domingo, 28 de maio de 2017

IMPORTÂNCIA DA REFORMA HOJE


A Importância da Reforma Hoje


Para algumas pessoas, parece completamente sem sentido a ideia de que a Reforma dos séculos dezesseis e dezessete possa ter algo a ensinar à igreja de hoje. No entanto, acredito que a Reforma protestante tem grandes coisas para nos ensinar, e que seremos tolos se negligenciarmos tão vasto contexto de vida e teologia sublinhado pelos reformadores protestantes.

Gostamos do novo e diferente
É sabido que vivemos numa época em que a resposta aos problemas contemporâneos é sempre esperada do novo e do diferente. Se a causa dessa constante carência de novidades é o consumismo que sempre quer mais e nunca fica satisfeito com o que tem, ou se é resultado da influência de ideias sobre progresso e evolução, segundo as quais o melhor está sempre por vir, então o resultado é óbvio: o passado simplesmente não é visto como fonte de sabedoria ou orientação para o presente e o futuro.
O pós-modernismo e o pós-evangelicalismo têm a tendência sempre de romper com as formas antigas de fazer as coisas. A ideia de que o novo é bom e o velho é ruim impregna a sociedade contemporânea, e afeta tanto a igreja evangélica como toda a cultura. A suposição subjacente em muitos lugares é que o passado não tem serventia nenhuma para a igreja do presente. Temos de introduzir novo tipo de ensinamentos, liturgias e de conduta, embrulhar-nos em papel mais atraente, e então nos vender num estilo mais agradável e amigável às pessoas interessadas.

Resgatando a Reforma
Queremos conscientiza a cada aqui presente que as percepções chaves dos reformadores do século XVI são tão relevantes hoje – e tão aplicáveis a situações hodiernas – como o foram naquela época.

Dois erros a evitar
O primeiro é o de que o passado não tem nada para nos ensinar. Infelizmente, a opinião geral gravita entorno da teoria e hipótese evolucionista, que afirma que o homem progride de era em era e que o presente é sempre melhor do que o passado[1].
No entanto, nos colocamos ao lado do profeta Jeremias que diz: “Assim diz o SENHOR: Ponde-vos à margem no caminho e vede, perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso para a vossa alma; mas eles dizem: Não andaremos” (6.16).
A imagem retratada pelo profeta é de viajantes que estão perdidos, parando para perguntar a respeito do caminho no qual eles seguiam antes de terem se desviado para tão longe dele. Nós como obreiros do Senhor Deus precisamos apontar o caminho em que a igreja deve andar.
Lemos em Isaías 30.21, as penetrantes e esperançosas palavras: “Quando te desviares para a direita e quando te desviares para a esquerda, os teus ouvidos ouvirão atrás de ti uma palavra, dizendo: Este é o caminho andai por ele”.

O segundo erro relacionado a Reforma é que ela foi uma tragédia. Muitos estão vociferando que não devemos estudar a Reforma Protestante porque foi um movimento que dividiu a igreja. O que deveríamos nos empenhar é na unidade das igrejas atuais, e que não devemos perder tempo em estudar um movimento que desintegrou a igreja. Infelizmente, muitos pastores, teólogos e líderes clama por uma igreja sem doutrina, pois doutrina divide.

Modo certo de olhar para o passado
Devemos olhar para o passado não com um espírito de colecionador de antiguidades, mas para aprender dos grandes homens e mulheres e imitar e seguir seus exemplos, bem como para não cometer os erros que eles cometeram. O escritor aos Hebreus 13.7,8 escreveu: “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a Palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver [ou “para o fim” ou “para o resultado” da sua vida]. Jesus Cristo é o mesmo ontem, e hoje, e eternamente”.

Modo errado de olhar para o passado
Nosso Senhor afirmou em Mateus 23.29-32:
Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos. E dizeis: se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca os associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas. Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. Enchei vós pois a medida de vossos pais. Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno?

O Senhor Jesus estava Se dirigindo à Sua própria geração, aos Seus contemporâneos. Disse Ele, efetivamente: vocês estão pagando grande tributo à memória dos profetas; vocês cuidam dos seus sepulcros e os enfeitam, dizendo que grandes homens eles eram – quão nobres, quão maravilhosos, temos que manter viva a memória deles – e vocês dizem que terrível coisa foi que os seus antepassados tenham levado aqueles homens à morte. Se vocês tivessem vivido naquele tempo, vocês garantem, não se juntariam a eles naqueles feitos iníquos; vocês teriam dado ouvidos aos profetas, tê-los-iam seguido. Hipócritas, diz o nosso Senhor, vocês não teriam feito nada disso.
Como, então, Ele prova isso? Bem, Ele o faz desta maneira: Ele testa a sinceridade deles pondo a descoberto a sua atitude no presente para com os sucessores dos profetas. Qual a reação deles às pessoas que continuam pregando a mesma mensagem que os profetas pregavam? Diz Ele: vocês dizem que são admiradores dos profetas e, todavia, vocês estão perseguindo e tentando conseguir a morte de um homem como Eu, que é o representante moderno da mesma mensagem e da mesma escola de profecia. Ah, diz o nosso Senhor, uma coisa é olhar para trás e louvar homens famosos, mas isso pode ser pura hipocrisia. Eis o teste da nossa sinceridade para esta hora: que é que achamos dos homens que hoje pregam a mesma mensagem que foi pregada por John Knox, John Calvino, Martinho Lutero e por seus companheiros de Reforma? Como os estamos tratando hoje?

Precisamos de uma Reforma hoje
É lamentável constatar o presente estado de coisas, que vai se aproximando cada vez mais do estado de coisas que prevalecia antes da Reforma Protestante. Antes da Reforma haviam vícios, imoralidade e os diversos tipos de pecados estavam sem freios. Atualmente a situação está quase se tornando a mesma de novo. Há um terrível declínio moral e social. O estado moral de nosso país está terrível: urgentes problemas políticos e sociais, a delinquência juvenil, o alcoolismo, roubos e assaltos, vícios e crimes, estão todos presentes como eram antes da Reforma Protestante.
Mais importante: Qual o estado da igreja? Estamos retornando à situação da pré-Reforma.
Que dizer da autoridade da Igreja? que dizer das condições da doutrina da Igreja? antes da Reforma havia confusão. Haverá alguma coisa mais característica da Igreja hoje do que a confusão doutrinária, indiferença doutrinária – a falta de preocupação e falta de interesse? E as tendências romanizantes, vistas nos famosos e populares “cultos de campanhas”, estão se introduzindo e sendo exaltadas, aplaudidas e aceitas sem crítica alguma dentro de centenas de igrejas locais.
Há uma óbvia tendência de retorno à situação anterior à Reforma; as cerimônias e os rituais estão aumentando, e a Palavra de Deus está sendo pregada cada vez menos, os sermões estão ficando cada vez mais curtos.

Grande lição da Reforma Protestante
Segundo o grande pregador Martyn Lloyd-Jones “[...] a maior lição que a Reforma Protestante tem para nos ensinar é justamente esta, que o segredo do sucesso na esfera da igreja e das coisas do Espírito é olhar para trás”[2].

De volta para a Palavra
Isso foi exatamente o que os reformadores fizeram, eles olharam para trás, até ao primeiro século. Os reformadores retornaram ao Novo Testamento, retornaram à Bíblia.
Deus despertou os reformadores para a mensagem do evangelho que estava perdida nos escombros das palestras fantasiosas e populares de Roma.
Não há nada mais interessante, quando se leem as histórias de Lutero e de Calvino, do que notar a maneira pela qual eles foram descobrindo que estiveram redescobrindo o que Agostinho já tinha descoberto e que eles tinha esquecido.
A maior de todas as lições da Reforma Protestante é que o meio de recuperação é sempre ir atrás, de volta ao modelo primitivo, à origem, às normas e ao padrão que só se encontra no Novo Testamento.
Paulo exortou a Timóteo: “Mantém o padrão das sãs Palavras que de mim ouviste com fé e com o amor que está em Cristo Jesus. Guarda o bom depósito, mediante o Espírito Santo que habita em nós” (1Tm 1.13-14).
Aqueles homens retrocederam ao princípio, e tentaram estabelecer uma igreja em conformidade com o modelo do Novo Testamento. Nosso maior problema hoje é que estamos tentando estabelecer uma igreja em conformidade com os padrões mundanos por meio da metodologia e sabedoria humanas.
Segundo Alister McGrath com o surgimento da pesquisa bíblica humanista, no início da década de 1500, revelou-se uma série de erros de traduções nas versões latinas, existentes naquele período, da Bíblia. Então é certo a “alegação de que a Reforma do século XVI tenha representado uma tentativa de alinhar, novamente, a teologia às Escrituras, após um período de considerável afastamento”[3]. Toda a teologia, eclesiologia e soteriologia, em especial, foram analisadas à luz das Escrituras Sagradas. A Reforma Protestante foi acima de tudo um movimento de volta às Escrituras como única regra de fé e prática. Os Reformadores não apenas afirmavam Sola Scriptura, mas também Tota Scriptura.

Avivamento e Reforma é uma volta às origens
Concordo plenamente com Martyn Lloyd-Jones quando disse que no Livro de Atos “temos a norma daquilo que todos deveríamos ser”[4]. Em outro lugar ele acrescenta que todos os gloriosos e grandes períodos de avivamento que a Igreja experimentou “... parece ser um retorno ao que lemos no Livro de Atos dos Apóstolos”[5].

O profeta Jeremias fez a seguinte oração por reforma e avivamento para sua vida e para a nação: “Converte-nos a Ti, SENHOR, e seremos convertidos; renova os nossos dias como dantes” (Lm 5.21).

Agenda bíblica
Carl Trueman escreveu que não devemos deixar que os hereges, os heterodoxos e a sabedoria secular estabeleça a agenda da igreja, ou seja, aquilo que a igreja deve estar preocupada e envolvida[6]. Devemos reconhecer que nossa ordem do dia deve ser estabelecida pelas prioridades bíblicas.
É lamentável que muitos pastores e líderes seguem a agenda, a sabedoria e a metodologia mundanas em vez de decidir seguir o que Deus determinou como a mensagem, missão e alvo da igreja.

Definição
Pode-se definir a Reforma como “a tentativa de colocar Deus, como Ele se revelou em Cristo, no centro da vida e do pensamento da igreja”. A importância da Reforma revela-se na medida das tentativas firmes de colocar Deus, em Cristo, no centro. Em toda verdadeira Reforma e Avivamento o homem é destronado e Deus, em Cristo, pelo poder do Espírito Santo, é entronizado nas igrejas locais.

Qual foi a batalha dos Reformadores?
Martinho Lutero descreveu a diferença entre si mesmo e seus precursores, John Wyclif e John Huss. Eles atacaram os padrões de conduta do papado, mas Lutero atacou a sua teologia. É de vital importância entender isto: a batalha de Lutero, em última análise, não era de cunho moral; ela era teológica. Naturalmente, as duas coisas estão intimamente ligadas.
A razão por que a Reforma Protestante foi de tamanha importância foi que ela dirigiu-se aos fundamentos teológicos da igreja e a reformar o todo – raízes e ramos.
Uma reforma teológica sempre precede e prepara o caminho para o avivamento. Ou seja, quando a igreja esposa e prega as grandes verdades doutrinária a reforma torna-se como um trator de esteira, abrindo o caminho para um profusa derramamento do Espírito Santo que desaguará em missões poderosas.

Deus antes e acima de tudo
Devemos estar cientes de que a utilidade da teologia da Reforma está em sua ênfase em Deus. As teologias, os catecismos e as liturgias que emanavam das penas dos reformadores indicam que a piedade deles era do tipo que se preocupava, acima de tudo, com Deus. A ênfase dos reformadores era posta muito mais na identidade e ação de Deus do que na experiência que o homem tem com Ele.
Um exemplo disso é João Calvino que nas suas obras fala pouco de si mesmo, pois se preocupava com o tema próprio da teologia, ou seja, Deus. Tudo isso é diferente da piedade evangélica contemporânea cuja sua obsessão não é tanto com Deus quanto o é com o ego.
Por exemplo, muitas músicas do evangelicalismo carismático costumam nos falar mais do cantor do que sobre Aquele a quem o cântico deveria ser dirigido em Adoração.

Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini



[1] LLOYD-JONE, Martyn. Discernindo os Tempos, p.103. São Paulo, SP, Brasil: Editora PES,1994.
[2] LLOYD-JONES, 1994, p.107.
[3] Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: uma introdução a teologia cristã, p.181. São Paulo, SP, Brasil: Shedd Publicações, 2005.
[4] Em Pregação & Pregadores. Editora Fiel.
[5] Em Avivamento, Editora PES.
[6] Reforma Ontem, Hoje e Amanhã, São Paulo, SP, Brasil: Editora Os Puritanos, 1ª edição ebook – setembro de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário