quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Dispensacionalismo, Pré-Tribulacionismo, Israel e Pentecostalismo

 


Pode-se dizer que quando o Movimento Pentecostal se iniciou no epicentro histórico de Topeka e Azusa no século XX tanto o dispensacionalismo quanto o pré-tribulacionismo milenarista com sua crença na restauração futura de Israel já eram sistemas escatológicos de interpretação bem presentes e crescentes desde o século XIX.

O Pentecostalismo por ser de per si um movimento pneumatológico, ou seja, do Espírito, necessariamente postularia uma forte visão escatológica em seu contexto.

Tal como se ver no Novo Testamento após o derramamento do Espírito, o Pentecostalismo também foi marcado por uma forte expectativa do Retorno do Senhor Jesus. Os temas integrantes dos cristãos primitivos como a primeira vinda do Messias na plenitude dos tempos, a chegada do Reino de Deus com poder e o derramamento do Espírito Santo e as manifestações dos Seus dons, também foram temas integrantes e importantes num movimento oriundo e marcado pelo derramamento do Espírito. Não se pode negar que o tema integrador do pregação pentecostal dos cinco pontos (Jesus salva, cura, santifica, batiza e voltará) foi a escatologia (doutrina das últimas coisas).

Pode-se dizer que os primeiros pentecostais se consideravam o povo dos últimos dias, pois acreditavam que estavam experimentando as “últimas chuvas” (late rain) que os preparariam para a grande colheita de almas e para a vinda do Senhor Jesus.

As Assembleias de Deus, maior denominação pentecostal do mundo, tanto no Brasil quanto nos EUA, são notoriamente dispensacionalista, pré-tribulacional e pré-milenarista. Nossa Declaração de Fé postula verdades escatológicas dispensacionalista pré-tribulacional e pré-milenarista:

Cremos na volta iminente, no arrebatamento pré-tribulacional, num período específico e profético de tempo chamado de Grande Tribulação, e na Segunda Vinda em glória.

(1) CREMOS, professamos e ensinamos que a Segunda Vinda de Cristo é um evento a ser realizado em duas fases. A primeira é o arrebatamento da igreja antes da Grande Tribulação (1Tessalonicenses 1.10; 5.9), momento este em que “nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados” (1Tessalonicenses 4.17); a segunda fase é a Sua vinda em glória depois da Grande Tribulação e visível aos olhos humanos: “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele. Sim! Amém!” (Apocalipse 1.7). Nessa vinda gloriosa, Jesus retornará com os santos arrebatados da terra: “na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os Seus santos (1Tessalonicenses 3.13)[1].

 

Cremos também no Milênio com duração de mil anos, e na prisão de Satanás. Não acreditamos num reino simbólico e numa prisão simbólica.

(2) O Milênio é o Reino de Cristo com duração de mil anos que terá início por ocasião da vinda de Cristo em glória com os Seus santos. Todos os que estiverem vivos na terra após esses acontecimentos serão submetidos ao governo de Jesus Cristo (Zacarias 14.16; Filipenses 2.10,11). Nesse período, Satanás estará aprisionado no abismo (Apocalipse 20.2,3)[2].

 

Esses dois pontos da nossa Declaração de Fé são suficientes para destacar os postulados credais de nossa denominação: Arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação e a Volta em glória de Cristo com Sua igreja no final da Tribulação para iniciar o milênio. Estes são pontos distintivos da escatologia pentecostal encontrada já no início do Movimento e se tornou uma das bandeiras doutrinárias de nossas Assembleias de Deus no Brasil. É digno de pontuar que estes e outros assuntos escatológicos sempre estiveram presentes no kerygma (pregação) e na didaskalia (ensino) dos pregadores pentecostais. Como membro das assembleias de Deus desde minha tenra adolescência sou testemunha ocular que os temas escatológicos eram bem presentes nas pregações, ensinos, EBD’s e conversas particulares. Os pentecostais são o povo do Espírito e do porvir!

As Assembleias de Deus dos EUA nos seus 16 Artigos da Declaração de Verdades Fundamentais também postulam uma escatologia dispensacionalista pré-tribulacional e pré-milenarista. A Declaração de Verdades Fundamentais foi preparada em 1916 primariamente por Daniel Warren Kerr[3], depois revisada e ampliada por uma comissão em 1960, e adotada pelo Concílio Geral em 1961, e exposta por William Menzies no seu livro Understanding Our Doctrine e depois revisado e ampliado por Stanley Horton em Bible Doctrines; A Pentecostal Perspective[4]. O Dr. Horton acentua as seguintes três grandes verdades de nosso interesse na temática escatológica:

(1) Clara crença na doutrina da iminência (diferente da brasileira, a Declaração de fé dos nossos irmãos americanos é mais clara nesta importante doutrina chave para o arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação) numa Vinda em duas fases: A ressurreição e o arrebatamento dos que dormem em Cristo, juntamente com os santos que estiverem vivos, é a iminente e bendita esperança da Igreja (Romanos 8.23; 1Coríntios 15.51,52; 1Tessalonicenses 4.16,17; Tito 2.13)[5]. A definição da “segunda vinda de Cristo” é bastante ampla; é vista pelo menos de duas maneiras diferentes. É localizada, às vezes, para indicar o drama dos tempos do fim, abrangendo tanto o arrebatamento da Igreja quanto a revelação de Cristo em glória no monte das Oliveiras (Zacarias 14.4). Outras vezes, é enfocada especificamente para diferençar a revelação de Cristo do arrebatamento da Igreja que a antecederá”[6]. “Após o arrebatamento, haverá um tempo de terrível tribulação e angústia predito pelos profetas do Antigo Testamento”[7].

Claramente a 13ª Verdade Fundamental trata do arrebatamento iminente e pré-tribulacional da Igreja.

 

(2) Clara crença na implantação do Reino messiânico de mil anos na Terra, e a salvação de Israel: A segunda vinda de Cristo inclui o arrebatamento dos santos, nossa bendita esperança. É seguida pela volta visível de Cristo com seus santos, para reinar sobre a terra por mil anos (Zacarias 14.5; Mateus 24.27,30; Apocalipse 1.7; 19.11-14; 20.1-6). Esse reino trará a salvação a Israel (Ezequiel 37.21,22; Sofonias 3.19,20; Romanos 11.26,27) e o estabelecimento da paz universal (Salmos 72.3-8; Isaías 11.6-9; Miquéias 4.3,4)[8].

(3) Claramente a 14ª Verdade Fundamental prescreve a Vinda pré-milenar e um Reino literal de mil anos na Terra. MENZIES & HORTON pontuam: “A Igreja Primitiva acreditava que Cristo retornaria para estabelecer o Seu Reino e reinar em Jerusalém como o verdadeiro e final Herdeiro do trono de Davi. Aceitava-se como literal a promessa de Jesus de que os 12 apóstolos sentar-se-iam sobre 12 tronos, para julgar e governar as 12 tribos do Israel já restaurado (Mateus 19.28)”[9].

 

Notamos claramente mais dois pontos chaves do dispensacionalismo: a interpretação e cumprimento literal das profecias e a distinção bíblica de Israel e da Igreja. Cremos que a Igreja se iniciou no dia de Pentecostes e de maneira nenhuma substituiu ou tirou Israel do plano de Deus. Na hermenêutica assembleiana, seguindo a interpretação dispensacionalista, não se confunde Israel com a Igreja e nem espiritualiza as bênçãos de Israel para aplica-las a Igreja como sinal de que a Igreja substituiu Israel. Como disse Paulo: “Deus não rejeitou o Seu povo, que antes conheceu” (Romanos 11.2). Portanto, rejeitamos peremptoriamente a “teologia da substituição” ou o “supersessionismo”. Respeito os seus proponentes, mas tal ensino deve ser rejeitado como não bíblico, pois se baseia apenas nas inferências teológicas distantes do pensamento dos autores bíblicos, alinhando-se apenas a certa Sistematização da Teologia.

 

Restauração e salvação futuras de Israel!

Nós entendemos que a salvação e a restauração de Israel são reafirmadas no Novo Testamento (cf. Mateus 19.28; 23.93; Atos 1.6; 3.19-21; Romanos 11.26-27). A Declaração de Fé das AD’s do Brasil pontua: “O Senhor Jesus assentar-se-á sobre o trono de Davi e, de Jerusalém, reinará sobre toda a humanidade (Miquéias 4.2-4). Esse reino trará salvação a Israel (Ezequiel 37.22,23); será a conclusão do programa divino sobre o povo de Deus, Israel (Sofonias 3.19,20)”[10].

Cremos piamente que Deus não reformulou, ressignificou, reinterpretou, alegorizou ou espiritualizou as profecias relacionadas a Israel. Abraçamos a mesma compreensão das profecias que são tomadas, interpretadas e entendidas no sentido usual comum, literal, gramatical e histórico que possibilitou o cumprimento literal das quase 120 profecias em Cristo.

Cremos que a incredulidade e o endurecimento de Israel não ressignificou as profecias e as promessas referentes a Israel e as transferiu para a Igreja, mas apenas, como disse Paulo, possibilitou que os gentios com os judeus crentes formassem a Igreja para posteriormente, completado a “plenitude dos gentios”, Deus tratasse novamente com o Seu povo, Israel, segundo Suas alianças e promessas incondicionais.

Não ignoramos que Paulo falou sobre a “queda”, a “diminuição” e até a “rejeição” de Israel, mas sem negar sua “plenitude”, e futura “admissão” e “salvação” (Romanos 11.12,15,26). A “rejeição” foi temporária para demonstrar uma misericórdia ainda maior. Isso já tinha sido discorrido pelo profeta Isaías: “Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei. Com um pouco de Ira escondi a Minha Face de ti por um momento; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o SENHOR, o teu Redentor” (54.7-8; 49.14-16; 54.1-5, 9-17). Promessas fantásticas!

Segundo o apóstolo dos gentios a situação atual de “endurecimento” (v.25) e “incredulidade” (v.20,23) de Israel, “veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado” (v.25). “E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha Aliança com eles, Quando Eu tirar os seus pecados” (Romanos 11.25-27). Não tem como negar a literalidade do cumprimento destas profecias (e outras!) do Antigo Testamento sobre a futura restauração e salvação de “todo o Israel” no programado profético de Deus! Pergunta-se: Deus “rejeitou o Seu povo, que antes conheceu”?, com Paulo eu digo altissonante: “De modo nenhum!” (Romanos 11.1,2).

Eu digo uma coisa: A segurança e permanência da eleição de Israel garante a segurança e a permanência da eleição da Igreja! Se Deus rejeitou Israel permanentemente como ensinam algumas teologias, quem garante que a Igreja pela sua incredulidade, endurecimento e pecados não faça com que Deus também não a rejeite, se assim Ele o quiser?

Só em pensar nesta possibilidade da quebra das Alianças por parte de Deus nos deixa trêmulos! No entanto, as palavras de Paulo são fortes: “Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; MAS, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Romanos 11.28). O mesmo Deus que encerrou Israel debaixo da desobediência para salvação dos gentios, irá, quando se completar a “plenitude dos gentios”, fazer com que todo o Israel alcance a misericórdia: “para com todos usar de misericórdia” (v.32).

Por tamanha revelação e misericórdia todos devem fazer o que Paulo fez: adorar! (vv.33-36):

Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!

Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o Seu conselheiro?

Ou quem primeiro deu a Ele para que Lhe venha a ser restituído?

Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!

 

Ivan Teixeira



[1] Declaração de Fé das Assembleias de Deus: Jesus salva cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará, p.185. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 5ª impressão, 2018.

[2] Declaração de Fé, 2018, p.189.

[3] BRUMBACK, Carl. Like a River: The Early Yars of the Assemblies of God, p.55. Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1977.

[4] Lançado no Brasil pela CPAD como Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Nossa Fé.

[5] MENZIES, William & HORTON, Stanley. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Nossa Fé, p.174. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 1995 – (10ª impressão).

[6] MENZIES & HORTON, 1995, p.179.

[7] MENZIES & HORTON, 1995, p.181.

[8] MENZIES & HORTON, 1995, p.190.

[9] MENZIES & HORTON, p.193.

[10] Declaração de Fé das Assembleias de Deus, p.189. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 5ª impressão, 2018.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

VOCÊ TEM UM GRANDE VALOR!

 

TEMOS ALGUM VALOR PARA DEUS?

OBS. Esclareço que não defendo A ou B, mas impetro a questão à luz das Escrituras.

É triste perceber como as pessoas exageram em suas afirmações e ao mesmo tempo não procuram entender outras afirmações à luz das Escrituras Sagradas.

Recentemente um novo burburinho se ouve nas redes sociais ante a afirmação de um jovem pastor quando disse que nós temos o mesmo valor de Jesus para Deus. Claro que eu entendo que não somos Deus no sentido de divindade plena e membros da Santíssima Trindade, no entanto estamos no Deus-Homem e estamos sendo feitos participantes da natureza divina (2Pedro 1.4) nalgum sentido e que a Teologia Oriental chama de theosis (grego: Θέωσις) – a divinização (não significa que seremos deuses no sentido da Santíssima Divindade Trina). Não vou me aprofundar aqui, pois esse é outro estudo que a Teologia Ocidental precisa perscrutar com mais cuidado no lugar de fazer afirmações precipitadas. Outrossim, isso não tem nada a ver com a Confissão Positiva, mas pertence à Tradição da Igreja Ortodoxa.


Voltando ao ponto, é claro que não temos o mesmo valor de Jesus como a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, visto que Seu valor é eterno, no entanto podemos afirmar, teologicamente, que temos o mesmo valor de Jesus como Deus-Homem, o último Adão, nosso Irmão, pois somos coerdeiro com Ele da herança de Deus. Nós só fomos aceitos por Deus porque Ele mesmo nos vestiu da justiça de Cristo Jesus. Então, quando Deus nos vê e nos justifica é porque estamos vestidos da justiça de Cristo e por isso, para Deus temos o mesmo valor de Seu Filho porque estamos no Filho e vestidos com a justiça do Filho. Deus é tão justo que não nos aceita senão por causa de uma justiça perfeita e valorosa. Pois bem, nós a temos! Quando cremos em Cristo Jesus somos vestidos de Cristo Jesus. Assim como Cristo foi feito por Deus pecado por nós, agora, depois que cremos, fomos feitos por Deus justiça de Deus n’Ele (2Coríntios 5.21). E na vida cristão estamos sendo aperfeiçoados nesta justiça pela obra do Espírito Santo.


Em Cristo fui feito justiça de Deus, isso implica nalgum valor? Claro que sim! Nosso valor se encontra não apenas porque fomos criados por Deus, mas também porque o próprio Deus redentoramente nos fez “justiça de Deus” em Cristo Jesus. Duplo valor! Valor pela criação e também pela redenção! Isso coloca por terra essa teologia no seu espectro calvinista da desvalorização do ser humano com pretexto de glorificar a Deus (alguns já chamaram de teologia da miséria!). Nós glorificamos a Deus valorizando o que Deus valoriza. O homem e a mulher são preciosíssimos para Deus. E em Cristo e por causa d’Ele somos de grande estima. Portanto, não é errado ou antibíblicos dizer que temos o mesmo valor que Jesus Cristo como Deus-Homem, pois somos feituras de Deus em Cristo Jesus (Efésios 2.10).


Nós sabemos (ou pelo menos deveríamos saber!) que o Espírito Santo está nos transformando de glória em glória na imagem de Jesus (Romanos 8.29; 2Coríntios 3.18). Paulo escreveu que o nosso corpo será conforme/igual (gr. σύμμορφος = summorphos) ao corpo de Jesus na ressurreição: “corpo glorioso” (Filipenses 3.21). João disse que seremos semelhantes a Ele, pois o veremos como Ele é (1João 3.2). Seria tolice – desculpe, mas não tenho outra palavra – afirmar que estamos sendo TRANSFORMADOS à imagem de Cristo pelo Espírito Santo, e que teremos um corpo CONFORME ao de Jesus e que seremos SEMELHANTES a Ele e não termos o mesmo valor de Jesus para Deus! A questão não é que somos o centro, mas que Cristo é o centro de nossa transformação e glorificação. Assim, disse Paulo, como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial (1Coríntios 15.49). Se em Adão fomos desvalorizados por causa do pecado na Queda, em Cristo, o Último Adão (v.45), somos valorizados por causa da Redenção: justificação, perdão, santificação e glorificação. Em Adão, criados à imagem e semelhança de Deus, somos valorosos para Deus pela criação; em Cristo, a imagem do Deus invisível (Colossenses 1.15), somos duplamente valorizados por Deus pela redenção. Paulo disse: “E vos vestistes do Novo, que se renova para o conhecimento, segundo à Imagem daquele que o criou” (3.10).


Então, se estamos em Cristo, revestidos de Cristo com a justiça de Cristo, sendo transformados na imagem de Cristo pelo poder santificador do Espírito Santo, participantes da natureza Divina por causa de Cristo, e seremos semelhantes a Cristo e teremos um corpo igual ao de Cristo, nós temos um grande valor tal como Cristo tem para Deus como Filho e o nosso Redentor. Quando o Senhor Jesus nos apresentar diante de Deus Pai dirá: “Eis-Me aqui a Mim, e aos filhos que Deus Me deu” (Hebreus 2.13). Pelo Espírito Santo somos feitos filhos e filhas de Deus no Filho Amado de Deus!


Agora, entenda que você é precioso ou valoroso para Deus como Cristo é por causa de Cristo e não por causa de você mesmo. Você como criatura de Deus tem um grande valor, mas agora, em Cristo e revestido de Cristo, o teu valor é igual ao de Cristo como Deus-Homem, o último Adão.


Se Deus deu o Seu melhor – acredito que todos estão de acordo, pelo menos o escritor de Hebreus entende que sim – Jesus Cristo, dificilmente não teríamos algum valor para Ele. Será que Deus daria o Seu único Filho para morrer por criaturas (para alguns: objetos) sem nenhum valor? Acho difícil! No entanto, certas Sistemáticas proclamam que sim! Como tenho dito: Esse é o perigo das Sistemáticas, pois tentam encaixar os textos bíblicos em suas caixinhas teológicas. E quando alguém faz uma afirmação que não se encontra em seu bojo Sistemático são logo taxados de hereges.


ALGUNS TEXTOS BÍBLICOS

Vários textos bíblicos e afirmações teológicas mostram que o ser humano tem um valor todo especial para Deus.

1. Homem e mulher foram criados como Ser Humano segundo a imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1.26,27). Isso sem dúvidas torna o homem um ser muito valioso para Deus. Davi disse que Deus o Criador “de glória e de honra” coroou a humanidade (Salmo 8.5; Hebreus 2.7).


2. Sabemos que certos anjos de Deus se rebelaram e pecaram contra Deus, mas o Senhor não enviou um redentor para resgatá-los. Porém, quando o homem e a mulher pecaram Deus enviou o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna – Essa vida eterna é a vida do Seu Filho. Sem dúvidas, o valor do homem, nalgum sentido para Deus, é mais do que o dos anjos. Aqui, tenho apenas um pressuposto teológico!


3.  Yahweh diz claramente que somos preciosos para Deus: “Visto que foste PRECIOSO aos Meus olhos, também foste honrado, e Eu te amei, assim dei os homens por ti, e os povos pela tua vida” (Isaías 43.4, ACF).


Eu poderia fazer uma dissertação sobre este texto, mas vale apenas destacar que o povo de Deus que Ele remiu (v.1), que Ele chama pelo nome (v.1), que Lhe pertence (v.2), que o próprio Deus estaria com ele (v.2) é PRECIOSO aos olhos de Yahweh, Deus, Santo de Israel e Salvador (v.3).


A palavra hebraica traduzida por “precioso” é יָקַר = yãqar, denotando algo de grande e inestimável valor. Essa palavra no léxico hebraico denota sempre coisas de estimado e grande valor: Raridade, caro, precioso e muito valorizado. Davi usou a mesma palavra hebraica para dizer: “Quão PRECIOSOS me são, ó Deus, os Teus mandamentos! Quão grandes são as somas deles!” (Salmo 139.17).


Nós não apenas temos valor para Deus como também somos bastantes preciosos e valorosos para Ele. Somos joias raras, povo estimado e valorizado por Deus, por isso fomos comprados por um valoroso preço!


4.Dificilmente um Deus valoroso resgataria para Si um povo sem valor por meio do sangue valoroso do Seu Filho!


5. Pedro escreveu: “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, Mas com o PRECIOSO sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado” (1Pedro 1.18,19, ACF).


6. Paulo disse que “Cristo amou a igreja, e a Si mesmo se entregou por ela. Para apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efésios 5.25,27).


Dificilmente um noivo não veria valor inestimável em sua noiva amada, quanto mais o Senhor Jesus, porventura não enxergaria um valor grandioso na Sua amada noiva, apesar de suas falhas? Claro que Ele a ver com olhos preciosos, por isso está empenhado em santifica-la para aquele grande Dia.

Cristo é precioso para o cristão, e o cristão é precioso para Cristo!


7. Para os ansiosos discípulos, Jesus disse: “Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós MUITO MAIS VALOR do que elas?” (Mateus 6:26, ARC).


8. “Não se vendem dois passarinhos por um ceitil? E nenhum deles cairá em terra sem a vontade de vosso Pai. E até mesmo os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais, pois; MAIS VALEIS vós do que muitos passarinhos”. (Mateus 10:29-31, ARC).


9. “Pois quanto mais VALE UM HOMEM do que uma ovelha? É, por consequência, lícito fazer bem nos sábados” (Mateus 12:12, ARC).


10. “E os fundamentos do muro da cidade estavam adornados de TODA PEDRA PRECIOSA. O primeiro fundamento era jaspe; o segundo, safira; o terceiro, calcedônia; o quarto, esmeralda” (Apocalipse 21:19).


A cidade celestial é uma figura da Igreja. A cidade terá a caráter de seus moradores! Nós somos pedras vivas, sim pedras preciosas na construção do grande santuário para morada de Deus pelo Espírito Santo. Oh como somos preciosos para Deus!


Eu poderia fazer uma dissertação exaustiva sobre a temática, porém acredito que deixei claro!


Seria interessante pregarmos o que as Escrituras ensinam, sermos expositores do que a Bíblia diz e não meros achadores de versículos para provar nossa labuta Sistemática.


Num momento em que pessoas estão sofrendo de ansiedade, depressão e exterminando o bem mais precioso, a vida dada por Deus, por meio do suicídio e solapados por outros males da alma nós deveríamos mostrar o quanto cada alma é preciosa para o Senhor no lugar de desesperadamente defender meros Sistemas de homens com suas visões estreitas das Escrituras.


Reporto você para um belo hino do nobre cantor Armando Filho: VOCÊ TEM UM VALOR!


https://www.youtube.com/watch?v=qibR2uIE0Lc

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

PENTECOSTAIS E OS ÚLTIMOS DIAS!

 


No início do Pentecostalismo os pentecostais ansiavam por uma “nova” era do Espírito nos últimos dias antes da volta de Cristo ("as últimas chuvas"), na qual os cristãos seriam batizados no Espírito Santo para lhes conceder uma consciência mais intensa da presença de Deus, mais santidade, maior unidade e maior poder para a missão, especialmente com sinais carismáticos como cura divina, expulsão de demônios, profecia, unção na pregação, ousadia na evangelização e o falar línguas.

Lembro-me que ao receber o batismo no Espírito Santo a nossa juventude (e todos os novos convertidos!) Postulavam três grandes temas: (1) santificação; (2) evangelização e o (3) arrebatamento da Igreja. Esses temas visíveis no contexto prático litúrgico ou doxológico do pentecostalismo assembleiano brasileiro são pertencentes aos cinco pilares cristológico do pentecostalismo histórico e pneumático: Jesus salva, Jesus cura, Jesus santifica, Jesus batiza no Espírito Santo e fogo e Jesus voltará brevemente como Rei para governar nesta Terra.

Vale lembrar que foram os críticos do Movimento que enfatizavam as línguas como distintivo identificatório do pentecostalismo, e não os próprios pentecostais. Honestidade deveria permear aqueles críticos que dizem que o Pentecostalismo é meramente um "Movimento de Línguas". Lerdo engano! É, sim, um movimento do Espírito Escatológico manifestando na comunidade cristã os carismas e os poderes do Escaton (porvir). A pregação do Reino de Deus com poder do Espírito manifestado em salvação, libertação, curas, exorcismos, novas línguas e milagres fazem parte da imagem pentecostal raiz da crença dos pentecostais (Marcos 16.15-20; Atos 2.17-21). Assim como o dia de Pentecostes foi marcante para os primeiros cristãos trazendo os “últimos dias” como uma Era do Espírito com poder, os primeiros pentecostais (eu continuo postulando!) também acreditavam que estavam vivendo nos “últimos dias” ao usar a imagem das “últimas chuvas” como determinante para uma vida de santificação e testemunho missional ante a expectativa da volta iminente de Cristo Jesus para arrebatar a Igreja.

Pode-se afirmar que a escatologia bíblica fornece o impulso inicial da pregação pentecostal e a orientação para o pensamento renovador para uma construção de uma Teologia Pentecostal distinta em vez de ser relegada, a escatologia bíblica, como notado historicamente nas demais Teologias Sistemáticas, a uma reflexão tardia do fazer teológico.


TEIXEIRA, Ivan. Escatologia Bíblica Pentecostal: O Espírito, o Reino e o Porvir - (no prelo).



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

SINGULARIDADE DO APOCALIPSE DE JOÃO: CRISTOCÊNTRICO, PNEUMÁTICO E PROFÉTICO

 


O Apocalipse escrito por João é diferente dos demais apocalipses de sua época.

Sabemos que existem três gêneros literários no Apocalipse joanino: (1) epístolas (2-3); (2) profecia (22.18); (3) linguagem apocalíptica (6 a 18). Apesar disso o livro é essencialmente profético: "as palavras proféticas deste livro" (22.18). João usa a palavra “profecia” sete vezes (1.3; 11.6; 19.10; 22.7,10,18). Por isso, a melhor interpretação do livro é a da escola futurística. Preterista, idealista e historicista perdem de vista a própria descrição do livro de si mesmo como profético e futurístico: “as coisas que em breve devem acontecer”. Devemos rejeitar tanto a hermenêutica jornalística quanto a espiritualizante ou alegórica do livro.

Apesar de João usar a linguagem apocalíptica, imagens deliberadamente enigmática e simbólica, ele é acima de tudo um apóstolo e profeta cristão que direciona seu livro às igrejas essencialmente sobre eventos que “devem acontecer”. João deu às igrejas uma combinação do profético, apocalíptico e epistolar. É um livro singular e não pode ser interpretado à revelia das literaturas apocalípticas não inspiradas, como é bem peculiar dos acadêmicos a partir do século 19, mas à luz das Escrituras canônicas que já esclarecem todas as imagens e símbolos usados na visão de Patmos do grande João (cf. Daniel, Ezequiel e etc.). Uma boa parte dos símbolos são interpretados no próprio livro. Por exemplo, o estudioso Merril C. Tenney cataloga dez símbolos que João explica em seu Apocalipse: sete estrelas são sete anjos das igrejas (1.20); sete castiçais são igrejas (1.20); sete lâmpadas são setes Espíritos de Deus (4.5); taças de incenso são orações dos santos (5.8); grande multidão representa os que provêm da Grande Tribulação (7.13,14); o grande dragão é o diabo e Satanás (12.9); sete cabeças da besta são sete montes (17.9); dez chifres da besta são dez reis (17.12); águas representam povos, multidões, nações, línguas (17.15); a mulher é a grande cidade (17.18)[1]. Seguindo essa hermenêutica joanina e também os entendimentos registrados nos outros livros proféticos do Antigo Testamento podemos interpretar e entender os demais símbolos e a linguagem profética no Apocalipse sem, contudo, cair nas especulações e seguir uma hermenêutica alegórica que mais depende do imaginário dos intérpretes modernos do que do contexto escriturístico – seja imediato ou mediato ou mesmo canônico.

Dos quatrocentos e quatro versículos (404)[2] do Apocalipse quase quinhentos são citações ou alusões ao Antigo Testamento provando que ele não é mera literatura apocalíptica, mas que teve como pano de fundo as revelações e imagens proféticas dos livros canônicos sendo então a continuação, o desenvolvimento e a culminação dos planos futuros de Deus para Seu povo e o mundo.

Os demais livros apocalípticos nos chegam por pseudônimos, João já se identifica desde o começo. Nos outros, se diz que deve ser selado; no de João não é para “selar” (22.10), pois já estamos no tempo do fim que é evidenciado pela vinda do Messias, a chegada do Reino de Deus e pelo derramamento do Espírito sobre o povo de Deus. O mesmo João disse que “já estamos na última hora” (1João 2.18). Todo o período atual desde o Pentecoste até a segunda vinda de Cristo é descrito como o tempo do fim no Novo Testamento. Estamos vivendo na era da consumação de todas as coisas.

Pode-se dizer que o livro do Apocalipse é cristocêntrico e pneumático, pois João diz que ele "estava no Espírito" (1.10: "movido pelo Espírito", BP); O Espírito fala às Igrejas (2-3); ele foi “arrebatado pelo Espírito" (4.2: "imediatamente apoderou-se de mim o Espírito", BP); E que "o testemunho de Jesus é o Espírito da profecia", isto é, que a mensagem dada por e sobre Jesus é a evidência clara de que o Espírito profético veio e estar na Igreja. Diferente das apocalípticas dos séculos II a.C., e II d. C., o livro do Apocalipse de João é pneumático, cristocêntrico, soteriológico e escatológico-futurístico.

O Apocalipse escrito por João é acima de tudo uma Revelação de Jesus Cristo – dada por Ele e sobre Ele. Jesus é a chave interpretativa do livro! Ele é central, não a besta, as testemunhas e o dragão. Cristo e Sua Noiva-Esposa-Igreja são centrais para a compreensão do livro. A vinda do Cristo glorificado é a temática central do Livro (1.7). O Espírito Santo e a noiva se unem e dizem: VEM! (22.17).

Quando se perde a cristocentricidade interpretativa, a pneumática profética e a eclesiologia do livro do apocalipse tudo se torna obscuro e um locus de especulação.

 

TEIXEIRA, Ivan. Apocalipse do Cristo Glorificado: Ouvindo o que o Espírito diz às Igrejas - (no prelo).


 


[1] TENNEY, Merril C. Interpreting Revelation, p.187. Grand Rapids: Eerdmans, 1957.

[2] Os escritores Henry Barclay Swete (Commentary on Revelation: The Greek Text with Introduction, Notes, and Indexes, p.cxl. Grand Rapids: Kregel, 1977) e Bruce M. Metzger (Breaking the Code: Understanding the Book of Revelation, p.13. Nashville: Abingdon, 1993) notam que dos 404 versículos no Apocalipse, 278 versículos fazer alusão a uma passagem do Antigo Testamento. Já Ferrel Jenkins conta 348 citações e alusões no Apocalipse (Old Testament in the Book of Revelation, p.24. Grand Rapids: Baker, 1972).

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

PRÉ-TRIBULACIONISMO: A Igreja não passará pela Grande Tribulação


 Estou convicto da visão pré-tribulacional, uma interpretação de que a igreja não será deixada no mundo durante os sete anos da Tribulação descrita em Apocalipse 6-18. Embora seja minha convicção pessoal, reconheço que se uma posição milenar é uma doutrina de segunda ordem, a relação da igreja com o período da Tribulação é ainda menos certa. Os textos podem ser organizados e interpretados para apoiar o pré-tribulacionismo e o pós-tribulacionismo, e também há proponentes do midi-tribulacionismo, arrebatamento parcial e arrebatamento pré-Ira. Qualquer que seja a visão adotada, uma medida de humildade e graça para com os outros é garantida. Com isso em mente, eu entendo que a visão pré-tribulacional seja a mais coerente e plausível.

O pré-tribulacionismo é frequentemente associado ao dispensacionalismo. Duas notas importantes devem ser observadas. Primeiro, a palavra dispensação é uma tradução da palavra oikonomia, referindo-se literalmente à “lei da casa” ou como as coisas funcionam. Das sete ocorrências no Novo Testamento, quatro são traduzidas como “dispensação” na Almeida Revista e Atualizada (ARA: Efésios 1.10; 3.2,9; Colossenses 1.25), mas nenhuma é traduzida por essa tradução na Nova Versão Internacional (NVI). Efésios 3.2, onde o termo é traduzido como “administração” pela NIV, é a instância mais crítica em que a ARA traduz a palavra “dispensação da graça”. Em qualquer caso, a palavra foi associada à teoria dispensacionalista. Essa perspectiva identifica sete períodos ou dispensações em que Deus varia seus métodos de lidar com a família humana. Em segundo lugar, nem todos os milenaristas são dispensacionalistas. Na verdade, nem todos os pré-tribulacionistas são dispensacionalistas. É necessário deixa isso claro. Às vezes certos estudiosos pensam que por aceitar certos elementos de uma estrutura sistemática somos obrigados a abraçar todo o sistema fechadinho. Tenho postulado isso, pois mesmo como pentecostal não sou obrigado a abraçar tudo no universo sistemático do pentecostalismo. Tudo deve ser levado ao tribunal da Palavra de Deus.

Certamente há diferenças entre as maneiras pelas quais Deus lida com os humanos sob a lei e após o advento de Cristo. Mas a própria salvação sempre foi mediada pela graça por meio da fé (Gênesis 15.6; Romanos 4.3) e sempre com base na obra de Cristo na cruz (Apocalipse 13.8). No final das contas, o conceito de dispensações não é realmente determinante para nenhuma das visões. Oportunamente nos deteremos no assunto. Aqui, me limito ao tratamento da visão pré-tribulacional.

Existem, no entanto, boas razões para acreditar que a igreja será tirada do mundo antes da tribulação.

I. O fundamento lógico para um arrebatamento pós-tribulação da igreja é difícil de estabelecer.

Diz-se que os santos de Deus reinam com Cristo na terra milenar. Mas se a igreja está, embora não seja o objeto da Tribulação, e se os verdadeiros crentes vivos na vinda do Senhor forem arrebatados por Cristo na Parusia (1Tessalonicenses 4.15-18), qual poderia ser o propósito desse rapto quando eles retornam imediatamente à terra? Se, por outro lado, a igreja é removida da terra antes da Tribulação e retorna com Cristo no início do Milênio, como é a crença pré-tribulacional, então o êxodo da igreja faz sentido. Primeiro, a igreja não é deixada para sofrer o derramamento da ira de Deus na terra. Em segundo lugar, eventos como o bema, o tribunal de Cristo e as bodas do Cordeiro têm tempo de acontecer no céu. Vejo isso como um dos fatores determinantes para abraçar a crença pré-tribulacional, ou seja, a postulação de que o Senhor Jesus arrebatará Sua Igreja antes da Grande Tribulação.

 

II. Um problema ainda mais abrangente surge se um arrebatamento pós-tribulação for previsto.

O Novo Testamento é claro que quando Cristo é revelado e os cristãos são arrebatados para Ele, tanto aqueles que “dormem” em Jesus e aqueles que estão vivos em Sua vinda serão glorificados (1Coríntios 15.50-53; 1Tessalonicenses 4.13-18). Até onde é possível saber, Jesus parece indicar que os corpos glorificados ou ressuscitados, embora infinitamente superiores aos corpos físicos devastados pelo pecado, não terão a capacidade de atos ou resultados reprodutivos (Mateus 22.29-30). Isso não seria necessário no reino celestial.

Portanto, se todo crente verdadeiro é glorificado em um arrebatamento pós-tribulação e se apenas os crentes entram no milênio (Mateus 25.31-46), como o Reino Milenar é repovoado? Após os resultados devastadores da Grande Tribulação com a dizimação da maior parte da população mundial, o repovoamento durante o Milênio é essencial. Na verdade, quando Satanás é libertado na conclusão do Milênio por um curto período de tempo (Apocalipse 20.1-9), ele tem seguidores imediatos. Como isso é possível se o reino milenar consiste apenas de crentes glorificados? Como é possível para ele ter seguidores? Será que alguns crentes-glorificados se rebelarão e se unirão a Satanás?

Em contraste, o pré-tribulacionismo explica facilmente esses eventos. A igreja é arrebatada a Cristo e glorificada no início da Tribulação. Durante o período da Tribulação, 144.000 judeus e um número considerável de gentios virão à fé (Apocalipse 7.1–9). Aqueles que não foram martirizados pelo Homem do Pecado (isto é, o príncipe por vir) estarão vivos (Daniel 9.26), vivendo em seus corpos físicos, embora caídos, na volta do Senhor; e eles se tornarão os primeiros habitantes da Era do Reino (Mateus 25.31-46). Visto que eles estão em seus corpos ainda não glorificados, eles podem e devem repovoar a Terra durante o Milênio. Claro, sua progênie também deve se arrepender e exercer fé em Cristo para ser salva. Embora tudo confirme externamente o reinado milenar de Cristo, a libertação de Satanás na conclusão do milênio (Apocalipse 20.7-8) dará oportunidade para aqueles cujos corações estão em rebelião se manifestarem como descrentes.

Se alguns sugerem que a salvação das pessoas durante a Tribulação constitui uma segunda chance, eles se deparam com fatos que são diferentes. Afinal, esses ainda estão vivendo uma vida inicial, e “o homem está destinado a morrer uma vez, e depois enfrentará o julgamento” (Hebreus 9.27). Se alguém objetar que após o arrebatamento da Igreja, os restantes teriam maiores evidências, é necessário apenas reconhecer e também notar que todos os homens tiveram um aumento considerável em evidências após a encarnação de Cristo. Além disso, junto com a maior evidência, aqueles que vivem no período da Tribulação também experimentam engano muito maior (Mateus 24.24).

O pré-tribulacionismo, então, explica melhor como esses diversos conceitos de eventos dos últimos dias se aglutinam uns com os outros. Essa capacidade do pré-milenismo pré-tribulacional de dar um sentido razoável aos eventos escatológicos diversificados é significativa.

 

III. Os primeiros três capítulos do Apocalipse mencionam extensivamente as igrejas.

Mas começando com o cap.4, a menção explícita da igreja nunca ocorre novamente no Apocalipse. Inquestionavelmente, pode-se argumentar que a igreja aparece sob outros símbolos ou expressões, e pode-se defender essa visão. Isso não muda a mudança incomum de menção frequente para ausência total. Se, no entanto, o plano de Deus voltar a um foco distintamente judaico para os eventos da Tribulação (também chamado de tempo de angústia de Jacó, Jeremias 30.4-7), então para a igreja estar ausente dos eventos do período, que constitui a maior parte do texto do Apocalipse, não é surpreendente.

Creio que é forçada a interpretação que coloca a igreja no período descrito entre os capítulos 6 a 18 do livro de Apocalipse. A clara presença da Igreja na Era descrita nos capítulos 2 e 3, e sua ausência nos capítulos 6 a 8, a forte evidência de sua glorificação no céu nos capítulos 4 e 5, e ainda o retorno de Cristo no final do período da Grande Tribulação com Sua noiva adornada no capítulo 19 laboram a favor de uma interpretação pré-tribulacional.

 

IV. Em Apocalipse 3.10, uma promessa notável é feita à igreja em Filadélfia.

Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra.

Vários aspectos importantes desse versículo merecem atenção. Primeiro, há uma hora de provação que virá sobre o mundo inteiro. O próprio Jesus falou de tal tempo, dizendo:

Porque nesse tempo haverá Grande Tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem haverá jamais. Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados (Mateus 24.21,22).

 

Uma grande angústia inigualável desde o início do mundo e nunca mais igualada, da qual ninguém sobreviveria se o tempo não fosse limitado, apresenta um conceito que só a exegese mais torturada pode atribuir à queda de Jerusalém. O tempo sobre o qual Jesus falou deve ser sinônimo de um julgamento vindouro para toda a terra.

Em segundo lugar, a promessa feita à igreja de Filadélfia é a isenção desse julgamento. Enquanto a igreja na Filadélfia é dirigida, nas mensagens às sete igrejas históricas, uma aplicabilidade universal tem sido frequentemente observada. Os problemas abordados são visíveis nas igrejas de todas as épocas. Assim também são as realizações das igrejas. As promessas às sete igrejas também se aplicam não apenas a essas congregações históricas, mas a todas as igrejas em todas as épocas. Assim como os crentes de todas as épocas estão isentos dos horrores da segunda morte (Apocalipse 2.11), estão vestidos de pureza branca (3.4), se sentarão com Cristo em seu trono (3.21), então eles estarão protegidos da grande hora da prova. A promessa “eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro” implica ausência de cena e, portanto, a retirada da igreja antes da Tribulação.

 

V. O Novo Testamento parece unânime em sua proclamação do retorno iminente de Cristo.

Numerosas passagens ilustram este ponto, incluindo Filipense 3.20; Colossenses 3.4; 1Tessalonicenses 1.10; Tiago 5.8; Apocalipse 3.3; e especialmente Tito 2.13. Poucos contestam essa doutrina da iminência do retorno de Cristo. Mas tal visão, não apresentando nenhum problema para o amilenismo ou pré-milenismo pré-tribulacional, introduz um enigma significativo para todas as outras perspectivas da relação da igreja com a tribulação.

Se, por exemplo, o pós-tribulacionismo for invocado, então é possível contar desde o início do reinado do Anticristo e saber que sete anos depois Cristo retornará, anulando assim a doutrina da iminência do retorno de Cristo. Ou, para ser ainda mais preciso, a partir do momento em que o príncipe que há de vir (o Anticristo) contaminar o templo (Daniel 9.27), após precisamente 1.260 dias, Cristo retornará à terra. Isso não apenas elimina a possibilidade do retorno iminente de Cristo, mas também tem o infeliz resultado de enganar Jesus ao dizer que ninguém sabia a hora do retorno de Cristo (Mateus 24.36,42,44)! Outro grande problema com a rejeição da doutrina da iminência, e um arrebatamento pré-tribulacional, é o fato dos escritores bíblicos sempre chamarem os cristãos a vigiar e estarem preparados, pois o Senhor virá a qualquer momento. Todas as visões da relação da igreja com a tribulação, exceto a do pré-tribulacionismo, enfrentam essa mesma dificuldade.

 

VI. Poucos textos na Bíblia apresentam tanta dificuldade para os intérpretes quanto a profecia das 70 semanas de Daniel em Daniel 9.20-27.

No entanto, a decisão sobre o terminus a quo e o terminus ad quem das 69 semanas é determinado; a última ou septuagésima semana da profecia corresponde ao período de sete anos da Grande Tribulação. Um governante surge na septuagésima semana ou na última semana de anos proféticos que submerge o mundo na guerra, destrói a cidade de Daniel (Jerusalém) e o santuário (templo). Ele faz isso somente depois de fazer uma aliança com o povo de Daniel de sete anos (a septuagésima semana). Mas, na metade do caminho, ele quebra esse pacto e profana o templo, trazendo grande desolação. Tudo isso diz respeito ao povo de Daniel, Israel e à cidade sagrada, que é Jerusalém. Assim, a profecia da septuagésima semana diz respeito ao Israel étnico e é interrompida a partir da sexagésima nona semana por um intervalo de tempo (os tempos dos gentios ou a era da igreja, Jeremias 30.4-7). Embora seja concebível que esta septuagésima semana seja de alguma forma contemporânea com a era da igreja, nenhum argumento convincente foi organizado em favor de tal visão; e ver a profecia como relacionada especificamente a Israel na ausência da igreja, que foi transportada para o céu, é mais lógico[1].

 

VII.  Apocalipse 7 registra o selamento dos 144.000.

Estes são declarados judeus, 12.000 de cada uma das 12 tribos de Israel. Sua herança judaica parece mais tarde estabelecida por João, que os distinguiu de uma grande multidão que, por contraste, surge de todas as nações, tribos, povos e línguas. Este evento é precisamente o que o pré-tribulacionista antecipa, mas apresenta sérios problemas para todas as outras visões.

Os amilenistas devem providenciar alguma interpretação simbólica que designe esses 144.000 como outra maneira de falar da igreja ou do povo de Deus em geral. É claro que não é isso que o texto diz, e a visão não explica por que o autor se deu ao trabalho de listar as tribos, especialmente da forma como estão listadas. A questão da intenção autoral também surge novamente, e João, um judeu, parece ter entendido que se tratava de judeus. Parece-me que a visão amilenista está mais interessada com o que o texto significa para sua visão e intenção sistemática do que com a intenção da própria visão e de João. A descrição é claramente de judeus selados no período inicial da Grande Tribulação.

O pós-tribulacionista enfrenta dificuldades semelhantes. Se a igreja ainda estava presente na terra na época desse selamento, por que esses judeus não foram assimilados pela igreja como foi o caso de João, Pedro e Paulo? Nada na discussão posterior dos 144.000 em  Apocalipse 14.1-5 empresta qualquer evidência da presença da igreja, sugerindo que mais uma vez a era dos gentios passou, a igreja foi removida e, mais uma vez, o foco está em Israel durante a grande tribulação.

 

VIII.  Apocalipse 12 apresenta ao leitor uma mulher radiante que dá à luz o Messias.

Identificar adequadamente essa mulher constitui uma chave importante não apenas para aquele capítulo, mas também para todo o livro do Apocalipse. A mulher dá à luz aquele que governará todas as nações. Ela tem que fugir do dragão para um lugar onde estará protegida por 1.260 dias. Esse tempo é mais tarde dado como “tempo, tempos e meio tempo” (12.14; cf. Daniel 7.25; 12.7) ou três anos e meio.

As razões para identificar a mulher como Israel são fornecidas numa exegese simples, literal e normal do cap.12. Basta dizer que, por entender que a mulher é Israel, a passagem concorda com o entendimento da septuagésima semana de Daniel oferecido acima. Isso coloca o capítulo na última metade da grande tribulação e mais uma vez reflete uma era judaica da qual a igreja está ausente.

 

Conclusão: Novamente, há muitas outras razões para descobrir que a igreja não está presente no período de sete anos da tribulação, por exemplo, a Igreja nunca é tida como sofrendo a orge (ira) de Deus – esse também é um forte ponto, pois descreve a natureza da Tribulação (Apocalipse 6.17). É difícil entender como certos intérpretes desejam que a igreja passe pela Tribulação, vejo nisso um desespero para encaixar os textos bíblicos no Sistema interpretativo. De modo geral, um caso não pode ser construído com finalidade ou rejeitado por esta visão ou outras. A igreja deve estar preparada para o sofrimento e a perseguição porque lhe foi prometida essa inevitabilidade (João 16.18-20). Mas há evidências da intervenção de Cristo em favor de sua noiva, tirando-a da ira que certamente virá.

 

Ivan Teixeira



[1] PATTERSON, Paige. The New American Commentary: Revelation (Volume 39). © Copyright 2012 • B & H Publishing Group.