quarta-feira, 31 de maio de 2017

GRAÇA SOBERANA!

O Poder Arrebatador da Graça de Deus!

Creio que a graça de Deus é uma graça soberana! Se Deus é soberano no exercício de Sua graça, posso afirmar que esta graça também é todo-poderosa. Se ela é todo-poderosa ela é consequentemente irresistível!
Os Reformadores falam que a graça salvadora (fazendo distinção da graça comum) é soberana, todo-poderosa e, por conseguinte irresistível. A irresistibilidade da graça de Deus é um corolário lógico de Sua soberania e poder.
O rei Nabucodonosor reconheceu: “Todos os moradores da terra são por Ele reputados em nada; e segundo a Sua vontade Ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem Lhe possa deter a Mão, nem Lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35).
De forma que não compreendemos, Deus soberanamente exerce a Sua todo-poderosa graça na vida de quem Ele quer para salvá-los, libertá-los, regenerá-los e renová-los para Sua glória. Tal graça é irresistível tanto quanto é soberana e todo-poderosa.
Quero citar dois textos que ilustram a soberania, o poder e a irresistibilidade da graça de Deus na vida das pessoas. Destaco as palavras que ilustram a ação da graça de Deus na vida destas pessoas.

I. Apertaram os anjos com Ló e Pegaram-no pela mão, e o tiraram e o puseram fora da cidade; havendo-os levado fora, disse [...] (Gn 19.15-17).
Lemos em Gênesis 19.16, um claro exemplo do poder da graça de Deus em salvar um homem e sua família do juízo Divino. Nesse texto posso afirmar claramente: A graça de Deus nos livra da Ira de Deus! O texto diz:
Como, porém, se demorasse, pegaram-no os homens pela mão, a ele, a sua mulher e as duas filhas, sendo-lhe o SENHOR misericordiosos, e o tiraram e o puseram fora da cidade.

Notem a cena: Ló ouviu claramente que Yahweh derramaria Sua ira sobre a cidade e a destruiria, no entanto ele demora-se, deixando passar o tempo. Ele não agiu com pressa como a situação exigia. Esse, infelizmente tem sido o retrato de muitos dentre nós, senão de todos nós, pois temos a convicção ou ouvido sobre a desgraça que nos avizinha, e também da nossa condição pecaminosa, e da necessidade de mudança e da salvação e santificação de Deus para nossas vidas, mas ainda assim retardamos a ação necessária, e tolamente nos demoramos.
O texto mostra que “demorou”. Quantos de nós gostamos de demorar em nossos pecados, falhas, erros e idiotices? Deus nos fala para sair daquele lugar ou situação, mas, como , nós tolamente demoramos.
Se não fosse a intervenção soberana, todo-poderosa e irresistível da graça de Deus, o texto diz: “sendo-lhe o SENHOR misericordioso”, , como nós também, teria perecido sob a ira de Deus na condenação das ímpias cidades.
se recusava partir, isso poderia tê-lo feito perecer, mas os anjos o apertaram e o pegaram pela mão, e ainda o tirara e o puseram fora da cidade (vv.15,16).
Esses e outros textos nos revela a misericórdia de Deus em salvar e livrar os Seus:
v.22: Apressa-te, refugia-te nela; pois nada posso fazer, enquanto não tiveres chegado lá. Por isso se chamou Zoar o nome da cidade.

v.29: Ao tempo que destruía as cidades da campina, lembrou-se Deus de Abraão, e tirou Ló do meio das ruínas, quando subverteu as cidades em que Ló habitara.

Segunda Pedro 2.7-9: e, reduzindo a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-as posto como exemplo a quantos venham a viver impiamente; e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento libertino daqueles insubordinados (porque este justo, pelo que via e ouvia quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa das obras iníquas daqueles), é porque o Senhor sabe livrar da provação os piedosos, e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo.

Primeira Coríntios 3.15: se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo[1].

Claramente os textos acima enfatizam a obra de graça de Deus na vida de e de sua família. O escritor puritano Matthew Henry elenca três grandes lições sobre o exercício da misericórdia Divina:
(1) A salvação dos homens mais justos deve ser atribuída à misericórdia de Deus, e não ao seu próprio mérito. Nós somos salvos pela graça.
(2) O poder de Deus também deve ser reconhecido no resgate das almas de uma condição de pecado. Se Deus não nos tivesse tirado, nós nunca teríamos saído.
(3) Se Deus não tivesse sido misericordioso conosco, a nossa demora teria sido a nossa ruína[2].

Temos mais duas lições:
(4) Charles Ryrie afirma que “a misericórdia de Deus superou a procrastinação de Ló”[3]. Louvado seja Deus que sempre triunfa sobre nossos erros, pecados e tolices!

(5) Acrescentamos que como Ló, nós devemos reconhecer que Deus engrandece Sua graça em nossa salvação, santificação e glorificação: “Eis que o Teu servo achou mercê diante de Ti, e engrandeceste a Tua misericórdia que me mostraste, salvando-me a vida; [...]” (Gn 19.19).
Deus não nos salva para nos engrandecer, mas para o engrandecimento de Sua graça soberana, todo-poderosa e irresistível. Paulo escreveu sobre isso em Efésios 1.4-8:
Assim nos escolheu n’Ele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos predestinou para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que Ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo Seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da Sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência.

Deus há de glorificar Sua graça soberana!

A doutrina equilibrada: Para que tenhamos o quadro completo, devemos entender que a graça operou o que operou, mas e sua família tiveram que sair e se refugiar em Zoar. Veja que a graça de Deus, por meio da orientação angelical, orientou a fazer o melhor que pudesse para escapar por sua vida (v.17). Somos salvos unicamente pela graça (Ef 2.8), mas o Deus de toda a graça (1Pe 5.10) preparou boas obras para andarmos nelas (Ef 2.10). Como salvos não devemos mais olhar para traz (v.17), mas prosseguir na caminha para nossa “pátria que está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória, segundo a eficácia do poder que Ele tem de até subordinar a Si todas as coisas” (Fp 3.20-21).
Matthew Henry nos lembra de grandes verdades:
Portanto ele deveria cuidar da sua vida com máxima preocupação e diligência. Ele não deveria ansiar por Sodoma: “Não olhes para trás de ti”. Ele não deveria perder tempo no caminho: “Não pares em toda esta campina”. Pois toda ela será transformada em um mar morto. Ele não deveria parar antes do lugar de refúgio que lhe havia sido indicado: “Escapa lá para o monte”. Como estes, são os mandamentos dados àqueles que, pela graça, são libertos de uma condição de pecado. [1] Não retorne ao pecado e a Satanás, pois isto é como olhar para trás, para Sodoma. [2] Não descanse em si mesmo e no mundo, pois isto é como parar na campina. E: [3] Procure alcançar a Cristo e o céu, pois isto é escapar para o monte, antes do qual não devemos descansar[4].

Outro texto que ilustra o poder da graça soberana é:
II. O Senhor abriu o coração de Lídia (At 16.14-14).
Quantos dentre nós já não ouvimos a clássica descrição do Senhor Jesus como um educado cavalheiro que bate suavemente à porta dos corações para salvá-los? Isso baseado no texto de Apocalipse 3.20, que não fala da salvação, mas da comunhão almejada numa igreja local.
No entanto, o retrato que temos em Atos 16 é da graça soberana, todo-poderosa e irresistível “abrindo a porta” do coração de uma pecadora. Podemos observar algumas verdades no texto em foco:
(1) O autor da obra: O Senhor Jesus Cristo! Ele é o Salvador que salva! Ele é o Valente que vence Satanás, “tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos” (Lc 11.22). Ele é o Originador e o Consumador da fé (Hb 12.2). É Ele que opera em nós tanto o querer como o efetuar (Fp 2.13). Ele é o Salvador e não nós! Não somos auto-salváveis, mas salvos pelo poderoso Salvador!
Não que não tenhamos nada a fazer, mas isso significa que, de nós mesmos e sem a graça de Deus, não podemos fazer absolutamente nada (cf. Jo 15.3).
E também não que Deus seja minimamente responsável pela perdição dos que perecem, mas significa que a redenção dos que se salvam deve ser atribuída inteiramente a Ele. Como se diz: “Ninguém vai ao inferno porque não quer; e ninguém vai para o céu porque não quis”.
São dignas de notas as palavras do comentarias Simon Kistemaker:
Lucas atribui ao Senhor, e não a Paulo, o ato de salvar Lídia. Portanto, a salvação não é obra do homem, mas do Senhor. Não é a palavra em si, mas o próprio Senhor (Lc 24.45) quem abre o coração humano. O resultado é que Lídia responde à mensagem de Paulo e aceita o Senhor como o seu Salvador[5].

(2) O lugar da obra: É no coração que ocorre a mudança, que se dá a benção da transformação. A obra foi feita no coração de Lídia. A obra da conversão é a obra do coração. Trata-se da renovação do coração, do homem interior, do espírito do vosso sentido (Rm 12.2; Ef 3.16; 4.23).
Deus disse por meio do profeta Jeremias 17.9: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?”.
Os escritos de Jeremias nos revelam que só Yahweh pode transforma o coração:
Ele esquadrinha: Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, Eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações (17.17).

Ele inscreve Suas leis no coração: Porque esta é aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR. Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei: Eu serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. (31.33).

Ele dá um só coração que o tema: Dar-lhes-ei um só coração e um só caminho, para que Me temam todos os dias, para seu bem e bem de seus filhos. Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não deixarei de lhes fazer o bem; e porei o Meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de Mim (32.39-40).

Ele que dá um novo coração e tira o coração de pedra: Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne (Ez 36.26).

(3) A natureza da obra: O coração de Lídia foi tocado e aberto. A alma inconversa está fechada e rigorosamente fechada contra Cristo, como estava a cidade de Jericó contra Josué (Js 6.1 ARA).
Todos os ferrolhos, cadeados e portas são quebrados, rompidos e abertos pelo poder de Deus por meio de Sua graça soberana, todo-poderosa e irresistível.

(4) O fruto da obra: Ela não só estava presente à pregação de Paulo, mas atendia às coisas que ele dizia. Ou, conforme leem certos estudiosos as palavras gregas, “ela aplicava para si” o que Paulo dizia. A Palavra só nos faz bem e nos comove profundamente quando a aplicamos em nós mesmos. Essa era a evidência de que o seu coração fora aberto e, ao mesmo tempo, evidenciava a consequência dessa abertura. Sempre que o coração for aberto pela graça de Deus, haverá a evidência da presença diligente e atenção à palavra de Deus, tanto para o bem de Cristo, que é a palavra, quanto para o nosso próprio bem, que estamos tão intimamente interessados nela. Lídia se entregou a Jesus Cristo e se submeteu ao rito da religião santa: Ela foi batizada (v.15) e, por meio dessa cerimônia solene, aceita como membro da igreja local de Cristo Jesus.

Deus é quem ilumina nossa mente: “Porque Deus que disse: De trevas resplandecerá luz – Ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 5.6).
Se o Deus criador não iluminar a mente e o coração em trevas, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo, nunca haverá salvação. Oh Bendita graça!

Conclusão: Deus disse no Livro de Jeremias que Ele mesmo tiraria o coração de pedra e nos daria um coração de carne.
Ele mesmo disse na Parábola: “forçai-os entrar”.

Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini
Soli Deo Gloria!



[1] Poderíamos dizer que todos aqueles que realizam obras aprovadas são salvos pelo sangue de Cristo; no entanto aqueles que fazem obras reprováveis serão salvos pelo sangue de Cristo sob o juízo da purificação Divina.
[2] Comentário Bíblico Antigo Testamento: Gênesis a Deuteronômio, vol. I, Obra Completa, p.108-109. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 2010.
[3] A Bíblia Anotada, p. 31. São Paulo, SP, Brasil: Editora Mundo Cristão, 1994.
[4] HENRY, p.109, 2010.
[5] Comentário do Novo Testamento: Exposição de Atos dos Apóstolos, vol.2, p.129. São Paulo, SP, Brasil: Editora Cultura Cristã, 2003. – (versão digitalizada).

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