quarta-feira, 26 de julho de 2017

IGREJA TEOCÊNTRICA

A Centralidade de Deus na Igreja

Cosmovisão teocêntrica para a vida e ministério da igreja local

CATEDRAL DE WESTMINSTER
Estamos cientes que nos últimos anos tem ocorrido uma mudança radical na forma em que muitos crentes veem a igreja. Muitas pessoas descrevem os membros da igreja como clientes e a igreja local como uma empresa lucrativa ou a veem como um centro de entretenimento. Isso é resultado da negligência dos líderes da centralidade de Deus para a vida da igreja.
Quando se perde a visão de uma eclesiologia (doutrina da igreja) centrada em Deus os membros da igreja local são vistos como clientes, e os potenciais conversos como projetos alcançáveis por meio do marketing, e o evangelho, as atividades, as estruturas denominacionais e os programas como produtos (ou meios) para a comercialização. No contexto da perda da visão teocêntrica para a vida e ministério da igreja, se confunde a adoração com entretenimento, ser bom com sentir-se bem, santo com espirituoso, espiritual com místico, e fidelidade com ter êxito ou com “ser abençoado”. Dizem-nos que a chave para o crescimento da igreja está em “suprir as necessidades dos clientes”. Igualmente reveladora é a linguagem que as pessoas utilizam para explicar essas mudanças: “minha igreja não estava mais satisfazendo minhas necessidades”; “não fui abençoado neste culto”; “não me sentir bem com essa pregação doutrinária”. Cada vez mais as pessoas consideram ou veem a igreja local em termos do que ela pode “fazer por mim” – é claro, eles não são membros ativos do Corpo de Cristo, mas meros consumidores andando de campanhas em campanhas atrás dos produtos mais atrativos.
Essa mudança de visão da igreja – sem dúvida influenciada pelo narcisismo (egocentrismo) e pela “mentalidade consumista” do sonho americano abrasileirado – é um sintoma de uma mudança cultural mais profunda. No decorrer dos anos, substanciais segmentos culturais têm mudado de uma perspectiva centrada em Deus para a realidade a uma perspectiva centrada no homem. Em outras palavras, tem havido uma mudança de cosmovisão daquela teocêntrica em que os seres humanos se consideravam criação de Deus, a uma cosmovisão antropocêntrica, na qual (sob a influência das ideias de pessoas como Nietzsche e Freud) “Deus” é considerado amplamente como uma projeção da mente humana. Em resumo, algo parecido com a antiga visão de Protágoras, “o homem é a medida de todas as coisas”, tem se convertido num princípio fundamental da cosmovisão secular contemporânea e dos evangélicos atuais. Uma famigerada obsessão por poder, status, realização pessoal, sonhos, autoajuda e sucesso tem marcado a geração atual dos membros comuns das igrejas locais. Os debates sobre o “correto e o incorreto”, “certo e errado”, a “lei e a moralidade”, entre o “bem e o mal” já não são analisados tendo Deus como referência, mas as próprias pessoas: o que “eu acho”, o que “eu sinto”, o que “eu penso”, a minha “experiência”, a minha “interpretação” e etc. Os seres humanos e não Deus é a medida de todas as coisas!
Considerada desde esta perspectiva antropocêntrica, a igreja se converte noutra organização humana, criada por seres humanos para suprir as necessidades humanas. O estilo e a nomenclatura podem diferir de outros grupos humanos, mas não a substância: é apenas outra organização para suprir os desejos egoístas e obsessivos dos pecadores impenitentes. Por isso não nos surpreendemos quando muitos veem a igreja como um circo, um shopping center, uma boate, um palanque político, uma plataforma para os shows mens e etc. Isso é um exemplo de como as sutis e insidiosas formas da cultura mundana contemporânea tem si infiltrado nas igrejas locais.
Em contraste com esta crescente tendência, nós temos a descrição do apóstolo Paulo com sua ressonante ênfase sobre Deus e Jesus Cristo: “igreja dos tessalonicenses em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo” (1Ts 1.1). Ele nos recorda que a igreja está “em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo”. Ela não existe e nem tem vida separada de Deus e de Sua obra salvadora em Jesus Cristo. Isso significa que a igreja não é mais uma organização social, mas a igreja do Deus vivo, a coluna e baluarte da verdade. A igreja é o povo de Deus, a família de Deus, a noiva de Cristo e o santuário do Espírito Santo, reunida para adoração ao Santíssimo Deus, e comissionada para pregar o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo no poder de Deus Espírito Santo. É Deus que escolhe, chama e justifica os seres humanos para que Lhe sigam, o adorem e o sirvam, e não o contrário. Deus não existe por causa da igreja, mas a igreja foi formada por Deus e para Sua glória (cf. Rm 11.36). Como disse John Stott: “O que destaca a visão de Paulo sobre a igreja é que ela está centrada em Deus”[1].
Entender essa ideia mudará fundamentalmente a forma como vemos a igreja. Teremos uma ideia verdadeira sobre o “culto de adoração”, não mais como uma reunião de campanhas mirabolantes para consumidores, mas como uma oportunidade para que possamos glorificar louvar e adorar a Deus e aprender de Sua Palavra. O salmista expressou-se assim: “Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR [adoração], e meditar [aprendizado] no Seu templo” (Sl 27.4).
Então, consideraremos a igreja muito menos como um local para suprir nossas necessidades narcisistas e a veremos como uma oportunidade para praticar a mutualidade cristã: “amar uns aos outros”, “perdoar uns aos outros”, “exortar uns aos outros”, “instruir uns aos outros” e etc.
Entendendo, adotando e cultivando uma visão teocêntrica da igreja em lugar da antropocêntrica, nós podemos começar a viver o que significa ser uma igreja que está de verdade “em Deus o Pai e em Jesus Cristo, o Senhor e Salvador”.

Que Deus nos ajude!
Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini



[1] STOTT, J. R. W. The Gospel and The End of Times: The Messege of 1 and 2 Thessalonians, p.32. BST. Downers Grove, I11.: InterVarsity, 1991.

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