Perspectiva Interpretativa
O Livro de
Apocalipse tem sido interpretado de diversas maneiras. Tem sido o campeão das
interpretações diversas e um terreno fértil para a especulação e a
espiritualização. Parece-nos que a cada nova notícia na TV ou nas redes sociais
se tornassem uma base para uma nova interpretação do Livro do Apocalipse pelos
escatólogos de plantão. Muitas das interpretações ou aplicações são
sensacionistas, alarmistas e extremistas. Outras beiram a blasfêmia. Interpretações
mirabolantes se tornaram atrativas para um público sedento pelo espetacular.
Entender o
Livro do Apocalipse à luz dos acontecimentos atuais, como se descobríssemos a verdadeira
chave da interpretação, soa perigoso e imprudente. Para entendermos este Livro
fascinante da Bíblia temos de nos concentrar primeiramente no seu pano de fundo
“antigo mais do que no moderno”. Como disse certo escritor “Se os periódicos de
hoje são uma chave necessária para interpretar este Livro, então nenhuma
geração pôde entender e obedecer a suas demandas até aos nossos dias”[1]. Se
somente a nossa suposta geração “dourada” é capaz de entender o livro do
Apocalipse à luz dos supostos cenários modernos, então de nada valeu que o
apóstolo João o tenha escrito para as igrejas do primeiro século. E o absurdo
deste entendimento é que Deus deu um livro totalmente obscuro e incompreensível
para Suas igrejas daquela época (e das anteriores a nossa).
Particularmente
advogo que cada geração cristã aprende as mesmas lições de Apocalipse: Que Deus tem o controle da situação de Seus
pastores e igrejas nas palmas das mãos do Cristo ressurreto, que os poderes do
mundo são minúsculos quando se comparam ao do Soberano que está assentado no
trono, que Deus atua tanto por meio da aparente debilidade e fracasso como
através da fortaleza e êxito, que a redenção de Deus será completa por meio do
Cordeiro que está, de pé, no meio do Trono, que a Ira de Deus e do Cordeiro
será vindicada neste mundo perverso e rebelde, e que no final o povo de Deus
prevalecerá.
Quando nos
concentramos na mensagem de Apocalipse para seus primeiros receptores, não estamos
rejeitando os pontos proféticos que ainda terão seus cumprimentos quando nosso
Senhor Jesus vier arrebatar Sua igreja e iniciar o desenrolar dos
acontecimentos dos últimos dias culminando no grande juízo do Trono Branco. Nunca
esqueçamos que os juízos tribulacionais serão acionados por Aquele que é digno
de abrir o Livro e desatar seus setes selos. Somente quando Cristo vier
arrebatar Sua igreja é que os demais acontecimentos se tornarão evidentes no
desenrolar dos planos proféticos de Deus. Até lá, nós devemos evitar a
especulação e o sensacionismo tão aclamados atualmente e esperar a promessa do
revestimento de poder para sermos testemunhas do Senhor Jesus até que Ele venha
(cf. At 1.6-8, leia estes versículos). Em vez de nos tornarmos sensacionistas,
nós devemos ser testemunhas do Cristo que virá!
Para entender
corretamente o Livro do Apocalipse, nós precisamos ter em mente quatro coisas
pelos menos:
1. O gênero do livro: Compreendemos que
o livro de Apocalipse detêm três gêneros literários: epistolar (caps. 2–3),
profecia (1.3; 22.18-22; 19.10) e apocalíptico (cap.13 e outros). Destacando o
terceiro gênero, nós devemos entender
que as figuras de linguagem da apocalíptica frequentemente são formas de
fantasia, e não da realidade.
Já os profetas não apocalípticos faziam uso da
linguagem simbólica, todavia envolvia figuras reais (e.g., pombas e pães
semi-assados, Os 7.8,11); os abutres e os cadáveres (Mt 17.37). Porém, a maior
parte das figuras apocalíptica se utiliza de fantasia, como, por exemplo, uma
besta com dez chifres e sete cabeças (Ap 13.1)[2].
Isso, claramente, não implica que o livro seja fantasioso. Apenas destaco a
natureza do gênero apocalíptico em contraste com os profetas não apocalípticos.
2. O propósito do livro: Além do gênero
apocalíptico, nós fomos presenteados com profecias. Este Livro é profético. Ele
fala de coisas que ainda irão acontecer. Disto não devemos ter dúvidas.
Vale lembrar
que a profecia futurística, pois entendemos também que a profecia engloba
instrução, demonstrar a grandeza, a singularidade e a soberania de Deus sobre cada
detalhe da história humana.
Isaías 46.9-11:
Lembrai-vos
das coisas passadas da antiguidade: que Eu Sou Deus, e não há outro, Eu Sou
Deus, e não há outro semelhante a Mim; que desde o princípio anuncio o que há
de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que
digo: O Meu conselho permanecerá de pé, farei toda a Minha vontade; que chamo a
ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do Meu
conselho. Eu o disse, Eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o
executarei.
Todas as
profecias ditas e depois cumpridas se tornam evidências de que somente Yahweh é
Deus. No livro de Apocalipse vemos profecias que ainda terão o devido
cumprimento, pois fiel é Aquele que prometeu.
3. O método do livro: O Apocalipse nos
brinda com uma riqueza de símbolos que devem ser entendidos à luz doutros
textos bíblicos que relatam símbolos parecidos ou similares. A interpretação
destes símbolos noutros lugares é uma forte base para se entender os apresentados
no livro do Apocalipse (cf. Dn 7.15-25 e Ap 13.1-18).
4. A mensagem do livro: A poderosa,
permanente e eterna mensagem deste precioso livro é a impressionante verdade de
que Deus está no controle de todas as coisas e que somente Ele reina
majestosamente exercendo Sua graça na salvação e Sua justiça na condenação. Tal
como Paulo podemos afirmar: “Considerai, pois, a bondade e a severidade de
Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a bondade de Deus,
se nela permaneceres; doutra sorte, também tu serás cortado” (Rm 11.22).
Todos os
atributos de Deus trabalham em harmonia; não há conflito entre a Sua bondade e
o Seu amor, e Sua justiça e a Sua ira. Aqueles que aceitam a Sua graciosa
oferta de salvação experimentam a Sua bondade (Rm 2.4); porém, aqueles que a
rejeitam experimentam a Sua severidade (Rm 2.5). Isso é visto claramente no
Livro de Apocalipse (cf. bondade: 1.5-6;
2.10; 5.9-10; ira: 6.16.17; 7.20-21;
11.18; 14.7; 15.4; 16.11; 18.8,20; 19.1-10). No livro de Apocalipse Deus é
adorado tanto na manifestação de Sua graça na salvação dos que se arrependem
quanto na execução do Seu juízo na condenação dos rebeldes. Apocalipse 15.14: “Quem não temerá e
não glorificará o Teu Nome, ó Senhor? Pois só Tu és Santo; por isso todas as
nações virão e adorarão diante de Ti, porque os Teus atos de justiça se fizeram
manifestos”.
Observação:
Pode-se afirmar o valor, pelo menos em certo sentido, de todas as
visões interpretativas do Livro de Apocalipse – idealista, histórico,
preterista e futurista.
Isso é só pra
começar!
Soli Deo Gloria!
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