quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

PENTECOSTALICIDADE DO ENCONTRO

 


Teologia Bíblica Pentecostal da Presença Relacional de Deus

 

Nós pentecostais somos fascinados pela presença de Deus. A presença de Deus nos cativa, nos acorrenta, nos impulsiona e é o maior desejo de um crente pentecostal. A presença de Deus é a marca da espiritualidade pentecostal. Apesar de entender que o querigma cristológico (pregação centrada em Cristo) é central na espiritualidade do pentecostalismo histórico, todavia o âmago deste centro espiritual e querigmático é a presença de Deus. Ou, como tenho argumentado noutro lugar, o encontro presencial com Deus é o centro da nossa espiritualidade e doxologia pentecostal.

Tenho proposto e desenvolvido a tese nos meus escritos que o encontro com Deus deve ser central em todo o contexto pentecostal. Defendo que o Evento de Pentecostes é o evento que torna a presença de Deus em nós – Igreja – pelo Espírito Santo. Apesar de que entendo que existam acusações de que o pentecostalismo seja uma religião subjetivista ou emocionalista, ou ainda centrada no homem – claro, que discordo peremptoriamente. Minha proposta é postular um pentecostalismo centrado no encontro com Deus. Apensar de o encontro litúrgico pentecostal ser teológico (ser centrado em Deus), eu entendo que também seja antropológico[1], pois pessoas se reúnem ali para esse encontra.

Creio que por meio do Espírito Santo nós podemos ter um encontro presencial e relacional com Deus. A Bíblia Sagrada revela que a presença de Deus é relacional e que Ele deseja Se encontrar com o Seu povo.

Olhando a Teologia do Antigo Testamento percebemos que “conhecer a Deus” significa, na mente judaica, ter um relacionamento com Deus, desfrutar de Sua presença relacional. O “conhecer a Deus” no Antigo Testamento não significa meramente obter informações sobre uma pessoa, mas conhece-la e manter comunhão com ela. Noutras palavras, desfrutar de sua presença. Por isso, defendo que a teologia pentecostal – conhecimento de Deus pentecostal – deve seguir esse matiz da mentalidade judaica e não escorregar para um mero conhecimento filosófico e especulativo que traz mais confusão do que edificação para a igreja. Ou usando as palavras de Paulo: nossa teologia deve equilibrar-se numa admoestação que visa o amor que procede de coração puro e de consciência boa e de fé sem hipocrisia, e não se perdendo em loquacidade frívolas. Nossa teologia pentecostal deve promover o serviço de Deus e na fé (cf. 1Timóteo 1.4-6). Noutras palavras, nossa teologia pentecostal ou o labor pentecostal teológico deve nos levar a um encontro com Deus, ao mesmo tempo que leva o povo que ministramos para encontrar-se com Deus.

O pentecostalismo de encontro pode ser desdobrado num variado contexto: Adoração, pregação, missão, discipulado, ministério, hermenêutica, teologia e etc.,

Para exemplificar posso dizer que o encontro com Deus é o centro da adoração pentecostal (Salmo 27.4; 84.2; 95.2; 100.2; Miquéias 6.6-8).

O centro proposital da PREGAÇÃO deve ser mostrar a centralidade de Deus em Cristo por meio do dinamismo do Espírito Santo (1Coríntios 2.1-5; 1Tessalonicenses 1.5-6). Em Gálatas 3.1,2, Paulo usa uma expressão gráfica para dizer que apresentou o Cristo crucificado diante dos olhos das igrejas na Galácia.

A MISSÃO da Igreja deve ser a proclamação da centralidade da glória e das obras de Deus às nações (Salmo 96.3), ou seja, levar os povos a se encontrar com este Deus glorioso e que faz maravilhas. Certa ocasião li nalgum lugar que “liberalismo é levar as pessoas a Cristo, e o Cristianismo é levar Cristo às pessoas”. Talvez haja alguma diferença noutro contexto, mas entendo que tanto levar as pessoas a Cristo como levar Cristo às pessoas resulta num encontro da pessoa com Cristo.

A IGREJA deve levar às pessoas a terem um encontro com Cristo para serem salvas e receberem o refrigério pela presença do Senhor (Atos 3.20).

O DISCIPULADO e o MINISTÉRIO pentecostais devem também se centralizar em levar o novo crente à maturidade de Cristo Jesus por meio da pedagogia do Espírito Santo (Efésios 4.12-16; 1João 2.20; Colossenses 4.12).

A VIDA CRISTÃ deve ser um contínuo desfrutar da presença justa, alegre e tranquilizadora de Jesus por meio do Espírito Santo (Romanos 14.17).

Na COMPREENSÃO das Escrituras o Espírito Santo nos guia na verdade, testifica dela, ilumina a verdade e nos faz conhecer a Deus por meio da verdade (João 14.26; 15.26; 16.13.13-15; 1João 2.20,27). Chamo isso de hermenêutica do Espírito onde o Espírito no leva a compreender a verdade de Deus e nos conduz a um encontro salvador e santificador com Cristo Jesus. O Espírito Santo faz com que a verdade seja viva a tal ponto de nos transforma. Ele é o Espírito que vivifica a Palavra de Deus (João 6.63). E essa Palavra nos vivifica (Salmo 119.25,50,93,107,154).

Assim como estudiosos têm apontado clara e convincentemente que a presença relacional de Deus é realmente o tema central da teologia bíblica[2], seguindo essa visão nós devemos postular que o encontro com a presença relacional de Deus deve ser o coração da teologia pentecostal.

Desde o início no Gênesis percebemos que os seres humanos foram criados para a glória de Deus e para desfrutar a presença relacional de Deus. Todavia, esse relacionamento foi quebrado pela desobediência e pecado. O restante da Bíblia descreve a restauração e renovação desse relacionamento, culminando com Deus habitando com o Seu povo no livro de Apocalipse.


Ivan Teixeira 

 



[1] Isso não tem nada a ver com um culto antropocêntrico.

[2] DUVALL, J. Scott & HAYS, J. Daniel. God Relational Presence: The Cohesive Center of Biblical Theology. PO Box 6287, Grand Rapids, MI 49516-6287. Ebook edition created 2019.

Nenhum comentário:

Postar um comentário