domingo, 18 de março de 2018

O DEUS QUE NOS ASSOMBRA!


O DEUS QUE NOS ASSOMBRA!

Essa expressão a primeira vista parece nos assombrar, no entanto ela é bíblica e sua contextura bíblico-teológico têm-se perdido atualmente. O Deus Soberano, Santo, Amoroso e Todo Poderoso parece não nos assombrar. Ele está bem domesticado por alguns.
O texto de minha meditação encontra-se em Lucas 5.9, onde lemos que Pedro ao contemplar o milagre da pesca de uma grande quantidade de peixes “prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Senhor retira-te de mim, porque sou pecador!” (v.8). Ele agiu assim, “pois, à vista da pesca que fizeram, a admiração se apoderou dele e de todos os seus companheiros” (v.9). Ele foi tomado por um assombro sobrenatural.
A versão ARA reza que a admiração se apoderou de Pedro e os demais que estavam com ele. A palavra admiração é a tradução do grego thambos que pode muito bem ser traduzido como assombro, ou “o espanto o agarrou”[1]. θάμβος … περιέσχεν αὐτὸν. Lit. “O espanto subjugou, domino, triunfou ou venceu ele”[2].
No Novo Testamento thambos aparece apenas mais duas vezes (Lc 4.36 e At 3.10). Em todas estas ocasiões, este assombro aparece como decorrência de uma misericordiosa ação milagrosa do Senhor Jesus[3].
Depois que o Senhor Jesus curou um possesso em Cafarnaum lê-se: “todos foram tomados de grande assombro” (Lc 4.36). Em Atos dos Apóstolos, ao ser restaurado o aleijado, consta: “Encheram-se de admiração e assombro por isso que acontecera” (3.10).
No texto de Lucas 5.9, “Pedro está sobrecarregado pelo seu próprio sentimento de pecaminosidade e indignidade”[4] diante da presença poderosa e santa de Jesus Cristo. Os atos milagrosos, a pregação e o ensino e a presença santa de Jesus produziram reverência assombrosa naqueles que compreenderam que realmente Ele era. Jesus é santo e os homens são pecadores! Isso deveria nos assombrar!
Sempre haverá uma distinção entre nós e o Senhor Jesus Cristo. Ele não é nosso ursinho de pelúcia no qual podemos brincar com Ele. Ele não é um deusinho pacato que podemos manipular. Ele é Santo e isso deveria nos levar a temê-Lo mais e mais.

Assombro e não alegria?
Somos tentados a perguntar: por que temor ou espanto dominante, porque este sentimento dominou Pedro e os demais? Não seriam de esperar antes alegria e louvor, quando o Senhor Jesus agiu poderosamente na grande pesca?
E ainda mais: por que não somos tomados de temor, espanto dominante ou assombro quando estamos diante de Jesus?

A culpa é do Iluminismo!
O fato de hoje não sermos mais tomados de espanto e temor quando Deus interfere é culpa da influência do Iluminismo em nossas teologias e pregações.
A influência do Iluminismo na teologia e na pregação transformou o Deus, ao qual o próprio Jesus, o Filho, na oração sacerdotal se dirige com as palavras “Pai Santo” (Jo 17.11), em Deus queridinho, fraco, pusilânime. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento estão cheios dos testemunhos de que o ser humano se assusta e teme quando Deus se aproxima. Desse espanto sagrado, desse reverente temor é que Simão está repleto, quando o Deus (cheio de límpida bondade) se aproxima dele em um evento palpável, pela ação do homem em quem ele reconhece o Messias vindouro.
A igreja primitiva e todos aqueles que contemplavam a vida dos cristãos estavam tomados por este assombro (cf. At 2.43: “Em cada alma havia temor; [...]”). “E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos quantos ouviram a notícia destes acontecimentos” (At 5.11).
O Deus Santo e Soberano estava agindo na igreja e através da igreja por isso as pessoas se assombravam e temiam a grandeza deste Deus! Esse é o Deus que disse para Moisés: “Eu Sou o Deus dos teus pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Moisés, temendo de medo, não ousava contemplá-lo. Disse-lhe o Senhor: Tira a sandália dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (At 7.32-33).
O Deus da Bíblia é Santo! Seu poder é santo, Seu amor é santo e tudo que Ele faz é para glorificar Seu Santo Nome!
Esse poderoso Deus nunca será domesticado ou manipulado pelas nossas ideias e desejos. Ele é Santo e Soberano e jamais se deixará domesticar pelas criaturas!

O que Jesus faz quando nos assombramos com Sua santidade?
Uma realidade muito grande e nova atingiu Pedro quando reconheceu sua pecaminosidade, a santidade de Jesus e qual terrível e perigoso é para um pecador está na presença do Deus Santo, que Jesus não sentencia nem condena o “pecador” que reconhece seu pecado e sua culpa, mas o agracia e o atrai para o Seu coração Redentor.
O Senhor Jesus olhou para Pedro ajoelhado diante d’Ele e disse-lhe amorosamente: “não temas!”. Como o coração de Pedro deve ter ficado feliz quando foi alçado das profundezas da consciência de pecado para as alturas do perdão de pecados! Bem-aventurado é aquele que é conduzido ao arrependimento pela misericórdia do Senhor!
Quando estamos diante da santidade do Deus Soberano e reconhecemos temerosamente que somos pecadores, Ele é poderoso para amorosamente nos perdoar de nossos pecadores e nos erguer para nos transformar em “pescadores de homens”! Oh maravilhosa graça que nos assombra!
Deus transforma nossos temores em maravilhosos motivos de alegria e gozo[5]!

Soli Deo Gloria!



[1] FARRAR, F. W. (1891). The Gospel according to St Luke, with Maps, Notes and Introduction (p.114). Cambridge: Cambridge University Press.
[2] CULY, M. M., PARSONS, M. C., & STIGALL, J. J. (2010). Luke: A Handbook on the Greek Text (p.159). Waco, TX: Baylor University Press.
[3] RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança: Evangelho de Lucas, 133. Curitiba, PR, Brasil: Editora Evangélica Esperança, 2005.
[4] EVANS, C. A. (2001). Fifth Sunday after the Epiphany, Year C. In R. E. Van Harn (Org.), The lectionary commentary: theological exegesis for Sunday’s texts, volume three (p.330). Grand Rapids, MI: Eerdmans.
[5] CEVALLOS, J. C., & ZORZOLI, R. O. (2007). Comentario Bíblico Mundo Hispano, Tomo 16: Lucas (p.127). El Paso, TX: Editorial Mundo Hispano.

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