domingo, 28 de maio de 2017

Introdução à Missiologia

Um Tratado da Missão da Igreja


“Declare Sua glória entre as nações” (Sl 96.3).

“Deus é o Senhor Soberano das Missões” (John Eliot).

“Deus não pode ser invocado por ninguém, exceto por aqueles que conheceram Sua misericórdia por meio do Evangelho” (João Calvino).

I. Estudo da Missiologia.
O cenário atual de missiologia nos elenca um divórcio gritante entre teologia e missões. A nossa preocupação não deve ser apenas com uma das duas, mas devemos corrigir imediatamente essa dicotomia obtusa.
Há lugares (ou igrejas) em que encontramos bastante ênfase sobre missões da Igreja sem entender muito da natureza e origem da Igreja. Já outros lugares (ou igrejas) encontram-se uma ênfase sobre a natureza e origem da Igreja, mas uma negligência das missões da Igreja. Acredito que precisamos tanto de teologia da origem e natureza da Igreja, quanto uma teologia das missões da Igreja.
Acredito que a verdadeira teologia (estudo de Deus) desemboca em missiologia (envio[1] da Palavra de Deus). Michael Green afirma que está comprometido tanto com teologia quanto com missiologia. Assim ele se expressa: “A maior parte dos evangelistas não se interessa muito por teologia; e a maioria dos teólogos não se interessa muito por evangelização. Eu estou comprometido profundamente com ambos [...]”[2].

George W. Peters também nos esclarece:
Tenho a impressão de que a Bíblia não é um Livro teologia, mas ao invés disso um registro sobre teologia em missões; Deus agindo em nome da salvação da humanidade. Acredito que Georg F. Vicedom aproxima-se muito do pensamento bíblico quando diz: “A Bíblia em sua totalidade designa apenas uma intenção de Deus: salvar a humanidade”. Compreende-se através de toda a Escritura que o resultado final de tal Missio Dei será a glorificação do Pai, Filho e Espírito Santo[3].

Precisamos da teologia, pois ela nos dá o embasamento para a tarefa missionária, e é especialmente importante por causa da dependência que a igreja tem dela para medir os nossos esforços com o padrão divino. E precisamos da missiologia que é o meio pelo qual Deus faz crescer a Igreja, ela é resultado da ação não somente de Deus ao enviar Seu Filho ao mundo como também do esforço de irmãos e irmãs que divulgam o Evangelho de Cristo[4].

Missiologia é a soma de duas palavras: do latim, “missione” significando função ou poder que se confere a alguém para fazer algo, encargo, incumbência; e do grego, “logia”, que significa estudo, conhecimento. Portanto, podemos definir Missiologia como a ciência que estuda os diferentes aspectos da missão que Deus deu ao homem.
George W. Peters faz uma diferença em as palavras Missão e Missões. A primeira “trata-se do desígnio bíblico completo da Igreja de Jesus Cristo. Esse é um termo vasto que inclui os ministérios voltados para cima, para dentro e para fora da Igreja. É a Igreja como uma ‘enviada’ (peregrina, estrangeira, testemunha, profeta, serva, com sal, luz e etc.) neste mundo”[5]. Já Missões é descrito como um termo especializado. “É o envio de pessoas autorizadas para além das fronteiras da igreja do Novo Testamento e sua imediata influência evangélica para proclamar o Evangelho de Jesus Cristo em áreas destituídas deste, para converter pessoas que têm fé e que não têm fé em Jesus Cristo, e para estabelecer o funcionamento e multiplicação de congregações locais que irão cultivar o fruto do cristianismo nesta comunidade e neste país”[6].

II. Definições Generalizadas de Missões.
Desde os meados do século XX, vários sentidos têm sido aplicados ao termo “Missão”, alguns mais estreitos, outros, mais amplos.
O missiólogo Karl Muller[7] elenca alguns conceitos:

(1) Missão é o envio de missionários para um designado território;
(2) Missão tem a ver com as atividades realizadas por tais missionários;
(3) Missão é a área geográfica aonde os missionários realizam seus ministérios;
(4) Missão é a agência missionária responsável pela logística e pelo envio dos missionários aos seus respectivos campos;
(5) Missão é a propagação do evangelho aos povos não alcançados;
(6) Missão é o centro do qual os missionários irradiam o evangelho;
(7) Missão é uma série de serviços religiosos com o propósito de despertar vocações missionárias;
(8) Missão é a propagação da fé Cristã;
(9) Missão é a expansão do Reino de Deus;
(10) Missão é a conversão dos povos pagãos;
(11) Missão é a plantação de novas igrejas.

Dr. Antônio José nos informa que até o século XVI, o termo “Missão”, foi usado exclusivamente com referência à doutrina trinitária, isto é, ao papel da Trindade na história da redenção. O envio do Filho pelo Pai, e por sua vez, o envio do Espírito Santo pelo Pai e pelo Filho, cuja interpretação missiológica deu origem à doutrina chamada na história de “Filioque”[8]. Esta interpretação, contanto que aceita como doutrina básica da Igreja Cristã, foi um dos motivos da cisão do Cristianismo medieval no ano de 1054.
O termo “Missão” pode elencar um sentido estrito e outro amplo. Neste, é tudo o que a igreja faz a serviço do Reino de Deus (Missões no Plural). Naquele, a missão refere-se à atividade missionária, a pregação do evangelho entre povos e culturas em cujo meio ele não é conhecido (missão no singular)[9].
A Igreja não realiza a missão sem o Deus Trino. A Igreja não pode realizar sua missão sozinha, pelos seus próprios méritos e esforços. Pois, missão é a atividade da Igreja, que é essencialmente a atividade de Cristo. Não é de somenos importância que a melhor definição do Livro de Atos é a do Dr. John Stott:

“[...] O título mais correto, então (apesar de estranho), que faz jus à própria afirmação de Lucas nos versículos 1 e 2 [de Atos cap. 1], seria algo parecido com ‘As Palavras e Obras de Jesus que Continuam Através de Seu Espírito por Intermédio dos Apóstolos’”[10].

Sabemos que o Senhor Jesus completou Sua obra expiatória, mas essa completude é também um início. Pois após a ressurreição, a ascensão e a dádiva do Espírito Santo, o Senhor Jesus continuou Sua obra, primeiro, e de um modo especial, através do ministério fundador e único dos Seus apóstolos escolhidos, e depois, através da igreja pós-apostólica de cada época e lugar. É esse, portanto, o Jesus Cristo no qual cremos: Ele é o Jesus histórico que viveu e o Jesus contemporâneo que vive. O Jesus da história começou o Seu ministério na terra; o Cristo da glória tem agido através do Seu Espírito Santo desde então, de acordo com a Sua promessa de permanecer com o Seu povo “sempre, até a consumação do século” (Mt 28.20)[11].

Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini



[1] A palavra “missão” vem do latim missio, enviado.
[2] Em Evangelização na Igreja Primitiva – Edições Vida Nova.
[3] Em Teologia Bíblica de Missões – Editora CPAD.
[4] Cf. Gildásio Jesus B. dos Reis em Apostila de Missiologia – Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição.
[5] Op. cit.
[6] Idem ibidem.
[7] Em Mission Theology: Na Introduction (Nettetal, Germany: Eteyler Verlag, 1987) apud Gildásio Jesus B. dos Reis, op. cit.
[8] Para maiores detalhes sobre esta questão o aluno deverá consultar uma exposição do Concílio de Toledo (589 A.D.).
[9] Confira acima a distinção dada pelo Dr. George W. Peters.
[10] Em A BÍBLIA FALA HOJE: A Mensagem de Atos: Até os Confins da Terra – Editora ABU.
[11] Cf. John Stott, op. cit.

Nenhum comentário:

Postar um comentário