Ministério Glamoroso?
É notório que para muitos o ministério cristão
é glamoroso, espetacular, fenomenal e um trampolim para certa classe de fama e
aplausos.
Lamento que essa visão tenha predominado na
geração que vi crescer. Num contexto de autoimagem, autoajuda, presunção, auto-piedade,
exibicionismo, psicologismo pop e narcisismo não deveríamos esperar outra coisa
senão um desejo exacerbado por um ministério glamoroso e até efeminado
(entenda-se, delicado!). É claro que o cenário não é tão anuviado como poderia
ser, pois ainda vemos aqui e acolá alguns que sobreviveram ao canto da sereia
do pragmatismo ministerial, pautando, assim, suas vidas e ministérios em rígidos
e sólidos princípios bíblicos e teológicos que um dia marcaram ministérios históricos.
Tendo sido formado num contexto rígido, de
exigências, abnegação, desafios, jejuns, vigílias, orações, estudo e seminários
e conferências que demandavam disciplina e desafiavam peremptoriamente os alunos
e às vezes os levava a “exaustão” (refiro-me ao labor/trabalho na Palavra) no
labor ministerial preocupo-me com a geração florida atual.
Como devemos enfrentar tais desafios e declínios
no ministério atualmente? Minha resposta é: Nós devemos nos arrepender desta situação
cintilante e glamorosa, e orar fervorosamente e, sob os auspícios da unção do
Espírito Santo, buscar um norte nas Escrituras Sagradas.
Creio que Paulo é um guia seguro aqui! Ele enfrentou
tentações de afinar, por assim dizer, o “caldo grosso” do ministério. Ele poderia
ter exercido um ministério mais tranquilo, sem muitas viagens, sem andar muito,
sem viver longe dos seus amados e entes queridos. Paulo poderia ter elencando e
exigido dos obreiros de sua época um pouquinho menos. Ele poderia diminuir as
exigências ou até mesmo amenizá-las. Paulo poderia ter sido menos exigente com
João Marcos. Paulo poderia não ter repreendido Pedro na cara quando este se afastava
dos gentios dissimuladamente. Paulo poderia usar um pouco da sabedoria mundana
e filosofal para tornar sua pregação mais atrativa. Ele poderia ter divertido
as pessoas mais ou poderia abrandar mais suas Cartas que levou muita gente a
sofrer. Ele poderia nunca ter escrito a “Carta dura” aos coríntios! Só que ele
não fez isso! E graças a Deus!
Pelo contrário, Paulo se voltou para várias
descrições de seu ministério de uma perspectiva mais ampla, afastando-se das
coisas que os próprios coríntios estavam trazendo à sua vida. PRIMEIRO, ele falou de
morrer e ainda viver. O registro de Atos nos diz que Paulo chegou perto
da morte muitas vezes em seu serviço a Cristo (Atos 14:19; 21:31). Muitos
eventos similares, além dos registrados, provavelmente aconteceram com o
apóstolo e seus companheiros ministeriais. No entanto, apesar da constante
experiência de morrer, Paulo afirmou que eles vivem: “contudo, eis que vivemos; [...]” (2Co 6.9c).
Em SEGUNDO
lugar, Paulo e seus companheiros foram espancados e ainda não foram mortos: “[...]
como castigados, porém não mortos” (2Co 6.9d). Pelo menos dois pontos de vista
podem ser tomados em relação a essas palavras. Por um lado, é possível que o
apóstolo aludisse ao Salmo 118:18.
Se assim for, castigado se referiria
à disciplina de Deus na vida de Paulo. Por outro lado, à luz do contexto
imediato, parece mais provável que Paulo se referisse aos espancamentos físicos
que recebeu nas mãos de multidões e oficiais ao proclamar o evangelho. O
apóstolo pode também ter pensado em disciplina divina e espancamentos físicos
como um e o mesmo. Seja qual for o caso, Paulo lembrou os coríntios dessas
dificuldades em sua vida e de como ele as suportou. Ministério cristão é coisa
dura!
Em 2ª
Coríntios 6:10ª: “entristecidos,
mas sempre alegres; [...]”. As descrições finais de Paulo dos resultados mistos
de seu ministério estão acima dos outros em sua natureza paradoxal. Ele
emparelha experiências que parecem impossíveis de manter unidas, isso é
peculiar à vida e ao ministério cristão. Paulo estava triste, mas sempre se
regozijando. Paulo não hesitou em admitir que sua vida estava cheia de
tristeza. Hoje, lamentavelmente, muitos obreiros encobrem sua tristeza. Aqui,
Paulo admite! Ao mesmo tempo, Paulo não se desesperou ao suportar suas
tristezas. Sua esperança em Cristo fez com que ele estivesse sempre se
alegrando (Cl 1:24). Paulo se alegrava, apesar das tristezas que ele
experimentava. Paulo encorajou a mesma atitude nos outros também (Romanos
5:3-5). Estas e outras declarações similares não sugerem que os crentes devam
estar em constante estado de alegria (Romanos 12:15). No entanto, a vida dos
fiéis seguidores de Cristo será caracterizada pela alegria quando
experimentarem a bênção de Deus e se lembrarem de Sua bondade, mesmo em tempos
de tristeza.
Olhando para 2ª Coríntios 6:10b, vemos que Paulo declarou que, embora fosse
pobre, estava enriquecendo muitos. Seu ministério apostólico privou-o de muitas
vantagens econômicas. Ao viajar no serviço de Cristo, ele dependia de doações e
de sua ocupação como fabricante de tendas (Filipenses 4:16; 2Tessalonicenses 3:8).
Essa privação econômica, no entanto, teve um lado positivo. Paulo não sofreu a
pobreza por causa da pobreza. Através de sua privação, Paulo estava
enriquecendo os outros nas bênçãos de Cristo. Paulo falou similarmente do
próprio Cristo em 2ª Coríntios 8:9.
A pobreza de Cristo e Seus apóstolos tornou possível que as riquezas dos novos
céus e nova terra pertencessem a todos que seguiam a Cristo (Gl 3:29).
Finalmente, em 2ª Coríntios 6.10c, Paulo refletiu em termos gerais sobre o caráter
paradoxal de sua vida e ministério, dizendo que ele não estava tendo nada e
ainda possuindo tudo. Do contexto anterior, seu significado é claro. Em termos
deste mundo, Paulo não tinha praticamente nada. Ele havia perdido sua casa,
família, amigos, posição, sua careira promissora, um status religioso e
sustento. Aquelas coisas deste mundo eram de pouca importância para ele. Mesmo
assim, Paulo tinha os olhos postos no maravilhoso futuro prometido a todo
crente. Paulo aplicou a si mesmo o que ele já havia dito sobre outros crentes.
Ele era um coerdeiro com Cristo também (Rom. 8:17).
Concluindo essa meditação, endereço-vos para as
penetrantes e meditativas palavras do apóstolo Paulo ao salientar a soberania
de Deus nas Suas escolhas: Assim, pois, não
depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a Sua misericórdia
(Rm 9.14). Bem como para as belíssimas palavras do escritor de Hebreus: Ninguém, pois, toma esta honra para si
mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão (Hb 5.4).
Ivan Teixeira
PRATT, R. L., Jr. (2000). I &
II Corinthians (Vol. 7). Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers.
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