O
PENTECOSTALISMO E O MINISTÉRIO DE MULHERES
Esse é um ponto digno de ser levantado e
colocar certas observações. Estudiosos têm afirmado, e com razão, que o século
XX foi o “século do Espírito”. Particularmente eu não tenho dúvidas de que
também podemos chamar de “século das mulheres”. Deus pela Sua infinita graça
levantou (e tem levantado) mulheres capacitadas pelo Seu Espírito como
instrumentos para edificação de Sua igreja e evangelização do mundo. É claro
que isso não é peculiar ao pentecostalismo – mesmo que no mesmo vemos em
abundância, pois é notório que em muitos movimentos de avivamentos e reformas
na História da igreja as mulheres também se destacaram, apesar das barreiras e
limitações erguidas pelo institucionalismo, clericalismo ou denominacionalismo.
Historicamente têm havido um certo medo
ou repulsa ao ministério de mulheres na igreja local. Certa ala de homens
tradicionalistas enfatizam ilimitadamente a liderança masculina exclusiva na
igreja, e relegam exemplos de mulheres na liderança às margens da vida da
igreja cristã. “Eles sugerem que a história apoia sua oposição às mulheres no ministério e que abrir a porta para
as mulheres em papéis de liderança se moveria contra uma tradição eclesiástica
de quase dois mil anos”[1].
Neste ritmo observamos que estudiosos tendem a pensar que a
defensa das mulheres para o ministério seja adotar alguma teologia liberal,
secularizar a igreja por causa da agenda feminista em sua luta pela questão de
gênero ou classifica-se como mundaneidade do Cristianismo Ocidental.
Particularmente eu lamento que tais estudiosos falem neste tom. Essas ideias
têm prejudicado e muito a amplitude do ministério da igreja local em certo
sentido, pois poderíamos estar aproveitando os dons que Deus tem dado às
mulheres para conjuntamente exercer o ministério conosco. Pessoas que já
estiveram sob os auspícios de nosso pastorado sabem o quanto temos valorizado e
ensinado sobre a importância do ministério feminino. E Deus, comprovadamente,
tem levantado grandes obreiras, cooperadoras, líderes e missionárias assim como
levantou grandes mulheres líderes na Igreja Primitiva – e na História também!
Por outro lado, há grandes estudiosos e estudiosas que estão
convencidos da importância do ministério feminino na igreja local. Eles acreditam que, em vez de ser o resultado de ideias seculares
prejudiciais ou do liberalismo teológico que invadem a igreja, a questão da ordenação
e liderança de mulheres representa a obra do Espírito. E capacitar as mulheres
para o ministério poderia revitalizar a igreja contemporânea (Hoje nos EUA,
igrejas Batistas, Presbiterianas, Metodistas, Igreja de Deus e Assembleia de
Deus já ordenam mulheres ao santo ministério com algumas diferenças nas ênfases)[2].
Estudiosos têm pontuado que a exclusão de mulheres tem estado
presente naquela igrejas estilizadas demais, rígidas, clericalizadas e
desatualizadas de qualquer maneira. E nós sabemos que o clericalismo e o
institucionalismo já foram problemas na História da Igreja e que foi necessário
Reforma e Avivamento para revitalizar as igrejas mortas e engessadas pelo
institucionalismo. E hoje não é diferente. O institucionalismo ou o
denominacionalismo tem “matado” muitos obreiros. Obreiros e obreiras têm sido
massacrados pela manobra institucional. É claro que defendo a instituição
chamada “igreja local”, mas as convenções, ministérios e igrejas locais têm
abusado do poder e machucado, barrado, neutralizado e acabado com muita gente
que outrora estavam envolvidos de coração na obra. Não é à toa que o movimento
dos desigrejados tem crescido. E como tenho dialogado com estes irmãos, sempre falo
que eles detectaram o problema (e que precisamos resolver!), mas o abandono
como solução e se voltar para uma reinterpretação das Escrituras em detrimento
da igreja local é outro mal que deve-se evitar. As Escrituras e a História
mostram que devemos lutar pela renovação, reforma e revitalização.
Agora, voltando ao ponto das mulheres no
ministério, nós devemos entender que certa atitudes e estruturas que restringem
as mulheres também frustram muitos homens no ministério – conheço muitos! Por
isso, nós devemos lutar para recrutar homens e mulheres no trabalho de trazer
um novo rosto para a igreja contemporânea. Uma igreja que abraça e apoia uma
liderança masculina e feminina para a expansão do evangelho. Estudiosos têm
afirmado e visto uma crescente parceria entre mulheres e homens na liderança
cristã como um meio da obra de Deus em despertar uma visão e propósito
verdadeiramente bíblicos.
Nós temos exemplos na História que as
estruturas institucionais decaem e que precisamos de um modo novo (não me
refiro aqui a inovações!) de pensar no ministério para renovar as igrejas
locais. É neste ponto que Deus sempre tem levantado instrumentos para uma
reforma e avivamento. É aqui que o pentecostalismo têm sido um movimento que
tem valorizado o ministério feminino e Deus tem levantado grandes mulheres
neste período com uma liderança capacitada pelo Espírito Santo e reconhecida
pela a igreja e até pelo o mundo.
Historiadores competentes têm notado que
a História tem registrado o surgimento de repetidamente de mulheres líderes.
Eles observaram que o surgimento da liderança feminina tem sido um “padrão
histórico” e não um exceção. Deus sempre tem levantado mulheres líderes e
capacitadas pelo Seu Espírito na História. Isso não pode ser negado!
O fluxo e refluxo da participação das mulheres na liderança não
flutua apenas de acordo com mudanças na exegese bíblica ou na interpretação
reinante de passagens particulares das Escrituras. Pelo contrário, o
padrão também pode ser atribuído à institucionalização da igreja (o
desenvolvimento de estruturas organizacionais), influências da cultura
circundante e da teologia da liderança em ação na igreja local.
Maria L. Boccia descreve esse padrão, que
ela afirma que se repete na história da igreja:
Quando a liderança envolveu a escolha
carismática de Deus dos líderes por meio do dom do Espírito Santo, as mulheres
estão incluídas. Com o passar do tempo, a liderança é institucionalizada
[o clericalismo patriarcal e hierárquico dominam], a cultura secular patriarcal
[caída] é filtrada para a Igreja e as mulheres são excluídas[3].
De fato, o avivamento e a renovação, e o Pentecostalismo em
particular, não apenas romperam as distinções de gênero no que se refere ao
ministério, mas também questionam as barreiras da classe socioeconômica e da
profissionalização. As dicotomias de ricos versus pobres, velhos versus
jovens, educados versus não instruídos, ordenados versus leigos, são deixados
de lado quando o Espírito de Deus visita a igreja com reavivamento. Deus por
meio da glorificação e exaltação de Cristo derramou o Espírito Santo sobre
jovens e velhos, servos e servas, filhos e filhas, brancos e negros, ou seja,
sobre pessoas de todas as tribos, línguas, raça, povos e nações. Como as
paredes que dividem as pessoas desmoronam, a igreja experimenta uma nova
unidade em Cristo, de acordo com a visão de Paulo: "Não há mais judeu ou
grego, não há mais escravo ou livre, não há mais macho e fêmea; tu és um em
Cristo Jesus "(Gl 3:28).
Quando se lê sobre algumas das grandes mulheres da história do
Pentecostalismo, como Agnes Ozman, Lucy Farrow, Aimee Semple McPherson, Alice
Belle Garrigus, Maria Woodworth-Etter, Marie Burgess, Kathryn Kuhlman e Mae
Eleanore Frey, é encorajador saber que essas mulheres extremamente talentosas
ministraram com grande sucesso em um momento da história que não facilitou a
vida para elas. Seu chamado para pregar parecia suplantar tudo o mais em suas
vidas, motivando-as a pagar um preço difícil para cumprir a vontade de Deus.
Sua fidelidade é de grande encorajamento para todas as mulheres pentecostais no
ministério hoje.
O Pentecostalismo tem sido um dos maiores Movimentos de
avivamento, e seus distintivos históricos, interpretativos, querigmáticos
(pregação) e teológicos unem-se para apoiar o ministério feminino como uma
poderosa força para edificação, crescimento e maturidade das igrejas locais e
para a evangelização do mundo. É notório que o século XX não foi apenas marcado
por grandes pregadoras, líderes femininas, mas também por grandes educadoras
(teólogas) evangelistas e missionárias. O mesmo Espírito que capacitou Maria,
Isabel, Hulda, Febe, Priscila, as filhas de Felipe, Ninfa, Áfia, a “senhora
eleita” e outras continua capacitando e levantando mulheres para a obra do
ministério queiramos ou não, pois o Espírito Santo sopra onde quer!
IVAN TEIXEIRA.
[1] GRENZ, Stanley J. & KJESBO, Denise Muir.
Women in the Church: A Biblical Theology
of Women in Ministry, p.46. Inter Varsity Press Downers Grove, ILLinois,
USA, 1995. – (minha tradução e paginação em Word).
[2] Nos Estados Unidos, a Igreja
Presbiteriana dos USA, a Igreja Episcopal dos USA, a Igreja de Cristo Unida, a
Igreja Metodista Unida, a Igreja Reformada na América, a Igreja Evangélica
Luterana na América, a Igreja dos Irmãos, e a Igreja Cristã (Discípulos de
Cristo) são somente um pouco das muitas principais denominações que ordenam
mulheres como ministras e as encorajam a servir como pastoras e bispas de
congregações locais.
[3] BOCCIA, Maria L., "Hidden History
of Women Leaders of the Church," Journal of Biblical Equality, September
1990, p. 58.
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