Introdução
Tenho lamentado que muitos estudiosos em cristologia
estivessem ensinando o que as Escrituras não ensinam. Enfatizando um aspecto da
cristologia em detrimento das demais. Há aqueles que afirmam que a ênfase do
Novo Testamento é na Pessoa de Cristo, não em Sua obra e ensino – cristologia
ontológica. Há aqueles que subscrevem uma ênfase nas obras de Cristo –
cristologia funcional. Ainda há aqueles que elencam uma ênfase nos ensinos de
Cristo – cristologia educacional.
Para mim são ênfases exageradas e imprecisas, pois o
Novo Testamento não faz esses divórcios. Então, como se diz, o que Deus ajuntou
não separe os homens. É isso mesmo, o que Deus tem-nos revelado em Sua Palavra
os estudiosos não tem permissão de desassociar e separar, a não ser para uso
didático. São inaceitáveis tais ênfases! É impossível falar da Pessoa de Cristo
sem Sua obra e sem Seus ensinamentos. Muitos erros têm sido alimentados e
divulgados com tais ênfases. Por isso, neste livro não sigo tais metodologias,
mas sim àquela que não abre mão destes três aspectos da Cristologia
bíblico-teológica. Minha posição é que uma verdadeira Cristologia bíblica é
ontológica-funcional-educacional. Esses vínculos são essenciais para compreendermos
a grandeza de quem é Jesus de Nazaré. É claro que não discutimos robustamente
cada aspecto da cristologia, pois seria impossível dado o espaço e a consideração
de nosso objetivo neste livro. No entanto, esforcei-me, não somente eu, mas a
graça de Deus comigo, pois a roguei, para expor uma cristologia bíblico-teológica.
Somos instruídos pelo Novo Testamento a considerar a
conexão, que não deve ser separada, a não ser por razões didáticas, entre a
pessoa de Cristo (cristologia), a obra de Cristo (soteriologia) e os ensinos de
Cristo (cristomorficologia[1]).
Atanásio é um dos primeiros escritores cristãos a tornar explícita essa
conexão. Somente Deus pode salvar, afirmava ele. Contudo, Cristo é Salvador. O
que esta afirmação a respeito da função
de Cristo nos diz sobre Sua identidade? Se Jesus é capaz de exercer a função de
nos salvar, então claramente Ele é nosso Salvador. E se Ele é o Salvador (onto – ser) que nos salva (função) então
Ele nos instrui a vivermos salvadoramente (docência). Ele é o Salvador que nos
salvou e que nos ensina a viver como salvos n’Ele (temos essa conexão:
ontologia, soteriologia e vida cristã). Podemos ter uma percepção disso no
texto de Mateus 11.28-30: “Vinde a Mim, todos os que estais
cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu
jugo e aprendei de Mim, porque Sou manso e humilde de coração; e
achareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é
leve” (grifos nosso).
Claramente vemos Sua identidade: “Vinde Mim”, “meu”
– Ele é aquele que alivia ou liberta os cansados e sobrecarregados e lhes dá
descanso. Ele é o Salvador!
Também notamos Sua função: “Eu vos aliviarei” – Ele
é aquele que exerce poderosamente a função de aliviar a todos aqueles que vêm
até Ele. Ele age salvadoramente ao dá alívio e descanso!
Entendemos Sua docência: “aprendei de Mim” – Ele é
aquele que instrui a todos quanto alivia e liberta dos fardos do pecado. – Ele
é nosso Mestre supremo (Mt 5.1).
Por fim, entendemos Sua soberania: “Tomai sobre vós
o Meu jugo” e “Meu fardo” – Ele é o Senhor que governa, guia e domina sobre
todos quanto salva, alivia, liberta e instrui. Ele é Senhor para a glória de
Deus Pai.
Uma verdadeira Cristologia fundamenta-se nestas
preciosas verdades sobre Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. É inadmissível
separar o que as Escrituras destacam como unidas.
Tendo isso em
mente, entendo que como cristãos devemos ter um pleno conhecimento de nosso bem
amado Redentor, Jesus Cristo! Sabemos que nunca teremos um conhecimento
completo da Pessoa, obras e ensinos de Jesus Cristo, mas podemos ter um
conhecimento amplo e verdadeiro. Tem de haver progressão nesse conhecimento
para que cresçamos em todas as coisas e em todas as direções.
Quero meditar com
você num texto escrito pelo apóstolo Pedro: “Antes, crescei na graça e
no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18).
Num contexto de
falsos ensinamentos, onde pessoas ignorantes e instáveis deturpam as Escrituras
para a própria destruição (v.16), quando pessoas começam a duvidar da “promessa
da Sua Vinda” (v.4), e ainda quando os escarnecedores andam segundo suas
próprias paixões (v.3), Pedro exorta os cristãos a recordar as “palavras
que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento
do Senhor e Salvador, ensinados pelos vossos apóstolos” (v.2), a se acautelar para que não fossem
“arrastados pelo erro desses insubordinados” e descaíssem “da vossa própria
firmeza” (v.17) e também a crescer
“na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”, a quem
pertence “a glória, tanto agora como no dia eterno” (v.18).
A busca da maturidade cristã e o aprofundamento no
conhecimento do Senhor Jesus Cristo levarão à estabilidade doutrinária e
impedirão o cristão de se desviar do caminho da verdade bíblica.
Termino com as palavras iniciais de Pedro
quando escreveu:
Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno
conhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto como, pelo Seu divino
poder, nos têm sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade,
pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para Sua própria
glória e virtude, [...] associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento;
com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a
perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com
a fraternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em vós e em vós
aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno
conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo (grifos nosso).
A fé preciosa do cristão está firmada no
conhecimento da verdade do evangelho de Deus na face de Cristo Jesus. Quanto
mais profundo e mais amplo for esse conhecimento do Senhor Jesus e de Sua obra,
mais “graça e paz” são multiplicadas, tornando os cristãos ativos e frutíferos “no
pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Juntamente com Paulo exorto a você: “antes,
seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a Cabeça, Cristo”
(Ef 4.15, grifo nosso).
F. Ivan Teixeira da Silva
Minha Consciência é Escrava da Palavra de Deus
[1]
O Novo Testamento é fortemente cristomórfico
em sua visão em relação à vida redimida, isto é, ele afirma que Jesus Cristo
não apenas torna essa vida possível (em Cristo somos novas criaturas, 2Co
5.17); mas também a modela (Deus nos predestinou para sermos conforme à imagem
de Jesus Cristo, Rm 8.29). A imagem do Novo Testamento de “ser segundo Cristo”
expressa muito bem esta noção (cf. 2Co 3.18). Jesus não é um simples “exemplo
moral” (visão sociana), Ele é o fundamento da salvação e da vida cristã (visão
evangélica). Ele nos salva e somos transformados à Sua imagem.
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