O Poder Arrebatador da Graça de Deus!
Creio que a
graça de Deus é uma graça soberana! Se Deus é soberano no exercício de Sua
graça, posso afirmar que esta graça também é todo-poderosa. Se ela é
todo-poderosa ela é consequentemente irresistível!
Os Reformadores
falam que a graça salvadora (fazendo distinção da graça comum) é soberana,
todo-poderosa e, por conseguinte irresistível. A irresistibilidade da graça de
Deus é um corolário lógico de Sua soberania e poder.
O rei Nabucodonosor
reconheceu: “Todos os moradores da terra são por Ele reputados em nada; e
segundo a Sua vontade Ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem Lhe possa deter a Mão, nem
Lhe dizer: Que fazes?” (Dn 4.35).
De forma que
não compreendemos, Deus soberanamente exerce a Sua todo-poderosa graça na vida
de quem Ele quer para salvá-los, libertá-los, regenerá-los e renová-los para
Sua glória. Tal graça é irresistível tanto quanto é soberana e todo-poderosa.
Quero citar dois
textos que ilustram a soberania, o poder e a irresistibilidade da graça de Deus
na vida das pessoas. Destaco as palavras que ilustram a ação da graça de Deus
na vida destas pessoas.
I. Apertaram os anjos com Ló e Pegaram-no pela mão, e o tiraram e o puseram fora da cidade;
havendo-os levado fora, disse [...] (Gn 19.15-17).
Lemos em Gênesis
19.16, um claro exemplo do poder da graça de Deus em salvar um homem e sua
família do juízo Divino. Nesse texto posso afirmar claramente: A graça de
Deus nos livra da Ira de Deus! O texto diz:
Como, porém, se demorasse, pegaram-no os
homens pela mão, a ele, a sua mulher e as duas filhas, sendo-lhe o SENHOR misericordiosos, e o tiraram
e o puseram fora da cidade.
Notem a cena:
Ló ouviu claramente que Yahweh derramaria Sua ira sobre a cidade e a
destruiria, no entanto ele demora-se, deixando passar o tempo. Ele não agiu com
pressa como a situação exigia. Esse, infelizmente tem sido o retrato de muitos
dentre nós, senão de todos nós, pois temos a convicção ou ouvido sobre a
desgraça que nos avizinha, e também da nossa condição pecaminosa, e da
necessidade de mudança e da salvação e santificação de Deus para nossas vidas, mas
ainda assim retardamos a ação necessária, e tolamente nos demoramos.
O texto mostra
que Ló “demorou”. Quantos de nós gostamos de demorar em nossos pecados,
falhas, erros e idiotices? Deus nos fala para sair daquele lugar ou situação,
mas, como Ló, nós tolamente demoramos.
Se não fosse a
intervenção soberana, todo-poderosa e irresistível da graça de Deus, o texto
diz: “sendo-lhe o SENHOR misericordioso”, Ló, como nós também, teria
perecido sob a ira de Deus na condenação das ímpias cidades.
Ló se
recusava partir, isso poderia tê-lo feito perecer, mas os anjos o apertaram e o
pegaram pela mão, e ainda o tirara e o puseram fora da cidade (vv.15,16).
Esses e outros
textos nos revela a misericórdia de Deus em salvar e livrar os Seus:
v.22: Apressa-te, refugia-te nela; pois nada posso fazer,
enquanto não tiveres chegado lá. Por isso se chamou Zoar o nome da cidade.
v.29: Ao tempo que destruía as cidades da campina, lembrou-se Deus de Abraão, e tirou Ló do meio das ruínas,
quando subverteu as cidades em que Ló habitara.
Segunda Pedro 2.7-9: e, reduzindo a cinzas as
cidades de Sodoma e Gomorra, ordenou-as à ruína completa, tendo-as posto como
exemplo a quantos venham a viver impiamente; e livrou o justo Ló, afligido pelo procedimento
libertino daqueles insubordinados (porque este justo, pelo que via e ouvia
quando habitava entre eles, atormentava a sua alma justa, cada dia, por causa
das obras iníquas daqueles), é porque o Senhor sabe livrar da provação os
piedosos, e reservar, sob castigo, os injustos para o Dia de Juízo.
Primeira Coríntios 3.15: se a obra de alguém se
queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através
do fogo[1].
Claramente os
textos acima enfatizam a obra de graça de Deus na vida de Ló e de sua
família. O escritor puritano Matthew Henry elenca três grandes lições
sobre o exercício da misericórdia Divina:
(1) A salvação dos homens mais
justos deve ser atribuída à misericórdia de Deus, e não ao seu próprio mérito.
Nós somos salvos pela graça.
(2) O poder de Deus também deve
ser reconhecido no resgate das almas de uma condição de pecado. Se Deus não nos
tivesse tirado, nós nunca teríamos saído.
(3) Se Deus não tivesse sido
misericordioso conosco, a nossa demora teria sido a nossa ruína[2].
Temos mais duas
lições:
(4) Charles
Ryrie afirma que “a misericórdia de Deus superou a procrastinação de Ló”[3].
Louvado seja Deus que sempre triunfa sobre nossos erros, pecados e tolices!
(5) Acrescentamos
que como Ló, nós devemos
reconhecer que Deus engrandece Sua graça em nossa salvação, santificação e
glorificação: “Eis que o Teu servo achou mercê diante de Ti, e engrandeceste
a Tua misericórdia que me mostraste, salvando-me a vida; [...]” (Gn
19.19).
Deus não nos
salva para nos engrandecer, mas para o engrandecimento de Sua graça soberana,
todo-poderosa e irresistível. Paulo escreveu sobre isso em Efésios
1.4-8:
Assim nos escolheu n’Ele antes da fundação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele; e em amor nos predestinou
para Ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o
beneplácito de Sua vontade, para louvor da glória de Sua graça, que Ele
nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo Seu sangue,
a remissão dos pecados, segundo a riqueza da Sua graça, que Deus derramou
abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência.
Deus há de
glorificar Sua graça soberana!
A doutrina equilibrada: Para que
tenhamos o quadro completo, devemos entender que a graça operou o que operou,
mas Ló e sua família tiveram que sair e se refugiar em Zoar. Veja que a
graça de Deus, por meio da orientação angelical, orientou Ló a fazer o
melhor que pudesse para escapar por sua vida (v.17). Somos salvos unicamente
pela graça (Ef 2.8), mas o Deus de toda a graça (1Pe 5.10) preparou boas obras
para andarmos nelas (Ef 2.10). Como salvos não devemos mais olhar para traz
(v.17), mas prosseguir na caminha para nossa “pátria que está nos céus, de onde
também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará nosso
corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória, segundo a eficácia
do poder que Ele tem de até subordinar a Si todas as coisas” (Fp 3.20-21).
Matthew
Henry nos lembra de grandes verdades:
Portanto ele deveria cuidar da sua vida com máxima preocupação
e diligência. Ele não deveria ansiar por Sodoma: “Não olhes para trás de ti”.
Ele não deveria perder tempo no caminho: “Não pares em toda esta campina”. Pois
toda ela será transformada em um mar morto. Ele não deveria parar antes do
lugar de refúgio que lhe havia sido indicado: “Escapa lá para o monte”. Como
estes, são os mandamentos dados àqueles que, pela graça, são libertos de uma
condição de pecado. [1] Não retorne ao pecado e a Satanás, pois isto é
como olhar para trás, para Sodoma. [2] Não descanse em si mesmo e no
mundo, pois isto é como parar na campina. E: [3] Procure alcançar a
Cristo e o céu, pois isto é escapar para o monte, antes do qual não devemos
descansar[4].
Outro texto
que ilustra o poder da graça soberana é:
II. O Senhor abriu o coração de
Lídia (At 16.14-14).
Quantos dentre
nós já não ouvimos a clássica descrição do Senhor Jesus como um educado
cavalheiro que bate suavemente à porta dos corações para salvá-los? Isso
baseado no texto de Apocalipse 3.20, que não fala da salvação, mas da
comunhão almejada numa igreja local.
No entanto, o
retrato que temos em Atos 16 é da graça soberana, todo-poderosa e
irresistível “abrindo a porta” do coração de uma pecadora. Podemos observar
algumas verdades no texto em foco:
(1) O autor
da obra: O Senhor Jesus Cristo! Ele é o Salvador que salva! Ele é o
Valente que vence Satanás, “tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os
despojos” (Lc 11.22). Ele é o Originador e o Consumador da fé (Hb 12.2). É Ele
que opera em nós tanto o querer como o efetuar (Fp 2.13). Ele é o Salvador e não
nós! Não somos auto-salváveis, mas salvos pelo poderoso Salvador!
Não que não
tenhamos nada a fazer, mas isso significa que, de nós mesmos e sem a graça de
Deus, não podemos fazer absolutamente nada (cf. Jo 15.3).
E também não
que Deus seja minimamente responsável pela perdição dos que perecem, mas
significa que a redenção dos que se salvam deve ser atribuída inteiramente a
Ele. Como se diz: “Ninguém vai ao inferno porque não quer; e ninguém vai para o
céu porque não quis”.
São dignas de
notas as palavras do comentarias Simon Kistemaker:
Lucas atribui ao Senhor, e não a Paulo, o ato de
salvar Lídia. Portanto, a salvação não é obra do homem, mas do Senhor. Não é a
palavra em si, mas o próprio Senhor (Lc 24.45) quem abre o coração humano. O
resultado é que Lídia responde à mensagem de Paulo e aceita o Senhor como o seu
Salvador[5].
(2) O lugar
da obra: É no coração que ocorre a mudança, que se dá a benção da
transformação. A obra foi feita no coração de Lídia. A obra da conversão
é a obra do coração. Trata-se da renovação do coração, do homem
interior, do espírito do vosso sentido (Rm 12.2; Ef 3.16; 4.23).
Deus disse por
meio do profeta Jeremias 17.9: “Enganoso é o coração, mais do que todas
as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?”.
Os escritos de Jeremias
nos revelam que só Yahweh pode transforma o coração:
Ele esquadrinha: Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração,
Eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder,
segundo o fruto das suas ações (17.17).
Ele inscreve Suas leis no coração: Porque esta é aliança que
firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR. Na mente
lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei: Eu
serei o seu Deus, e eles serão o Meu povo. (31.33).
Ele dá um só coração que o tema: Dar-lhes-ei um só
coração e um só caminho, para que Me temam todos os dias, para seu
bem e bem de seus filhos. Farei com eles aliança eterna, segundo a qual não
deixarei de lhes fazer o bem; e porei o Meu temor no seu coração, para
que nunca se apartem de Mim (32.39-40).
Ele que dá um novo coração e tira o coração de
pedra: Dar-vos-ei
coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o
coração de pedra e vos darei coração de carne (Ez 36.26).
(3) A
natureza da obra: O coração de Lídia foi tocado e aberto. A
alma inconversa está fechada e rigorosamente fechada contra Cristo, como
estava a cidade de Jericó contra Josué (Js 6.1 ARA).
Todos os
ferrolhos, cadeados e portas são quebrados, rompidos e abertos pelo poder de
Deus por meio de Sua graça soberana, todo-poderosa e irresistível.
(4) O fruto
da obra: Ela não só estava presente à pregação de Paulo, mas atendia
às coisas que ele dizia. Ou, conforme leem certos estudiosos as palavras gregas,
“ela aplicava para si” o que Paulo dizia. A Palavra só nos faz bem e nos
comove profundamente quando a aplicamos em nós mesmos. Essa era a evidência de
que o seu coração fora aberto e, ao mesmo tempo, evidenciava a consequência
dessa abertura. Sempre que o coração for aberto pela graça de Deus, haverá a
evidência da presença diligente e atenção à palavra de Deus, tanto para o bem
de Cristo, que é a palavra, quanto para o nosso próprio bem, que estamos tão
intimamente interessados nela. Lídia se entregou a Jesus Cristo e se
submeteu ao rito da religião santa: Ela foi batizada (v.15) e, por meio dessa
cerimônia solene, aceita como membro da igreja local de Cristo Jesus.
Deus é quem
ilumina nossa mente: “Porque Deus que disse: De trevas resplandecerá luz –
Ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da
glória de Deus na face de Cristo” (2Co 5.6).
Se o Deus
criador não iluminar a mente e o coração em trevas, para iluminação do
conhecimento da glória de Deus na face de Cristo, nunca haverá salvação. Oh
Bendita graça!
Conclusão: Deus
disse no Livro de Jeremias que Ele mesmo tiraria o coração de pedra e
nos daria um coração de carne.
Ele mesmo disse
na Parábola: “forçai-os entrar”.
Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini
Soli Deo Gloria!
[1]
Poderíamos dizer que todos aqueles que realizam obras aprovadas são salvos pelo
sangue de Cristo; no entanto aqueles que fazem obras reprováveis serão salvos
pelo sangue de Cristo sob o juízo da purificação Divina.
[2]
Comentário Bíblico Antigo Testamento: Gênesis a Deuteronômio, vol. I, Obra
Completa, p.108-109. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 2010.
[3]
A Bíblia Anotada, p. 31. São Paulo, SP, Brasil: Editora Mundo Cristão,
1994.
[4]
HENRY, p.109, 2010.
[5]
Comentário do Novo Testamento: Exposição de Atos dos Apóstolos, vol.2,
p.129. São Paulo, SP, Brasil: Editora Cultura Cristã, 2003. – (versão
digitalizada).
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