O
Caráter Definidor do Ministério
O ministério
nos dias de Paulo não era fácil de ser realizado.
Leon Morris fez esta observação:
Talvez nunca
houve tão grande variedade de cultos religiosos e sistemas de filosofia como
nos dias de Paulo. O Leste e o Oeste se uniram e se mesclaram para produzir uma
amálgama de piedade autêntica, princípios morais elevados, superstição grosseira
e licenciosidade sórdida. Aquela época se assemelha aos nossos dias, não é verdade?
O sincero e o espúrio, o justo e o profano, os trapaceiros e os santos
competiam e clamavam pela atenção dos crédulos e dos céticos.
Com base nesse
contexto, podemos obter uma ideia sobre o
caráter da liderança de Paulo.
Em 1a Tessalonicenses 2, ele
exortou os crentes a lembrarem-se do que sabiam a respeito dele — a natureza de seu ministério e de sua
liderança.
Paulo
argumentou que sua eficácia se fundamentava na sua percepção da pessoa de Deus
— e isso definia o caráter de seu
ministério.
1. Primeiramente, Paulo confiava no poder de Deus (2.2), para lhe dar
tenacidade.
"Apesar de maltratados e ultrajados em
Filipos, como é do vosso conhecimento, tivemos ousada confiança em nosso Deus,
para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita luta." Isso é
tenacidade. A persistência de Paulo estava alicerçada em sua confiança em Deus.
Apesar do
ultraje e da degradação pública em Filipos, antes de chegar a Tessalônica,
Paulo disse que tivera "ousada
confiança em nosso Deus, para vos anunciar o evangelho de Deus, em meio a muita
luta". Isso é o cerne, a alma do ministério! O objetivo do pregador
nunca é minimizar o conflito que acompanha o evangelho, visto que este sempre é
ofensivo. A marca de um grande líder não é o modo como ele evita o conflito, e sim
o modo corajoso como o aceita e o enfrenta.
2. Em segundo, Paulo estava comprometido com a verdade de Deus.
"A nossa exortação não procede de engano, nem
de impureza, nem se baseia em dolo" (2.3).
O ministério de Paulo era caracterizado por
integridade.
Impureza
tem, frequentemente, conotações sexuais. Muitos dos falsos mestres do mundo
antigo eram, tal como o são os de nossos dias, marcados por uma vida secreta de
pecado sexual repulsivo. Paulo não era um enganador ou um impostor.
"Engano"
é sinônimo de embuste. Ele não estava tentando ganhar pessoas em benefício de
si mesmo, como o faziam os falsos mestres. Sua integridade estava vinculada à
verdade — algo que ele não podia mudar nem abandonar.
3. Em terceiro, Paulo foi comissionado pela vontade de Deus.
"Visto que fomos aprovados por Deus, a ponto
de nos confiar Ele o evangelho, assim falamos" (1Ts 2.4a).
Em outras
palavras, ele entendia que sua autoridade viera de Deus, que lhe confiara a
mordomia do evangelho. Paulo foi testado e aprovado por Deus (tempo presente,
indicando um algo duradouro).
Ele disse a
Timóteo que ordenasse, ensinasse e repreendesse com toda a autoridade; disse a
Tito que não se esquivasse disso. O pregador se caracteriza por sua autoridade
quando prega o evangelho.
4. Em quarto, Paulo era compelido pela onisciência de Deus.
A onisciência
de Deus produziu responsabilidade. "Assim
falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração. A verdade é que
nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos
gananciosos. Deus disto é testemunha" (2.4b-5).
Sob a direta
supervisão de Deus (2Tm 4.1), o ministro que serve ao Senhor prestará contas a
Ele, um dia (Hb 13.17; 2Tm 4.1ss). E o que acontecerá naquele tempo futuro de
recompensas é determinado pelo irresistível senso de responsabilidade que
mantemos dia após dia (1Cr 28.9; Ap 2.23).
Talvez você
esteja cercado de muitas pessoas às quais presta contas. Mas, se, em seu
coração, você perde a batalha da prestação de contas para com Deus, nunca a
ganhará na vida diária. A verdadeira batalha é travada no coração e na
consciência.
5. Em quinto, Paulo era consumido pela glória de Deus (2.6), resultando
em humildade.
Não buscar a
glória dos homens é bastante difícil. Como apóstolo de Cristo e alguém que
estivera no céu, Paulo poderia ter exigido muitas honras. No entanto, sendo
consumido pela glória de Deus, ele não tinha qualquer interesse em buscar
glória dos homens.
O próprio
Senhor Jesus não buscou glória dos homens (Jo 5.41-42).
6. Paulo era compassivo para com o povo de Deus (2.7-12).
Uma das
percepções do âmago do ministério de Paulo que mais nos enriquece é a simpatia
do apóstolo. A mais terna e incansável expressão de amor é a de uma mãe para
com seu bebê em amamentação — não há reciprocidade maior, intimidade maior,
dependência maior. Se você tiver esse sentimento para com a sua igreja, ela
suportará muito. Prive-os disso, e eles lutarão incansavelmente contra você. Em
muitos casos, quando você começa a ministrar em uma igreja, tem de amamentá-los.
Tem de ser paciente e compassivo, sabendo que o crescimento é um processo lento
e, às vezes, doloroso.
Como pastor,
você precisa anelar por que Cristo seja formado plenamente em seu povo. Há
necessidade de paciência, ternura e afeição profunda. É uma tarefa
interminável, que envolve noite e dia (2.9).
Paulo concluiu
com a analogia de um pai (2.10-12). A parte da mãe é o amor, o cuidado, a
ternura, a compaixão; a do pai é a coragem, o caráter moral, o exemplo, a
exortação, a instrução. A mãe tem a influência íntima; o pai estabelece o curso
a ser seguido, oferece o vigor espiritual e a motivação. Esse é um equilíbrio
magnífico.
Conclusão: Quando a tenacidade, a integridade, a autoridade,
a responsabilidade, a humildade e a simpatia são as características do ministério, os frutos descritos
nos versículos
13-14 se manifestam. A igreja se torna o que deveria ser — uma igreja
modelo para a qual outras podem olhar. À medida que somos fiéis em servir da
maneira como Paulo exemplificou nesta passagem, nos colocamos numa posição de
levar o povo a responder à Palavra de Deus e de conduzir a igreja para que se
torna o que ela deveria ser.
John MacArhtur, autor de mais de 150
livros e conferencista internacional, é pastor da Grace Comunity Church, em Sum
Valley, Califórnia, desde 1969; é presidente do Master’s College and Seminary e
do ministério “Grace to You”; John e sua esposa Patrícia têm quatro filhos e
quatorze netos.
Soli Deo Gloria!
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