquilo como certo e começa a ensinar. Agora, tente confrontar o pensamento dele à luz da Bíblia e da História teológica, ele logo irá vociferar contra você. A maioria desce do campo das ideias, e vomita impropérios contra sua pessoa.

Apesar disso devemos peremptoriamente combater esse tipo distorcido de ensinamento para resguardar nossos irmãos na congregação local.

Cuidado com quem você leva para sua igreja!

 

O QUE O TEXTO NÃO QUER DIZER

Primeiramente, o texto nada diz sobre o fim da trindade ou a absorção das pessoas numa única pessoa divina. Certo cidadão escreveu num comentário no Facebook: “O Pai, o Filho e o Espírito, será um só, um mesmo corpo, quando o Filho entregar o reino ao Pai” (pasmem, teve até um coraçãozinho de um teólogo!).

O texto bíblico nada diz que quando o Filho entregar o reino ao Pai as pessoas da Trindade serão um só, um mesmo corpo, ou mais articulado: as pessoas da Triunidade serão absorvidas numa/pela única pessoa (o Pai?). Em 1Coríntios 15.24 reza que quando o fim vier, Cristo, na Sua vinda, entregará o Reino a Deus, ao Pai, após ter aniquilado todo o império, e toda a potestade e força. O Cristo ressurreto recebeu autoridade para isso (cf. Mateus 28.18 – a autoridade do Reino pertence ao Deus-Homem). Os versículos nada dizem sobre o sumiço/absorção das pessoas da Trindade num único corpo ou pessoa. Outrossim, o v.28 nada diz que “O Pai, o Filho e o Espírito, será um só, um mesmo corpo, [...]” ou que haverá uma absorção das pessoas numa única pessoa. Esses versículos não apoiam a ideia do “término” ou “sumiço” da Trindade.

 

O QUE O TEXTO DIZ

Quando Cristo derrotar a morte, o último inimigo (vv.24-26), Ele entregará o Reino “a Deus, ao Pai” para que “Deus seja tudo em todos” (v.28). A frase “Deus seja tudo em todos” não significa que as Pessoas da Triunidade sumirão ou serão absorvidas numa única pessoa na unidade da divindade. O que quer dizer é que o Deus Triúno – Pai, Filho e Espírito Santo -, conforme revelado nas Escrituras será tudo em todos. Lemos em Apocalipse 22.1 que o trono ETERNO é “de Deus e do Cordeiro” – a distinção das pessoas permanece! A clara implicação é que as Três Pessoas da Santíssima Triunidade estarão presentes no Trono por toda a eternidade (cf. Apocalipse caps. 4 e 5 que falam da Pessoa do Espírito).

Lemos também em Efésios 5.5 sobre a “herança no Reino de Cristo e de Deus”; Apocalipse 11.15: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre”. O Reino é de Deus, sim, do Deus Triúno: Pai, Filho e Espírito Santo!

Certo escritor escreveu acertadamente:

[...] o único objetivo de Cristo era glorificar o Pai (Lucas 2.49, João 4.34; João 6.38; João 17.4, etc.); este fim foi alcançado aproximadamente na cruz (João 19.30), e será assim finalmente quando nosso Senhor, tendo “sujeitado todas as coisas a Si mesmo” (Filipenses 3.21), for capaz de apresentar ao Pai um reino dominado por Sua vontade e cheio de Seus filhos obedientes (cf. Mateus 6.9). Esta não é a cessação do governo de Cristo, mas a inauguração do reino eterno de Deus: παραδιδῷ = paradidõ não conota a perda de nada (ver João 17.10); é apenas a representação a outro do que é designado para Ele (cf. 1Coríntios 15.3; 1Coríntios 5.5, Romanos 8.32, Lucas 4.6; Lucas 10.22, etc.)[3].

 

Outro escritor de um comentário respeitado aponta:

O que exatamente significa παραδῷ τὴν βασιλείαν (paradõ tèn Basileían) está além de nossa compreensão. A soberania foi confiada ao Filho com um propósito definido: quando esse propósito foi cumprido, a soberania retorna à Fonte original. Não precisamos pensar em Cristo perdendo algo ou deixando de governar, mas levando a uma conclusão triunfante uma dispensação especial. É sua obra acabar com tudo que se opõe à soberania de Deus. Quando toda oposição é reduzida a nada, a soberania Divina, da qual o Filho participa (João 17:10; Efésios 5:5; Apocalipse 11:3,15, 22:1), será completo, e o reino de Deus, que é o reino do amor, não terá mais impedimento ou obstáculo. Nós nos perdemos, quando tentamos definir os detalhes dessa consumação: é mais sensato adotar uma reticência reverente e uma reserva[4].

 

Não é bíblico, portanto é contra a bíblia o ensino do “sumiço da Triunidade” ou a absorção das pessoas numa única pessoa. Se, como aprendemos no básico da Teologia Sistemática, cada Pessoa é eterna consequentemente a Trindade é eterna!

Não haverá ponto em que as pessoas da Triunidade sumirão ou serão absorvidas na unidade da divindade. Os textos usados, como vimos acima, nada falam sobre tais ideias.

 

O MESMO FILHO SE SUJEITARÁ AO PAI

Essa frase nada diz que o Filho será absorvido por Deus. Igualmente, o v.24 nada diz que o Filho se tornará uma pessoa na divindade com o Pai. Os textos dizem que o Filho entregará o Reino (v.24) e se sujeitará ao Pai (v.28). Acredito que nem preciso articular sobre as palavras gregas: παραδιδῷ = paradidõ “Ele deve entregar” (v.24); e ὑποταγήσεται = hypotagêsetai “será colocado em sujeição” (v.28). Já deixamos claro acima o significado.

O ponto da frase é que o reinado mediador do Deus-Homem, o Cristo, será entregue a Deus, Pai, para que o reinado do Filho, em união ou em unidade com o Pai, continue para sempre como único Deus verdadeiro. O Filho de Deus, em Sua natureza divina, como Deus, nunca cessará de Reinar e de Ser a Segunda Eterna Pessoa da Triunidade.

O reinado eterno não será exercido meramente como Deus-Homem, o Mediador, mas como “Deus de Deus” o Supremo e único Soberano.

 

PARA QUE DEUS SEJA TUDO EM TODOS

O próprio final para a entrega do Reino pelo Filho ao Pai e de Sua sujeição final ao Pai é para que Deus cumpra todas as relações em todas as criaturas. Acredita-se que o πᾶσιν = pasin = todos, inclua pessoas e coisas. O significado parece ser que não haverá mais necessidade de um Mediador: todas as relações entre o Criador e as criaturas, entre o Pai e a descendência, serão diretas.

Concluo afirmando que a palavra “Deus” deve ser corretamente entendida como a Divindade, a Natureza Divina, o Ser Espiritual, consistindo eternamente nas Três Benditas Pessoas da Santíssima Trindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Algum dia, compreenderemos melhor a Deus, mas, mesmo então, não o compreenderemos total e exaustivamente!

 

Concordo com Tertuliano ao afirmar que a doutrina da Trindade deve ter sido divinamente revelada, não construída por seres humanos. Por isso, não defendo a doutrina da Santíssima Trindade porque é evidente por si ou logicamente convincente. Defendo peremptoriamente porque Deus revelou que Ele é assim. Como alguém disse acerca da doutrina[5]:

Tente explica-la, e perderá a cabeça;

Mas tente negá-la, e perderá a alma.

 

Ivan Teixeira



[1] Almeida Corrida Fiel.

[2] Bíblia do Peregrino.

[3] FINDLAY, G. G. & NICOLL, W. Robertson. First Corinthians (The Expositor’s Greek Testament Book 5) (English Edition) eBook Kindle.

[4] PLUMMER, Alfred A. & ROBERTSON, Archibald. International Critical Commentary New Testament (ICC): 1 Corinthians.

[5] ERICSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática, p.139. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 1997.


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