quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

KOINONIA PNEUMATOLÓGICA



koinonia (gr. κοινωνία) e Pneumatologia = adj (pnêumato+logo+ico) Relativo à pneumatologia ( refere-se ao Estudo/Doutrina do Espírito Santo).

Uma tarefa importante do estudioso da doutrina do Espírito Santo é recuperar os aspectos concretos e particulares da tradição pneumatológica e refletir sobre as experiências produzidas pelo Espírito Santo. Uma das mais importantes está no campo da koinonia, aquilo que os escritores do Novo Testamento descreveram como a "comunhão do Espírito Santo" (cf. 2Co 13.13, ARA; Fp 2.1). O Espírito Santo é o vínculo soteriológico para nossa comunhão com a Santíssima Trindade (cf. 1Jo 1.3). A koinonia uns com os outros, com o Pai e com o Filho pertence a obra da koinonia pneumatológica, ou seja, o Espírito Santo é o Agente eficaz desta comunhão na vida daqueles que Ele convence do pecado, da justiça e do juízo ao regenerá-los e renová-los pela Palavra do santo evangelho (cf. Jo 16.7-11; Tt 3.5).
No lugar de buscar simplesmente generalizações e definições abstratas, como muitas vezes tem sido o caso no passado e também no presente, os cristãos precisam ter fome por uma experiência concreta e vívida da koinonia do Espírito Santo que dá vida e nos guia em toda a verdade.
Num mundo vazio da pós-modernidade, e em meio a uma espiritualidade frenética e ambígua, e ainda num contexto de uma “sociedade líquida”, sem sólidos e fundamentos, nós precisamos reconectar os cristãos (e os demais) na koinonia pneumatológica. Pois somente o Espírito Santo e Sua obra trará solidez, significado, experiências claras e duradouras para os cristãos nas igrejas locais.
Nas palavras de Jürgen Moltmann, um dos mais aclamados pneumatologistas de nossos dias, “O que quer que possamos dizer em geral sobre nós mesmos e outras pessoas à luz da eternidade, o Espírito da vida está presente apenas como o Espírito desta ou daquela vida particular.”[1]. Portanto, “a experiência do Espírito Santo é tão específica quanto os seres viventes que experimentam o Espírito, e tão variados quanto os seres viventes que experimentam o Espírito são variados”.
O mais proeminente teólogo católico contemporâneo sobre o Espírito, Yves Congar, aborda o desafio da experiência ou koinonia do Espírito buscando um equilíbrio entre o que ele chama desconfiança de “princípio pessoal” e um eclipse de um “princípio institucional”. O “princípio pessoal” refere-se ao lugar atribuído às iniciativas dos indivíduos como pessoas e ao que essas pessoas têm a dizer com base em convicções pessoais. O “princípio institucional” vê a igreja como uma comunhão [koinonia] de tais pessoas lideradas pelo Espírito[2]. Uma pneumatologia saudável requer equilíbrio entre essas duas orientações aparentemente contraditórias. Por um lado, as obras do Espírito são experimentadas na vida individual dos crentes, mas, por outro lado, o único caminho para um crente individual captar a mensagem do Espírito é através da comunhão/koinonia da igreja através de sua adoração e da Palavra de Deus.
Tem sido a tarefa dos crescentes movimentos pentecostais e carismáticos lembrar à igreja católica que, na devoção ao Espírito de Deus, não é a teologia que é primária (embora tenha seu lugar), mas sim uma revitalização da experiência do Espírito. Embora a experiência do Espírito leve sempre à reflexão teológica sobre o seu significado, a espiritualidade é o primeiro ponto de contato[3]. Isto é claramente evidente no registro bíblico: Uma poderosa e muitas vezes carismática experiência do Espírito veio primeiro; somente depois, e em um ritmo lento, veio a reflexão teológica[4].
No dia de Pentecostes os discípulos do Senhor Jesus experimentaram e receberam o derramamento do Espírito Santo, fundamentando consequentemente a koinonia (At 2.42) para depois Pedro elencar uma exposição teológica do evento pneumatológico.
Vale lembrar que essa experiência do Espírito e também a koinonia pneumatológica às vezes têm pouca conexão com a prática religiosa tradicional. O Espírito Santo está presente e ativo além das estruturas oficiais [mas, nunca além ou aquém das Escrituras!] e dos ministérios ordenados das igrejas locais. Por isso, tenho afirmado que não devemos ser tolos a ponto de enclausurar as pessoas em nosso “mundinho sistemático”, sendo “senhores feudais” das ricas heranças teológicas, mas sim estarmos atentos e “abertos” ao mover do Espírito Santo, pois sabemos que o “vento sopra onde quer”!
O teólogo católico John R. Sachs, falando em recente conferência acadêmica sobre pneumatologia, teceu o seguinte comentário digno de nota: “Teólogos de quem mais aprendi, tanto antigos quanto modernos, todos advertem contra compreender o Espírito de maneira sistemática” (ou seja, “prendê-lo” em nosso mundinho denominacional!). Ele recomenda a atitude de “silêncio honrado”[5]. Caso contrário, a pneumatologia não pode evitar a especulação inútil. O estudo excessivamente especulativo do Espírito também nos impediria de nos tornar mais intensamente desejosos e sensíveis ao Espírito. Sem esse “silêncio honrado”, faríamos apenas uma pneumatologia especulativa e distante. Nisso perderíamos a preciosa koinonia do Espírito Santo que nos conduz a uma comunhão com o Pai, com o Filho e uns com os outros.
Abordar o tema do Espírito e da pneumatologia a partir da perspectiva da experiência da koinonia é a única maneira de fazer justiça ao “objeto” de nosso estudo. É uma das regras da investigação científica que a metodologia tem que se encaixar no objeto, e não vice-versa. No entanto, uma palavra de advertência está em ordem aqui: O Espírito não é um “objeto” do estudo humano da mesma forma que, por exemplo, os objetos das ciências físicas são. De fato, podemos dizer que o Espírito, em vez de ser objeto de nosso escrutínio, é Aquele que nos envolve em koinonia com o Pai, com o Filho e uns com outros. Essa koinonia pneumatológica têm seus meios da graça, os quais são descritos por Lucas em Atos 2.42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão [koinonia], no partir do pão e nas orações”. Então, doutrina, partir do pão e orações são meios substanciais para alcançarmos e fundamentarmos a koinonia pneumatológica.

Oh Deus que nossos líderes e igrejas locais enxerguem mais e mais desta koinonia pneumatológica!

Ivan Teixeira.



[1] MOLTMANN Jürgen, The Spirit of Life: A Universal Affirmation, trans. Margaret Kohl (Minneapolis: Fortress Press, 1992), p.8.
[2] CONGAR, Yves. I Believe in the Holy Spirit (New York: Crossroad Herder, 1997), 2:152–53. New York: Crossroad Herder, 1997.
[3] MCDONNELL, Kilian, “Theological Presuppositions in Our Preaching about the Spirit,” TS 59 (1998): 219–35.
[4] KARKKAINEN, Veli-Matti. Pneumatology The Holy Spirit in Ecumenical, International, and Contextual Perspectiva, p.14. Published by Baker Academic a division of Baker Publishing Group. P.O. Box 6287, Grand Rapids, MI 49516-6287. Ebook edition created 2012
[5] SACHS, John R. “‘Do Not Stifle the Spirit’: Karl Rahner, the Legacy of Vatican II, and Its Urgency for Theology Today,” in Catholic Theological Society Proceedings, ed. E. Dreyer, 51 (1996): 15.

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