A Importância da Reforma Hoje
Para algumas
pessoas, parece completamente sem sentido a ideia de que a Reforma dos séculos
dezesseis e dezessete possa ter algo a ensinar à igreja de hoje. No entanto,
acredito que a Reforma protestante tem grandes coisas para nos ensinar, e que
seremos tolos se negligenciarmos tão vasto contexto de vida e teologia sublinhado
pelos reformadores protestantes.
Gostamos do
novo e diferente
É sabido que
vivemos numa época em que a resposta aos problemas contemporâneos é sempre
esperada do novo e do diferente. Se a causa dessa constante carência de
novidades é o consumismo que sempre quer mais e nunca fica satisfeito com o que
tem, ou se é resultado da influência de ideias sobre progresso e evolução,
segundo as quais o melhor está sempre por vir, então o resultado é óbvio: o
passado simplesmente não é visto como fonte de sabedoria ou orientação para o
presente e o futuro.
O
pós-modernismo e o pós-evangelicalismo têm a tendência sempre de romper com as
formas antigas de fazer as coisas. A ideia de que o novo é bom e o velho é ruim
impregna a sociedade contemporânea, e afeta tanto a igreja evangélica como toda
a cultura. A suposição subjacente em muitos lugares é que o passado não tem
serventia nenhuma para a igreja do presente. Temos de introduzir novo tipo de
ensinamentos, liturgias e de conduta, embrulhar-nos em papel mais atraente, e
então nos vender num estilo mais agradável e amigável às pessoas interessadas.
Resgatando a
Reforma
Queremos
conscientiza a cada aqui presente que as percepções chaves dos reformadores do
século XVI são tão relevantes hoje – e tão aplicáveis a situações hodiernas –
como o foram naquela época.
Dois erros a
evitar
O primeiro
é o de que o passado não tem nada para nos ensinar. Infelizmente, a opinião
geral gravita entorno da teoria e hipótese evolucionista, que afirma que o homem
progride de era em era e que o presente é sempre melhor do que o passado[1].
No entanto, nos
colocamos ao lado do profeta Jeremias que diz: “Assim diz o SENHOR:
Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o
bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles
dizem: Não andaremos” (6.16).
A imagem
retratada pelo profeta é de viajantes que estão perdidos, parando para
perguntar a respeito do caminho no qual eles seguiam antes de terem se desviado
para tão longe dele. Nós como obreiros do Senhor Deus precisamos apontar o
caminho em que a igreja deve andar.
Lemos em Isaías
30.21, as penetrantes e esperançosas palavras: “Quando te desviares para a
direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de
ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho andai por ele”.
O segundo
erro relacionado a Reforma é que ela foi uma tragédia. Muitos estão vociferando
que não devemos estudar a Reforma Protestante porque foi um movimento que
dividiu a igreja. O que deveríamos nos empenhar é na unidade das igrejas
atuais, e que não devemos perder tempo em estudar um movimento que desintegrou
a igreja. Infelizmente, muitos pastores, teólogos e líderes clama por uma
igreja sem doutrina, pois doutrina divide.
Modo certo
de olhar para o passado
Devemos olhar
para o passado não com um espírito de colecionador de antiguidades, mas para
aprender dos grandes homens e mulheres e imitar e seguir seus exemplos, bem
como para não cometer os erros que eles cometeram. O escritor aos Hebreus
13.7,8 escreveu: “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a
Palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver
[ou “para o fim” ou “para o resultado” da sua vida]. Jesus Cristo é o mesmo
ontem, e hoje, e eternamente”.
Modo errado
de olhar para o passado
Nosso Senhor
afirmou em Mateus 23.29-32:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que
edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos. E
dizeis: se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca os associaríamos com
eles para derramar o sangue dos profetas. Assim, vós mesmos testificais que
sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós pois a medida de vossos
pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?
O Senhor Jesus
estava Se dirigindo à Sua própria geração, aos Seus contemporâneos. Disse Ele,
efetivamente: vocês estão pagando grande tributo à memória dos profetas; vocês
cuidam dos seus sepulcros e os enfeitam, dizendo que grandes homens eles eram –
quão nobres, quão maravilhosos, temos que manter viva a memória deles – e vocês
dizem que terrível coisa foi que os seus antepassados tenham levado aqueles
homens à morte. Se vocês tivessem vivido naquele tempo, vocês garantem, não se
juntariam a eles naqueles feitos iníquos; vocês teriam dado ouvidos aos
profetas, tê-los-iam seguido. Hipócritas, diz o nosso Senhor, vocês não teriam
feito nada disso.
Como, então,
Ele prova isso? Bem, Ele o faz desta maneira: Ele testa a sinceridade deles
pondo a descoberto a sua atitude no presente para com os sucessores dos
profetas. Qual a reação deles às pessoas que continuam pregando a mesma
mensagem que os profetas pregavam? Diz Ele: vocês dizem que são admiradores dos
profetas e, todavia, vocês estão perseguindo e tentando conseguir a morte de um
homem como Eu, que é o representante moderno da mesma mensagem e da mesma
escola de profecia. Ah, diz o nosso Senhor, uma coisa é olhar para trás e
louvar homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia. Eis o teste da nossa
sinceridade para esta hora: que é que achamos dos homens que hoje pregam a
mesma mensagem que foi pregada por John Knox, John Calvino, Martinho
Lutero e por seus companheiros de Reforma? Como os estamos tratando hoje?
Precisamos
de uma Reforma hoje
É lamentável
constatar o presente estado de coisas, que vai se aproximando cada vez mais do
estado de coisas que prevalecia antes da Reforma Protestante. Antes da Reforma
haviam vícios, imoralidade e os diversos tipos de pecados estavam sem freios.
Atualmente a situação está quase se tornando a mesma de novo. Há um terrível
declínio moral e social. O estado moral de nosso país está terrível: urgentes
problemas políticos e sociais, a delinquência juvenil, o alcoolismo, roubos e
assaltos, vícios e crimes, estão todos presentes como eram antes da Reforma
Protestante.
Mais
importante: Qual o estado da igreja? Estamos retornando à situação da
pré-Reforma.
Que dizer da
autoridade da Igreja? que dizer das condições da doutrina da Igreja? antes da
Reforma havia confusão. Haverá alguma coisa mais característica da Igreja hoje
do que a confusão doutrinária, indiferença doutrinária – a falta de preocupação
e falta de interesse? E as tendências romanizantes, vistas nos famosos e
populares “cultos de campanhas”, estão se introduzindo e sendo exaltadas,
aplaudidas e aceitas sem crítica alguma dentro de centenas de igrejas locais.
Há uma óbvia
tendência de retorno à situação anterior à Reforma; as cerimônias e os rituais
estão aumentando, e a Palavra de Deus está sendo pregada cada vez menos, os
sermões estão ficando cada vez mais curtos.
Grande lição
da Reforma Protestante
Segundo o
grande pregador Martyn Lloyd-Jones “[...] a maior lição que a Reforma
Protestante tem para nos ensinar é justamente esta, que o segredo do sucesso na
esfera da igreja e das coisas do Espírito é olhar para trás”[2].
De volta
para a Palavra
Isso foi
exatamente o que os reformadores fizeram, eles olharam para trás, até ao
primeiro século. Os reformadores retornaram ao Novo Testamento,
retornaram à Bíblia.
Deus despertou
os reformadores para a mensagem do evangelho que estava perdida nos escombros das
palestras fantasiosas e populares de Roma.
Não há nada
mais interessante, quando se leem as histórias de Lutero e de Calvino,
do que notar a maneira pela qual eles foram descobrindo que estiveram
redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinha
esquecido.
A maior de
todas as lições da Reforma Protestante é que o meio de recuperação é sempre ir
atrás, de volta ao modelo primitivo, à origem, às normas e ao padrão que só se
encontra no Novo Testamento.
Paulo exortou
a Timóteo: “Mantém o padrão das sãs Palavras que de mim ouviste
com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o
Espírito Santo que habita em nós” (1Tm 1.13-14).
Aqueles homens
retrocederam ao princípio, e tentaram estabelecer uma igreja em conformidade
com o modelo do Novo Testamento. Nosso maior problema hoje é que estamos
tentando estabelecer uma igreja em conformidade com os padrões mundanos por
meio da metodologia e sabedoria humanas.
Segundo Alister
McGrath com o surgimento da pesquisa bíblica humanista, no início da década
de 1500, revelou-se uma série de erros de traduções nas versões latinas,
existentes naquele período, da Bíblia. Então é certo a “alegação de que a
Reforma do século XVI tenha representado uma tentativa de alinhar, novamente, a
teologia às Escrituras, após um período de considerável afastamento”[3].
Toda a teologia, eclesiologia e soteriologia, em especial, foram analisadas à
luz das Escrituras Sagradas. A Reforma Protestante foi acima de tudo um
movimento de volta às Escrituras como única regra de fé e prática. Os
Reformadores não apenas afirmavam Sola Scriptura, mas também Tota
Scriptura.
Avivamento e
Reforma é uma volta às origens
Concordo
plenamente com Martyn Lloyd-Jones quando disse que no Livro de Atos
“temos a norma daquilo que todos deveríamos ser”[4].
Em outro lugar ele acrescenta que todos os gloriosos e grandes períodos de
avivamento que a Igreja experimentou “... parece ser um retorno ao que lemos no
Livro de Atos dos Apóstolos”[5].
O
profeta Jeremias fez a seguinte oração por reforma e avivamento para sua
vida e para a nação: “Converte-nos a Ti, SENHOR, e seremos convertidos; renova
os nossos dias como dantes” (Lm 5.21).
Agenda
bíblica
Carl
Trueman escreveu que não devemos
deixar que os hereges, os heterodoxos e a sabedoria secular estabeleça a agenda
da igreja, ou seja, aquilo que a igreja deve estar preocupada e envolvida[6].
Devemos reconhecer que nossa ordem do dia deve ser estabelecida pelas
prioridades bíblicas.
É
lamentável que muitos pastores e líderes seguem a agenda, a sabedoria e a
metodologia mundanas em vez de decidir seguir o que Deus determinou como a
mensagem, missão e alvo da igreja.
Definição
Pode-se
definir a Reforma como “a tentativa de colocar Deus, como Ele se revelou em
Cristo, no centro da vida e do pensamento da igreja”. A importância da Reforma
revela-se na medida das tentativas firmes de colocar Deus, em Cristo, no
centro. Em toda verdadeira Reforma e Avivamento o homem é destronado e Deus, em
Cristo, pelo poder do Espírito Santo, é entronizado nas igrejas locais.
Qual
foi a batalha dos Reformadores?
Martinho
Lutero descreveu a diferença
entre si mesmo e seus precursores, John Wyclif e John Huss. Eles
atacaram os padrões de conduta do papado, mas Lutero atacou a sua
teologia. É de vital importância entender isto: a batalha de Lutero, em
última análise, não era de cunho moral; ela era teológica. Naturalmente, as
duas coisas estão intimamente ligadas.
A
razão por que a Reforma Protestante foi de tamanha importância foi que ela
dirigiu-se aos fundamentos teológicos da igreja e a reformar o todo – raízes e
ramos.
Uma
reforma teológica sempre precede e prepara o caminho para o avivamento. Ou
seja, quando a igreja esposa e prega as grandes verdades doutrinária a reforma
torna-se como um trator de esteira, abrindo o caminho para um profusa
derramamento do Espírito Santo que desaguará em missões poderosas.
Deus
antes e acima de tudo
Devemos
estar cientes de que a utilidade da teologia da Reforma está em sua ênfase em
Deus. As teologias, os catecismos e as liturgias que emanavam das penas dos
reformadores indicam que a piedade deles era do tipo que se preocupava, acima
de tudo, com Deus. A ênfase dos reformadores era posta muito mais na identidade
e ação de Deus do que na experiência que o homem tem com Ele.
Um
exemplo disso é João Calvino que nas suas obras fala pouco de si mesmo,
pois se preocupava com o tema próprio da teologia, ou seja, Deus. Tudo isso é
diferente da piedade evangélica contemporânea cuja sua obsessão não é tanto com
Deus quanto o é com o ego.
Por
exemplo, muitas músicas do evangelicalismo carismático costumam nos falar mais
do cantor do que sobre Aquele a quem o cântico deveria ser dirigido em
Adoração.
Ivan
Teixeira
Minister
Verbi Divini
[1]
LLOYD-JONE, Martyn. Discernindo os Tempos, p.103. São Paulo, SP, Brasil:
Editora PES,1994.
[2]
LLOYD-JONES, 1994, p.107.
[3]
Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: uma introdução a teologia
cristã, p.181. São Paulo, SP, Brasil: Shedd Publicações, 2005.
[4]
Em Pregação & Pregadores.
Editora Fiel.
[5]
Em Avivamento, Editora PES.
[6]
Reforma Ontem, Hoje e Amanhã, São Paulo, SP, Brasil: Editora Os
Puritanos, 1ª edição ebook – setembro de 2013.
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