A
Bíblia, a Igreja e a Política.
Estou
convicto de que Deus pretende que a Bíblia ofereça orientação para todas as
áreas da vida, inclusive no tocante ao modo como os governos deve atuar!
Meu
propósito neste trabalho é apresentar uma cosmovisão e uma perspectiva bíblicas
sobre questões de política, lei e governo. Não pretendo fazer uma exposição
secular de posicionamentos políticos, mas apresentar o ensino bíblico sobre os
temas.
Concordo com
o teólogo Wayne Grudem quando
escreve que “a perspectiva de Deus sobre a política é alegre ‘boa-nova’, assim
como o restante da Bíblia é boa-nova para todas as áreas da vida! Creio que os
ensinos bíblicos a respeito de questões políticas promoverão esperança e
mudanças benéficas para as pessoas de todas as nações em que forem aplicados”[1].
Cremos que
as boas novas da Bíblia para os oprimidos, para aqueles que anseiam por
justiça, para aqueles que desejam paz, para jovens e velhos, fracos e
poderosos, ricos e pobres são caminhos maravilhosos da liberdade e de um governo
sensato que glorifica a Deus e abençoa a cada ser humano.
A Bíblia
como Palavra de Deus tem poder para parar o declínio moral e social de qualquer
país. No lugar de declínio, se nós abraçarmos os princípios bíblicos, veremos
progresso constante rumo a sociedades melhores, mais agradáveis e produtivas e
com menos criminalidade; sociedades mais livres, gentis e felizes, nas quais
poderemos viver.
A História
comprova que os países que experimentaram grandes visitações de Deus nos
avivamentos se tornaram sociedades melhores, mais agradáveis e com governos
sensatos e mais justos.
Os
princípios e ensinamentos da Bíblia contêm sabedoria proveitosa para todas as nações e para todos os
governos.
Mesmos
aqueles que não acreditam que a Bíblia é a Palavra de Deus devem analisar e
considerar os princípios e ensinamentos bíblicos para um governo e política
sensatos.
Pontos de
vistas incorretos sobre a igreja e a política:
Meu objetivo
aqui ao falar sobre esta temática é esclarecer muitos irmãos e irmãs a respeito
destas visões. Não sou exaustivo, mas apenas aponto os tópicos e as referências
para situar cada membro das igrejas locais. Um estudo mais profundo, é claro,
exigiria uma exposição mais extensa. No entanto, acredito que Deus abençoará
meu esforço a tornar este importante tema, igreja e política, claro, acessível
e simples para o membro da igreja local.
Afirmo ainda
que meu tom não é de erudição, mas sim pastoral. Sempre prezo como pregador e
pastor uma tonalidade mais acessível ao povo de Deus. Não gosto de ser aquele “teólogo
da varanda”, que apenas ver as pessoas passar nas estradas da vida atinando
distante para suas perguntas, dilemas e problemas, mas aquele “teólogo do
caminho” que caminhando na estrada ao lado dos transeuntes ouve suas indagações
e entende suas dificuldades e desafio, e então fala uma linguagem compreensível
ao membro comum da igreja local.
1. O governo deve impor a religião: Um governo sensato não deve, em momento
algum, tentar obrigar as pessoas a crer numa religião específica ou segui-la;
antes, deve garantir a liberdade religiosa para os seguidores de todas as
religiões dentro da nação.
Concordo com
as palavras do grande Thomas Jefferson
quando redigiu a Declaração de Virgínia para a Instituição da Liberdade
Religiosa (1779): “[...] todos os homens terão liberdade de professar e, por
argumentos, defender suas opiniões em questões religiosas, o que não diminuirá,
nem aumentará, nem afetará de qualquer outro modo sua capacidade civil”.
A visão de
impor a religião é contrária à Bíblia e equivocada. Essa visão é incompatível
com os ensinamentos do Senhor Jesus e com a própria natureza da fé. Sabemos que
a fé ela vem pelo ouvir a pregação, e a pregação da Palavra de Cristo (Rm
10.17). Uma religião imposta não produz conversões verdadeiras. Conversões
verdadeiras é obra de Deus Espírito Santo por meio da pregação do santo
evangelho que é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (cf. Jo
16.7-11; Rm 1.16).
2. O governo deve excluir a religião: Esse ponto
de vista entende que é importante excluir a religião totalmente da vida pública. Religião é coisa da vida privada. Se
uma pessoa quer ser religiosa que o faça no quarto de sua casa. Os deveres
religiosos devem ser praticados em casa de modo discreto.
A visão se
excluir a religião do governo é equivocada porque transforma liberdade
religiosa em ausência de religião.
Uma coisa é impor uma religião como oficial; outra
coisa é a religião influenciar na
vida pública e política.
Excluir a
religião vai contra a liberdade religiosa e a liberdade de expressão protegidas
pela Constituição Federal. “O Estado [deve] prestar proteção e garantia ao
livre exercício de todas as religiões”, pois “o Brasil é um país laico”.
A Constituição Federal, no artigo 5º, VI, estipula ser inviolável a liberdade de consciência e de crença,
assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias.
Expressar uma opinião religiosa em público não é o mesmo que obrigar as pessoas a aceitar esse ponto
de vista! Então, a visão de que o governo deve excluir a religião é equivocada
e prejudicial para a sociedade livre. Pode-se acrescentar que a visão de
excluir a religião do governo tem de partir do pressuposto de que não existe
Deus ou de que, se Ele existe, não temos como conhecer Seus padrões morais. Visto
que a Bíblia diz, que a autoridade governamental é “serva de Deus para o teu
bem” (Rm 13.4). A Bíblia também afirma que os governantes são “enviados para
punir os praticantes do mal e honrar os que fazem o bem” (1Pe 2.14), mas como
podem fazer isso se não é permitido a porta-vozes de religião alguma lhes dar
conselhos a respeito do “bem” e do “mal”?[2]
O perigo dessa
visão é que torna o governo um deus e, por conseguinte uma religião.
3. Todos os governos são perversos e demoníacos: Os
proponentes desta visão afirmam que o âmbito do poder governamental é o âmbito
de Satanás e de suas forças. Afirma-se também que todo governo civil é
“demoníaco”[3].
Para basear
tal visão tomam-se as palavras de Satanás em Lucas 4.6: “Dar-Te-ei toda esta autoridade e a glória destes
reinos, porque ela me foi entregue e
a dou a quem eu quiser”.
Afirma-se
que Satanás é em termos funcionais “o diretor executivo de todos os governos da
terra”.
Rejeitamos
peremptoriamente este ponto de vista, pois textos bíblicos retratam o governo
civil como uma dádiva de Deus, sujeita ao domínio de Deus (e não de Satanás), usada por Deus para Seus propósitos. Eis alguns
desses textos:
Daniel 4.17: Esta
sentença é por decreto dos vigilantes, e esta ordem por mandado dos santos; a
fim de que conheçam os viventes que o
Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens; e o dá a quem quer, e até ao
mais humilde dos homens constitui sobre eles.
Romanos 13.1-6: Todo homem
esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem
foram por Ele instituídas. De modo
que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos
condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e
sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás
louvor dela, visto que a autoridade é
ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque
não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É
necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da
punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais
tributos, porque são ministros de Deus,
atendendo, constantemente, a este serviço.
1ª Pedro 2.13-14:
Sujeitai-vos a toda instituição humana por
causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades, como
enviadas por Ele, tanto para castigo
dos malfeitores como para louvor dos que praticam o bem.
Destaca-se
que tanto Paulo como Pedro considera que o governo civil sensato se opõe à ação de Satanás na execução da
recompensa dos que praticam o bem e
no castigo dos que praticam o mal.
Satanás incentiva o mal e não o bem. Quando um governo castiga os que praticam o mal está se opondo a Satanás e
glorificando e cumprindo o propósito de Deus.
Claro que
Satanás pode influenciar alguns indivíduos
no governo, mas não está no controle.
Não é
bíblica a visão de que todos os
governos são demoníacos.
4. A igreja deve se dedicar ao evangelismo, e não à política: Há certos
grupos que afastam totalmente sua mente de um engajamento na sociedade e na
política. Entende que a igreja, ou os membros dela, deve apenas se dedicar ao
evangelismo. Nesta rota entende-se que a igreja é chamada somente para “pregar o evangelho”, e não para falar de política.
No entanto,
a pregação do evangelho deve incluir também aquilo que a Bíblia diz a respeito
do governo civil. Isso significa que os cristãos aprenderão na Bíblia sobre
como influenciar governos de modo que Deus seja honrado, glorificado e a
sociedade abençoada. Porventura, os cristãos não são sal e luz do mundo? (Mt
5.13-14). Isso não significa afastamento, mas engajamento.
Mateus 5.13: sal da terra. Como o sal é benéfico de várias maneiras (como
conservante, tempero etc.), assim são os discípulos de Jesus que influenciam o
mundo para o bem. Mateus 5.14: luz do mundo. Os discípulos de Jesus
têm a vida do reino dentro deles como um testemunho vivo para aqueles no mundo
que ainda não têm a luz[4].
Deve-se
destacar que muitos evangélicos entendem que “devemos apenas pregar o evangelho,
e que esse é o único modo pelo qual os cristãos têm esperança de transformar o
coração das pessoas e transformar nossa sociedade”. Entendo que a suprema
Missão da Igreja em relação ao mundo seja pregar o evangelho a toda a criatura,
porém isso não impede os cristãos de se envolverem sabiamente em assuntos
civis, políticos e etc., para o bem-estar da sociedade.
Temos
exemplo de cristãos dedicados que fizeram um grande serviço na política. Um
deles é o grande William Wilberforce,
que se envolveu na política tornando-se um grande proponente para o fim da
escravatura na Inglaterra. Ele foi o líder do movimento abolicionista do
tráfico negreiro. E o que dizer do pastor Martin
Luther King? Pastor que se tornou um dos mais importantes líderes do
movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, e no mundo.
Sabemos que
o Senhor Jesus e Seus apóstolos exemplificaram e ensinaram que Deus não está
apenas preocupado com o bem-estar espiritual das pessoas, mas também com o
bem-estar físico, social e governamental. Nosso Senhor curou as pessoas de
enfermidades físicas, ensinou que deveríamos dar a César o que é de César. Seus
apóstolos orientaram os cristãos a viverem de forma sensata, justa e piedosamente
neste mundo (Tt 2.12).
Paulo conclamou os cristãos a orar “pelos reis e por todos os que
exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e serena, em toda
piedade e honestidade” (1Tm 2.2). Oração e ação, essa é a tônica do
Cristianismo bíblico! Os cristãos têm uma responsabilidade para com os
governos!
5. A igreja deve se dedicar à política, e não ao evangelismo.
É claro que
uma visão que diz que a igreja deve apenas tentar mudar as leis e a cultura e
não evangelizar é totalmente anti-bíblica e espúria.
Essa foi uma
ênfase do Evangelho Social no final do século XIX e início do século XX, com
suas campanhas para fazer a igreja trabalhar agressivamente para superar a
pobreza, as favelas, o crime, a discriminação racial e outros males sociais. É
claro que estas são boas causas, mas o movimento dava pouca ênfase à
necessidade de os indivíduos colocarem a confiança pessoal em Cristo como
Salvador ou a necessidade de proclamar a Bíblia inteira como a Palavra de Deus
e digna de nossa crença.
Muitos bons
cristãos podem inconsciente e erroneamente defender essa ideia quando pensam
que apenas as boas leis irão resolver os problemas de uma nação ou trazer uma
sociedade justa e sensata.
A menos que
haja simultaneamente uma mudança interior nos corações e mentes das pessoas, as
boas leis por si só trarão má vontade, o cumprimento externo do nível mínimo de
obediência necessário para evitar a punição. O bom governo e as boas leis podem
impedir muito o mau comportamento, e podem ensinar às pessoas o que a sociedade
aprova, mas elas não podem por si mesmas produzir boas pessoas. Cal Thomas e Ed Dobson corretamente advertem: “Mas nós, que somos cristãos,
estamos iludidos se achamos que mudaremos nossa cultura apenas por meio do
poder político”[5].
PERSPECTIVA EQUILIBRADA!
Essas são
perspectivas desequilibradas e até extremas sobre a temática “igreja e
política”. A meu ver, precisamos buscar uma tonalidade bíblica que direcione
nossa posição sobre o referido tema. Não devemos nos deixar levar pelos
extremos, mas procurar equilíbrio desde que seja bíblico.
Entendo que
há uma sexta perspectiva que seja equilibra e bíblica: 6. Deve haver uma influência [não imposição] cristã expressiva sobre o
governo.
É
interessante ter o cuidado para evitar o erro comum de usar versículos bíblicos
fora de contexto para corroborar praticamente qualquer posicionamento a
respeito de controvérsias políticas atuais. Nós devemos entender os textos em
seus contextos e extrair os claros princípios para nossa temática.
Com relação a princípios extraídos dos textos
bíblicos, nós devemos entender duas coisas: (1) aqueles princípios bíblicos que são claro, direto e categórico.
Por exemplo, a Bíblia ensina claramente que os governos civis foram instituídos
por Deus para punir o mal e recompensar o bem; a ideia de que as leis de uma
nação devem proteger a vida das pessoas, especialmente das crianças que ainda
não nasceram (por isso, sou peremptoriamente contra o aborto). (2) Há aqueles argumentos que lançam
mão ou se baseiam em princípios mais
amplos. Um exemplo é que a forma preferível de governo é algum tipo de
democracia. Nesse caso, o argumento de um governo democrático, não se baseia em
princípios bíblicos diretos e específicos, mas em princípios mais amplos (como
a igualdade de todas as pessoas, uma vez que foram criadas à imagem de Deus, e
a importância de estabelecer limites para o poder do governo humano).
Ainda
pode-se argumentar que existem aqueles argumentos baseados numa avaliação dos fatos relevantes no mundo
de hoje ou resultados atuais de
certas políticas adotadas. Exemplo disso é entender se certas políticas de
menos ou mais impostos contribuem para um crescimento ou não da economia de
determinado país. Pode-se adquirir em certas políticas de aumento de impostos
um crescimento econômico e um grande benefício para os cidadãos. Noutro
espectro pode-se obter resultados negativos. Então, devem-se avaliar os resultados atuais de certas
políticas adotadas.
SEJA UM INTRUMENTO DE BÊNÇÃO PARA TEU PAÍS, NÃO UM MURMURADOR QUE
AMALDIÇOA!
É triste
constatar que muitos crentes amaldiçoam o país onde residem. Isso não é sábio e
muito menos bíblico. Como cristãos conscienciosos nós devemos seguir os ensinos
bíblicos sobre a postura correta para viver num determinado país.
Nós devemos
ser luz de bênção, instrução, exemplo, trabalho e testemunho para a sociedade
onde vivemos e não trevas que só sabe amaldiçoar e nada faz para mudar,
influenciar e redirecionar as pessoas e a nação.
Nós devemos
ser sal moderado para preservar o bem-estar e a saúde moral da sociedade onde
vivemos e não pessoas insalubres que só sabem reclamar e amaldiçoar as pessoas.
Cada cristão deve buscar o bem-estar da cidade, estado e país onde
vive!
O conselho
que Jeremias proclamou aos exilados judeus na Babilônia também apoia a ideia de
que os crentes podem influenciar leis, culturas e os governos. Jeremias disse a esses exilados: “Procurai
a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao SENHOR; porque na sua
paz vós tereis paz” (Jr 29.7). Os crentes fiéis a Deus entendem a
responsabilidade de se empenharem na promoção do bem-estar social, cultural e
político de determinada cidade, Estado ou país. O verdadeiro “bem-estar” de tal
cidade será promovido através de leis e políticas governamentais que sejam
consistentes com o ensino de Deus na Bíblia, não por aqueles que são contrários
aos ensinamentos da Bíblia.
Cada cristão
deve oportunamente procurar influenciar a cultura, a política e o governo de
tal maneira que possam desfrutar de momentos de paz, felicidade, prosperidade e
justiça.
Então, em
vez de ficar resmungando, reclamando, choramingando, murmurando e amaldiçoando
levante-se e se empenhe para influenciar o país pelas verdades de Deus e orar
para que Deus tenha misericórdia e nos dê um governo mais justo! Como Deus
disse por intermédio de Jeremias: “na sua paz vós tereis paz”.
Ivan Teixeira
[1]
GRUDEM, W. Política Segundo a Bíblia:
Princípios que todo cristão deve conhecer, p.19. São Paulo, SP, Brasil:
Vida Nova, 2014.
[2]
GRUDEM, 2014, p.44.
[3] BOYD, Greg. The Myth of a Christian Nation, p.21.
Grand Rapids: Zondervan, 2005.
[4] Crossway Bibles. (2008). The ESV Study Bible (p.1828). Wheaton,
IL: Crossway Bibles.
[5] THOMAS, Cal and DOBSON, Ed, Blinded By Might: Why the Religious Right
Can’t Save America (Grand Rapids: Zondervan, 1999), p.51.
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