segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

ENTENDENDO O LIVRO DO APOCALIPSE


Perspectiva Interpretativa

O Livro de Apocalipse tem sido interpretado de diversas maneiras. Tem sido o campeão das interpretações diversas e um terreno fértil para a especulação e a espiritualização. Parece-nos que a cada nova notícia na TV ou nas redes sociais se tornassem uma base para uma nova interpretação do Livro do Apocalipse pelos escatólogos de plantão. Muitas das interpretações ou aplicações são sensacionistas, alarmistas e extremistas. Outras beiram a blasfêmia. Interpretações mirabolantes se tornaram atrativas para um público sedento pelo espetacular.
Entender o Livro do Apocalipse à luz dos acontecimentos atuais, como se descobríssemos a verdadeira chave da interpretação, soa perigoso e imprudente. Para entendermos este Livro fascinante da Bíblia temos de nos concentrar primeiramente no seu pano de fundo “antigo mais do que no moderno”. Como disse certo escritor “Se os periódicos de hoje são uma chave necessária para interpretar este Livro, então nenhuma geração pôde entender e obedecer a suas demandas até aos nossos dias”[1]. Se somente a nossa suposta geração “dourada” é capaz de entender o livro do Apocalipse à luz dos supostos cenários modernos, então de nada valeu que o apóstolo João o tenha escrito para as igrejas do primeiro século. E o absurdo deste entendimento é que Deus deu um livro totalmente obscuro e incompreensível para Suas igrejas daquela época (e das anteriores a nossa).
Particularmente advogo que cada geração cristã aprende as mesmas lições de Apocalipse: Que Deus tem o controle da situação de Seus pastores e igrejas nas palmas das mãos do Cristo ressurreto, que os poderes do mundo são minúsculos quando se comparam ao do Soberano que está assentado no trono, que Deus atua tanto por meio da aparente debilidade e fracasso como através da fortaleza e êxito, que a redenção de Deus será completa por meio do Cordeiro que está, de pé, no meio do Trono, que a Ira de Deus e do Cordeiro será vindicada neste mundo perverso e rebelde, e que no final o povo de Deus prevalecerá.
Quando nos concentramos na mensagem de Apocalipse para seus primeiros receptores, não estamos rejeitando os pontos proféticos que ainda terão seus cumprimentos quando nosso Senhor Jesus vier arrebatar Sua igreja e iniciar o desenrolar dos acontecimentos dos últimos dias culminando no grande juízo do Trono Branco. Nunca esqueçamos que os juízos tribulacionais serão acionados por Aquele que é digno de abrir o Livro e desatar seus setes selos. Somente quando Cristo vier arrebatar Sua igreja é que os demais acontecimentos se tornarão evidentes no desenrolar dos planos proféticos de Deus. Até lá, nós devemos evitar a especulação e o sensacionismo tão aclamados atualmente e esperar a promessa do revestimento de poder para sermos testemunhas do Senhor Jesus até que Ele venha (cf. At 1.6-8, leia estes versículos). Em vez de nos tornarmos sensacionistas, nós devemos ser testemunhas do Cristo que virá!
Para entender corretamente o Livro do Apocalipse, nós precisamos ter em mente quatro coisas pelos menos:
1. O gênero do livro: Compreendemos que o livro de Apocalipse detêm três gêneros literários: epistolar (caps. 2–3), profecia (1.3; 22.18-22; 19.10) e apocalíptico (cap.13 e outros). Destacando o terceiro gênero, nós devemos entender que as figuras de linguagem da apocalíptica frequentemente são formas de fantasia, e não da realidade.
Já os profetas não apocalípticos faziam uso da linguagem simbólica, todavia envolvia figuras reais (e.g., pombas e pães semi-assados, Os 7.8,11); os abutres e os cadáveres (Mt 17.37). Porém, a maior parte das figuras apocalíptica se utiliza de fantasia, como, por exemplo, uma besta com dez chifres e sete cabeças (Ap 13.1)[2]. Isso, claramente, não implica que o livro seja fantasioso. Apenas destaco a natureza do gênero apocalíptico em contraste com os profetas não apocalípticos.

2. O propósito do livro: Além do gênero apocalíptico, nós fomos presenteados com profecias. Este Livro é profético. Ele fala de coisas que ainda irão acontecer. Disto não devemos ter dúvidas.
Vale lembrar que a profecia futurística, pois entendemos também que a profecia engloba instrução, demonstrar a grandeza, a singularidade e a soberania de Deus sobre cada detalhe da história humana.
Isaías 46.9-11:
Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que Eu Sou Deus, e não há outro, Eu Sou Deus, e não há outro semelhante a Mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: O Meu conselho permanecerá de pé, farei toda a Minha vontade; que chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do Meu conselho. Eu o disse, Eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei.

Todas as profecias ditas e depois cumpridas se tornam evidências de que somente Yahweh é Deus. No livro de Apocalipse vemos profecias que ainda terão o devido cumprimento, pois fiel é Aquele que prometeu.

3. O método do livro: O Apocalipse nos brinda com uma riqueza de símbolos que devem ser entendidos à luz doutros textos bíblicos que relatam símbolos parecidos ou similares. A interpretação destes símbolos noutros lugares é uma forte base para se entender os apresentados no livro do Apocalipse (cf. Dn 7.15-25 e Ap 13.1-18).

4. A mensagem do livro: A poderosa, permanente e eterna mensagem deste precioso livro é a impressionante verdade de que Deus está no controle de todas as coisas e que somente Ele reina majestosamente exercendo Sua graça na salvação e Sua justiça na condenação. Tal como Paulo podemos afirmar: “Considerai, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus, se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado” (Rm 11.22).
Todos os atributos de Deus trabalham em harmonia; não há conflito entre a Sua bondade e o Seu amor, e Sua justiça e a Sua ira. Aqueles que aceitam a Sua graciosa oferta de salvação experimentam a Sua bondade (Rm 2.4); porém, aqueles que a rejeitam experimentam a Sua severidade (Rm 2.5). Isso é visto claramente no Livro de Apocalipse (cf. bondade: 1.5-6; 2.10; 5.9-10; ira: 6.16.17; 7.20-21; 11.18; 14.7; 15.4; 16.11; 18.8,20; 19.1-10). No livro de Apocalipse Deus é adorado tanto na manifestação de Sua graça na salvação dos que se arrependem quanto na execução do Seu juízo na condenação dos rebeldes. Apocalipse 15.14: “Quem não temerá e não glorificará o Teu Nome, ó Senhor? Pois só Tu és Santo; por isso todas as nações virão e adorarão diante de Ti, porque os Teus atos de justiça se fizeram manifestos”.

Observação: Pode-se afirmar o valor, pelo menos em certo sentido, de todas as visões interpretativas do Livro de Apocalipse – idealista, histórico, preterista e futurista.

Isso é só pra começar!

Soli Deo Gloria!





[1] KEENER, Craig S. Comentarios Bíblicos con Aplicación NVI: Apocalipsis, p.10. Miami, Florida, USA: Editorial Vida, 2013.
[2] TEIXEIRA, Ivan. Apocalipse: A revelação de Jesus Cristo, p.5. Apostila da Conferência Teológica.

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