sexta-feira, 2 de junho de 2017

CARÁTER DEFINIDOR DO MINISTÉRIO BÍBLICO

O Caráter Definidor do Ministério

O ministério nos dias de Paulo não era fácil de ser realizado.
Leon Morris fez esta observação:
Talvez nunca houve tão grande variedade de cultos religiosos e sistemas de filosofia como nos dias de Paulo. O Leste e o Oeste se uniram e se mesclaram para produzir uma amálgama de piedade autêntica, princípios morais elevados, superstição grosseira e licenciosidade sórdida. Aquela época se assemelha aos nossos dias, não é verdade? O sincero e o espúrio, o justo e o profano, os trapaceiros e os santos competiam e clamavam pela atenção dos crédulos e dos céticos.

Com base nesse contexto, podemos obter uma ideia sobre o caráter da liderança de Paulo.
Em 1a Tessalonicenses 2, ele exortou os crentes a lembrarem-se do que sabiam a respeito dele — a natureza de seu ministério e de sua liderança.
Paulo argumentou que sua eficácia se fundamentava na sua percepção da pessoa de Deus — e isso definia o caráter de seu ministério.

1. Primeiramente, Paulo confiava no poder de Deus (2.2), para lhe dar tenacidade.
"Apesar de maltratados e ultrajados em Filipos, como é do vosso conhecimento, tivemos ousada confiança em nosso Deus, para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita luta." Isso é tenacidade. A persistência de Paulo estava alicerçada em sua confiança em Deus.
Apesar do ultraje e da degradação pública em Filipos, antes de chegar a Tessalônica, Paulo disse que tivera "ousada confiança em nosso Deus, para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita luta". Isso é o cerne, a alma do ministério! O objetivo do pregador nunca é minimizar o conflito que acompanha o evangelho, visto que este sempre é ofensivo. A marca de um grande líder não é o modo como ele evita o conflito, e sim o modo corajoso como o aceita e o enfrenta.

2. Em segundo, Paulo estava comprometido com a verdade de Deus.
"A nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo" (2.3).
O ministério de Paulo era caracterizado por integridade.
Impureza tem, frequentemente, conotações sexuais. Muitos dos falsos mestres do mundo antigo eram, tal como o são os de nossos dias, marcados por uma vida secreta de pecado sexual repulsivo. Paulo não era um enganador ou um impostor.
"Engano" é sinônimo de embuste. Ele não estava tentando ganhar pessoas em benefício de si mesmo, como o faziam os falsos mestres. Sua integridade estava vinculada à verdade — algo que ele não podia mudar nem abandonar.

3. Em terceiro, Paulo foi comissionado pela vontade de Deus.
"Visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar Ele o evangelho, assim falamos" (1Ts 2.4a).
Em outras palavras, ele entendia que sua autoridade viera de Deus, que lhe confiara a mordomia do evangelho. Paulo foi testado e aprovado por Deus (tempo presente, indicando um algo duradouro).
Ele disse a Timóteo que ordenasse, ensinasse e repreendesse com toda a autoridade; disse a Tito que não se esquivasse disso. O pregador se caracteriza por sua autoridade quando prega o evangelho.

4. Em quarto, Paulo era compelido pela onisciência de Deus.
A onisciência de Deus produziu responsabilidade. "Assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração. A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha" (2.4b-5).
Sob a direta supervisão de Deus (2Tm 4.1), o ministro que serve ao Senhor prestará contas a Ele, um dia (Hb 13.17; 2Tm 4.1ss). E o que acontecerá naquele tempo futuro de recompensas é determinado pelo irresistível senso de responsabilidade que mantemos dia após dia (1Cr 28.9; Ap 2.23).
Talvez você esteja cercado de muitas pessoas às quais presta contas. Mas, se, em seu coração, você perde a batalha da prestação de contas para com Deus, nunca a ganhará na vida diária. A verdadeira batalha é travada no coração e na consciência.

5. Em quinto, Paulo era consumido pela glória de Deus (2.6), resultando em humildade.
Não buscar a glória dos homens é bastante difícil. Como apóstolo de Cristo e alguém que estivera no céu, Paulo poderia ter exigido muitas honras. No entanto, sendo consumido pela glória de Deus, ele não tinha qualquer interesse em buscar glória dos homens.
O próprio Senhor Jesus não buscou glória dos homens (Jo 5.41-42).

6. Paulo era compassivo para com o povo de Deus (2.7-12).
Uma das percepções do âmago do ministério de Paulo que mais nos enriquece é a simpatia do apóstolo. A mais terna e incansável expressão de amor é a de uma mãe para com seu bebê em amamentação — não há reciprocidade maior, intimidade maior, dependência maior. Se você tiver esse sentimento para com a sua igreja, ela suportará muito. Prive-os disso, e eles lutarão incansavelmente contra você. Em muitos casos, quando você começa a ministrar em uma igreja, tem de amamentá-los. Tem de ser paciente e compassivo, sabendo que o crescimento é um processo lento e, às vezes, doloroso.

Como pastor, você precisa anelar por que Cristo seja formado plenamente em seu povo. Há necessidade de paciência, ternura e afeição profunda. É uma tarefa interminável, que envolve noite e dia (2.9).

Paulo concluiu com a analogia de um pai (2.10-12). A parte da mãe é o amor, o cuidado, a ternura, a compaixão; a do pai é a coragem, o caráter moral, o exemplo, a exortação, a instrução. A mãe tem a influência íntima; o pai estabelece o curso a ser seguido, oferece o vigor espiritual e a motivação. Esse é um equilíbrio magnífico.

Conclusão: Quando a tenacidade, a integridade, a autoridade, a responsabilidade, a humildade e a simpatia são as características do ministério, os frutos descritos nos versículos 13-14 se manifestam. A igreja se torna o que deveria ser — uma igreja modelo para a qual outras podem olhar. À medida que somos fiéis em servir da maneira como Paulo exemplificou nesta passagem, nos colocamos numa posição de levar o povo a responder à Palavra de Deus e de conduzir a igreja para que se torna o que ela deveria ser.

John MacArhtur, autor de mais de 150 livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master’s College and Seminary e do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e quatorze netos.



Soli Deo Gloria!

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