Um
Tratado da Missão da Igreja
“Declare Sua glória entre as
nações” (Sl 96.3).
“Deus é o Senhor Soberano das
Missões” (John Eliot).
“Deus não pode ser invocado por
ninguém, exceto por aqueles que conheceram Sua misericórdia por meio do
Evangelho” (João Calvino).
I. Estudo da
Missiologia.
O cenário atual de missiologia nos elenca um
divórcio gritante entre teologia e missões. A nossa preocupação não deve ser
apenas com uma das duas, mas devemos corrigir imediatamente essa dicotomia
obtusa.
Há lugares (ou igrejas) em que encontramos
bastante ênfase sobre missões da Igreja sem entender muito da natureza e origem da Igreja. Já outros lugares (ou igrejas) encontram-se uma
ênfase sobre a natureza e origem da Igreja, mas uma negligência das
missões da Igreja. Acredito que
precisamos tanto de teologia da origem
e natureza da Igreja, quanto uma
teologia das missões da Igreja.
Acredito que a verdadeira teologia (estudo de Deus) desemboca em
missiologia (envio[1] da
Palavra de Deus). Michael Green afirma que está comprometido tanto com teologia
quanto com missiologia. Assim ele se expressa: “A maior parte dos evangelistas
não se interessa muito por teologia; e a maioria dos teólogos não se interessa
muito por evangelização. Eu estou comprometido profundamente com ambos [...]”[2].
George W. Peters também nos esclarece:
Tenho
a impressão de que a Bíblia não é um Livro teologia, mas ao invés disso um
registro sobre teologia em missões; Deus agindo em nome da salvação da
humanidade. Acredito que Georg F. Vicedom aproxima-se muito do pensamento
bíblico quando diz: “A Bíblia em sua totalidade designa apenas uma intenção de
Deus: salvar a humanidade”. Compreende-se através de toda a Escritura que o resultado
final de tal Missio Dei será a
glorificação do Pai, Filho e Espírito Santo[3].
Precisamos da teologia, pois ela nos dá o
embasamento para a tarefa missionária, e é especialmente importante por causa
da dependência que a igreja tem dela
para medir os nossos esforços com o
padrão divino. E precisamos da missiologia que é o meio pelo qual Deus faz
crescer a Igreja, ela é resultado da ação não somente de Deus ao enviar Seu
Filho ao mundo como também do esforço de irmãos e irmãs que divulgam o Evangelho
de Cristo[4].
Missiologia é a soma de duas palavras: do latim,
“missione” significando função ou
poder que se confere a alguém para fazer algo, encargo, incumbência; e do
grego, “logia”, que significa estudo,
conhecimento. Portanto, podemos definir Missiologia como a ciência que estuda
os diferentes aspectos da missão que Deus deu ao homem.
George W. Peters faz uma diferença em as palavras
Missão e Missões. A primeira “trata-se do desígnio bíblico completo da
Igreja de Jesus Cristo. Esse é um termo vasto que inclui os ministérios
voltados para cima, para dentro e para fora da Igreja. É a Igreja como uma
‘enviada’ (peregrina, estrangeira, testemunha, profeta, serva, com sal, luz e
etc.) neste mundo”[5].
Já Missões é descrito como um termo
especializado. “É o envio de pessoas autorizadas para além das fronteiras da
igreja do Novo Testamento e sua imediata influência evangélica para proclamar o
Evangelho de Jesus Cristo em áreas destituídas deste, para converter pessoas
que têm fé e que não têm fé em
Jesus Cristo , e para estabelecer o funcionamento e
multiplicação de congregações locais que irão cultivar o fruto do cristianismo
nesta comunidade e neste país”[6].
II. Definições
Generalizadas de Missões.
Desde os meados do século XX, vários sentidos têm
sido aplicados ao termo “Missão”, alguns mais estreitos, outros, mais amplos.
O missiólogo Karl Muller[7] elenca
alguns conceitos:
(1) Missão é o envio de missionários para um
designado território;
(2) Missão tem a ver com as atividades realizadas
por tais missionários;
(3) Missão é a área geográfica aonde os missionários
realizam seus ministérios;
(4) Missão é a agência missionária responsável pela
logística e pelo envio dos missionários aos seus respectivos campos;
(5) Missão é a propagação do evangelho aos povos não
alcançados;
(6) Missão é o centro do qual os missionários
irradiam o evangelho;
(7) Missão é uma série de serviços religiosos com o
propósito de despertar vocações missionárias;
(8) Missão é a propagação da fé Cristã;
(9) Missão é a expansão do Reino de Deus;
(10) Missão é a conversão dos povos pagãos;
(11) Missão é a plantação de novas igrejas.
Dr. Antônio José nos informa que até o século XVI, o termo “Missão”, foi
usado exclusivamente com referência à doutrina trinitária, isto é, ao papel
da Trindade na história da redenção. O envio do Filho pelo Pai, e por sua vez,
o envio do Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho, cuja interpretação
missiológica deu origem à doutrina chamada na história de “Filioque”[8]. Esta
interpretação, contanto que aceita como doutrina básica da Igreja Cristã, foi
um dos motivos da cisão do Cristianismo medieval no ano de 1054.
O termo “Missão” pode elencar um sentido estrito
e outro amplo. Neste, é tudo o que a igreja faz a serviço do Reino de Deus
(Missões no Plural). Naquele, a missão refere-se à atividade missionária, a
pregação do evangelho entre povos e culturas em cujo meio ele não é conhecido
(missão no singular)[9].
A Igreja não realiza a missão sem o Deus Trino. A
Igreja não pode realizar sua missão sozinha, pelos seus próprios méritos e
esforços. Pois, missão é a atividade da Igreja, que é essencialmente a
atividade de Cristo. Não é de somenos importância que a melhor definição do
Livro de Atos é a do Dr. John Stott:
“[...] O título mais correto, então (apesar de
estranho), que faz jus à própria afirmação de Lucas nos versículos 1 e 2 [de
Atos cap. 1], seria algo parecido com ‘As Palavras e Obras de Jesus que
Continuam Através de Seu Espírito por Intermédio dos Apóstolos’”[10].
Sabemos que o Senhor Jesus completou Sua obra
expiatória, mas essa completude é também um início. Pois após a ressurreição, a
ascensão e a dádiva do Espírito Santo, o Senhor Jesus continuou Sua obra,
primeiro, e de um modo especial, através do ministério fundador e único dos
Seus apóstolos escolhidos, e depois, através da igreja pós-apostólica de cada
época e lugar. É esse, portanto, o Jesus Cristo no qual cremos: Ele é o Jesus
histórico que viveu e o Jesus contemporâneo que vive. O Jesus da história
começou o Seu ministério na terra; o Cristo da glória tem agido através do Seu
Espírito Santo desde então, de acordo com a Sua promessa de permanecer com o
Seu povo “sempre, até a consumação do século” (Mt 28.20)[11].
Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini
[1] A palavra “missão” vem do
latim missio, enviado.
[2] Em Evangelização na Igreja Primitiva – Edições Vida Nova.
[3] Em Teologia
Bíblica de Missões – Editora CPAD.
[4] Cf. Gildásio Jesus B. dos
Reis em Apostila de Missiologia –
Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição.
[5] Op. cit.
[6] Idem ibidem.
[7] Em Mission Theology : Na Introduction (Nettetal, Germany: Eteyler Verlag, 1987) apud Gildásio Jesus B. dos Reis, op. cit.
[8] Para maiores detalhes sobre
esta questão o aluno deverá consultar uma exposição do Concílio de Toledo (589 A .D.).
[9] Confira acima a distinção
dada pelo Dr. George W. Peters.
[10] Em A BÍBLIA FALA HOJE: A
Mensagem de Atos: Até os Confins da Terra – Editora ABU.
[11] Cf. John Stott, op. cit.
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