terça-feira, 9 de maio de 2017

DIVÓRCIO


Exposição Sobre Mateus 19



Texto grego:
1 Καὶ ἐγένετο ὅτε ἐτέλεσεν ὁ Ἰησοῦς τοὺς λόγους τούτους, μετῆρεν ἀπὸ τῆς Γαλιλαίας καὶ ἦλθεν εἰς τὰ ὅρια τῆς Ἰουδαίας πέραν τοῦ Ἰορδάνου.
2 καὶ ἠκολούθησαν αὐτῷ ὄχλοι πολλοί, καὶ ἐθεράπευσεν αὐτοὺς ἐκεῖ.
3 Καὶ προσῆλθον αὐτῷ Φαρισαῖοι πειράζοντες αὐτὸν καὶ λέγοντες, Εἰ ἔξεστιν ἀνθρώπῳ ἀπολῦσαι τὴν γυναῖκα αὐτοῦ κατὰ πᾶσαν αἰτίαν;
4 ὁ δὲ ἀποκριθεὶς εἶπεν, Οὐκ ἀνέγνωτε ὅτι ὁ κτίσας ἀπ’ ἀρχῆς ἄρσεν καὶ θῆλυ ἐποίησεν αὐτούς;
5 καὶ εἶπεν, Ἕνεκα τούτου καταλείψει ἄνθρωπος τὸν πατέρα καὶ τὴν μητέρα καὶ κολληθήσεται τῇ γυναικὶ αὐτοῦ, καὶ ἔσονται οἱ δύο εἰς σάρκα μίαν.
6 ὥστε οὐκέτι εἰσὶν δύο ἀλλὰ σὰρξ μία. ὃ οὖν ὁ θεὸς συνέζευξεν ἄνθρωπος μὴ χωριζέτω.
7 λέγουσιν αὐτῷ, Τί οὖν Μωϋσῆς ἐνετείλατο δοῦναι βιβλίον ἀποστασίου καὶ ἀπολῦσαι [αὐτήν];
8 λέγει αὐτοῖς ὅτι Μωϋσῆς πρὸς τὴν σκληροκαρδίαν ὑμῶν ἐπέτρεψεν ὑμῖν ἀπολῦσαι τὰς γυναῖκας ὑμῶν, ἀπ’ ἀρχῆς δὲ οὐ γέγονεν οὕτως.
9 λέγω δὲ ὑμῖν ὅτι ὃς ἂν ἀπολύσῃ τὴν γυναῖκα αὐτοῦ μὴ ἐπὶ πορνείᾳ καὶ γαμήσῃ ἄλλην μοιχᾶται.
10 λέγουσιν αὐτῷ οἱ μαθηταὶ [αὐτοῦ], Εἰ οὕτως ἐστὶν ἡ αἰτία τοῦ ἀνθρώπου μετὰ τῆς γυναικός, οὐ συμφέρει γαμῆσαι.
11 ὁ δὲ εἶπεν αὐτοῖς, Οὐ πάντες χωροῦσιν τὸν λόγον [τοῦτον], ἀλλ’ οἷς δέδοται.
12 εἰσὶν γὰρ εὐνοῦχοι οἵτινες ἐκ κοιλίας μητρὸς ἐγεννήθησαν οὕτως, καὶ εἰσὶν εὐνοῦχοι οἵτινες εὐνουχίσθησαν ὑπὸ τῶν ἀνθρώπων, καὶ εἰσὶν εὐνοῦχοι οἵτινες εὐνούχισαν ἑαυτοὺς διὰ τὴν βασιλείαν τῶν οὐρανῶν. ὁ δυνάμενος χωρεῖν χωρείτω.

UMA ATITUDE BÍBLICA COM RELAÇÃO AO DIVÓRCIO
Contrariamente a algumas opiniões, o conceito de divórcio é BÍBLICO. Então, não é bíblico você dizer que o divórcio não é bíblico, pois ele é! A Bíblia reconhece e regulamenta o divórcio (mas, não exige, encoraja ou incentiva – fique claro isso desde o início!). Foram feitas certas provisões para essa prática. Essa verdade deve ser afirmada clara, pastoral e teologicamente e sem hesitação. Visto que o divórcio é um conceito bíblico, ao qual se faz frequente referência nas páginas da Bíblia, os cristãos deverão fazer tudo o que puderem para entender e ensinar o que Deus, em Sua Palavra, diz a respeito do assunto. Além, disso, requer-se que a igreja e os pastores aplique a casos individuais os princípios escriturísticos relacionados com o divórcio[1].
Então, fique estabelecido que a Bíblia não fica em silêncio sobre o divórcio, nem condena indiscriminadamente o divórcio, sempre, em todas as circunstâncias e quanto a todos os casos. Ela regulamenta, permite e limita o divórcio! Conceder ou permitir uma prática não é o mesmo que originá-la, estabelecê-la ou instituí-la.

DIVÓRCIO
Particularmente entendo que o assunto que hora vamos tratar é de suma importância para a saúde das famílias e da igreja local. Objetivamos entender o que o Senhor Jesus ensinou sobre o casamento, divórcio e a possibilidade do novo casamento. Estamos cientes da magnitude do assunto. Todavia, entendemos que o assunto foi tratado claramente pelo Senhor Jesus. Para mim o Senhor Jesus foi muito claro sobre o divórcio. O divórcio é uma concessão divinamente regulamentada (Dt 24) do ideal do Criador (Gn 1.27; 2.24) que o nosso Senhor o permitiu, mas não exigiu ou incentivou, unicamente entre crentes no caso de imoralidade sexual (Mt 5.31-32; 19.9). O divórcio de um casal com um dos cônjuges descrente é norteado por Paulo (1Co 7).
Vamos entender o assunto conforme nos é apresentado no Evangelho do Senhor Jesus Segundo Mateus capítulo 19. Claro, se necessário para esclarecer alguns pontos, poderemos recorrer aos outros textos que falam da temática.

A PERGUNTA DOS FARISEUS: Εἰ ἔξεστιν ἀνθρώπῳ ἀπολῦσαι τὴν γυναῖκα αὐτοῦ κατὰ πᾶσαν αἰτίαν.

3: Vieram a Ele alguns fariseus e o experimentaram, perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo? (ARA)


3 Καὶ προσῆλθον αὐτῷ Φαρισαῖοι πειράζοντες αὐτὸν καὶ λέγοντες, Εἰ ἔξεστιν ἀνθρώπῳ ἀπολῦσαι τὴν γυναῖκα αὐτοῦ κατὰ πᾶσαν αἰτίαν; (TC)


Mateus descreve o incidente que deu origem ao ensino do Senhor Jesus sobre o divórcio.
Diferentes de muitos que necessitavam do amor gracioso de Cristo Jesus, os fariseus sempre aparecem no Evangelho de Mateus pondo Jesus à prova e opondo-se a Ele de alguma forma (cf. 12.2; 14.24,38; 15.1; 16.1; 19.3; 22.15,34,35)[2]. Eles não tinham nenhum interesse pelo Senhor Jesus, mas buscavam motivos contra Ele[3].
Comentaristas acreditam que a pergunta dos fariseus objetivava coloca o Senhor Jesus em maus-lençóis com o rei Herodes para que tivesse o mesmo destino de João Batista. Isso pode ser possível pelo contexto, pois Jesus estava na região desde rei.
Há pessoas que querem acabar com o Jesus bíblico. Elas preferem um Jesus que massageie o ego e as permita viver uma vida sem arrependimento. Mas o Jesus bíblico não se curva ante a pressão dos grupos, Ele sempre permanece firme nos desígnios soberanos.
Diferentemente dos fariseus nossa atitude deve ser de aprendizado aos pés de Jesus Cristo. Os fariseus se aproximaram para tentar o Senhor sobre o assunto do divórcio, nós, porém, devemos nos aproximar para aprender e sermos agraciados por Seus ensinamentos.

Divorciar por qualquer motivo? κατὰ πᾶσαν αἰτίαν. Preposição katà, “por”, acompanhado do adjetivo pãsan, que equivale a toda, aqui traduzido como uma expressão genérica equivalente a “qualquer”. Aitían, substantivo que denotaacusação, cargo, delito, condição”, que como “causa”, em sentido de algo que se pode “reprovar” ou “acusar”.
Os estudiosos[4] estão de acordo, pois há evidências escriturística para isso, que os rabinos da época de Jesus estavam divididos em suas opiniões acerca do ensino sobre o divórcio refletido em Deuteronômio 24; uns seguindo o rabino Shamai sustentavam que o divórcio era permitido somente pela infidelidade conjugal. Outros, como o rabino Hillel, defendiam que o divórcio era justificável por qualquer motivo.
Possivelmente, os fariseus abraçavam a abordagem mais popular e liberal de Hillel por ser “amplamente pragmática, e permitiam que um homem se divorciasse de sua mulher indiscriminadamente”[5].

Jesus volta-se para as Escrituras!
Esse deve ser a atitude correta de todo pastor e conselheiro no que concerne ao divórcio. Voltar-se às Escrituras e procurar entender o que elas diz sobre o assunto. Qualquer opinião que não se baseia nas Escrituras deve ser descartada. Vamos nos ater ao claro ensino do Senhor Jesus e dos Seus apóstolos!
Jesus não respondeu diretamente, mas a subsequente narrativa implica em que, com efeito, a resposta do Senhor foi: “se quereis dizer “algum” motivo, Minha resposta é SIM; “se quereis dizer por todo e qualquer” motivo, Minha responsa é NÃO”[6].
Nosso Senhor primeiramente demonstra o ideal divino. Ele volta-se para as Escrituras mostrando que o propósito do Criador em criam dois sexos (macho e fêmea) era que a solidariedade, a estabilidade e a felicidade da raça humana tivessem como fundamento a união física do homem e da mulher. Tal união é parte essencial do plano do Criador e deveria ser mantida a qualquer custo e com todos os esforços possíveis (pelo perdão, reconciliação e restauração). As tentativas de frustrar o casamento, quer pela estrega às relações sexuais promíscuas, quer pelo ascetismo e celibato forçado, quer por perversões do uso natural, quer por tentativas de romper casamentos onde a unidade que Deus tem em mente está sendo realizada, são todas contrárias à vontade Divina (Mt 19.6)[7].
Vamos elencar algumas lições da resposta do Senhor Jesus. Mesmo que eu esteja falando sobre o divórcio neste estudo, não posso deixar de apreciar a observação do Senhor Jesus sobre o casamento permanente como o ideal Divino.

A RESPOSTA DO SENHOR JESUS

4: Então, respondeu Ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher.
5: e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher; tornando-se os dois uma só carne?
6: De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.



4: ὁ δὲ ἀποκριθεὶς εἶπεν, Οὐκ ἀνέγνωτε ὅτι ὁ κτίσας ἀπ’ ἀρχῆς ἄρσεν καὶ θῆλυ ἐποίησεν αὐτούς;
5: καὶ εἶπεν, Ἕνεκα τούτου καταλείψει ἄνθρωπος τὸν πατέρα καὶ τὴν μητέρα καὶ κολληθήσεται τῇ γυναικὶ αὐτοῦ, καὶ ἔσονται οἱ δύο εἰς σάρκα μίαν.
6: ὥστε οὐκέτι εἰσὶν δύο ἀλλὰ σὰρξ μία. ὃ οὖν ὁ θεὸς συνέζευξεν ἄνθρωπος μὴ χωριζέτω.


Jesus demonstra que a Palavra de Deus e não as opiniões humanas é que tem o veredito sobre o divórcio. Ele retorna como já escrevi acima, para as Escrituras revelando o plano de Deus de um casamento permanente e até mesmo indissolúvel. Aqui, nós devemos entender uma lição importante que o Senhor Jesus quer nos ensinar para entender o divórcio, nós precisamos primeiramente entender o casamento. Deus ama o casamento, mas odeia o divórcio. Essa é uma expressão geral sobre o assunto.
Embora, como veremos, a lei mosaica incluísse prescrições que regulamentavam o divórcio (Dt 24), o Antigo Testamento deixa claro que o divórcio fica aquém do ideal de Deus. Lemos em Malaquias 2.16: “Porque o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós mesmos e não sejais infiéis”. Deus considera o divórcio sem justificativa um pecado hediondo que deixa marcas terríveis, sendo também uma clara rebelião contra Seu ideal. Yahweh exorta a todo homem a não ser infiel para com a mulher da sua mocidade (Ml 2.15). Lutemos para manter o ideal divino!
Então, neste ponto, o Senhor Jesus levou Seus ouvintes de volta ao princípio e lembrou-os de que Deus havia criado os seres humanos macho e fêmea (Gn 1.27) e estipulado que, ao se casar, o homem deixasse pai e mãe e se unisse à sua esposa (2.24) como uma só carne diante de Deus, uma união que não devia ser rompida: “Assim, não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu o homem não separe” (Mt 19.4-6; Mc 10.6-9)[8].
Quando o Senhor Jesus levou os fariseus (e os demais ouvintes e a nós também) a lembrar-se do que o Criador fez, Ele obriga-os “a considerarem o assunto a partir do contexto bíblico total. Eles tinham isolado e retirado a lei mosaica da estrutura mais abrangente que Deus pretendeu criar ao instituir o casamento”[9]. Com efeito, o Senhor Jesus estava dizendo: “Se existe ambiguidade na lei de Moisés, deixem que as implicações que vocês fazem sejam governadas pelo que Deus falou claramente na criação”[10].

Jesus endossou a estabilidade do casamento
Antes de entrar no assunto do divórcio (o interesse dos fariseus) nosso Senhor chamou a atenção deles para dois fatos (o interesse de Deus), a saber: (1) que a sexualidade humana era criação Divina, (2) que o casamento era ordem Divina. Ele ligou dois textos (Gn 1.17 e 2.24) e fez Deus o Autor de ambos. O mesmo Criador que “no começo [...] homem e mulher os criou”, também diz (no texto bíblico): “Por isso deixe o homem pai e mãe, e se uma à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. “De modo que” – prosseguiu Jesus, acrescentando Sua afirmação explanatória – “já não são mais dois, porém uma só carne”. E acrescentou Sua própria proibição: “O que Deus ajuntou, não separe o homem”[11].

O ENSINO DO SENHOR JESUS SOBRE O CASAMENTO
É de grande valia entender o que o Senhor Jesus postulou sobre o casamento tal como ordenado pelo Criador. Jesus, como vimos, volta-se ao princípio e elenca algumas verdades que são dignas de nota. Vejamos algumas verdades sobre o casamento tal como foi planejado e determinado pelo Criador.
Vou postular o casamento como uma união. Que tipo de união é o casamento conforme o ensino do Senhor Jesus?
1. UNIÃO DE DOIS SEXOS DISTINTOS QUE SE COMPLEMENTAM
“o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher”; “o Criador os fez macho e fêmea” (v.4: ἀπ’ ἀρχῆς ἄρσεν καὶ θῆλυ ἐποίησεν αὐτούς = desde princípio homem e mulher fez a eles).
A palavra grega arsen é um substantivo que denota “macho”, e se traduz como “homem” e como “varão” em distintos lugares no Novo Testamento.
O grego thêlu é um substantivo que equivale “fêmea”, traduzido também como “mulher”.
Então, o casamento é uma união entre dois sexos: feminino e masculino. O homem e a mulher são distintos, todavia se complementam. A Bíblia não aceita a união entre duas pessoas do mesmo sexo: arsen com arsen ou thêlu com thêlu. O claro ensino bíblico é que um homem e uma mulher, feitos por Deus, o Criador, se unam em casamento.
A raça humana criada por Deus constituísse de dois elementos: homem e mulher: “Criou Deus, pois, o homem [humanidade] à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1.27); “[...] No dia em que Deus criou o homem [humanidade], à semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou [...]” (Gn 5.1-2). Deus abençoa uma humanidade que respeita essa diferença sexual. Há, sim, uma diferença de gênero entre a humanidade e essa foi feita pelo Criador.
Casamento é heterossexual. “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e sua unirá à sua mulher”. A união homossexual está frontalmente contrária ao propósito de Deus.
A homossexualidade priva os filhos que vivem em lares com parceiros do mesmo sexo dos principais modelos de ambos os sexos e é incapaz de cumprir os propósitos criadores de Deus para a união conjugal.
A confusão de papéis dos sexos também tem se tornado uma questão cada vez mais séria. Muitos homens e mulheres não têm mais conceitos de masculinidade e feminilidade e, como resultado, perderam completamente a identidade de seres humanos conforme Deus nos criou, isto é, homem (macho) e mulher (fêmea). O sexo não determina apenas o formato de nossos órgãos sexuais; antes, faz parte de todo nosso ser[12].

2. UNIÃO MONOGÂMICA:
“e se unirá a sua mulher”; “e se unirá a sua esposa” (v.5: καὶ κολληθήσεται τῇ γυναικὶ αὐτοῦ = e ficará unido a mulher de ele).
A palavra grega kollethêsetai é a terceira pessoal singular do futuro do indicativo na voz passiva do verbo kalláõ que significa “unir, apegar-se, unir fortemente, colar”, aqui no texto como “ficar unido”. Há manuscritos gregos que trazem a variante textual proskolláõ, que expressa a ideia de aderir/unir fortemente, ou seja, “ficar apegado inseparavelmente”.
A segunda verdade sobre o casamento é que o mesmo é a união entre um homem com uma mulher. Deus fez um homem para uma mulher e uma só mulher para um só homem. Deus não fez vários Adãos para uma única Eva; e também não fez várias Evas para um único Adão. Deus fez um único Adão e uma única Eva e os uniu em matrimonio.
Não temos dúvidas quanto às palavras do Senhor Jesus enfatizar o casamento monogâmico permanente.

A questão da Queda
As Escrituras dão testemunho de que a queda alterou o relacionamento conjugal para sempre, no entanto o ideal de Deus para o casamento, articulado em Gênesis 1–2, continua a definir o padrão para as responsabilidades de maridos e mulheres uns com os outros na história subsequente da humanidade. Entendemos que por causa do pecado o ideal Divino de casamento foi corrompido pela poligamia, divórcio, adultério, homossexualidade, esterilidade e pela falta de diferenciação dos papéis de cada um. A Redenção em Cristo Jesus nos traz as boas novas (gr. εὐαγγελίου = euangeliou) de que pela morte e ressurreição de Jesus Cristo o ideal Divino está sendo restaurado na vida de todo aquele que crê conforme estamos sendo renovados a cada dia no homem interior (cf. Rm 8.29; 2Co 3.18; Cl 3.10 e etc.).
Mesmo depois da queda, o plano que Deus definira para o casamento na criação continuou a servir como norma e padrão das expectativas de Deus para os relacionamentos entre homens e mulheres. Não é um texto isolado, por exemplo, sobre a poligamia ou qualquer outro, que deve reger nosso entendimento sobre o ideal divino para o casamento. Mas devemos procurar entender todo o progresso da revelação recorrendo a palavra final de Deus por meio de Jesus Cristo e de Seus apóstolos. Não devemos nos apoiar apenas num texto isolado do seu contexto maior e teológico.

Para efeito de estudo, Andreas Köstenberger elenca seis violações do ideal divino para o casamento articulado em Gênesis 1 e 2, e que foi corrompido em Israel.
(1) A poligamia (ou, mais precisamente, poliginia) violava a norma divina de monogamia conjugal;
(2) O divórcio rompia a durabilidade e permanência do casamento;
(3) O adultério violava o vínculo sagrado entre um homem e uma mulher que haviam assumido um compromisso de fidelidade;
(4) A homossexualidade desenvolvia um comportamento anômalo contrário à norma divina de casamento heterossexual;
(5) A esterilidade se tornava um problema que destituía o casamento da fertilidade característica do plano original de Deus; e
(6) A deterioração das diferenças entre os sexos violava a complementariedade entre eles, um aspecto essencial e fundamental do plano de Deus[13].

O ideal de Deus para o casamento sempre foi monogâmico.
Afirmar que a Escritura do Antigo Testamento não revela que a vontade de Deus seja a monogamia, a união de um único homem com uma única mulher, é ignorar o claro ensino da Palavra de Deus. Ensinar tais conclusões é pura eisegese. É não ler e entender o que ensina a palavra de Deus.
O escritor Charles H. H. Scobie demonstra que o ideal de casamento monogâmico é definido no Pentateuco (Gn 2.24), pressuposto na Lei (Dt 28.54,56) e nos profetas (Jr 5.8; 6.11; Ml 2.14) e defendido na literatura sapiencial (Pv 5.18; 31.10-31; Ec 9.9)[14].

3. UNIÃO MONOSSOMÁTICA:
“tornando-se os dois uma só carne”; “e os dois serão uma só carne” (v.5: καὶ ἔσονται οἱ δύο εἰς σάρκα μίαν = e serão os dois uma carne só).
O Criador instituiu também o casamento como uma união indisolúvel do marido e da mulher em forma definitiva, com Sua autoridade, καὶ εἶπεν = kaí eipen, “e disse”.
A palavra usada por Mateus, kollêthêsetai, “ficará unido”; “se unirá”, indica uma unidade semelhante de dois objetos colados, isto é, unidos um ao outro de tal maneira que forma uma unidade de duas peças inseparáveis. Separar as duas peças é destruir o objeto formado por elas. Sendo assim o matrimônio de um homem e de uma mulher é uma união sem deixar de serem duas pessoas individuais, que passam a formar uma unidade nova entre ambos.
O texto de Gênesis 2.24 diz claramente que um homem deixará seu pai e sua mãe, e fará isso com vistas a uma união mais íntima e mais perene, isto é, “e se unirá a sua esposa, e os dois serão uma só carne”; sim, “já não são duas carnes, e, sim, uma só”, diz o Senhor Jesus[15]. O casamento é a inauguração de uma união permanente ou indissolúvel, de modo que o divórcio não deve ser cogitado[16]. Alguns, lamentavelmente se casam pensando na possibilidade do divórcio. Tal atitude é uma tragédia e um pensamento não bíblico sobre o casamento. Cristãos deveriam pensar de forma bíblica.

4. UNIÃO FEITA POR DEUS:
“Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (v.6: ὁ θεὸς συνέζευξεν ἄνθρωπος μὴ χωριζέτω = Deus tem unido um homem não separe).
A palavra grega συνέζευξεν está na terceira pessoa do singular do aoristo primeiro do indicativo na voz ativa do verbo sudzeúphnumi, composto com “sun” “com” e “dzugós” “jugo”, literalmente “colocar o jugo”, usado para referir-se ao matrimônio. Ou seja, o matrimonio é um jugo colocado sobre ambos, homem e mulher. É uma responsabilidade do homem e da mulher manterem o casamento até que a morte os separe.
Notamos a obra de Deus no casamento. A criação de um homem e uma mulher e o casamento são obras de Deus. As palavras do Senhor Jesus nos revelam três grandes verdades da ação de Deus. Vejamos o que nos ensinam os versículos 4 a 6.
(1) O Criador fez homem e mulher: “Não tendes lido que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher” (v.4).
Adão é Eva foram criados por Deus e Ele sabe o que é melhor para ambos. O casamento foi uma dádiva maravilhosa do Criador para este homem e esta mulher. Qualquer tentativa de destruir, diluir, mudar, desconfigurar ou manipular o casamento é obra de demônios pela hipocrisia dos mentirosos.
Paulo escreveu que alguns estariam se apostando “da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras, e que têm cauterizado a própria consciência, que proíbem o casamento [...]” (1Tm 4.1-3).

(2) O Criador disse (ou abençoou): “e que disse [καὶ εἶπεν]: Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne?” (v.5).
Pelo contexto o sujeito do verbo eipon é Deus. Mesmo que Gênesis 2.24, estas palavras foram pronunciadas por Adão ou possam ser uma reflexão do autor do relato (Moisés – Deus), todavia em ambos os casos são expressão da vontade de Deus[17]. Se o servo de Deus disse (Adão) ou relatou (Moisés) é porque Deus disse!

(3) O Criador ajuntou/uniu: “Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem” (v.6).
Deus foi o sublime Pai que trouxe Sua filha Eva ao Seu filho Adão para que este a recebesse como sua esposa e companheira idônea. Foi Deus que ajuntou um homem e uma mulher para viver uma extraordinária história de amor e paixão.
Portanto, o que Deus uniu o homem não separe. Isso evidencia que o Senhor Jesus considerava o casamento uma união sagrada entre um homem e uma mulher, estabelecida por Deus e firmada diante d’Ele.
Então, o compromisso do casamento não é apenas um contrato humano: é um jugo Divino (Mt 19.6: ὁ θεὸς συνέζευξεν = “o que Deus ajuntou”, ou seja, o que Deus tem posto como um jugo – literalmente). Deus não coloca esse jugo sobre o par casado por meio da criação de uma espécie de união mística, mas sim, pela declaração de Seu propósito em Sua Palavra.

FOI DEUS!
Foi Deus quem possibilitou essa união (Gn 1.27); foi Deus também quem deu o mandamento: “Sejam frutíferos” (Gn 1.28). Foi Ele, igualmente, quem disse: “Não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei unia auxiliadora que lhe seja idônea”’ (Gn 2.18). Foi Deus também quem trouxe Eva a Adão. para que fosse a esposa deste (Gn 2.22). Aliás, por todos os ângulos, foi Deus quem estabeleceu o matrimônio como uma instituição divina (Gn 2.24; Mt 19.5,6). Portanto, na verdade o matrimônio é “um estado muito honroso”. Por isso, que o homem não separe o que Deus juntou![18]

5. UMA UNIÃO RECONHECIDA:
“por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher” (v.5: Ἕνεκα τούτου καταλείψει ἄνθρωπος τὸν πατέρα καὶ τὴν μητέρα καὶ κολληθήσεται τῇ γυναικὶ αὐτοῦ = a causa de isto deixará o homem ao pai e a mãe e ficará unido a mulher de ele).
A quinta verdade sobre o casamento que pontuamos em nosso estudo é que o casamento é uma união reconhecida. Podemos afirmar que é uma união legal. O casamento precisa ser legalizado. Ele precisa ser oficializado diante da sociedade e da igreja local.
Deixar os vínculos familiares anteriores (pai e mãe), na dimensão em que estavam estabelecidos antes do matrimônio, serve para que de agora em diante o homem se una a sua mulher. Isso é uma união absoluta e total em todos os aspectos da vida, desde as relações íntimas, até ao companheirismo no trabalho, na convivência, na criação dos filhos e no diálogo entre eles. É uma união extraordinária e abençoada por Deus!

Legalidade e cerimônia
Entendo que as expressões “deixará... pai e mãe” e “unirá a sua mulher” são evidências escriturísticas de que o casamento é um incidente que precisa de reconhecimento público. Ou seja, o casamento deve ser feito de forma pública e legal. Casamentos sem reconhecimento cível ou religioso não são válidos. Creio que precisa ter até mesmo uma cerimônia encenado o exemplo do Criador quando trouxe Eva para Adão e este a recebeu e uniu-se a ela em aliança.
Compreendo que a Bíblia na estabelece uma fórmula prescritiva para a celebração do matrimônio, apenas considera o compromisso voluntário de um homem e de uma mulher para viver juntos no estado de casados como Deus instituiu. No entanto, são as autoridades civis que regulamentam a celebração tornando-a legal. O crente está obrigado à obediência ao poder civil e suas leis (cf. Rm 13.1ss). Os governantes regulam o aspecto da celebração e requisitos dos matrimônios (documentos e etc.), por delegação Divina (cf. Rm 13.1-2). É claro que as leis civis não podem ser incompatíveis com a Lei Divina.

E os pais?
As unidades familiares em que o homem e a mulher eram membros, agora, no casamento, deixam de ser para cada um deles e ambos passam a formar uma nova unidade familiar, reconhecida visivelmente diante do resto da sociedade. Claro que isso não significa que os laços paternais fiquem eliminados, pois os filhos seguem devendo respeito aos seus progenitores (cf. 1Tm 5.4).

6. UMA UNIÃO DE INTERDEPENDÊNCIA
“De modo que já não são mais dois, porém uma só carne” (v.6: ὥστε οὐκέτι εἰσὶν δύο ἀλλὰ σὰρξ μία = De modo nunca mais são dois senão carne uma só).
A consequência do que Deus tem determinado para o matrimônio, a união voluntária entre um homem e uma mulher se converte numa nova união vitalícia, hoste oukéti eisín dúo (“De modo que já não são mais dois”) deixando de ser “dois” no sentido de “independência”, para vir a ser alla sàrcs mía (“porém uma só carne”), “um” (mía) no sentido de unidade matrimonial de interdependência.

7. UMA UNIÃO PARA TODA A VIDA
“o que Deus ajuntou não o separe o homem” (v.6: ὃ οὖν ὁ θεὸς συνέζευξεν ἄνθρωπος μὴ χωριζέτω = Deus há unido um homem não separe).
O Senhor Jesus considera o casamento uma união indissolúvel, uma união até que a morte separe, uma instituição que sendo ordenada por Deus, deve ajustar-se ao pensamento de unidade que Deus tinha para ela no princípio.
Entendemos pelo ensino do Senhor Jesus que o casamento é o resultado de uma decisão voluntária de união entre um homem e sua mulher, conforme estabelecido por Deus (Gn 2.24). Essa união se realiza conforme a aprovação de Deus (o casamento é vontade de Deus e Ele o instituiu) e em Sua presença, portanto, Deus mesmo vem para ser Testemunha e garantir a aliança matrimonial (Ml 2.13-14). Como Testemunha da aliança matrimonial, Deus se converte em Seu abençoador e protetor contra aqueles que pretendem rompê-lo. Ele deseja que todo casamento, que é por Ele testemunhado, dure por toda a vida. Lamentamos que a dureza do coração das pessoas tenha se erguido contra o ideal de Deus, mas, como disse Jesus, no princípio não foi assim!

Advertência final!
Que a nossa atitude não seja como a dos fariseus que haviam se acostumado tanto a falar do divórcio que se descuidavam do matrimônio, que mesmo depois do Senhor Jesus ter explicado a intenção do Criador recusaram a aceitar de coração a exposição que o Senhor Jesus fez de Gênesis 1.27 e 2.24.
Lamentavelmente, muitos hoje em dia não se submetem às Escrituras, mas querem impor suas próprias opiniões sobre o casamento e sobre o divórcio. Não sejamos tolos em negligenciar o claro ensino do Senhor e de Seus apóstolos (e das demais Escrituras) sobre importantes temas, enfatizando o que o Senhor Jesus pontou – o valor inestimável do casamento. Lutemos por aquilo que o Senhor Jesus esclareceu – o casamento como ideal Divino; e rejeitamos a posição farisaica que buscava coisas ínfimas para separar o que Deus juntou.

Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini



[1] ADAMS, Jay. Casamento, Divórcio e Novo Casamento na Bíblia: Novo exame do que a Bíblia ensina, p.61. São Paulo, SP, Brasil: PES, 2012. – (1a Edição 1986).
[2] CARSON, D. A. O Comentário de Mateus, p.479. São Paulo, SP, Brasil: Shedd Publicações, 2010.
[3] MILLOS, Samuel Perez. Comentario Exegético Al Texto Griego del Nuevo Testamento, p.1259. Viladecavalls, Barcelona, España: Editorial CLIE, 2009.
[4] ERDMAN, Carlos R. Una Exposición del Evangelio de Mateo, p.107. – (versão em PDF).
[5] MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo MacArthur, p.1241. Barueri, SP, Brasil: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
[6] TASKER, R. V. G. O Evangelho Segundo Mateus: Introdução e Comentário, p.143. São Paulo, SP, Brasil: Mundo Cristão, 1980. – (Série Cultura Bíblica).
[7] TASKER, 1980, p.143.
[8] KÖSTENBERGER, Andreas J. Deus, Casamento e Família: Reconstruindo o Fundamento Bíblico, p.234-235. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 2011.
[9] SPROUL, R. C. Casamento com Intimidade, p.79. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Textus, 2001.
[10] Lamento que alguns escritores tenham tratado do assunto sem considerar todos os textos sobre o assunto. Cf. PIPER, John em Pacto Matrimonial: Perspectiva Temporal y Eterna, p.153-174. Tydale Español, 2009. Em sua defesa do não-divórcio, mesmo por infidelidade conjugal, Piper não discorrer sobre Mateus 19, mas apenas trata do assunto em Marcos e Lucas, negligenciando a “cláusula excetiva” (Mt 19.9).
[11] STOTT, John. Grandes Questões Sobre Sexo, p.78-79. Niterói, RJ, Brasil: Vinde, 1993.
[12] KÖSTENBERGER, 2011, p.22.
[13] KÖSTENBERGER, 2011, p.36-37.
[14] SCOBIE, Charles H. H. The Ways of Our God: An Approch to Biblical Theology, p.807. Grand Rapids/Cambridge: Eerdmans, 2003.
[15] HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Exposição de Mateus, vol.2, p.301. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã, 2001.
[16] MACARTHUR, 2010, p. 20. Nota de Gênesis 2.24.
[17] BONNET, Luis. & SCHROEDER, Alfredo. Comentario del Nuevo Testamento: Evangelios Sinopticos, Tomo 1, p.224. Casa Bautista de Publicaciones.
[18] HENDRIKSEN, 2001, p.302.

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