TATUAGEM
Uma crítica bíblico-teológica às afirmações do Bispo
Rodovalho
Hoje pela manhã
(06/09/14) estive ministrando para os jovens de nossa congregação e um deles me
falou sobre um vídeo do bispo Rodovalho sobre a tatuagem. Assisti boquiaberto
tal vídeo do bispo Rodovalho afirmando e incentivando o uso da tatuagem. É
lamentável que um líder conhecido em Brasília faça tais afirmações. O que me surpreende
é a ginástica interpretativa de alguns textos bíblicos para apoiar o uso da
tatuagem pelos cristãos.
Ele diz que
Jesus, no livro do Apocalipse, usava tatuagem. A referência que ele cita é Apocalipse
19.16: “Tem no Seu manto, e na Sua coxa, um nome inscrito: REI DOS REIS E
SENHOR DOS SENHORES”.
O bispo
Rodovalho usa este versículo para apoiar a ideia de que podemos fazer
tatuagens. Se Jesus tinha tatuagens, nós também podemos ter, conclui o bispo.
Mas, será que o texto realmente diz e aprova o uso da tatuagem em nosso corpo?
O comentarista Simon
Kistemaker faz a seguinte observação:
São muitas as interpretações da localização precisa
das palavras manto e coxa. Essas interpretações variam na identificação de
manto e coxa - porque aquele [manto] cobre esta [coxa] - como tendo o nome
escrito numa espada no lugar de coxa. Se interpretarmos a frase no sentido de
“em seu manto, isto é, em sua coxa”, ou enfileirarmos evidências de estátuas
antigas com nomes escritos nas coxas, permanece o fato de que o quadro é
meramente simbólico. A coxa é uma figura de poder e, o manto, um símbolo de
majestade real. A inscrição majestática se aplica a ambas as regiões[1].
Claramente o
texto nos diz que nosso Senhor glorificado usará na Sua vinda em glória uma
faixa sobre o Seu manto que se estenderá até a coxa, com a inscrição de um
título que enfatiza a Sua absoluta soberania sobre todos os governantes humanos[2].
Notem que Simon Kistemaker afirma que mesmo se a inscrição estivesse na
coxa “permanece o fato de que o quadro é meramente simbólico”. O bispo Rodovalho
erra e feio em seu entendimento do texto!
Exegese
textual: O texto grego reza: ἐπὶ τὸ ἱμάτιον καὶ ἐπὶ τὸν μηρὸν αὐτοῦ (epi to
himation kai epi ton mêron autou, “no manto, sobre a coxa dele”), o que poderia se referir a duas
partes do corpo, mas a maioria dos estudiosos concorda (e.g., Beckwith, Ladd,
Mounce, Beale, MacArthur, Barclay) que é “sobre o Seu manto, isto [kaí –
conjunção apositivo], sobre Sua coxa”. Em outras palavras, o nome está escrito
naquela parte do manto que cobre Sua coxa, o lugar em que a espada é guardada e
que ficaria em evidência em um guerreiro montado num cavalo[3].
Devemos usar
chifres também?
Agora, imagine
se o Bispo Rodovalho lesse: “[...] um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha
sete chifres [...]” (Ap 5.6). Acho que ele apregoaria: “Vamos usar chifres
também, porque Jesus tinha sete chifres”. É lamentável como este cidadão
interpreta as Escrituras de forma mirabolante para agradar uma geração que quer
fazer de tudo que está na moda, menos se submeter aos claros ensinos das
Escrituras Sagradas.
Aqui (Ap 5.6) e
em Apocalipse 19.16, temos uma figura de linguagem que aponta para uma
realidade. Na Escritura, chifres sempre simbolizam poder porque, no reino
animal, os chifres são usados para exercer força e causar ferimentos no
combate. Sete chifres significam poder total e perfeito. Então, tanto em Apocalipse
5.6, como em Apocalipse 19.16 temos expressão figurativas e
proverbiais de realidade características de Jesus como Todo Poderoso Salvador,
Soberano e Majestoso Rei.
Veja que Paulo
afirma, sem mencionar a coxa, que Jesus (Deus) é “[...] bendito e único
Soberano, o Rei do reis e Senhor dos senhores” (1Tm 6.15; cf. Ap 17.14). É
lamentável quando um líder quer distorcer a Bíblia para seus próprios
interesses, bem como agradar uma geração que quer tatuar Jesus no peito, mas
não querem tê-Lo como Salvador e Senhor de suas vidas.
Gravados nas
palmas das Mãos de Deus
Mesmo que o
bispo não use o texto de Isaías, citou-o (bem como outros) para uma análise.
Isaías
49.16: “Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei; os teus muros estão
continuamente perante Mim”.
Temos neste
versículo um incentivo ou um sinal verde para fazermos tatuagens em nosso
corpo? Vejamos o que o texto diz.
Aqui temos uma
expressão figurativa, não literal, como um sinal da devoção de Yahweh para o
Seu povo. Deus não esqueceria de Seu povo. Essa é a verdade por detrás da
expressão proverbial: “Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei”. Não temos
aqui uma permissão e um imperativo para fazer tatuagens, mas, sim, uma figura
de linguagem que revela que Deus nunca esquece e abandona Seu povo. Note que o
povo estava reclamando: “Mas Sião diz: O SENHOR me desamparou, o SENHOR se
esqueceu de mim” (Is 49.14). Qual a resposta divina?
Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda
mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta
viesse a se esquecer dele, Eu, todavia, não Me esquecerei de ti (Is 49.16).
E depois Deus que
usa a metáfora de uma mãe, Ele fala figuradamente sobre eles estarem gravados
nas palmas de Suas mãos (Is 49.16: “Eis que nas palmas das minhas mãos te
gravei; os teus muros estão continuamente perante Mim”).
Não podemos
traduzir, compreender e transformar uma expressão figurativa e proverbial numa
realidade física. Esse foi o erro dos fariseus. Eles traduziram a ordenação de
Yahweh em Êxodo 13.9: “E será como sinal na tua mão e por memorial entre
teus olhos; para que a lei do SENHOR esteja na tua boca; pois com mão forte o
SENHOR te tirou do Egito”, na realidade física dos filactérios – as caixas de
oração de couro que eram colocadas no braço esquerdo e na testa com a inscrição
de certas palavras (Ex 13.1-16; Dt 6.4-9; Dt 11.13-21).
Tal como os
fariseus, o bispo Rodovalho traduz e compreende uma expressão figurativa e
proverbial (como Ap 19.16) de forma literal. Como se tivéssemos um apoio
escriturístico para fazermos tatuagens. Nosso Senhor condenou tal prática dos
fariseus, visto que não compreendiam as expressões proverbiais para obedecerem
de todo o coração os mandamentos do SENHOR. Deus não queria que eles fizessem
caixinhas, mas que obedecessem os Seus mandamentos. Não temos uma ordem para
fazer tatuagens só porque temos um texto que relata uma visão de João em que
ele ver uma inscrição no manto que está sobre a coxa de nosso Senhor
Glorificado. Temos, sim, uma ordem para nos submeter a Ele como Salvador e
Senhor de nossa vida.
Em vez de vocês
quererem fazer tatuagens de uma cruz, façam o que o Senhor Jesus disse: Tome
cada dia sua cruz e Me sigam (cf. Mt 16.24). Ou seja, vivam uma vida de
renúncia. Isso engloba também a renúncia de fazer tatuagens, visto que está na
moda. Jesus não ordena a fazermos uma cruz e sair levando-a nas costas pela
rua. E nem nos ordena a tatuar uma cruz. Ele nos ordena, como o texto deixa
claro, a renunciar a nós mesmos e identificarmo-nos com Ele.
Outro exemplo
de linguagem figurativa e proverbial apontando a realidade da lembrança é Cântico
dos cânticos 8.6: “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o
teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme;
as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas”.
Claramente a
Bíblia proíbe a tatuagem ou qualquer marca em nosso corpo
Há indícios
claros do costume de se fazerem tatuagens pelos pagãos, pelo qual são marcados
com ponta de agulha ou queimados na pele e vivificados com o uso de tintas,
marcas e figuras diversas. Em Israel, todavia, este costume era proibido. Em Levítico
19.28, lemos: “Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca
nenhuma sobre vós: Eu Sou o SENHOR”.
R. N.
Champlin nos esclarece: “Isso parece ser uma clara proibição do uso de
tatuagens, entre os judeus. Uma das mais horrendas tatuagens eram aqueles
números que os nazistas tatuavam no braço dos judeus que estavam condenado a
morrer nos campos de concentração, onde foram mortos seis milhões de
israelitas, a mando de Hitler e sua infame camarilha”[4].
Charles
Ryrie escreve que “tanto a mutilação quanto a tatuagem eram práticas comuns
entre nações pagãs”[5].
John
MacArthur traz o seguinte e esclarecedor comentário:
Essas práticas pagãs muito provavelmente estavam
associadas à idolatria egípcia e, por isso, deviam ser evitadas. A prática de
fazer profundas marcas na face e nos braços ou pernas em tempos de luto era
comum entre os pagãos. Era visto como uma marca de respeito pelos mortos, bem
como uma espécie de sacrifício propiciatório oferecido aos deuses que presidiam
sobre a morte. Os judeus aprenderam esse costume do Egito e, embora tivessem disso
afastados do mesmo, recaíram na antiga superstição (cf. Is 22.12; Jr 16.6;
47.5). A tatuagem também estava ligada a nomes de ídolos e eram sinais
permanentes de apostasia[6].
Se o bispo
Rodovalho aprova e incentiva a tatuagem, também, necessariamente deve aprovar a
mutilação. É lamentável que um líder evangélico apoie e incentive tais práticas,
claramente pagãs, e, ainda diz que é para a glória de Deus.
Ouça a
Palavra e não os homens!
Vale lembrar o
que Deus diz em Sua Palavra, não o que líderes populares afirmam:
Jeremias 10.2:
“Assim diz o SENHOR: Não aprendais o caminho dos gentios, nem vos espanteis com
os sinais dos céus, porque com eles os gentios se atemorizam”.
Romanos
12.2: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus”.
Estar
“conformado” com este mundo é estar com (prefixo latino con) as formas
ou estruturas deste mundo. Isso significa fazer coisas populares. O
conflito é este: o que é popular [como a tatuagem] para os homens nem sempre é
popular para com Deus. Agradar a Deus nem sempre é agradar ao homem. Às vezes
devemos escolher a quem iremos agradar. Na vida cristã, essa é uma luta diária[7].
Se você quer
ter alguma marca no corpo: Sofra por Cristo!
Paulo escreveu
em Gálatas 6.17: “Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no
corpo as marcas de Jesus”.
Só falta o
referido bispo citar esta passagem e dizer: “Podem se tatuar, pois Paulo, o
grande apóstolo tinha tatuagens de Jesus”.
Estas “marcas”
mencionadas por Paulo eram os resultados físicos da perseguição (cicatrizes,
feridas, etc.) que identificavam Paulo como uma pessoa que havia sofrido pelo
Senhor (cf. At 14.19; 16.22; 2Co 1.5; 4.10; 11.25; Cl 1.24).
O senhor
Rodovalho poderia ensinar a juventude a ter estas marcas de sofrimento em favor
do santo evangelho. Ele deveria incentivar a juventude a ter marcas – não
tatuagens com versículos e etc., - de sofrimento por causa de nossa
identificação com Cristo.
As marcas de
Jesus que Paulo tinha em seu corpo não erar artes de um profissional de
tatuagens, mas ele estava marcado pelos sofrimentos, sofridos pela causa de
Cristo, que tinham deixados sinais indeléveis em seu corpo quebrantado pelas
asperezas da caminhada de um apóstolo de Cristo.
Ivan Teixeira
Minister Verbi
Divini
Soli Deo Gloria!
[1]
KISTEMAKER, Simon. Exposição do Livro do Apocalipse,
pág.660 (São Paulo, SP, Brasil: Editora Cultura Cristão, 2004) – (Coleção
Comentário do Novo Testamento).
[2]
MACARTHUR, John F. A Bíblia de Estudo MacArthur,
pág.1806 (Barueri, SP, Brasil: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010).
[3]
OSBORNE, Grant R. Apocalipse: Comentário Exegético,
pág.767 (São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 2014).
[4]
CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Volume 6, S – Z, pág.325 (São
Paulo, SP, Brasil: Editora Hagnos, 5.ed., 2001).
[5]
RYRIE, Charles. A Bíblia Anotada, pág. 165 (São Paulo, SP, Brasil: Editora
Mundo Cristão, 1991).
[6]
Op. cit., pág.170 (2014).
[7]
SPROUL, R. C. Como Viver e Agradar a Deus, pág.45 (São Paulo, SP, Brasil:
Editora Cultura Cristã, 2.ed., 2006).
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