segunda-feira, 26 de março de 2018

O DIA DA MORTE DE JESUS


Jesus Morreu Numa Quarta-Feira ou Numa Sexta-Feira?


Meu objetivo aqui é trazer alguns esclarecimentos sobre o dia da crucificação e morte do Senhor Jesus. Já que estamos na conhecida Semana da Paixão ou Semana Santa, vale a pena estudarmos as Escrituras sobre esta última semana da vida e ministério terrenos do Senhor Jesus.
No entanto, meu ponto é elucidar a questão se Jesus morreu na quarta-feira ou na sexta-feira conforme a tradição milenar do Cristianismo aponta.
Tomando o texto de Mateus 12.40, começaremos nossa exposição. O texto diz: “Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra”.
Ainda bem novo na caminha cristã (nos anos 90) deparei-me com uma argumentação que dizia que Jesus não morreu na sexta-feira, mas possivelmente numa quarta ou quinta-feira, visto que na NOSSA forma de contar para ele passar três dias e três noites, conforme Mateus 12.40, Ele deveria ter morrido ou na quarta-feira ou na quinta-feira para então ressuscitar no domingo.
No entanto, tal assertiva negligencia um dos princípios da exegese e hermenêutica importantes para compreenderem-se os textos sagrados: Nós devemos tomar as palavras no seu sentido usual e comum da época e, não cometer o erro do “anacronismo semântico”, ou seja, dá a uma palavra ou a uma expressão um significado que ela não tinha na época. Em suma, devemos entender o texto em seus contextos (imediato, parágrafo, livro, cultural, histórico e etc.,).
Quando Jesus falou que ressuscitaria após três dias e três noites não estava usando o método moderno de referir-se ao tempo.

Em nossos dias “três dias e três noites” seriam 72 horas. Com base nisto, alguns tem suposto que Jesus morreu na quarta feira à tarde e ressuscitou no sábado à noite. Mas Jesus estava usando o método judeu de contagem do tempo. Os judeus utilizavam o método inclusivo de contagem do tempo. Uma parte de um dia era contada como um dia.
Por exemplo:
Se um rei começasse a reinar no mês de novembro, e morresse no mês de março do ano seguinte, para os judeus, ele teria reinado dois anos. [Nos tempos modernos seriam apenas cinco meses]. Veja alguns exemplos bíblicos acerca deste método de contagem do tempo:
1º) 1 Samuel 30:12 e 13 declara “[...] pois havia três dias e três noites que não comia pão nem bebia água”. “Então, lhe perguntou Davi: De quem és tu, e de onde vens? Respondeu o moço egípcio: Sou servo de um amalequita e meu senhor me deixou aqui, porque adoeci há três dias”. Note bem as expressões diferentes para o mesmo período de tempo.

2º) Outro exemplo concludente se encontra em Ester 4:16 e 5:1: “[…] e jejuai por mim e não comais nem bebais por três dias, nem de noite nem de dia [… ] Ao terceiro dia Éster se aprontou […].”.  É claro que o período de três dias não havia chegado ao fim quando ela se apresentou perante o rei, se fosse diferente, estaria: no quarto dia.

3º) As crianças em Israel eram circuncidadas ao terem 8 dias (Genesis 17:12), porém a circuncisão ocorreria no oitavo dia devido à contagem inclusiva (Levítico 12:3; Lucas 1:59).
Portanto, quando Jesus morreu na sexta-feira à tarde e ressuscitou no domingo de madrugada ele esteve morto três dias, apesar de terem sido aproximadamente 36 horas, se fossemos contar nos dias atuais. Sendo assim, é perfeitamente aceitável, para o pensamento judeu dos dias de Jesus, computar parte da sexta-feira, o sábado inteiro, e parte do domingo, como três dias e três noites.
Como disse o pastor John MacArthur “Todo tipo de planos elaborados já foram traçados para sugerir que Cristo possa ter morrido numa quarta ou quinta-feira, simplesmente para se acomodar ao significado extremamente literal [sem entender expressões idiomáticas] dessas palavras. Mas o significado original não teria exigido esse tipo de interpretação canhestra”[1].
Outro comentarista faz as seguintes observações:
Jonas passou “três dias e três noites” no ventre do peixe (Jn 1.17). Contudo, se a sequência normal da semana da Paixão está correta (Mt 26.17-30), Jesus ficou na tumba apenas cerca de trinta e seis horas. Uma vez que esse período de tempo inclui parte de três dias, Jesus, pelos cálculos judaicos, ficou enterrado “três dias” ou, para apresentar de outra maneira, Ele ressuscitou “no terceiro dia” (Mt 16.21). Mas isso não cobre mais que duas noites. Alguns defendem uma crucificação na quarta-feira (Mt 26.17), mas essa data, embora permita os “três dias e três noites”, encontra dificuldade na expressão “no terceiro dia”. No pensamento rabínico, o dia e a noite formam um õnâh, e uma parte de um õnâh é como o todo (cf. SBK, 1:649, para referências; cf. mais 1Sm 30.12,13; 2Cr 10.5,12; Et 4.16; 5.1). Assim, de acordo com a tradição judaica, “três dias e três noites” não precisam representar mais que “três dias” ou a combinação de alguma parte de três dias separados[2].

Outro conceituado exegeta explica: “há uma discrepância no fato de que Jesus estava no túmulo apenas trinta e seis horas, desde o anoitecer de sexta-feira até o amanhecer de domingo. No entanto, a contagem judaica considerou um dia parcial como um dia inteiro (cf. Gn 42: 17-18; 1 Sm 30: 12-13; Est 4:16; 5: 1), então Jesus estava na sepultura sexta-feira, sábado e domingo; e a terminologia se encaixa”[3].
O comentarista Michael J. Wilkins ainda explica:
Porque, assim como Jonas esteve “três dias e três noites” no ventre de um peixe enorme, assim o Filho do Homem estará “três dias e três noites” no coração da terra. A expressão “três dias e três noites” não é incompatível com a imagem sinótica de Jesus sendo enterrado na tarde de sexta-feira e ressuscitando no domingo de manhã. Jesus repetidamente disse que seria ressuscitado “no terceiro dia” (Mt 16:21; 17:23; 20:19). Se Ele ficasse literalmente três dias e três noites no túmulo, Ele teria sido ressuscitado no quarto dia. Mas o Antigo Testamento regularmente considerava uma parte do dia como um dia inteiro, e no pensamento rabínico, uma parte do dia era considerada um dia inteiro. “Três dias e três noites” é quase uma expressão proverbial e não significa mais do que a combinação de qualquer parte de três dias separados[4].

Ivan Teixeira
Soli Deo Gloria!




[1] MACARTHUR, John F. A Bíblia de Estudo MacArthur, p.1229. Barueri, SP, Brasil: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010.
[2] CARSON, D. A. O Comentário de Mateus, p.351. São Paulo, SP, Brasil: Shedd Publicações, 2010.
[3] OSBORNE, G. R. (2010). Exegetical Commentary on The New Testament: Matthew (Vol. 1, p.486). Grand Rapids, MI: Zondervan.
[4] WILKINS, M. J. (2004). The NIV Application Commentary: Matthew (p.451–452). Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House.

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