Pode-se dizer que quando o Movimento Pentecostal se iniciou no epicentro histórico de Topeka e Azusa no século XX tanto o dispensacionalismo quanto o pré-tribulacionismo milenarista com sua crença na restauração futura de Israel já eram sistemas escatológicos de interpretação bem presentes e crescentes desde o século XIX.
O
Pentecostalismo por ser de per si um
movimento pneumatológico, ou seja, do Espírito, necessariamente postularia uma
forte visão escatológica em seu contexto.
Tal
como se ver no Novo Testamento após o derramamento do Espírito, o
Pentecostalismo também foi marcado por uma forte expectativa do Retorno do
Senhor Jesus. Os temas integrantes dos cristãos primitivos como a primeira
vinda do Messias na plenitude dos tempos, a chegada do Reino de Deus com poder e
o derramamento do Espírito Santo e as manifestações dos Seus dons, também foram
temas integrantes e importantes num movimento oriundo e marcado pelo
derramamento do Espírito. Não se pode negar que o tema integrador do pregação pentecostal dos cinco pontos
(Jesus salva, cura, santifica, batiza e voltará) foi a escatologia (doutrina
das últimas coisas).
Pode-se
dizer que os primeiros pentecostais se consideravam o povo dos últimos dias,
pois acreditavam que estavam experimentando as “últimas chuvas” (late rain) que os preparariam para a
grande colheita de almas e para a vinda do Senhor Jesus.
As
Assembleias de Deus, maior denominação pentecostal do mundo, tanto no Brasil
quanto nos EUA, são notoriamente dispensacionalista, pré-tribulacional e
pré-milenarista. Nossa Declaração de Fé
postula verdades escatológicas dispensacionalista pré-tribulacional e pré-milenarista:
Cremos
na volta iminente, no arrebatamento pré-tribulacional, num período específico e
profético de tempo chamado de Grande Tribulação, e na Segunda Vinda em glória.
(1) CREMOS, professamos e ensinamos que a Segunda Vinda de Cristo é um evento a
ser realizado em duas fases. A primeira é o arrebatamento da igreja antes da Grande Tribulação
(1Tessalonicenses 1.10; 5.9), momento este em que “nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados” (1Tessalonicenses
4.17); a segunda fase é a Sua vinda em glória depois da Grande Tribulação e visível aos olhos humanos: “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o
verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se
lamentarão sobre Ele. Sim! Amém!” (Apocalipse 1.7). Nessa vinda gloriosa,
Jesus retornará com os santos arrebatados da terra: “na vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo, com todos os Seus santos (1Tessalonicenses 3.13)[1].
Cremos
também no Milênio com duração de mil anos, e na prisão de Satanás. Não
acreditamos num reino simbólico e numa prisão simbólica.
(2) O
Milênio é o Reino de Cristo com duração de mil anos que terá início por ocasião
da vinda de Cristo em glória com os Seus santos. Todos os que estiverem vivos
na terra após esses acontecimentos serão submetidos ao governo de Jesus Cristo
(Zacarias 14.16; Filipenses 2.10,11). Nesse período, Satanás estará aprisionado
no abismo (Apocalipse 20.2,3)[2].
Esses
dois pontos da nossa Declaração de Fé
são suficientes para destacar os postulados credais de nossa denominação:
Arrebatamento da Igreja antes da
Grande Tribulação e a Volta em glória de Cristo com Sua igreja no final da Tribulação para iniciar o
milênio. Estes são pontos distintivos da escatologia pentecostal encontrada já
no início do Movimento e se tornou uma das bandeiras doutrinárias de nossas
Assembleias de Deus no Brasil. É digno de pontuar que estes e outros assuntos
escatológicos sempre estiveram presentes no kerygma
(pregação) e na didaskalia (ensino)
dos pregadores pentecostais. Como membro das assembleias de Deus desde minha
tenra adolescência sou testemunha ocular que os temas escatológicos eram bem
presentes nas pregações, ensinos, EBD’s e conversas particulares. Os
pentecostais são o povo do Espírito e do porvir!
As
Assembleias de Deus dos EUA nos seus 16 Artigos da Declaração de Verdades Fundamentais também postulam uma escatologia
dispensacionalista pré-tribulacional e pré-milenarista. A Declaração de Verdades Fundamentais foi preparada em 1916
primariamente por Daniel Warren Kerr[3],
depois revisada e ampliada por uma comissão em 1960, e adotada pelo Concílio
Geral em 1961, e exposta por William
Menzies no seu livro Understanding
Our Doctrine e depois revisado e ampliado por Stanley Horton em Bible Doctrines; A Pentecostal Perspective[4].
O Dr. Horton acentua as seguintes
três grandes verdades de nosso interesse na temática escatológica:
(1) Clara crença na doutrina da iminência (diferente
da brasileira, a Declaração de fé dos
nossos irmãos americanos é mais clara nesta importante doutrina chave para o
arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação) numa Vinda em duas fases: A
ressurreição e o arrebatamento dos que dormem em Cristo, juntamente com os
santos que estiverem vivos, é a iminente e bendita esperança da Igreja (Romanos
8.23; 1Coríntios 15.51,52; 1Tessalonicenses 4.16,17; Tito 2.13)[5].
A definição da “segunda vinda de Cristo” é bastante ampla; é vista pelo menos
de duas maneiras diferentes. É localizada, às vezes, para indicar o drama dos
tempos do fim, abrangendo tanto o
arrebatamento da Igreja quanto a revelação
de Cristo em glória no monte das Oliveiras (Zacarias 14.4). Outras vezes, é
enfocada especificamente para diferençar a revelação
de Cristo do arrebatamento da Igreja que
a antecederá”[6]. “Após
o arrebatamento, haverá um tempo de terrível tribulação e angústia predito
pelos profetas do Antigo Testamento”[7].
Claramente
a 13ª Verdade Fundamental trata do
arrebatamento iminente e pré-tribulacional da Igreja.
(2) Clara crença na implantação do Reino messiânico
de mil anos na Terra, e a salvação de Israel: A segunda vinda de Cristo
inclui o arrebatamento dos santos, nossa bendita esperança. É seguida pela
volta visível de Cristo com seus santos, para reinar sobre a terra por mil anos
(Zacarias 14.5; Mateus 24.27,30; Apocalipse 1.7; 19.11-14; 20.1-6). Esse reino
trará a salvação a Israel (Ezequiel 37.21,22; Sofonias 3.19,20; Romanos
11.26,27) e o estabelecimento da paz universal (Salmos 72.3-8; Isaías 11.6-9;
Miquéias 4.3,4)[8].
(3) Claramente a 14ª Verdade Fundamental prescreve a Vinda pré-milenar e um Reino
literal de mil anos na Terra. MENZIES & HORTON pontuam: “A Igreja
Primitiva acreditava que Cristo retornaria para estabelecer o Seu Reino e
reinar em Jerusalém como o verdadeiro e final Herdeiro do trono de Davi. Aceitava-se
como literal a promessa de Jesus de que os 12 apóstolos sentar-se-iam sobre 12
tronos, para julgar e governar as 12 tribos do Israel já restaurado (Mateus
19.28)”[9].
Notamos
claramente mais dois pontos chaves do dispensacionalismo: a interpretação e
cumprimento literal das profecias e a distinção bíblica de Israel e da Igreja. Cremos
que a Igreja se iniciou no dia de Pentecostes e de maneira nenhuma substituiu
ou tirou Israel do plano de Deus. Na hermenêutica assembleiana, seguindo a interpretação
dispensacionalista, não se confunde Israel com a Igreja e nem espiritualiza as
bênçãos de Israel para aplica-las a Igreja como sinal de que a Igreja
substituiu Israel. Como disse Paulo:
“Deus não rejeitou o Seu povo, que antes conheceu” (Romanos 11.2).
Portanto, rejeitamos peremptoriamente a “teologia da substituição” ou o
“supersessionismo”. Respeito os seus proponentes, mas tal ensino deve ser
rejeitado como não bíblico, pois se baseia apenas nas inferências teológicas
distantes do pensamento dos autores bíblicos, alinhando-se apenas a certa
Sistematização da Teologia.
Restauração
e salvação futuras de Israel!
Nós
entendemos que a salvação e a restauração de Israel são reafirmadas no Novo
Testamento (cf. Mateus 19.28; 23.93; Atos 1.6; 3.19-21; Romanos 11.26-27). A Declaração de Fé das AD’s do Brasil pontua:
“O Senhor Jesus assentar-se-á sobre o trono de Davi e, de Jerusalém, reinará
sobre toda a humanidade (Miquéias 4.2-4). Esse reino trará salvação a Israel
(Ezequiel 37.22,23); será a conclusão do programa divino sobre o povo de Deus,
Israel (Sofonias 3.19,20)”[10].
Cremos
piamente que Deus não reformulou, ressignificou, reinterpretou, alegorizou ou
espiritualizou as profecias relacionadas a Israel. Abraçamos a mesma compreensão
das profecias que são tomadas, interpretadas e entendidas no sentido usual
comum, literal, gramatical e histórico que possibilitou o cumprimento literal
das quase 120 profecias em Cristo.
Cremos
que a incredulidade e o endurecimento de Israel não ressignificou as profecias e
as promessas referentes a Israel e as transferiu para a Igreja, mas apenas,
como disse Paulo, possibilitou que
os gentios com os judeus crentes formassem a Igreja para posteriormente,
completado a “plenitude dos gentios”, Deus tratasse novamente com o Seu povo,
Israel, segundo Suas alianças e promessas incondicionais.
Não
ignoramos que Paulo falou sobre a
“queda”, a “diminuição” e até a “rejeição” de Israel, mas sem negar sua
“plenitude”, e futura “admissão” e “salvação” (Romanos 11.12,15,26). A “rejeição”
foi temporária para demonstrar uma misericórdia ainda maior. Isso já tinha sido
discorrido pelo profeta Isaías: “Por
um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei. Com
um pouco de Ira escondi a Minha Face
de ti por um momento; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti,
diz o SENHOR, o teu Redentor” (54.7-8; 49.14-16; 54.1-5, 9-17). Promessas
fantásticas!
Segundo
o apóstolo dos gentios a situação atual de “endurecimento” (v.25) e
“incredulidade” (v.20,23) de Israel, “veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja
entrado” (v.25). “E assim todo o Israel
será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará
de Jacó as impiedades. E esta será a
minha Aliança com eles, Quando Eu
tirar os seus pecados” (Romanos 11.25-27). Não tem como negar a
literalidade do cumprimento destas profecias (e outras!) do Antigo Testamento
sobre a futura restauração e salvação de “todo o Israel” no programado
profético de Deus! Pergunta-se: Deus “rejeitou o Seu povo, que antes conheceu”?,
com Paulo eu digo altissonante: “De modo nenhum!” (Romanos 11.1,2).
Eu
digo uma coisa: A segurança e permanência
da eleição de Israel garante a segurança e a permanência da eleição da Igreja!
Se Deus rejeitou Israel permanentemente como ensinam algumas teologias, quem
garante que a Igreja pela sua incredulidade, endurecimento e pecados não faça
com que Deus também não a rejeite, se assim Ele o quiser?
Só
em pensar nesta possibilidade da quebra das Alianças por parte de Deus nos deixa
trêmulos! No entanto, as palavras de Paulo
são fortes: “Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós;
MAS, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Romanos 11.28). O mesmo
Deus que encerrou Israel debaixo da desobediência para salvação dos gentios,
irá, quando se completar a “plenitude dos gentios”, fazer com que todo o Israel
alcance a misericórdia: “para com todos
usar de misericórdia” (v.32).
Por
tamanha revelação e misericórdia todos devem fazer o que Paulo fez: adorar! (vv.33-36):
Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do
conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão
inescrutáveis, os Seus caminhos!
Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o
Seu conselheiro?
Ou quem primeiro deu a Ele para que Lhe venha a ser
restituído?
Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas
as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!
Ivan Teixeira
[1] Declaração
de Fé das Assembleias de Deus: Jesus salva cura, batiza no Espírito Santo e
breve voltará, p.185. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 5ª impressão, 2018.
[2] Declaração
de Fé, 2018, p.189.
[3]
BRUMBACK, Carl. Like a River: The Early
Yars of the Assemblies of God, p.55. Springfield,
Mo.: Gospel Publishing House, 1977.
[4] Lançado no Brasil pela CPAD como Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Nossa
Fé.
[5] MENZIES, William & HORTON, Stanley. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Nossa
Fé, p.174. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 1995 – (10ª impressão).
[6] MENZIES & HORTON, 1995, p.179.
[7] MENZIES
& HORTON, 1995, p.181.
[8] MENZIES
& HORTON, 1995, p.190.
[9] MENZIES & HORTON, p.193.
[10] Declaração
de Fé das Assembleias de Deus, p.189. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 5ª
impressão, 2018.