No texto de Atos 2.42-47, fomos presenteados com o que chamo de elementos identificáveis do mover do Espírito Santo. Passo a descrever apenas um deles:
ELEMENTO REVERENCIAL: Nota-se nos grandes
avivamentos um senso incomum da presença santa de Deus: “E, em cada alma
havia temor” (Atos 2.43).
Sem socorrer os
aspectos únicos e irrepetíveis do Pentecostes, Sinclair Ferguson chamou o acontecimento do dia de Pentecostes de “o
avivamento inaugural do Novo Testamento”[1]. Neste
avivamento inaugural observamos os seguintes detalhes: (1) O sentimento de admiração que o acompanhou nos dias seguintes
(Atos 2.43) – elemento de santidade;
(2) a adição de grandes números a
igreja em um curto espaço de tempo (Atos 2:41,47) – elemento de crescimento; (3)
e a convicção do pecado (Atos 2:37) – elemento
salvífico; são todas características de uma obra genuína do Espírito Santo
no renascimento. E, de forma semelhante às descrições de (4) mudanças sociais e comunitárias que os avivamentos trazem à sua
volta – elemento social, Lucas nos
fornece uma participação especial dos traços distintivos desta comunidade
inicial em Jerusalém. É uma igreja caracterizada por várias coisas em
particular, mas foi seu senso de propósito comum e identidade que é
especialmente notável.
Nos avivamentos
e reformas as práticas da igreja são diametralmente opostas às do mundo. O
Espírito Santo concebe uma comunidade contracultural, santa e transformadora. O
Espírito Santo tornou a comunidade dos discípulos tão poderosa e diferente da
do mundo que as pessoas disseram que os cristãos estavam colocando o mundo de
cabeça para baixo.
A
vida de santidade atrai a presença do sobrenatural!
Admiro-me da
descrição e da ordem dos elementos elencados por Lucas. Ele escreveu que “Em
cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio
dos apóstolos” (v.43). Primeiro vem a santidade ou reverência a Deus
(entendemos que o temor reverente permeava tanto os crentes quanto os
descrentes), só depois a presença dos milagres. Uma igreja santa vivencia o
sobrenatural de Deus.
A manifestação
do sobrenatural foi evidenciada num ambiente de santidade. Uma igreja local
cujos membros vivem vidas maiúsculas presencia manifestações palpáveis de Deus.
Uma igreja
local que vive em santidade e presencia os milagres de Deus causa um impacto
tão grande na sociedade que mesmo que eles não acreditem no evangelho. Os descrentes
tinha a igreja em grande admiração. Lemos em Atos 5.11, que o pecado foi tratado terminantemente pelos líderes
na igreja local, em consequência Lucas
observou: “E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos quantos ouviram a
notícia destes acontecimentos”.
Os membros da
igreja tinham respeito e os de fora respeitavam a igreja mesmo não querendo
fazer parte dela. A igreja era levada a sério.
A comunidade
cristã que persevera na doutrina, nas orações e noutros elementos, gera medo
contínuo (gr. φόβος, phobos) entre “todas
as almas” daquelas que estão fora da comunidade[2]. Esse
temor sagrado está relacionado com a
sensação da presença de Deus, e por isso o povo tinha reverência[3]. Descreve
o sentimento produzido quando alguém compreende que Deus está presente operando
no meio do Seu povo.
Joao Calvino colocou: “Não os levou a
Cristo, mas os fez pensar e, por assim dizer, os imobilizaram, de modo que não
prejudicaram a obra do Senhor. O poder de Deus na igreja parecia tão poderoso
que a maioria das pessoas ficou sem palavras”[4].
F. F. Bruce salientou que “a convicção
de pecado que se seguiu à pregação de Pedro não foi um temor ou pânico momentâneo,
senão que encheu as pessoas com um profundo sentido de reverência”[5].
Igreja
santa e alegre!
Preciso pontuar
que uma vida santa não significa que não temos alegria. A alegria e a santidade
não são polos opostos, mas verdades que se unem para formar uma comunidade que
glorifica a Deus. Note que no mesmo contexto de Atos 2, lemos: “Em cada alma havia temor” (v.43), “e tomavam suas refeições
com alegria” (v.46). Os crentes da Igreja Primitiva eram alegres e santos, eram
santos e alegres. Não era uma santidade legalista, “cara-feia”, ranzinza. Não era
uma alegria de entretenimento pueril, maquiado, marqueteiro ou de shows e
palhaçadas como se enxerga atualmente.
A alegria e a
santidade destes irmãos eram resultado do mover do Espírito Santo que os levou
a abraçar os quatros elementos principais: doutrina, comunhão, obediência às
ordenanças e orações. Isso sim produz uma igreja santa e alegre!
Gosto muito da
colocação do salmista no Salmo 2.11:
“Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos n’Ele com tremor”. Nesse texto
vemos adoração com temor e alegria, e
alegria com temor. O salmista nos
exorta a servir ao SENHOR tanto reverentemente quanto alegremente. Uma santidade
alegre e uma alegria reverente. Isso é importante, pois muitas reuniões litúrgicas
que se intitulam “alegres” faltam reverência. Outras que se intitulam “reverentes”
faltam alegria. Nós não devemos perder este equilíbrio apresentado tanto no Salmo 2 quanto em Atos 2.
Falta reverência
àquelas congregações e pregadores que mais se parecem com um circo e com palhaços.
É claro que sei que o humor pode fazer parte da exposição, mas a exposição não
pode ser marcada por vulgarizações e palhaçadas. Estamos tratando de coisas sérias.
Os pregadores e pastores precisam entender que lidamos com coisas sagradas e
nos apresentamos diante dos homens como embaixadores de Cristo, não como
palhaços de Cristo. Temos um Deus santo, um Cristo santo e um Espírito Santo,
por isso nós devemos nos apresentar reverentemente com uma Palavra que é santa
para que o povo de Deus seja santo em toda a maneira de viver.
Em contrapartida
noutras congregações falta alegria! O ambiente é tão sepulcral que perguntamos:
“será que este povo realmente crê nas boas novas de Jesus Cristo, as novas de
alegria?”. Em muitos casos parece que não! Noutras congregações locais a reverência
é confundida com robotização das pessoas. Há pessoas gélidas e áridas. Os sermões
são vazios e secos. Os púlpitos se tornaram apenas uma vitrine que contém os manequins
impecáveis. Há momentos em certas reuniões que você ouve até a respiração
silenciosa das pessoas. O silêncio é sepulcral! Não há alegria e glorificação quando
as verdades de Deus são expostas.
Lemos que
quando Esdras e Neemias expuseram as Escrituras o povo foi exortado a se
alegrar, pois a alegria do Senhor é a nossa força. Então, o povo estendeu as mãos
e glorificaram com améns! (Ne 8).
Quando o Senhor
Jesus ressuscitou o filho da viúva da cidade de Naim, Lucas registrou o seguinte resultado: “Todos ficaram possuídos de temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós,
e: Deus visitou o Seu povo” (Lc 7.16). Souberam que Deus estava presente e com
temor reverente adoraram a Deus glorificando-o.
As pessoas
foram tomadas por um senso de santidade, pois Deus manifestara Seu poder no
meio do Seu povo e, por conseguinte glorificavam a Deus. A santidade e a
alegria juntas glorificam a Deus!
A comunidade
cristã do século I foi marcada pela santidade e alegria que glorificavam a
Deus.
E as nossas
igrejas têm seguido este exemplo? Ajude-nos Senhor!
[1] FERGUSON, Sinclair. The Holy Spirit (Downers Grove, IL:
InterVarsity, 1996), p.90.
[2] BOCK, D. L. (2007). Baker Exegetical Commentary on the New
Testament: Acts. p.151. Grand Rapids, MI: Baker Academic.
[3] MACARTHUR,
John F. Comentario del Nuevo Testamento:
Hechos, p.86. Grand Rapids, Michigan 49505, USA: Editorial Portavoz, 2014.
[4] CALVIN, J. (1995). Acts. Wheaton, IL: Crossway Books.
[5] BRUCE, F. F. Hechos de los Apóstoles: Introducción,
Comentarios y notas,
p.92. Grand Rapids, Michigan 49560, USA: Libros Desafío, 2007.
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