koinonia (gr. κοινωνία) e Pneumatologia = adj
(pnêumato+logo+ico) Relativo à pneumatologia ( refere-se ao Estudo/Doutrina do
Espírito Santo).
Uma tarefa
importante do estudioso da doutrina do Espírito Santo é recuperar os aspectos
concretos e particulares da tradição pneumatológica e refletir sobre as
experiências produzidas pelo Espírito Santo. Uma das mais importantes está no
campo da koinonia, aquilo que os
escritores do Novo Testamento descreveram como a "comunhão do Espírito
Santo" (cf. 2Co 13.13, ARA; Fp 2.1). O Espírito Santo é o vínculo
soteriológico para nossa comunhão com a Santíssima Trindade (cf. 1Jo 1.3). A koinonia uns com os outros, com o Pai e
com o Filho pertence a obra da koinonia
pneumatológica, ou seja, o Espírito Santo é o Agente eficaz desta comunhão na
vida daqueles que Ele convence do pecado, da justiça e do juízo ao regenerá-los
e renová-los pela Palavra do santo evangelho (cf. Jo 16.7-11; Tt 3.5).
No lugar de
buscar simplesmente generalizações e definições abstratas, como muitas vezes
tem sido o caso no passado e também no presente, os cristãos precisam ter fome
por uma experiência concreta e vívida da koinonia do Espírito Santo que dá vida
e nos guia em toda a verdade.
Num mundo vazio
da pós-modernidade, e em meio a uma espiritualidade frenética e ambígua, e
ainda num contexto de uma “sociedade líquida”, sem sólidos e fundamentos, nós
precisamos reconectar os cristãos (e os demais) na koinonia pneumatológica. Pois somente o Espírito Santo e Sua obra
trará solidez, significado, experiências claras e duradouras para os cristãos
nas igrejas locais.
Nas palavras de
Jürgen Moltmann, um dos mais
aclamados pneumatologistas de nossos dias, “O que quer que possamos dizer em
geral sobre nós mesmos e outras pessoas à luz da eternidade, o Espírito da vida
está presente apenas como o Espírito desta ou daquela vida particular.”[1]. Portanto,
“a experiência do Espírito Santo é tão específica quanto os seres viventes que
experimentam o Espírito, e tão variados quanto os seres viventes que experimentam
o Espírito são variados”.
O mais
proeminente teólogo católico contemporâneo sobre o Espírito, Yves Congar, aborda o desafio da
experiência ou koinonia do Espírito
buscando um equilíbrio entre o que ele chama desconfiança de “princípio
pessoal” e um eclipse de um “princípio institucional”. O “princípio pessoal”
refere-se ao lugar atribuído às iniciativas dos indivíduos como pessoas e ao
que essas pessoas têm a dizer com base em convicções pessoais. O “princípio
institucional” vê a igreja como uma comunhão [koinonia] de tais pessoas lideradas
pelo Espírito[2].
Uma pneumatologia saudável requer equilíbrio entre essas duas orientações
aparentemente contraditórias. Por um lado, as obras do Espírito são
experimentadas na vida individual dos crentes, mas, por outro lado, o único
caminho para um crente individual captar a mensagem do Espírito é através da comunhão/koinonia da igreja através de
sua adoração e da Palavra de Deus.
Tem sido a
tarefa dos crescentes movimentos pentecostais e carismáticos lembrar à igreja
católica que, na devoção ao Espírito de Deus, não é a teologia que é primária
(embora tenha seu lugar), mas sim uma revitalização da experiência do Espírito.
Embora a experiência do Espírito leve sempre à reflexão teológica sobre o seu
significado, a espiritualidade é o primeiro ponto de contato[3]. Isto
é claramente evidente no registro bíblico: Uma poderosa e muitas vezes
carismática experiência do Espírito veio primeiro; somente depois, e em um
ritmo lento, veio a reflexão teológica[4].
No dia de
Pentecostes os discípulos do Senhor Jesus experimentaram e receberam o
derramamento do Espírito Santo, fundamentando consequentemente a koinonia (At 2.42) para depois Pedro elencar
uma exposição teológica do evento
pneumatológico.
Vale lembrar
que essa experiência do Espírito e também a koinonia
pneumatológica às vezes têm pouca conexão com a prática religiosa
tradicional. O Espírito Santo está presente e ativo além das estruturas
oficiais [mas, nunca além ou aquém das Escrituras!] e dos ministérios ordenados
das igrejas locais. Por isso, tenho afirmado que não devemos ser tolos a ponto
de enclausurar as pessoas em nosso “mundinho sistemático”, sendo “senhores
feudais” das ricas heranças teológicas, mas sim estarmos atentos e “abertos” ao
mover do Espírito Santo, pois sabemos que o “vento sopra onde quer”!
O teólogo
católico John R. Sachs, falando em
recente conferência acadêmica sobre pneumatologia, teceu o seguinte comentário
digno de nota: “Teólogos de quem mais aprendi, tanto antigos quanto modernos,
todos advertem contra compreender o Espírito de maneira sistemática” (ou seja, “prendê-lo”
em nosso mundinho denominacional!). Ele recomenda a atitude de “silêncio
honrado”[5].
Caso contrário, a pneumatologia não pode evitar a especulação inútil. O estudo
excessivamente especulativo do Espírito também nos impediria de nos tornar mais
intensamente desejosos e sensíveis ao Espírito. Sem esse “silêncio honrado”, faríamos
apenas uma pneumatologia especulativa e distante. Nisso perderíamos a preciosa koinonia do Espírito Santo que nos
conduz a uma comunhão com o Pai, com o Filho e uns com os outros.
Abordar o tema
do Espírito e da pneumatologia a partir da perspectiva da experiência da koinonia é a única maneira de fazer
justiça ao “objeto” de nosso estudo. É uma das regras da investigação
científica que a metodologia tem que se encaixar no objeto, e não vice-versa.
No entanto, uma palavra de advertência está em ordem aqui: O Espírito não é um
“objeto” do estudo humano da mesma forma que, por exemplo, os objetos das
ciências físicas são. De fato, podemos dizer que o Espírito, em vez de ser
objeto de nosso escrutínio, é Aquele que nos envolve em koinonia com o Pai, com o Filho e uns com outros. Essa koinonia pneumatológica têm seus meios
da graça, os quais são descritos por Lucas em Atos 2.42: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão
[koinonia], no partir do pão e nas
orações”. Então, doutrina, partir do pão
e orações são meios substanciais para alcançarmos e fundamentarmos a koinonia pneumatológica.
Oh Deus que
nossos líderes e igrejas locais enxerguem mais e mais desta koinonia pneumatológica!
Ivan Teixeira.
[1] MOLTMANN
Jürgen, The Spirit of Life: A Universal
Affirmation, trans. Margaret Kohl (Minneapolis: Fortress Press, 1992), p.8.
[2] CONGAR,
Yves. I Believe in the Holy Spirit
(New York: Crossroad Herder, 1997), 2:152–53. New York: Crossroad Herder, 1997.
[3] MCDONNELL,
Kilian, “Theological Presuppositions in
Our Preaching about the Spirit,” TS 59 (1998): 219–35.
[4] KARKKAINEN,
Veli-Matti. Pneumatology The Holy Spirit
in Ecumenical, International, and Contextual Perspectiva, p.14. Published
by Baker Academic a division of Baker Publishing Group. P.O. Box 6287, Grand
Rapids, MI 49516-6287. Ebook edition created 2012
[5] SACHS,
John R. “‘Do Not Stifle the Spirit’: Karl Rahner, the Legacy of Vatican II, and
Its Urgency for Theology Today,” in Catholic
Theological Society Proceedings, ed. E. Dreyer, 51 (1996): 15.
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