sexta-feira, 13 de abril de 2018

LIVRO DE JOSUÉ: Interpretação Cristã



Os leitores cristãos enfrentam dois desafios interpretativos especialmente importantes no livro de Josué. O primeiro diz respeito à moralidade das ações descritas no livro. Segundo, qual é o significado da promessa de terra feita ao antigo Israel para Cristo e a igreja?
Primeiro, a tensão moral enfrentada pelos leitores cristãos é a aparente contradição entre a ordem de erradicar certas cidades cananéias (Deuteronômio 7:2; Josué 6:17-21) e o ensinamento de Jesus de amar nossos inimigos (Mt 5:44). É uma ideia equivocada que os israelitas eliminaram todos os cananeus em um ataque sanguinário e irresponsável. Embora este dilema ético não possa ser totalmente resolvido, compreender a situação especial ajuda a explicar as ações de Israel. (1) A prática de herem/haram - que significa “coisa devotada” (herem, substantivo) e “põe à destruição” (haram, verbo) - em que cativos e propriedades são devotados aos deuses é conhecido no antigo Oriente Próximo (2Reis 19:11; 2Crônicas 20:23). (2) A prática de Israel, entretanto, é limitada a certas cidades, sob condições específicas e por uma geração (Deuteronômio 20: 10-15; cf. uma exceção em 1 Sam. 15 com Num. 21: 1–3). (3) Os cananeus iniciam as guerras e planejam erradicar os israelitas (9:1–2; 10:1-5; 11:1-5). (4) A política de Israel é apenas um comando divino baseado em um princípio moral. A prática é frequentemente expressa em termos de manutenção da santidade. Deus usa Israel para destruir os cananeus por causa de sua idolatria e da conduta mais maligna (Gênesis 15:16; Lv 18: 24-30), que por sua vez tem o efeito de enfraquecer sua influência sobre Israel (Dt 20:17-18). Se cativos e propriedades são dedicados ao serviço do Senhor, não há incentivo econômico para a guerra. Além disso, a motivação não é a superioridade racial ou o nacionalismo (Deuteronômio 9:4-5), pois os hebreus também estão sujeitos à aniquilação, se forem igualmente iníquos (Deuteronômio 13:11-16; Josué 6:18; 7:15).

Em segundo lugar, os cristãos devem responder à questão de saber se a promessa de terra aos pais é uma promessa cumprida na história de Israel, sob a conquista de Josué ou da monarquia do rei Davi, ou se é uma promessa ainda a ser cumprida. Além disso, se ainda a ser cumprida, a promessa de terra destinada a um futuro Israel redimido, ou é cumprida na igreja cristã? Ou, nesse sentido, em certo sentido, é cumprido em ambos? A promessa de terra realizada em uma Israel/Palestina geopolítica real, ou é um tipo das realidades espirituais de Jesus Cristo e Sua igreja (antítipos)? Não podemos responder às perguntas em uma discussão satisfatória, uma vez que elas merecem uma audição completa, mas podemos indicar a posição desse comentário e explicar por quê. Este comentário toma uma posição mediadora ao postular que a promessa de terra encontra seu cumprimento na vida de Jesus e da igreja. No entanto, reconhecemos que a promessa de terra tem importância para um futuro reinado de Cristo na terra, mostrando que Ele é o Senhor do céu e da “terra” (Fp 2:10). (1) A conquista da terra é apenas provisoriamente cumprida, não completamente e não para sempre. A conquista é progressiva ao longo de muitos anos e não completa (por exemplo, Êxodo 23:29-30; Js 13: 1-7; 15:45-47), que é com Hebreus 4: 8–9. O tema da "terra" é usado metaforicamente para a vida cristã, desde o seu início até o descanso eterno (Hebreus 4:1-15). A ideia associativa do “templo” no centro geopolítico da terra (espaço santo; cf. Nm 35.34) tem sua presença na pessoa de Jesus Cristo e da igreja (João 2:21; 1Cor 6: 19). (2) O Novo Testamento minimiza a importância da promessa da terra (Rom. 9:4), embora outras características das promessas do Antigo Testamento sejam dadas como devidas, tais como “semente” e “bênção” (Gálatas 3; Rom. 4). Há referências explícitas a um cumprimento metafórico, afirmando que a terra não é o objetivo final das promessas (Hebreus 4:9; 11:10; 13:14). (3) O próprio Antigo Testamento sugere que a promessa de terra não é um dom territorial que está historicamente vinculado, mas um dom que vai além do espaço e do tempo. Isso é bem ilustrado na herança dos levitas, que não possuem um trato de terras comparável às outras tribos. Sua herança é o próprio Deus (Josué 13:33; cf. Deut. 18:1–2). Da mesma forma, aqueles em Cristo recebem como herança o Senhor e Suas bênçãos eternas, não uma concessão de terras que lembra a antiga era de Israel. (4) A possibilidade de uma terra possuída pelos santos na terra existe e não será exclusivamente judaica (Romanos 11:26; Apocalipse 20:1-6).

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