quinta-feira, 25 de maio de 2017

UNIÃO COM CRISTO!

Capítulo 4
União Com Cristo

Todo cristão deveria entender e desfrutar esta preciosa doutrina cristológica!


Estou ciente de que o tema que proponho expor faz parte do que os estudiosos chamam de doutrina da aplicação da obra de Cristo, ou mesmo doutrina da salvação, e ainda doutrina da vida cristã. Porém, acredito que seria salutar fazer uma exposição da mesma no contexto do estudo da Pessoa de Cristo, Cristologia.
Ouvimos e lemos muito sobre assuntos relacionados à Pessoa e a Obra de Cristo, no entanto percebo uma desinformação sobre nossa união com Cristo. Por isso, entendo ser oportuno tratar resumidamente do assunto dado o grande número de referências bíblicas sobre a unidade entre Cristo e o cristão.

A importância da doutrina
Esta doutrina é tão importante para o cristão, pois todo aspecto do relacionamento de Deus com os salvos está de certo modo ligado ao nosso relacionamento com Cristo. Tudo que somos e desfrutamos como salvos frui de nossa união com Cristo. Sem Ele nada somos e nada podemos fazer. Ou seja, não somos salvos e não podemos produzir frutos que glorifiquem a Deus Pai.
O teólogo Herman Bavinck escreveu:

Todos os crentes são novas criaturas, que Deus criou em Cristo para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que os crentes andassem nelas (2Co 5.17; Ef 2.10). Cristo vive e mora nos crentes, e os crentes vivem, movem-se e existem em Cristo: Cristo é a vida deles. A combinação em Cristo (no Senhor), ocorre mais de cento e cinquenta vezes no Novo Testamento. Ela indica que Cristo é a fonte constante não apenas da vida espiritual, mas que também como tal Ele imediata e diretamente mora nos crentes. A unidade entre Cristo e os crentes é como a da pedra angular e o templo, entre o homem e a mulher, entre a cabeça e o corpo, entre a videira e os ramos[1].

Wayne Grudem escreveu sobre nossa vida em Cristo:

De fato, cada estágio da aplicação da redenção nos é dado porque estamos “em Cristo”. É “em Cristo” que somos chamados à salvação (1Co 7.22), regenerados (Ef 1.3; 2.10) e justificados (Rm 8.1; 2Co 5.21; Gl 2.17; Ef 1.7; Fp 3.9; Cl 1.14). “Em Cristo” morremos (1Ts 4.16; Ap 14.13) e “n’Ele” nossos corpos serão ressuscitados novamente (1Co 15.22). Essas passagens sugerem que, como a nossa vida está inseparavelmente ligada ao próprio Cristo, o Espírito Santo nos dá todas as bênçãos que Cristo conquistou[2].

É em nossa união com Cristo que recebemos e desfrutamos de todos os benefícios da salvação. Enquanto estivermos separados de Cristo, e Cristo permanecer fora de nós, tudo o que Ele sofreu e fez para salvação permanece inútil e sem valor para nós.
É somente por meio do Espírito Santo que podemos nos tornar um com Cristo e pode Cristo viver em nós. Não somos salvos até que sejamos feitos um com Cristo e permanecemos salvos apenas porque permanecemos em união com Cristo.
O Novo Testamento descreve está verdade de duas maneiras:
I. Estamos em Cristo
Os autores do Novo Testamento afirmam altissonante a verdade de que todo salvo está em Cristo. Um texto bem conhecido encontra-se em Segunda Coríntios 5.17: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (grifo nosso).
Lemos também a mesma verdade em outros textos:
Efésios 1.3: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (grifo nosso). 2.10: “Pois somos feitura d’Ele, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (cf. Jo 15.4,5,7; 1Co 15.22; 2Co 12.2; Gl 3.28; Ef 1.4; Fp 3.9; 1Ts 4.16; 1Jo 4.13).

II. Cristo está em nós
Paulo afirma: “Aos quais [os santos] Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória” (grifo nosso). Lemos também em Gálatas 2.20: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim”.
João Calvino escreveu sobre esta preciosa doutrina:
Precisamos entender que enquanto Cristo permanecer fora de nós, se nós estivermos separados Dele, tudo o que Ele sofreu e fez pela salvação da raça humana permanece inútil e sem valor para nós... Tudo o que Cristo possui é nada para nós até que cresçamos num só corpo com Ele.

Fica óbvio que tudo o que o crente possui no aspecto espiritual está firmado no fato de Cristo estar nele. Nossa esperança de glória é Cristo em nós. Nossa vitalidade espiritual brota de Sua presença habitando em nós. Ele prometeu estar presente com o que crê (Mt 28.20; Jo 14.23).
Percebemos uma lista de experiências que, segundo se diz, o crente compartilha “com Cristo”: sofrimento (Rm 8.17); crucificação (Gl 2.20); morte (Cl 2.2); sepultamento (Rm 6.4); revitalização (Ef 2.5), ressurreição (Cl 3.1); glorificação e herança (Rm 8.17).

Cristo morreu por mim! Cristo vive em mim!
Precisamos manter sempre juntos esses dois aspectos da obra de Cristo: o legal e o vital, Cristo por nós e Cristo em nós. A doutrina da união com Cristo nos auxilia a manter o equilíbrio apropriado entre essas duas facetas. Cristo veio à terra não só para pagar o preço pela nossa salvação, como alguém que paga um débito atrasado, mas também veio para levar-nos para dentro e manter-nos dentro da viva união consigo mesmo. Pela união com Cristo, recebemos todas as bênçãos espirituais. Cristo não só morreu por nós na cruz do Calvário há muitos anos; Ele também vive em nós para sempre[3].

III. Característica da união
Para entendermos melhor o significado do conceito de união com Cristo, vamos observar algumas características dessa união.
1. Natureza judicial
Quando o Pai nos avalia ou julga diante da lei, Ele não olha apenas para nós. A Seus olhos, somos um com Cristo. Assim, Ele não diz: “Jesus é justo mas aquela pessoa é injusta”. Ele vê os dois como se fossem um e diz: “Eles são justos”. O crente foi incorporado por Cristo e Cristo foi incorporado pelo crente (embora isso não ocorra de forma exclusiva). Todas as qualidades de um são agora possuídas pelo outro. De uma perspectiva legal, os dois são agora um.
Dois textos podem se mencionados: Romanos 3.21: “sendo justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (grifo nosso). Segunda Coríntios 5.21: “Aquele [Jesus] que não conheceu pecado, Ele [Pai] o fez pecado por nós; para que, n’Ele [Jesus], fôssemos feitos justiça de Deus” (grifo nosso)..

2. Natureza espiritual
Existe uma ligação estreita entre Cristo e o Espírito Santo. Notamos como Cristo e o Espírito são intercambiáveis em Romanos 8.9-10: “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é d’Ele. Se, porém, Cristo está em vós, [...] o espírito é vida” (“grifo nosso”; cf. 1Co 12.13). John Murray disse: “Cristo habita em nós se Seu Espírito habita em nós, e Ele habita em nós pelo Espírito”. O Espírito Santo é “o vínculo dessa união”[4].

3. Natureza vital
A terceira característica de nossa união com Cristo é vital. Sua vida de fato flui para dentro de nós, renovando nossa natureza interior (Rm 12.2; 2Co 4.16) e partilhando força espiritual. Há uma verdade literal na metáfora de Jesus sobre a videira e os ramos. Assim como o ramo não pode dar fruto se não recebe a vida da videira, não podemos dar fruto espiritual se a vida de Cristo não fluir para dentro de nós (Jo 15.4).

4. Implicações da união com Cristo
Nossa união com Cristo tem certas implicações para nossa vida. Em primeiro lugar, somos considerados justos. Paulo escreveu: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Por causa de nossa união judicial com Cristo, temos posição correta diante da lei e aos olhos de Deus. Somos tão justos quanto o próprio Filho de Deus, Jesus Cristo.
Em segundo lugar, vivemos agora no poder de Cristo. Paulo afirmou: “tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4.13; cf. Gl 2.20; 2Co 12.9; Fp 3.8-10).
Por fim, também temos a perspectiva de reinar com Cristo. Paulo escreveu: “Se perseveramos, também com Ele reinaremos” (2Tm 2.12). Para todos que participam dos sofrimentos do evangelho (2Tm 1.8; 2.3), por causa de Cristo, repousa adiante um futuro glorioso.

5. É uma união transformadora
Por esta união os crentes são transformados à imagem de Cristo, segundo a Sua natureza humana. O que Cristo efetua em Seu povo é, num sentido, uma réplica ou reprodução daquilo que se deu com Ele. Não somente objetivamente, mas também num sentido subjetivo, eles sofrem, levam a cruz, são crucificados, morrem e ressuscitam em novidade de vida, com Cristo. Em certa medida, eles participam das experiências do seu Senhor (cf. Mt 16.24; Rm 6.5; Gl 2.20; Cl 1.24; 2.12; 3.1; 1Pe 4.13)[5].

Solus Christus!



[1] Teologia Sistemática: Fundamentos Teológicos da Fé Cristã, p.435-436. São Paulo, SP, Brasil: SOCEP, 2001.
[2] Teologia Sistemática, p.707. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 1999.
[3] HOEKEMA, Anthony. Salvos Pela Graça: A Doutrina Bíblica da Salvação, p.73. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã, 2002.
[4] Apud ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática, p.406. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 1997.
[5] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática, p.447. Campinas, SP, Brasil: Luz Para o Caminho, 1990. – (versão em PDF).

Nenhum comentário:

Postar um comentário