Exposição Sobre Mateus 19
Texto grego:
1 Καὶ ἐγένετο ὅτε ἐτέλεσεν ὁ Ἰησοῦς τοὺς λόγους τούτους,
μετῆρεν ἀπὸ τῆς Γαλιλαίας καὶ ἦλθεν εἰς τὰ ὅρια τῆς Ἰουδαίας πέραν τοῦ Ἰορδάνου.
2 καὶ ἠκολούθησαν αὐτῷ ὄχλοι πολλοί, καὶ ἐθεράπευσεν
αὐτοὺς ἐκεῖ.
3 Καὶ προσῆλθον αὐτῷ Φαρισαῖοι πειράζοντες αὐτὸν
καὶ λέγοντες, Εἰ ἔξεστιν ἀνθρώπῳ ἀπολῦσαι τὴν γυναῖκα αὐτοῦ κατὰ πᾶσαν αἰτίαν;
4 ὁ δὲ ἀποκριθεὶς εἶπεν, Οὐκ ἀνέγνωτε ὅτι ὁ κτίσας
ἀπ’ ἀρχῆς ἄρσεν καὶ θῆλυ ἐποίησεν αὐτούς;
5 καὶ εἶπεν, Ἕνεκα τούτου καταλείψει ἄνθρωπος τὸν
πατέρα καὶ τὴν μητέρα καὶ κολληθήσεται τῇ γυναικὶ αὐτοῦ, καὶ ἔσονται οἱ δύο εἰς
σάρκα μίαν.
6 ὥστε οὐκέτι εἰσὶν δύο ἀλλὰ σὰρξ μία. ὃ οὖν ὁ θεὸς
συνέζευξεν ἄνθρωπος μὴ χωριζέτω.
7 λέγουσιν αὐτῷ, Τί οὖν Μωϋσῆς ἐνετείλατο δοῦναι
βιβλίον ἀποστασίου καὶ ἀπολῦσαι [αὐτήν];
8 λέγει αὐτοῖς ὅτι Μωϋσῆς πρὸς τὴν σκληροκαρδίαν ὑμῶν
ἐπέτρεψεν ὑμῖν ἀπολῦσαι τὰς γυναῖκας ὑμῶν, ἀπ’ ἀρχῆς δὲ οὐ γέγονεν οὕτως.
9 λέγω δὲ ὑμῖν ὅτι ὃς ἂν ἀπολύσῃ τὴν γυναῖκα αὐτοῦ
μὴ ἐπὶ πορνείᾳ καὶ γαμήσῃ ἄλλην μοιχᾶται.
10 λέγουσιν αὐτῷ οἱ μαθηταὶ [αὐτοῦ], Εἰ οὕτως ἐστὶν
ἡ αἰτία τοῦ ἀνθρώπου μετὰ τῆς γυναικός, οὐ συμφέρει γαμῆσαι.
11 ὁ δὲ εἶπεν αὐτοῖς, Οὐ πάντες χωροῦσιν τὸν λόγον
[τοῦτον], ἀλλ’ οἷς δέδοται.
12 εἰσὶν γὰρ εὐνοῦχοι οἵτινες ἐκ κοιλίας μητρὸς ἐγεννήθησαν
οὕτως, καὶ εἰσὶν εὐνοῦχοι οἵτινες εὐνουχίσθησαν ὑπὸ τῶν ἀνθρώπων, καὶ εἰσὶν εὐνοῦχοι
οἵτινες εὐνούχισαν ἑαυτοὺς διὰ τὴν βασιλείαν τῶν οὐρανῶν. ὁ δυνάμενος χωρεῖν
χωρείτω.
UMA ATITUDE BÍBLICA COM RELAÇÃO AO DIVÓRCIO
Contrariamente a algumas opiniões, o conceito de
divórcio é BÍBLICO. Então, não é bíblico você dizer que o divórcio não é
bíblico, pois ele é! A Bíblia reconhece e regulamenta o divórcio (mas, não
exige, encoraja ou incentiva – fique claro isso desde o início!). Foram feitas
certas provisões para essa prática. Essa verdade deve ser afirmada clara,
pastoral e teologicamente e sem hesitação. Visto que o divórcio é um conceito
bíblico, ao qual se faz frequente referência nas páginas da Bíblia, os cristãos
deverão fazer tudo o que puderem para entender e ensinar o que Deus, em Sua
Palavra, diz a respeito do assunto. Além, disso, requer-se que a igreja e os
pastores aplique a casos individuais os princípios escriturísticos relacionados
com o divórcio[1].
Então, fique estabelecido que a Bíblia não fica em
silêncio sobre o divórcio, nem condena indiscriminadamente o divórcio, sempre,
em todas as circunstâncias e quanto a todos os casos. Ela regulamenta, permite
e limita o divórcio! Conceder ou permitir uma prática não é o mesmo que
originá-la, estabelecê-la ou instituí-la.
DIVÓRCIO
Particularmente
entendo que o assunto que hora vamos tratar é de suma importância para a saúde
das famílias e da igreja local. Objetivamos entender o que o Senhor Jesus
ensinou sobre o casamento, divórcio e a possibilidade do novo casamento.
Estamos cientes da magnitude do assunto. Todavia, entendemos que o assunto foi
tratado claramente pelo Senhor Jesus. Para mim o Senhor Jesus foi muito claro
sobre o divórcio. O divórcio é uma concessão divinamente regulamentada (Dt 24)
do ideal do Criador (Gn 1.27; 2.24) que o nosso Senhor o permitiu, mas não
exigiu ou incentivou, unicamente entre crentes no caso de imoralidade sexual
(Mt 5.31-32; 19.9). O divórcio de um casal com um dos cônjuges descrente é
norteado por Paulo (1Co 7).
Vamos entender
o assunto conforme nos é apresentado no Evangelho do Senhor Jesus Segundo Mateus capítulo 19. Claro, se
necessário para esclarecer alguns pontos, poderemos recorrer aos outros textos
que falam da temática.
A PERGUNTA DOS FARISEUS: Εἰ ἔξεστιν ἀνθρώπῳ ἀπολῦσαι τὴν γυναῖκα αὐτοῦ κατὰ πᾶσαν αἰτίαν.
3: Vieram a Ele alguns fariseus e o experimentaram,
perguntando: É lícito ao marido repudiar a sua mulher por qualquer motivo?
(ARA)
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3 Καὶ προσῆλθον
αὐτῷ Φαρισαῖοι πειράζοντες αὐτὸν καὶ λέγοντες, Εἰ ἔξεστιν ἀνθρώπῳ ἀπολῦσαι
τὴν γυναῖκα αὐτοῦ κατὰ πᾶσαν αἰτίαν; (TC)
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Mateus descreve o incidente que deu
origem ao ensino do Senhor Jesus sobre o divórcio.
Diferentes de
muitos que necessitavam do amor gracioso de Cristo Jesus, os fariseus sempre
aparecem no Evangelho de Mateus pondo Jesus à prova e opondo-se a Ele de alguma
forma (cf. 12.2; 14.24,38; 15.1; 16.1; 19.3; 22.15,34,35)[2].
Eles não tinham nenhum interesse pelo Senhor Jesus, mas buscavam motivos contra
Ele[3].
Comentaristas
acreditam que a pergunta dos fariseus objetivava coloca o Senhor Jesus em maus-lençóis
com o rei Herodes para que tivesse o mesmo destino de João Batista. Isso pode
ser possível pelo contexto, pois Jesus estava na região desde rei.
Há pessoas que
querem acabar com o Jesus bíblico. Elas preferem um Jesus que massageie o ego e
as permita viver uma vida sem arrependimento. Mas o Jesus bíblico não se curva
ante a pressão dos grupos, Ele sempre permanece firme nos desígnios soberanos.
Diferentemente
dos fariseus nossa atitude deve ser de aprendizado aos pés de Jesus Cristo. Os
fariseus se aproximaram para tentar o Senhor sobre o assunto do divórcio, nós,
porém, devemos nos aproximar para aprender e sermos agraciados por Seus
ensinamentos.
Divorciar por qualquer motivo? κατὰ πᾶσαν αἰτίαν.
Preposição katà, “por”, acompanhado
do adjetivo pãsan, que equivale a toda, aqui traduzido como uma expressão
genérica equivalente a “qualquer”. Aitían,
substantivo que denota “acusação,
cargo, delito, condição”, que como “causa”, em sentido de algo que se pode “reprovar”
ou “acusar”.
Os estudiosos[4]
estão de acordo, pois há evidências escriturística para isso, que os rabinos da
época de Jesus estavam divididos em suas opiniões acerca do ensino sobre o
divórcio refletido em Deuteronômio 24;
uns seguindo o rabino Shamai sustentavam que o divórcio era permitido somente
pela infidelidade conjugal. Outros, como o rabino Hillel, defendiam que o
divórcio era justificável por qualquer motivo.
Possivelmente,
os fariseus abraçavam a abordagem mais popular e liberal de Hillel por ser
“amplamente pragmática, e permitiam que um homem se divorciasse de sua mulher
indiscriminadamente”[5].
Jesus volta-se para as Escrituras!
Esse deve ser a
atitude correta de todo pastor e conselheiro no que concerne ao divórcio.
Voltar-se às Escrituras e procurar entender o que elas diz sobre o assunto.
Qualquer opinião que não se baseia nas Escrituras deve ser descartada. Vamos
nos ater ao claro ensino do Senhor Jesus e dos Seus apóstolos!
Jesus não
respondeu diretamente, mas a subsequente narrativa implica em que, com efeito,
a resposta do Senhor foi: “se quereis dizer “algum” motivo, Minha resposta é
SIM; “se quereis dizer por todo e qualquer” motivo, Minha responsa é NÃO”[6].
Nosso Senhor
primeiramente demonstra o ideal divino. Ele volta-se para as Escrituras
mostrando que o propósito do Criador em criam dois sexos (macho e fêmea) era
que a solidariedade, a estabilidade e a felicidade da raça humana tivessem como
fundamento a união física do homem e da mulher. Tal união é parte essencial do
plano do Criador e deveria ser mantida a qualquer custo e com todos os esforços
possíveis (pelo perdão, reconciliação e restauração). As tentativas de frustrar
o casamento, quer pela estrega às relações sexuais promíscuas, quer pelo
ascetismo e celibato forçado, quer por perversões do uso natural, quer por
tentativas de romper casamentos onde a unidade que Deus tem em mente está sendo
realizada, são todas contrárias à vontade Divina (Mt 19.6)[7].
Vamos elencar
algumas lições da resposta do Senhor Jesus. Mesmo que eu esteja falando sobre o
divórcio neste estudo, não posso deixar de apreciar a observação do Senhor
Jesus sobre o casamento permanente como o ideal Divino.
A RESPOSTA DO SENHOR JESUS
4: Então, respondeu Ele: Não tendes lido que o Criador, desde o
princípio, os fez homem e mulher.
5: e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se
unirá a sua mulher; tornando-se os dois uma só carne?
6: De modo que já não são mais dois, porém uma só carne.
Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem.
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4:
ὁ δὲ ἀποκριθεὶς εἶπεν, Οὐκ ἀνέγνωτε ὅτι ὁ κτίσας ἀπ’ ἀρχῆς ἄρσεν καὶ
θῆλυ ἐποίησεν αὐτούς;
5: καὶ εἶπεν,
Ἕνεκα τούτου καταλείψει ἄνθρωπος τὸν πατέρα καὶ τὴν μητέρα καὶ κολληθήσεται
τῇ γυναικὶ αὐτοῦ, καὶ ἔσονται οἱ δύο εἰς σάρκα μίαν.
6: ὥστε οὐκέτι
εἰσὶν δύο ἀλλὰ σὰρξ μία. ὃ οὖν ὁ θεὸς συνέζευξεν ἄνθρωπος μὴ χωριζέτω.
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Jesus demonstra
que a Palavra de Deus e não as opiniões humanas é que tem o veredito sobre o
divórcio. Ele retorna como já escrevi acima, para as Escrituras revelando o
plano de Deus de um casamento permanente e até mesmo indissolúvel. Aqui, nós
devemos entender uma lição importante que o Senhor Jesus quer nos ensinar para
entender o divórcio, nós precisamos primeiramente entender o casamento. Deus
ama o casamento, mas odeia o divórcio. Essa é uma expressão geral sobre o
assunto.
Embora, como
veremos, a lei mosaica incluísse prescrições que regulamentavam o divórcio (Dt
24), o Antigo Testamento deixa claro que o divórcio fica aquém do ideal de
Deus. Lemos em Malaquias 2.16: “Porque
o SENHOR, Deus de Israel, diz que odeia o repúdio e também aquele que cobre de
violência as suas vestes, diz o SENHOR dos Exércitos; portanto, cuidai de vós
mesmos e não sejais infiéis”. Deus considera o divórcio sem justificativa um
pecado hediondo que deixa marcas terríveis, sendo também uma clara rebelião
contra Seu ideal. Yahweh exorta a todo homem a não ser infiel para com a mulher
da sua mocidade (Ml 2.15). Lutemos para manter o ideal divino!
Então, neste
ponto, o Senhor Jesus levou Seus ouvintes de volta ao princípio e lembrou-os de
que Deus havia criado os seres humanos macho e fêmea (Gn 1.27) e estipulado
que, ao se casar, o homem deixasse pai e mãe e se unisse à sua esposa (2.24)
como uma só carne diante de Deus, uma união que não devia ser rompida: “Assim,
não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu o homem não
separe” (Mt 19.4-6; Mc 10.6-9)[8].
Quando o Senhor
Jesus levou os fariseus (e os demais ouvintes e a nós também) a lembrar-se do
que o Criador fez, Ele obriga-os “a considerarem o assunto a partir do contexto
bíblico total. Eles tinham isolado e retirado a lei mosaica da estrutura mais
abrangente que Deus pretendeu criar ao instituir o casamento”[9].
Com efeito, o Senhor Jesus estava dizendo: “Se existe ambiguidade na lei de
Moisés, deixem que as implicações que vocês fazem sejam governadas pelo que
Deus falou claramente na criação”[10].
Jesus endossou a estabilidade do casamento
Antes de entrar
no assunto do divórcio (o interesse dos fariseus) nosso Senhor chamou a atenção
deles para dois fatos (o interesse de Deus), a saber: (1) que a sexualidade humana era criação Divina, (2) que o casamento era ordem Divina.
Ele ligou dois textos (Gn 1.17 e 2.24) e fez Deus o Autor de ambos. O mesmo
Criador que “no começo [...] homem e mulher os criou”, também diz (no texto
bíblico): “Por isso deixe o homem pai e mãe, e se uma à sua mulher, tornando-se
os dois uma só carne”. “De modo que” – prosseguiu Jesus, acrescentando Sua
afirmação explanatória – “já não são mais dois, porém uma só carne”. E
acrescentou Sua própria proibição: “O que Deus ajuntou, não separe o homem”[11].
O ENSINO DO SENHOR JESUS SOBRE O CASAMENTO
É de grande
valia entender o que o Senhor Jesus postulou sobre o casamento tal como
ordenado pelo Criador. Jesus, como vimos, volta-se ao princípio e elenca
algumas verdades que são dignas de nota. Vejamos algumas verdades sobre o
casamento tal como foi planejado e determinado pelo Criador.
Vou postular o
casamento como uma união. Que tipo de união é o casamento conforme o ensino do
Senhor Jesus?
1. UNIÃO DE DOIS SEXOS DISTINTOS QUE SE
COMPLEMENTAM
“o Criador,
desde o princípio, os fez homem e mulher”; “o Criador os fez macho e
fêmea” (v.4: ἀπ’ ἀρχῆς ἄρσεν καὶ θῆλυ ἐποίησεν αὐτούς = desde princípio homem
e mulher fez a eles).
A palavra grega
arsen é um substantivo que denota
“macho”, e se traduz como “homem” e como “varão” em distintos lugares no Novo
Testamento.
O grego thêlu é um substantivo que equivale “fêmea”,
traduzido também como “mulher”.
Então, o
casamento é uma união entre dois sexos: feminino e masculino. O homem e a
mulher são distintos, todavia se complementam. A Bíblia não aceita a união
entre duas pessoas do mesmo sexo: arsen
com arsen ou thêlu com thêlu. O claro
ensino bíblico é que um homem e uma mulher, feitos por Deus, o Criador, se unam
em casamento.
A raça humana
criada por Deus constituísse de dois elementos: homem e mulher: “Criou Deus,
pois, o homem [humanidade] à Sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher
os criou” (Gn 1.27); “[...] No dia em que Deus criou o homem [humanidade], à
semelhança de Deus o fez; homem e mulher os criou, e os abençoou [...]” (Gn
5.1-2). Deus abençoa uma humanidade que respeita essa diferença sexual. Há,
sim, uma diferença de gênero entre a humanidade e essa foi feita pelo Criador.
Casamento é
heterossexual. “Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e sua unirá à sua
mulher”. A união homossexual está frontalmente contrária ao propósito de Deus.
A
homossexualidade priva os filhos que vivem em lares com parceiros do mesmo sexo
dos principais modelos de ambos os sexos e é incapaz de cumprir os propósitos
criadores de Deus para a união conjugal.
A confusão de
papéis dos sexos também tem se tornado uma questão cada vez mais séria. Muitos
homens e mulheres não têm mais conceitos de masculinidade e feminilidade e,
como resultado, perderam completamente a identidade de seres humanos conforme
Deus nos criou, isto é, homem (macho) e mulher (fêmea). O sexo não determina
apenas o formato de nossos órgãos sexuais; antes, faz parte de todo nosso ser[12].
2. UNIÃO MONOGÂMICA:
“e se unirá a
sua mulher”; “e se unirá a sua esposa” (v.5: καὶ κολληθήσεται τῇ γυναικὶ αὐτοῦ = e ficará unido a mulher de ele).
A palavra grega
kollethêsetai é a terceira pessoal
singular do futuro do indicativo na voz passiva do verbo kalláõ que significa “unir, apegar-se, unir fortemente, colar”,
aqui no texto como “ficar unido”. Há manuscritos gregos que trazem a variante
textual proskolláõ, que expressa a ideia
de aderir/unir fortemente, ou seja, “ficar apegado inseparavelmente”.
A segunda
verdade sobre o casamento é que o mesmo é a união entre um só homem com uma só
mulher. Deus fez um homem para uma mulher e uma só mulher para um só
homem. Deus não fez vários Adãos para uma única Eva; e também não fez várias
Evas para um único Adão. Deus fez um
único Adão e uma única Eva e os
uniu em matrimonio.
Não temos
dúvidas quanto às palavras do Senhor Jesus enfatizar o casamento monogâmico
permanente.
A questão da Queda
As Escrituras
dão testemunho de que a queda alterou o relacionamento conjugal para sempre, no
entanto o ideal de Deus para o casamento, articulado em Gênesis 1–2, continua a definir o padrão para as responsabilidades
de maridos e mulheres uns com os outros na história subsequente da humanidade.
Entendemos que por causa do pecado o ideal Divino de casamento foi corrompido
pela poligamia, divórcio, adultério, homossexualidade, esterilidade e pela falta
de diferenciação dos papéis de cada um. A Redenção em Cristo Jesus nos traz as
boas novas (gr. εὐαγγελίου = euangeliou) de que pela morte e ressurreição de
Jesus Cristo o ideal Divino está sendo restaurado na vida de todo aquele que
crê conforme estamos sendo renovados a cada dia no homem interior (cf. Rm 8.29;
2Co 3.18; Cl 3.10 e etc.).
Mesmo depois da
queda, o plano que Deus definira para o casamento na criação continuou a servir
como norma e padrão das expectativas de Deus para os relacionamentos entre
homens e mulheres. Não é um texto isolado, por exemplo, sobre a poligamia ou
qualquer outro, que deve reger nosso entendimento sobre o ideal divino para o
casamento. Mas devemos procurar entender todo o progresso da revelação
recorrendo a palavra final de Deus por meio de Jesus Cristo e de Seus
apóstolos. Não devemos nos apoiar apenas num texto isolado do seu contexto
maior e teológico.
Para efeito de
estudo, Andreas Köstenberger elenca
seis violações do ideal divino para o casamento articulado em Gênesis 1 e 2, e que foi corrompido em Israel.
(1) A poligamia (ou, mais precisamente,
poliginia) violava a norma divina de monogamia conjugal;
(2) O divórcio rompia a durabilidade e
permanência do casamento;
(3) O adultério violava o vínculo
sagrado entre um homem e uma mulher que haviam assumido um compromisso de
fidelidade;
(4) A homossexualidade desenvolvia um
comportamento anômalo contrário à norma divina de casamento heterossexual;
(5) A esterilidade se tornava um
problema que destituía o casamento da fertilidade característica do plano
original de Deus; e
(6) A deterioração das diferenças entre os
sexos violava a complementariedade entre eles, um aspecto essencial e
fundamental do plano de Deus[13].
O ideal de Deus para o casamento sempre foi
monogâmico.
Afirmar que a
Escritura do Antigo Testamento não revela que a vontade de Deus seja a
monogamia, a união de um único homem com uma única mulher, é ignorar o claro
ensino da Palavra de Deus. Ensinar tais conclusões é pura eisegese. É não ler e
entender o que ensina a palavra de Deus.
O escritor Charles H. H. Scobie demonstra que o
ideal de casamento monogâmico é definido no Pentateuco (Gn 2.24), pressuposto
na Lei (Dt 28.54,56) e nos profetas (Jr 5.8; 6.11; Ml 2.14) e defendido na
literatura sapiencial (Pv 5.18; 31.10-31; Ec 9.9)[14].
3. UNIÃO MONOSSOMÁTICA:
“tornando-se os
dois uma só carne”; “e os dois serão uma só carne” (v.5: καὶ ἔσονται οἱ δύο εἰς σάρκα μίαν
= e serão os dois uma carne só).
O Criador instituiu
também o casamento como uma união indisolúvel do marido e da mulher em forma
definitiva, com Sua autoridade, καὶ εἶπεν = kaí eipen,
“e disse”.
A palavra usada
por Mateus, kollêthêsetai, “ficará
unido”; “se unirá”, indica uma unidade semelhante de dois objetos colados, isto
é, unidos um ao outro de tal maneira que forma uma unidade de duas peças
inseparáveis. Separar as duas peças é destruir o objeto formado por elas. Sendo
assim o matrimônio de um homem e de uma mulher é uma união sem deixar de serem
duas pessoas individuais, que passam a formar uma unidade nova entre ambos.
O texto de Gênesis 2.24 diz claramente que um
homem deixará seu pai e sua mãe, e fará isso com vistas a uma união mais íntima
e mais perene, isto é, “e se unirá a sua esposa, e os dois serão uma só carne”;
sim, “já não são duas carnes, e, sim, uma só”, diz o Senhor Jesus[15].
O casamento é a inauguração de uma união permanente ou indissolúvel, de modo
que o divórcio não deve ser cogitado[16].
Alguns, lamentavelmente se casam pensando na possibilidade do divórcio. Tal
atitude é uma tragédia e um pensamento não bíblico sobre o casamento. Cristãos
deveriam pensar de forma bíblica.
4. UNIÃO FEITA POR DEUS:
“Portanto, o
que Deus ajuntou não o separe o homem” (v.6: ὁ θεὸς συνέζευξεν ἄνθρωπος μὴ
χωριζέτω = Deus tem unido um homem não separe).
A palavra grega
συνέζευξεν
está na terceira pessoa do singular do aoristo primeiro do indicativo na voz
ativa do verbo sudzeúphnumi, composto
com “sun” “com” e “dzugós” “jugo”, literalmente “colocar o jugo”, usado para
referir-se ao matrimônio. Ou seja, o matrimonio é um jugo colocado sobre ambos,
homem e mulher. É uma responsabilidade do homem e da mulher manterem o
casamento até que a morte os separe.
Notamos a obra
de Deus no casamento. A criação de um homem e uma mulher e o casamento são
obras de Deus. As palavras do Senhor Jesus nos revelam três grandes verdades da
ação de Deus. Vejamos o que nos ensinam os versículos
4 a 6.
(1) O Criador fez homem e mulher: “Não
tendes lido que o Criador desde o princípio os fez homem e mulher” (v.4).
Adão é Eva
foram criados por Deus e Ele sabe o que é melhor para ambos. O casamento foi
uma dádiva maravilhosa do Criador para este homem e esta mulher. Qualquer
tentativa de destruir, diluir, mudar, desconfigurar ou manipular o casamento é
obra de demônios pela hipocrisia dos mentirosos.
Paulo escreveu que alguns estariam se
apostando “da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de
demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras, e que têm cauterizado a
própria consciência, que proíbem o casamento [...]” (1Tm 4.1-3).
(2) O Criador disse (ou abençoou): “e
que disse [καὶ
εἶπεν]: Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua
mulher, tornando-se os dois uma só carne?” (v.5).
Pelo contexto o
sujeito do verbo eipon é Deus. Mesmo
que Gênesis 2.24, estas palavras foram pronunciadas por Adão ou possam ser uma
reflexão do autor do relato (Moisés – Deus), todavia em ambos os casos são
expressão da vontade de Deus[17].
Se o servo de Deus disse (Adão) ou relatou (Moisés) é porque Deus disse!
(3) O Criador ajuntou/uniu: “Portanto,
o que Deus ajuntou não o separe o homem” (v.6).
Deus foi o
sublime Pai que trouxe Sua filha Eva ao Seu filho Adão para que este a
recebesse como sua esposa e companheira idônea. Foi Deus que ajuntou um homem e
uma mulher para viver uma extraordinária história de amor e paixão.
Portanto, o que
Deus uniu o homem não separe. Isso evidencia que o Senhor Jesus considerava o
casamento uma união sagrada entre um homem e uma mulher, estabelecida por Deus
e firmada diante d’Ele.
Então, o
compromisso do casamento não é apenas um contrato humano: é um jugo Divino (Mt
19.6: ὁ
θεὸς συνέζευξεν = “o que Deus ajuntou”, ou seja, o que Deus tem posto
como um jugo – literalmente). Deus não coloca esse jugo sobre o par casado por
meio da criação de uma espécie de união mística, mas sim, pela declaração de
Seu propósito em Sua Palavra.
FOI DEUS!
Foi Deus quem
possibilitou essa união (Gn 1.27); foi Deus também quem deu o mandamento: “Sejam
frutíferos” (Gn 1.28). Foi Ele, igualmente, quem disse: “Não é bom que o homem
esteja só: far-lhe-ei unia auxiliadora que lhe seja idônea”’ (Gn 2.18). Foi
Deus também quem trouxe Eva a Adão. para que fosse a esposa deste (Gn 2.22).
Aliás, por todos os ângulos, foi Deus quem estabeleceu o matrimônio como uma
instituição divina (Gn 2.24; Mt 19.5,6). Portanto, na verdade o matrimônio é
“um estado muito honroso”. Por isso, que o homem não separe o que Deus juntou![18]
5. UMA UNIÃO RECONHECIDA:
“por esta causa
deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher” (v.5: Ἕνεκα τούτου
καταλείψει ἄνθρωπος τὸν πατέρα καὶ τὴν μητέρα καὶ κολληθήσεται τῇ γυναικὶ αὐτοῦ
= a causa de isto deixará o homem ao pai e a mãe e ficará unido a mulher de
ele).
A quinta
verdade sobre o casamento que pontuamos em nosso estudo é que o casamento é uma
união reconhecida. Podemos afirmar que é uma união legal. O casamento precisa
ser legalizado. Ele precisa ser oficializado diante da sociedade e da igreja
local.
Deixar os
vínculos familiares anteriores (pai e mãe), na dimensão em que estavam
estabelecidos antes do matrimônio, serve para que de agora em diante o homem se
una a sua mulher. Isso é uma união absoluta e total em todos os aspectos da
vida, desde as relações íntimas, até ao companheirismo no trabalho, na
convivência, na criação dos filhos e no diálogo entre eles. É uma união
extraordinária e abençoada por Deus!
Legalidade e cerimônia
Entendo que as
expressões “deixará... pai e mãe” e “unirá a sua mulher” são evidências
escriturísticas de que o casamento é um incidente que precisa de reconhecimento
público. Ou seja, o casamento deve ser feito de forma pública e legal.
Casamentos sem reconhecimento cível ou religioso não são válidos. Creio que
precisa ter até mesmo uma cerimônia encenado o exemplo do Criador quando trouxe
Eva para Adão e este a recebeu e uniu-se a ela em aliança.
Compreendo que
a Bíblia na estabelece uma fórmula prescritiva para a celebração do matrimônio,
apenas considera o compromisso voluntário de um homem e de uma mulher para
viver juntos no estado de casados como Deus instituiu. No entanto, são as
autoridades civis que regulamentam a celebração tornando-a legal. O crente está
obrigado à obediência ao poder civil e suas leis (cf. Rm 13.1ss). Os
governantes regulam o aspecto da celebração e requisitos dos matrimônios
(documentos e etc.), por delegação Divina (cf. Rm 13.1-2). É claro que as leis
civis não podem ser incompatíveis com a Lei Divina.
E os pais?
As unidades
familiares em que o homem e a mulher eram membros, agora, no casamento, deixam
de ser para cada um deles e ambos passam a formar uma nova unidade familiar,
reconhecida visivelmente diante do resto da sociedade. Claro que isso não
significa que os laços paternais fiquem eliminados, pois os filhos seguem devendo
respeito aos seus progenitores (cf. 1Tm 5.4).
6. UMA UNIÃO DE INTERDEPENDÊNCIA
“De modo que já
não são mais dois, porém uma só carne” (v.6: ὥστε οὐκέτι εἰσὶν δύο ἀλλὰ σὰρξ μία = De modo nunca mais são dois senão carne uma só).
A consequência
do que Deus tem determinado para o matrimônio, a união voluntária entre um
homem e uma mulher se converte numa nova união vitalícia, hoste oukéti eisín dúo (“De modo que já não são mais dois”)
deixando de ser “dois” no sentido de “independência”, para vir a ser alla sàrcs mía (“porém uma só carne”),
“um” (mía) no sentido de unidade
matrimonial de interdependência.
7. UMA UNIÃO PARA TODA A VIDA
“o que Deus
ajuntou não o separe o homem” (v.6: ὃ οὖν ὁ θεὸς συνέζευξεν ἄνθρωπος μὴ χωριζέτω
= Deus há unido um homem não separe).
O Senhor Jesus
considera o casamento uma união indissolúvel, uma união até que a morte separe,
uma instituição que sendo ordenada por Deus, deve ajustar-se ao pensamento de
unidade que Deus tinha para ela no princípio.
Entendemos pelo
ensino do Senhor Jesus que o casamento é o resultado de uma decisão voluntária
de união entre um homem e sua mulher, conforme estabelecido por Deus (Gn 2.24).
Essa união se realiza conforme a aprovação de Deus (o casamento é vontade de
Deus e Ele o instituiu) e em Sua presença, portanto, Deus mesmo vem para ser
Testemunha e garantir a aliança matrimonial (Ml 2.13-14). Como Testemunha da
aliança matrimonial, Deus se converte em Seu abençoador e protetor contra
aqueles que pretendem rompê-lo. Ele deseja que todo casamento, que é por Ele
testemunhado, dure por toda a vida. Lamentamos que a dureza do coração das
pessoas tenha se erguido contra o ideal de Deus, mas, como disse Jesus, no
princípio não foi assim!
Advertência final!
Que a nossa
atitude não seja como a dos fariseus que haviam se acostumado tanto a falar do
divórcio que se descuidavam do matrimônio, que mesmo depois do Senhor Jesus ter
explicado a intenção do Criador recusaram a aceitar de coração a exposição que
o Senhor Jesus fez de Gênesis 1.27 e 2.24.
Lamentavelmente,
muitos hoje em dia não se submetem às Escrituras, mas querem impor suas
próprias opiniões sobre o casamento e sobre o divórcio. Não sejamos tolos em
negligenciar o claro ensino do Senhor e de Seus apóstolos (e das demais Escrituras)
sobre importantes temas, enfatizando o que o Senhor Jesus pontou – o valor
inestimável do casamento. Lutemos por aquilo que o Senhor Jesus esclareceu – o
casamento como ideal Divino; e rejeitamos a posição farisaica que buscava coisas
ínfimas para separar o que Deus juntou.
Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini
[1]
ADAMS, Jay. Casamento, Divórcio e Novo
Casamento na Bíblia: Novo exame do que a Bíblia ensina, p.61. São Paulo,
SP, Brasil: PES, 2012. – (1a Edição 1986).
[2]
CARSON, D. A. O Comentário de Mateus,
p.479. São Paulo, SP, Brasil: Shedd Publicações, 2010.
[3]
MILLOS, Samuel Perez. Comentario
Exegético Al Texto Griego del Nuevo Testamento, p.1259. Viladecavalls,
Barcelona, España: Editorial CLIE, 2009.
[4]
ERDMAN, Carlos R. Una Exposición del
Evangelio de Mateo, p.107. – (versão em PDF).
[5]
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo
MacArthur, p.1241. Barueri, SP, Brasil: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
[6]
TASKER, R. V. G. O Evangelho Segundo
Mateus: Introdução e Comentário, p.143. São Paulo, SP, Brasil: Mundo
Cristão, 1980. – (Série Cultura Bíblica).
[7]
TASKER, 1980, p.143.
[8]
KÖSTENBERGER, Andreas J. Deus, Casamento
e Família: Reconstruindo o Fundamento Bíblico, p.234-235. São Paulo, SP,
Brasil: Vida Nova, 2011.
[9]
SPROUL, R. C. Casamento com Intimidade,
p.79. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Textus, 2001.
[10]
Lamento que alguns escritores tenham tratado do assunto sem considerar todos os
textos sobre o assunto. Cf. PIPER, John em Pacto
Matrimonial: Perspectiva Temporal y Eterna, p.153-174. Tydale Español,
2009. Em sua defesa do não-divórcio, mesmo por infidelidade conjugal, Piper não
discorrer sobre Mateus 19, mas
apenas trata do assunto em Marcos e
Lucas, negligenciando a “cláusula excetiva” (Mt 19.9).
[11]
STOTT, John. Grandes Questões Sobre Sexo,
p.78-79. Niterói, RJ, Brasil: Vinde, 1993.
[12]
KÖSTENBERGER, 2011, p.22.
[13] KÖSTENBERGER, 2011, p.36-37.
[14] SCOBIE, Charles H. H. The Ways of Our God: An Approch to Biblical
Theology, p.807. Grand Rapids/Cambridge: Eerdmans, 2003.
[15]
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo
Testamento: Exposição de Mateus, vol.2, p.301. São Paulo, SP, Brasil:
Cultura Cristã, 2001.
[16]
MACARTHUR, 2010, p. 20. Nota de Gênesis 2.24.
[17]
BONNET, Luis. & SCHROEDER, Alfredo. Comentario
del Nuevo Testamento: Evangelios Sinopticos, Tomo 1, p.224. Casa Bautista
de Publicaciones.
[18]
HENDRIKSEN, 2001, p.302.
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