Capítulo 1
Quem é Jesus
Cristo?
Para termos comunhão com Cristo é necessário crermos
que Ele veio de Deus e é Deus, que viveu sem pecado entre os homens (Jo 14.7;
Hb 11.6). Nossa fé e esperança se baseiam nesta certeza, e só acreditamos,
porque assim diz a Bíblia; caso contrário nós teríamos sempre uma indagação em
nossa mente: Como ser salvo por alguém que tem os mesmos pecados que nós? A
questão chave do universo continua sendo: “Que pensais vós do Cristo?” (Mt 22.42).
A história tem seu centro e sua decisão em Cristo – a história do mundo e de
cada indivíduo.
Não
existe nada mais sublime na Teologia do que o estudo da Pessoa de Jesus Cristo.
Esse que para muitos foi um filósofo, revolucionário, ou simples carpinteiro
com ideias avançadas, que colocava em xeque o sistema legalista de sua época.
Ele
poderia ter sido tudo isto, ou nada ao mesmo tempo, pois nos faltam palavras
para defini-Lo na Sua essência. Gosto de ver a Pessoa de Jesus Cristo como um
"Mistério de Deus" que se revela gradativamente à medida que
depositamos nEle a nossa fé. Creio que nunca chegaremos ao pleno conhecimento
de Sua Pessoa enquanto militarmos neste corpo corruptível; mas, sem dúvida
alguma, podemos ter uma argumentação sólida, à luz da Bíblia, a ponto de
tentarmos entender a grandeza de Sua Pessoa, obra e Seus propósitos para o
homem, e solidificarmos nossas convicções de que Ele é o mesmo ontem, hoje e
será eternamente (Hb 13.8), e de que é capaz de nos guardar até o dia final,
onde então o conheceremos na Sua plenitude.
Não
pretendemos esgotar o assunto, pois aos nossos olhos seria impossível, e o
tempo limitado, tampouco dizer que os nossos pontos de vista reúnem toda a
verdade sobre o assunto. Mas o nosso objetivo é chegar à linha de raciocínio
que nos permita melhor argumentação quando formos arguidos a respeito.
Evangelho
do Senhor Jesus Segundo Mateus 16.13-28
O Senhor Jesus chegando “às partes de Cesaréia de Filipe”, dirige-Se
aos Seus discípulos interrogando-os com duas perguntas:
Quem
dizem os homens Ser o Filho do Homem?
Quanto
a esta pergunta os discípulos deram quatro amostras de respostas, típicas sem
dúvidas das opiniões mais imaginosas e menos superficiais então correntes.
a)
Uns João o Batista – Era o precursor profetizado (Mt
3.1-3). João podia preparar os homens para receberem em Seus corações o Reino
de Deus, mas não podia capacitá-los a recebê-lo.
b) Outros, Elias – Era aquele que
precederia o “Dia do SENHOR” (Ml 4.5, 6).
c) E outros Jeremias – Era esperado que
aparecesse e restaurasse a Arca que supostamente escondera (2Macabeus 2.1-8).
d) Ou um dos profetas –
Talvez esta seja a mais superficial das opiniões da multidão. Consideravam o
Deus-Encarnado, o Senhor Jesus Cristo, como qualquer um profeta. É como se os
discípulos perguntassem para alguns: “Quem você pensa ser Jesus?”. E eles respondessem:
“Um profeta qualquer!”. Nosso Senhor era considerado qualquer um dos profetas
antigos que ressuscitara (Lc 9.19). Ele é mais um, na opinião desta gente. Para
eles era bastante ser Ele um profeta qualquer (Jo 6.14-15).
Os
profetas do Antigo Testamento anteciparam dois aspectos da Vinda do
Messias, O Triunfante (Is 11) e O Sofredor (Is 53). [Cf. Lc 24.26; 1Pe 1.10-11][1].
Os
judeus nutriam esperanças das implicações materiais e políticas do primeiro,
convenientemente deixaram de lado ou rejeitavam a sugestão espiritual do
segundo.
Eles
esperavam um Messias político-conquistador, que vencesse o grande Império
Romano, livrando a nação de Israel do jugo, implantando o Reino Davídico.
Subordinando todas as nações gentílicas, consequentemente.
As
sugestões acima tinham ao menos duas coisas em comum: Identificavam o Senhor Jesus
com um vulto do passado em vez de reconhecê-Lo como personalidade ímpar; e
continham perigosas e enganosas meias-verdades, pois, embora o Senhor Jesus
possuísse algumas das características de cada um desses três grandes homens,
transcendeu-os a todos.
E
Vós, Quem Dizeis que Eu Sou?
No
ministério da Galiléia, que terminou com a alimentação dos cinco mil, o Senhor Jesus
atingiu o cume de Sua popularidade, e com a Sua recusa de ser feito Rei (Jo
6.15), começou a perder o apoio público (Jo 6.66)[2]. É
sabido que, o Senhor Jesus, dirige-Se aos Seus discípulos em um momento de
crise em Seu ministério. Depois do milagre da multiplicação, a multidão dizia: Este
é verdadeiramente o Profeta que devia vir ao mundo (Jo 6.14).
Com
estas palavras a expectativa popular do Messias estava para ser expressa de
maneira dramática. Muitos acreditavam que, assim como seus antepassados foram
alimentados milagrosamente no deserto, no tempo do primeiro Moisés, agora Este
que os tinha alimentado milagrosamente em outro deserto devia ser o Segundo
Moisés – ou, o Profeta[3] como
Moisés (cf. Dt 18.15-19) –, o grande Profeta do tempo do fim, cuja chegada
tantas pessoas em Israel estavam esperando.
Um
Rabino observou: “Assim como o primeiro Redentor fez descer o maná...
também o último Redentor fará descer maná.”.
Mas
aquEle cujo Reino não é deste mundo (Jo 18.36), percebendo a intenção errada,
frustrou-a retirando-Se.
Com
isso não afirmo, que a multidão nesta ocasião estava errada ao afirmarem que o
Senhor Jesus era o Profeta predito em Deuteronômio 18.15-19. Mas o
equívoco da multidão estava em não entender a verdadeira missão do Messias-Profeta.
Eles interpretavam a missão do messianado do Senhor Jesus com uma importância,
apenas em um nível material, político e externo. Interpretavam apenas como um
Messias-Político-Militar que, através dos poderes miraculosos – expulsar demônios,
curar enfermidades, multiplicar pães – poderia muito bem usá-los para
libertá-los da opressão Romana.
Poderiam pensar: “Jesus só precisa de um incentivo. Vamos
proclamá-Lo Rei. Ele não ficará só. Estamos juntos Jesus! Vamos sacudir o jugo
Romano!”.
Mas
para decepção deles, quando a interpretação verdadeira do significado da Missão
do Messias foi explicada, muitos se ofenderam, e voltaram para trás, e não
andaram mais com o Senhor Jesus (Jo 6.66).
Depois
da passagem pelo mar, a multidão se encontra com Jesus. E o Senhor transmite à
multidão o Seu grande discurso (Jo 6.22ss.).
O
efeito do discurso sobre os Doze está sendo agora apresentado. Este foi o
momento da separação para muitos dos que foram Seus discípulos (Jo 6.66). Sua
partida provocou a pergunta do Senhor Jesus aos Doze quanto às intenções deles
(Jo 6.67). Pedro, como “rocha” – ou, fragmento da Rocha que é Cristo –,
permaneceu firme. Sua confissão é semelhante à que foi registrada pelos
Sinópticos em relação com o incidente em Cesaréia de Filipe (Mt 16.16), mas em
harmonia com o discurso enfatiza que o Senhor Jesus tem Palavras de vida eterna
(Jo 6.63). Outros só viam as Palavras. Pedro viu que proporcionavam o
gozo da vida eterna, ainda que não entendesse no momento o significado da Cruz.
E acima disto, Pedro via que a Pessoa de Cristo é que importava (Jo
6.68,69: “...Tu tens as
Palavras[...] Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivente.”).
Cristo
o centro do pensamento cristão!
Os
cristãos são os que creem em Cristo e O seguem, sua compreensão de Cristo dever
ser o centro e o determinante do próprio caráter da fé cristã. Tudo o mais é
secundário ao que a pessoa pensa a respeito de Cristo.
Muitos
tendem semelhante aos soldados romanos, despojarem O Senhor Jesus, para
posteriormente cobrirem-No com uma capa de escarlate (Mt 27.28), com a intenção
de torná-Lo mais atraente. Eles desoriginalizam o Senhor e o contemporanizam-O.
E muitas vezes, nós mesmos, colocamos no Senhor “nossa própria roupagem” e o
revestimos de “nossos próprios pensamentos”[4]. João
Calvino já nos alertava quando escreveu:
Devemos
precaver-nos para que, cedendo ao desejo de adequar Cristo às nossas próprias
invenções, não o mudemos tanto (como fazem os papistas), que Ele se torne
dessemelhante de Si próprio. Não nos é permitido inventar tudo ao sabor de
nossos gostos pessoais, senão que pertence exclusivamente a Deus instruir-nos
segundo o modelo que te foi mostrado
(Ex 25.40)[5].
A
resposta à segunda pergunta mencionada acima é de muito maior importância, pois
sobre a resposta que cada pessoa dá depende não apenas o seu destino eterno (Jo
3.36), mas a qualidade, o significado e a fecundidade de sua vida aqui e agora
(Jo 10.10; Cl 3.3,4; Gl 2.20). Assim sendo, a questão teológica central e
mundial em todas as épocas tem sido e ainda é a seguinte: “Quem é JESUS
CRISTO?” E já que o Senhor Jesus Cristo é quem a Bíblia diz que Ele é – Deus
encarnado – todas as pessoas precisam estar preocupadas, não tanto acerca da
religião, mas acerca do entrar num relacionamento adequado com Deus através do
Senhor Jesus Cristo e em continuar a vivê-Lo (Jo 14.6), pois só nEle somos
novas criaturas (2Co 5.17-21).
Portanto,
não há doutrina mais importante a se estudar do que a Doutrina de Cristo. Pois o Senhor Jesus tomou a forma de homem (Fp
2.5-11) para explicar aos homens não apenas Quem Deus é e como Ele é (Jo 1.18),
mas também para demonstrar quem o homem é e o que Deus tenciona que ele seja
(1Pe 2.21; 1Co 15.45-49). Dessa forma, um estudo doutrinário de Cristo haverá
de revelar muito acerca de Deus e muito acerca do homem, e como o homem pode se
relacionar adequadamente com Deus e com outros homens. Assim como com todos os
demais estudos nosso de doutrina, focalizaremos nossa atenção quase que
exclusivamente no que a Bíblia ensina acerca do Senhor Jesus Cristo – Deus-Homem
que habitou entre nós.
Passagens Cristológicas Chave: João
1.1-18; Romanos 5.12-20; Efésios 1.3-10; Filipenses 2.5-11; Colossenses
1.15-22; 2.9-15; Hebreus 1.1-19. Esses textos devem ser estudados e analisados
minuciosamente, como todos os demais, por todo aluno criterioso no estudo da
Doutrina. Esses textos são especialmente importantes no ensino acerca de quem o
Senhor Jesus é e o que Ele veio fazer.
Solus Christus!
[1] Essa pode ser
destacada como a quinta concepção sobre Cristo Jesus.
[2] TENNEY,
Merril C. Comentário Sobre o Evangelho Segundo Lucas.
[3] O novo
Moisés, o profeta prometido {Dt
18.15,18}. Pode ser aquele que deveria anunciar a vinda do MESSIAS {Mt 11.9-10} ou então o próprio
Messias {Mt 21.9-11; Lc 24.19-21; Jo
6.14; 7.40}.
[4] Para maiores detalhes
veja STOTT, John em Ouça o Mundo;
Ouça o Espírito, pág. 19.
[5] CALVINO, João, Exposição de Hebreus, São Paulo,
Parakletos, 1997 (Hb 8.5), p.209. apud COSTA,
Hermisten Maia Pereira. EU CREIO:
No Pai, No Filho e no Espírito Santo, 1ª Edição: julho de 2002.
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