terça-feira, 23 de janeiro de 2018

SANTIDADE NA IGREJA: PROVA DO MOVER DO ESPÍRITO SANTO!

No texto de Atos 2.42-47, fomos presenteados com o que chamo de elementos identificáveis do mover do Espírito Santo. Passo a descrever apenas um deles:

ELEMENTO REVERENCIAL: Nota-se nos grandes avivamentos um senso incomum da presença santa de Deus: “E, em cada alma havia temor” (Atos 2.43).

Sem socorrer os aspectos únicos e irrepetíveis do Pentecostes, Sinclair Ferguson chamou o acontecimento do dia de Pentecostes de “o avivamento inaugural do Novo Testamento”[1]. Neste avivamento inaugural observamos os seguintes detalhes: (1) O sentimento de admiração que o acompanhou nos dias seguintes (Atos 2.43) – elemento de santidade; (2) a adição de grandes números a igreja em um curto espaço de tempo (Atos 2:41,47) – elemento de crescimento; (3) e a convicção do pecado (Atos 2:37) – elemento salvífico; são todas características de uma obra genuína do Espírito Santo no renascimento. E, de forma semelhante às descrições de (4) mudanças sociais e comunitárias que os avivamentos trazem à sua volta – elemento social, Lucas nos fornece uma participação especial dos traços distintivos desta comunidade inicial em Jerusalém. É uma igreja caracterizada por várias coisas em particular, mas foi seu senso de propósito comum e identidade que é especialmente notável.
Nos avivamentos e reformas as práticas da igreja são diametralmente opostas às do mundo. O Espírito Santo concebe uma comunidade contracultural, santa e transformadora. O Espírito Santo tornou a comunidade dos discípulos tão poderosa e diferente da do mundo que as pessoas disseram que os cristãos estavam colocando o mundo de cabeça para baixo.

A vida de santidade atrai a presença do sobrenatural!
Admiro-me da descrição e da ordem dos elementos elencados por Lucas. Ele escreveu que “Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos” (v.43). Primeiro vem a santidade ou reverência a Deus (entendemos que o temor reverente permeava tanto os crentes quanto os descrentes), só depois a presença dos milagres. Uma igreja santa vivencia o sobrenatural de Deus.
A manifestação do sobrenatural foi evidenciada num ambiente de santidade. Uma igreja local cujos membros vivem vidas maiúsculas presencia manifestações palpáveis de Deus.
Uma igreja local que vive em santidade e presencia os milagres de Deus causa um impacto tão grande na sociedade que mesmo que eles não acreditem no evangelho. Os descrentes tinha a igreja em grande admiração. Lemos em Atos 5.11, que o pecado foi tratado terminantemente pelos líderes na igreja local, em consequência Lucas observou: “E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos quantos ouviram a notícia destes acontecimentos”.
Os membros da igreja tinham respeito e os de fora respeitavam a igreja mesmo não querendo fazer parte dela. A igreja era levada a sério.
A comunidade cristã que persevera na doutrina, nas orações e noutros elementos, gera medo contínuo (gr. φόβος, phobos) entre “todas as almas” daquelas que estão fora da comunidade[2]. Esse temor sagrado está relacionado com a sensação da presença de Deus, e por isso o povo tinha reverência[3]. Descreve o sentimento produzido quando alguém compreende que Deus está presente operando no meio do Seu povo.
Joao Calvino colocou: “Não os levou a Cristo, mas os fez pensar e, por assim dizer, os imobilizaram, de modo que não prejudicaram a obra do Senhor. O poder de Deus na igreja parecia tão poderoso que a maioria das pessoas ficou sem palavras”[4].
F. F. Bruce salientou que “a convicção de pecado que se seguiu à pregação de Pedro não foi um temor ou pânico momentâneo, senão que encheu as pessoas com um profundo sentido de reverência”[5].

Igreja santa e alegre!
Preciso pontuar que uma vida santa não significa que não temos alegria. A alegria e a santidade não são polos opostos, mas verdades que se unem para formar uma comunidade que glorifica a Deus. Note que no mesmo contexto de Atos 2, lemos: “Em cada alma havia temor” (v.43), “e tomavam suas refeições com alegria” (v.46). Os crentes da Igreja Primitiva eram alegres e santos, eram santos e alegres. Não era uma santidade legalista, “cara-feia”, ranzinza. Não era uma alegria de entretenimento pueril, maquiado, marqueteiro ou de shows e palhaçadas como se enxerga atualmente.
A alegria e a santidade destes irmãos eram resultado do mover do Espírito Santo que os levou a abraçar os quatros elementos principais: doutrina, comunhão, obediência às ordenanças e orações. Isso sim produz uma igreja santa e alegre!
Gosto muito da colocação do salmista no Salmo 2.11: “Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos n’Ele com tremor”. Nesse texto vemos adoração com temor e alegria, e alegria com temor. O salmista nos exorta a servir ao SENHOR tanto reverentemente quanto alegremente. Uma santidade alegre e uma alegria reverente. Isso é importante, pois muitas reuniões litúrgicas que se intitulam “alegres” faltam reverência. Outras que se intitulam “reverentes” faltam alegria. Nós não devemos perder este equilíbrio apresentado tanto no Salmo 2 quanto em Atos 2.
Falta reverência àquelas congregações e pregadores que mais se parecem com um circo e com palhaços. É claro que sei que o humor pode fazer parte da exposição, mas a exposição não pode ser marcada por vulgarizações e palhaçadas. Estamos tratando de coisas sérias. Os pregadores e pastores precisam entender que lidamos com coisas sagradas e nos apresentamos diante dos homens como embaixadores de Cristo, não como palhaços de Cristo. Temos um Deus santo, um Cristo santo e um Espírito Santo, por isso nós devemos nos apresentar reverentemente com uma Palavra que é santa para que o povo de Deus seja santo em toda a maneira de viver.
Em contrapartida noutras congregações falta alegria! O ambiente é tão sepulcral que perguntamos: “será que este povo realmente crê nas boas novas de Jesus Cristo, as novas de alegria?”. Em muitos casos parece que não! Noutras congregações locais a reverência é confundida com robotização das pessoas. Há pessoas gélidas e áridas. Os sermões são vazios e secos. Os púlpitos se tornaram apenas uma vitrine que contém os manequins impecáveis. Há momentos em certas reuniões que você ouve até a respiração silenciosa das pessoas. O silêncio é sepulcral! Não há alegria e glorificação quando as verdades de Deus são expostas.
Lemos que quando Esdras e Neemias expuseram as Escrituras o povo foi exortado a se alegrar, pois a alegria do Senhor é a nossa força. Então, o povo estendeu as mãos e glorificaram com améns! (Ne 8).
Quando o Senhor Jesus ressuscitou o filho da viúva da cidade de Naim, Lucas registrou o seguinte resultado: “Todos ficaram possuídos de temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Grande profeta se levantou entre nós, e: Deus visitou o Seu povo” (Lc 7.16). Souberam que Deus estava presente e com temor reverente adoraram a Deus glorificando-o.
As pessoas foram tomadas por um senso de santidade, pois Deus manifestara Seu poder no meio do Seu povo e, por conseguinte glorificavam a Deus. A santidade e a alegria juntas glorificam a Deus!
A comunidade cristã do século I foi marcada pela santidade e alegria que glorificavam a Deus.
E as nossas igrejas têm seguido este exemplo? Ajude-nos Senhor!




[1] FERGUSON, Sinclair. The Holy Spirit (Downers Grove, IL: InterVarsity, 1996), p.90.
[2] BOCK, D. L. (2007). Baker Exegetical Commentary on the New Testament: Acts. p.151. Grand Rapids, MI: Baker Academic.
[3] MACARTHUR, John F. Comentario del Nuevo Testamento: Hechos, p.86. Grand Rapids, Michigan 49505, USA: Editorial Portavoz, 2014.
[4] CALVIN, J. (1995). Acts. Wheaton, IL: Crossway Books.
[5] BRUCE, F. F. Hechos de los Apóstoles: Introducción, Comentarios y notas, p.92. Grand Rapids, Michigan 49560, USA: Libros Desafío, 2007.

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