quarta-feira, 24 de maio de 2017

DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO


Um Tratado Pneumagiológico[1]


(Parte 1a)

Introdução: Muitos estudos acerca do Espírito Santo concentram-se em Seu poder, Sua obra e dons, e excluem a Sua divindade e pessoalidade. Se equacionar o Espírito Santo simplesmente com “poder”, geralmente leva a uma prática errônea com relação à doutrina. Nossa ênfase será no que a Bíblia ensina acerca da natureza, Pessoa e ministério do Espírito Santo – a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.
O Espírito Santo é especificamente mencionado em 22 dos 39 livros do Antigo Testamento, com 86 passagens detalhando aspectos especiais de Sua Pessoa ou trabalho. Dessas, 14 ocorrem no Pentateuco (um sexto do total), mas não há nenhuma em Levítico. Dois livros proféticos, Isaías [13] e Ezequiel [15] possuem um terço dos versos, e juntos excedem qualquer um dos livros do Antigo Testamento. Juízes e Samuel possuem 7 cada, há 6 ocorrências em Salmos e 16 nos 11 livros restantes.
No Novo Testamento, o Espírito Santo ou Sua obra são diretamente citados em 261 passagens, das quais os Evangelhos possuem 56, o livro de Atos possui 57, e as Epístolas de Paulo possuem 112. As 36 restantes são encontradas na maioria dos outros livros, com as exceções de Filemon e 2João e 3João, que não mencionam o Espírito Santo[2]. Esta Pessoa divina das Escrituras é chamada 93 vezes como Espírito Santo.
Como dizia Cirilo de Jerusalém (c. 315 – 386):
A graça do Espírito é verdadeiramente necessária para tratar do Espírito Santo; não a fim de que possamos falar dEle como corresponde – porque isso é impossível –, senão para que possamos atravessar este tema sem perigo, dizendo o que está contido nas divinas Escrituras[3].

I. A Natureza e a Pessoa do Espírito Santo
1. Sua Divindade
O Espírito Santo é, quanto à natureza essencial, tão igual a Deus quanto são o Pai e o Filho, e relaciona-Se a ambos como uma Pessoa. Vejamos algumas referências quanto a esta verdade sublime e descritiva nas Escrituras Sagradas.
1) Mt 28.19 – O “Nome” do Espírito Santo está no mesmo nível que o do Pai e do Filho.
2) Jo 14.16,17 – O Espírito Santo é tratado como sendo outro Consolador do mesmo tipo que o Senhor Jesus Cristo.
3) 2Co 13.14 – A Graça de Cristo, o Amor de Deus Pai e a Comunhão do Espírito Santo estão equiparados.
4) Hb 10.15-17 – Quando Deus fala, afirma-se que o Espírito Santo é Quem fala.
5) At 5.3,4 – Mentido ao Espírito Santo equivale a mentir a Deus. Isto demonstra claramente que o Espírito Santo não é uma influência ou um força, mas uma Pessoa e esta Pessoa é a Terceira da Santíssima Trindade.

2. Suas Características (Atributos)
As características que pertencem somente a Deus são atribuídas ao Espírito Santo.
Santidade – Jo 14.26; Is 63.10.
Onipresença e Imensidão – Sl 139.7-10; Jr 23.24.
Onipotência – Lc 1.35; Rm 15.19.
Onisciência – Is 40.13,14; Rm 11.34; 1Co 2.10,11[4]; Jo 16.13; 2Pe 1.21.
Liberdade Soberana – Is 40.13; 1Co 12.11[5]; Hb 2.4.
Eternidade – Hb 9.14; Gn 1.2.
Glória – 1Pe 4.14.
Graça – Hb 10.29.
Vida – 1Co 15.45; Rm 8.11.
Amor – Rm 5.5.

3. Seus Títulos (Nomes)
Parafraseando Paulo, poderíamos dizer que “os nomes ou títulos são diversos, porém, o Espírito é o mesmo”. E são altamente significativos, revelando a natureza do trabalho que executa. Estes títulos retratam Sua natureza como Deus. Relacionemos alguns.
1) Espírito Santo, Sl 51.11; At 5.3; Lc 11.13.
2) Espírito SENHOR (YAHWEH), Is 61.1; 11.2.
3) Espírito de Deus, 1Co 3.16.
4) Espírito do Deus vivo, 2Co 3.3.
5) Espírito de Cristo, Rm 8.9.
6) Espírito do Seu Filho, Gl 4.6.
7) Espírito de Jesus Cristo, Fp 1.19.
8) Espírito de Jesus, At. 16.7.
9) Espírito purificador, Is 4.4.
10) Espírito de Santidade, Rm 1.4.
11) Espírito da Promessa, Ef 1.13.
12) Espírito da verdade, Jo 14.17; 15.26; 16.13.
13) Espírito da vida, Rm 8,2.
14) Espírito de graça, Zc 12.10; Hb 10.29.
15) Espírito da Glória, 1Pe 4.14.
16) Consolador (paráklêtos), Jo 14.26; 15.26.
17) Espírito de adoção, Rm 8.15.
18) Espírito de Justiça, Is 4.4.

Tabela 1: Sete Nomes do Espírito Santo.
Os Sete Nomes do Espírito Santo em Isaías 11.2
E repousará sobre Ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR”.
Espírito do SENHOR
Nome de identificação, descrevendo quem Ele é.
Espírito de Sabedoria
Sua capacidade para discernir pessoas e motivos
Espírito de Entendimento
Sua capacidade para distinguir o que é autêntico do que é falso.
Espírito de Conselho
Sua capacidade de tomar as decisões certas.
Espírito de Fortaleza/Poder
Sua capacidade de cumprir Suas decisões e propósitos
Espírito de Conhecimento
Seu conhecimento sobre a Divindade. Só Ele conhece a Deus e pode nos revelar Deus (1Co 2.9-14).
Espírito de Temor do SENHOR
Sua obra em ajudar as pessoas a se aproximar de Deus.

No contexto da profecia de Isaías, estes Nomes do Espírito Santo têm referência específica à unção do Espírito, que repousou sobre o Senhor Jesus Cristo em Seu ministério público (cf. Lc 4.18-21). Num sentido mais, amplo, cada um destes Nomes enfatiza algum aspecto do caráter e obra do Espírito Santo em nossas vidas hoje, ou seja, na vida da Igreja de Cristo.
Certos professores bíblicos compararam este arranjo sétuplo de Nomes do Espírito Santo com o candelabro de ouro do tabernáculo (cf. Ex 25.31-40). Nesta comparação, o primeiro Nome, o Espírito do SENHOR, é comparado com a luz central do candelabro, ou seja, da haste central. Os outros seis Nomes são comparados com os três braços que saem do candelabro. Note que dois destes Nomes estão ligados à capacidade intelectual (o Espírito de Sabedoria e o Espírito de Entendimento), dois se relacionam com a atividade prática (o Espírito do Conselho e do Espírito de Fortaleza/Poder), e dois têm relação com Deus (o Espírito de Conhecimento e o Espírito de Temor do SENHOR). 
 
                                                   


O Espírito Santo e o Número “Sete”.
O fato de Isaías 11.2 incluir sete termos para o Espírito Santo não é coincidência e muito menos acidente. Através das Escrituras Sagradas, que são de autoria do Espírito Santo, Ele é descrito por expressões relacionadas ao numeral sete.
Em toda a Escritura, certos números parecem ser usados de modo a sugerir uma importância maior que o uso aparente da contagem. A palavra hebraica shevah (sete) parece implicar plenitude, satisfação ou ter o suficiente. Alguns professores bíblicos descrevem o número sete como o número da perfeição, porque várias listas de sete aparecem na Escritura como representando aparentemente o todo. Isaías talvez tenha atribuído sete títulos descritivos ao Espírito Santo porque Ele é perfeito em Si mesmo, é total, ou completa a Divindade como Terceira Pessoa[6].

Tabela 2: O Espírito Santo e o Número "Sete"
Expressão
Descrição
Sete Chifres (Ap 5.6).
O chifre era considerado um símbolo de força no Oriente Próximo. Isso se devia provavelmente ao fato de os carneiros e o gado usarem os chifres para defender-se ou atacar outro animal.
Uma ponta no A.T. simboliza poder (Sl 75.4-7; Mq 4.13) e dignidade real (Zc 1.18). Descreve a Onipotência do Espírito.
Sete Olhos (Ap 5.6; Zc 3.9; 4.10).
A Escritura descreve os Sete Olhos significando Onisciência em plenitude, discernimento: visão circundante; Onividente (comp. Ez 1.18-21; Ap 4.8).
Sete Tochas/Lâmpadas (Ap 4.5).
Os quais são os Sete Espíritos de Deus. Neste caso (Ap 4.5) fala de ira. O ministério perfeito e esquadrinhador do Espírito são simbolizados pelas sete lâmpadas de fogo. Assim como os Sete Espíritos de Deus, o Espírito Santo é trazido à nossa presença na perfeição do Seu Ser, inteligência e atividade. Identificado com o juízo reto do Trono, o Espírito Santo exporá tudo o que for estranho à pureza absoluta do trono[7].
Sete Espíritos (Ap 1.4; 3.1; 4.5; 5.6).
Os Sete Espíritos de Deus são identificados tanto no contexto de estar diante do Trono de Deus no céu (Ap 1.4; 4.5) como no meio das igrejas na terra (Ap 3.1; 5.6). O Trono representa o reinado de Deus no céu. Descrever os mesmos Sete Espíritos na terra sugere a extensão desse governo de Deus para a terra (cf. Dn 4.34,35). Esta referência descritiva lembra-nos de que o Espírito Santo domina e governa as circunstâncias das nossas vidas[8]. Nada foge à Sua Providência e Governo Soberanos.

Tabela 3: Nomes Descritivos e Demonstrativos do Espírito Santo.
Nomes do Espírito Santo que Descrevem Sua Própria Pessoa
1. O Espírito.
2. Espírito Santo.
3. Espírito Eterno.
1. 1Co 2.10; Jo 3.6-8.
2. Lc 11.13; Jo 20.22.
3. Hb 9.14.
Nomes do Espírito Santo que Demonstram Sua Relação com Deus Pai.
1. O Espírito de Deus.
2. O Espírito de Yahweh (SENHOR).
3. O Espírito do Senhor DEUS.
4. O Espírito do Deus Vivo.
5. O Espírito do nosso Deus.
6. O Espírito do Pai.
7. O Espírito de Glória e de Deus.
1. 1Co 3.16.
2. Is 11.2.
3. Is 61.1.
4. 2Co 3.3.
5. 1Co 6.11.
6. Mt 10.20.
7. 1Pe 4.14.
Nomes do Espírito Santo que Demonstram Sua Relação com Deus Filho.
1. O Espírito de Cristo.
2. O Espírito de Seu Filho.
3. O Espírito de Jesus.
4. O Espírito de Jesus Cristo.
5. Outro Conselheiro.
1. Rm 8.9.
2. Gl 4.6.
3. At 16.6,7.
4. Fp 1.19.
5. Jo 14.16.
Nomes do Espírito Santo que Demonstram Sua Relação com os Homens.
1. Espírito de Justiça e de Ardor/Purificador.
2. O Santo Espírito da Promessa.
3. O Espírito da Verdade.
4. O Espírito da Vida.
5. O Espírito da Graça.
6. O Espírito da Glória.
7. O Consolador.
1. Is 4.4; comp. Mt 3.11.
2. Ef 1.13.
3. Jo 15.26; 14.17; 16.13; comp. 1Jo 4.6; 5.6.
4. Rm 8.4.
5. Hb 10.29.
6. 1Pe 4.13,14; Ef 3.16-19; comp. Rm 8.16,17.
7. Jo 14.26; 15.26; 16.7.

4. Seus Símbolos.
Para melhor compreender a Pessoa e obra do Espírito Santo vejamos a diversidade de símbolos que as Escrituras apresentam a Seu respeito.
1) VENTO – Ruah no hebraico e pneuma no grego, em várias passagens são traduzidas por “vento”, “brisa”, “sopro”, “fôlego” e “ar”. Em Gn 2.7 está escrito que havendo Deus formado o homem do pó da terra “soprou em suas narinas o fôlego de vida”. Algo semelhante aconteceu entre o Senhor Jesus e Seus discípulos: “E havendo dito isto, soprou sobre eles, e lhes disse: recebei o Espírito Santo”. Jo 20.22. Conferir com Ez 37.7-10.

2) FOGO –Deus é fogo consumidor”, Hb 12.29. Cremos que esta idéia não se restringe aos juízos divinos, mas também se relaciona à obra de purificação e refinação dos fiéis, Is 4.4; Mt. 3.11. O fogo, além disso, aquece e ilumina e alastra-se como podemos testemunhar hoje em dia.

3) ÁGUA – Assim como a água é um dos elementos essenciais a vida natural, de igual modo o Espírito Santo na vida da Igreja. A água purifica, hidrata, umedece, refresca, dessedenta, e inunda. Neste sentido, as Escrituras referem-se a Ele como chuvas (Jl 2.23); como torrentes (Is 44.3), como rios (Ez 47.1-12; Jo 7.37-39), que seriam “derramadas” ou “fluiriam” abundantemente.

4) AZEITE - Também encontrado como óleo (Sl 90.10; 133.2), “óleo precioso”, o azeite tem uma larga aplicação na vida do oriental: serve para alimentação, iluminação lubrificação, vitalizar a pele e os cabelos, para cura de certas enfermidades e feridas; e entre os israelitas, muito conhecido e reverenciado era “o azeite da unção” (Ex 30.22.33), destinado à consagração de sacerdotes e a investiduras de reis (1Sm 10.1; 16.13; 1Rs 1.39); no Sl 45.7 é chamado “óleo da alegria”.

5) POMBA – Ao contrário do corvo, a pomba, após o dilúvio, não encontrou ambiente no caos deixado pelas águas. Por ocasião do batismo de Jesus o Espírito veio sobre ele em forma de pomba (Lc 3.21-22). Esta figura da sua delicadeza, ternura, inocência, simplicidade (que não é complexo), pureza, brandura, etc.
Em Forma de Uma Pomba
“A pomba era a ave usada no sacrifício: “dois pombinhos”. Ele é também o pássaro do amor “...minha amada, pomba minha...” nas palavras de Cantares de Salomão 5.12. Com igual clareza, ela é também a ave da tristeza, “pranteávamos da tristeza como as pombas”. A pomba simboliza, pois, o sacrifício, o amor e o pesar. O Espírito sempre apresentou a Cristo e não a si mesmo. Cristo é o sacrifício cujo amor fê-lo descer do céu e cuja compaixão pelos pecados dos homens, fê-lo um pranteador”.

6) SELO – Aparece em Ef 1.13 como um sinal de propriedade; o Espírito Santo é marca registrada do nosso Amo que é o Senhor. “...Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle” (Rm 8.9b). Acrescente-se que nas Escrituras o simbolismo de um selo envolve: (a) Uma transação concluída (J 32.9,10; Jo 17.4; 19.30); (b) Domínio (Jr 32.11,12; 2Tm 2.19) e (c) Segurança (Et 8.8; Dn 6.17; Mt 27.66; Ef 4.20).
a) O selo.
Em Ef 1.13, entendemos que o próprio Espírito Santo é o selo. Esse é um fato importante porque alguns tentam ensinar que nós estamos selados pelo trabalho do Espírito, ao invés da presença da sua pessoa.
b) A natureza do selo.
Aqueles que ensinam que o crente está selado por um trabalho especial do Espírito fazem com que Ele seja um selo experimental (capaz de ser experimentado). Eles confundem o "selar com o Espírito Santo" com o Seu trabalho na santificação e na segurança do crente. A Bíblia por outro lado nunca descreve o selo como uma experiência. O Espírito pode produzir experiências Cristãs, mas a Sua presença é o selo. O ser selado com o Espírito não deve ser visto como uma experiência pessoal.
c) O objetivo do selo.
Se nós confundirmos o selo com a segurança então devemos acreditar que os crentes fracos ainda não foram selados. A Bíblia assume o selo de todo o crente (2Co 1.22; Ef 1.13; 4.30). Isso é confirmado pelo fato de que ninguém é instruído a buscar o selo. Isso ainda é visto como um fato para todos os crentes regozijarem.
d) O propósito do selo.
São selados os cristãos para que sejam seguros. O selar é a base, não o conhecimento da segurança. O Espírito Santo é um selo maravilhoso por Seu poder (1Jo 4.4), e por Seu trabalho na salvação assegurando-nos que nunca nos deixará (Fp 1.6; Jo 7.38-39; 4.14; 14.16).
e) O tempo de ser selado.
Os crentes são selados quando eles recebem o Espírito. Isto acontece quando eles confiam em Cristo (Gl 3.14; Jo 7.38,39; Ef 1.14).

7) PENHOR - Por três vezes no Novo Testamento (2Co 1.22; 5.5; Ef 1.14), lemos que a vinda do Espírito Santo sobre nós constitui o penhor de nossa herança. É esta uma referência à prática do Antigo Testamento segundo a qual um indivíduo recebe uma pequena parte daquilo que lhe foi prometido ou que comprou, a título de garantia da entrega do restante a seu tempo (cf. Gn 38.18).

5. Sua Proveniência.
O Espírito Santo é chamado Espírito do Pai (Mt 10.20; Lc 11.13; 1Co 6.19; 1Ts 4.8) e Espírito do Filho (Gl 4.6; Fp 1.19; 1Pe 1.11), sendo enviado por Deus (At 5.32) Pai (Jo 14.26; Gl 4.6) e Filho (Jo 15.26). Podemos afirma que o Espírito Santo provém eternamente do Pai e do Filho (cf. Jo 14.15-17; 15.26; 16.7; Gl 4.4-6).
A relação Trinitária foi compreendida na História da Igreja da seguinte forma: Quando falamos do Filho em relação ao Pai, dizemos que aquEle é gerado (gr. gennhqe/nta = Gennêthénta) do Pai e quando nos referimos ao Espírito Santo, declaramos que Ele é procedente (gr. e0kporeuo/menon = ekporeuómenon) do Pai e do Filho. Esta relação ocorre eternamente, sem princípio nem fim, jamais havendo qualquer tipo de mudança na essência (gr. ou0si/a = ousía) divina, nem qualquer tipo de subordinação ontológica; “a subordinação pensada é somente aquela concernente ao modo de subsistência e operação, sugerida naquelas ocorrências na Escritura que o Filho é do Pai, e o Espírito é do Pai e do Filho, e que o Pai opera através do Filho, e o Pai e o Filho, através do Espírito”[9]. Portanto, a subordinação não é ontológica, mas, sim, existencial (econômica). Deste modo, a nomenclatura Pai, Filho e Espírito Santo é apenas um designativo que implica uma correlação intertrinitária que é necessária e eterna, não uma primazia de essência, no que resultaria em diferenças de honra e glória[10].

6. Sua Pessoalidade.
O Espírito Santo é um Ser Pessoal, sendo distinto do Pai e do Filho, mas relacionando-Se como igual em essência.
No Novo Testamento, o Senhor Espírito Santo é apresentado como a Terceira Pessoa da Trindade Divina, ligada ao Pai e ao Filho, mas distinto dEles, da mesma forma como o Pai e o Filho são distintos um do outro. O Espírito Santo é descrito como o para/klhtoj = paráklêtos[11] (Jo 14.16,25; 15.26; 16.7). É interessante observar que este designativo é aplicado ao Senhor Jesus (cf. Jo 14.16; 1Jo 2.1), indicando Sua Personalidade. E o mesmo termo e indicação é viável em relação à Pessoalidade do Espírito Santo. No texto de João 14.16, o Senhor Jesus Cristo Se refere a uma Pessoa que viria substituir outra; um Consolador da mesma essência dEle.
Há no texto grego duas palavras que traduz a nossa palavra portuguesa “outro”. A primeira é “allos”, que significa “outro do mesmo tipo”. A segunda palavra, que o Senhor Jesus poderia ter empregado é “heteros”, significando “outro de um tipo diferente”. Ao usar a o termo grego “allos” nosso Senhor estava indicando que o Espírito Santo é outro Ajudador, assim como Ele é nosso Ajudador.

Tabela 4: Nove Ministérios do Espírito Santo como Ajudador.
O Espírito Santo Ajuda-nos Na Salvação
Ministério de Pré-conversão
Ministério de Conversão
Ministério de Pós-conversão
1. Reprovar/Converter (Jo 16.7-10).
2. Refrear (2Ts 2.7).
1. Regeneração (Tt 3.5).
2. Habitação interior (1Co 6.19).
3. Selo (Ef 4.30).
1. Plenitude (Ef 5.18).
2. Santificação (2Co 3.18).
3. Iluminação (1Co 2.12).
4. Oração (Rm 8.26,27).

1) O Espírito Santo Evidencia Características de Uma Pessoa.
a) O Espírito Santo tem:
(1) Mente (Rm 8.27).
(2) Vontade (1Co 12.11).
(3) Emoções (Ef 4.30).

b) O Espírito Santo, como Pessoa:
(1)     Ele cria e dá vida (Jo 33.4);
(2)     Ele nomeia e comissiona ministros (Is 48.16; At 13.2; 20.28);
(3)     Ele dirige onde os ministros devem pregar (At 8.29; 10.19,20);
(4)     Ele instruir os que os ministros devem pregar (1Co 2.13);
(5)     Ele falou em e através dos profetas (At 1.16; 1Pe 1.11,12; 2Pe 1.21);
(6)     Ele contende com os pecadores (Gn 6.3);
(7)     Ele reprova (Jo 16.8);
(8)     Ele consola (At 9.31);
(9)     Ele nos ajuda em nossas fraquezas (Rm 8.26);
(10)  Ele nos ensina (Jo 14.26; 1Co 12.3);
(11)  Ele nos guia (Jo 16.13);
(12)  Ele nos santifica (Rm 15.16; 1Co 6.11);
(13)  Ele testifica sobre Cristo (Jo 15.26);
(14)  Ele glorifica a Cristo (Jo 16.14);
(15)  Ele tem poder próprio (Rm 15.13);
(16)  Ele sonda tudo (Rm 11.33,34 compare 1Co 2.10,11);
(17)  Ele age segundo Sua vontade (1Co 12.11);
(18)  Ele habita com os santos (Jo 14.17).

c) O que se pode fazer ao Espírito Santo:
(1) Blasfemar (Mt 12.31).
(2) Mentir (At 5.3).
(3) Tentar (At 5.9).
(4) Resistir (At 7.51).
(5) Entristecer (Ef 4.30; Is 63.10).
(6) Apagar ou Extinguir (1Ts 5.19).
(7) Agravar, Ultrajar ou Insultar (Hb 10.29).
(8) Depreciar os Seus dons (At 8.19,20).
(9) Perigo de brincar com o Espírito Santo (Hb 6.4-6).
(10) Desconsiderar Seu testemunho (Nm 9.30).

As Escrituras referem-se ao Espírito Santo com o uso do pronome pessoal masculino “Ele” embora o termo “Espírito” no grego seja neutro (Jo 16.13,14).

IVAN TEIXEIRA
Ministério Verbi Divini

Esse material faz parte de nosso curso BÁSICO AVANÇADO EM TEOLOGIA (SETEBS). Cite a fonte.
copyright@ F. Ivan Teixeira da Silva



[1] Este termo é proveniente de três palavras gregas: pneuma (espírito), hagios (santo) e logia (estudo; tratado; ciência). A maioria dos estudiosos de teologia preferem o termo procedente do texto de Jo 16.7: Paracletologia, ou a Doutrina do Consolador. A palavra, paráklêtos, encontra-se apenas no Evangelho e na Epístola de João (Jo 14.16,26; 15.16; 16.7; 1Jo 2.1), procede de duas palavras gregas: pará (para o lado de), e kaléõ (chamar). Literalmente significa “alguém que é chamado para estar ao lado de outro para ajudá-lo”.
[2] Winkie A. Prantney em A Natureza e o Caráter de Deus – Editora Vida.
[3] Citado por Hermisten Maia Pereira da Costa em EU CREIO: No Pai, no Filho e no Espírito Santo – Edições Parakletos.
[4] O Espírito Santo aqui aparece como substrato da autoconsciência divina, o princípio do conhecimento de Deus acerca de Si mesmo. Em resumo Ele é simplesmente o próprio Deus, na essência do mais recôndito de Seu Ser. Tal como o espírito do homem é o centro da vida humana, assim também o Espírito Santo de Deus é Seu próprio elemento vital. Como se pode, pois, pensar que está subordinado a Deus, ou que recebe Seu Ser de Deus? (B. B. Warfield, A Doutrina Bíblica da Trindade, p. 166).
[5] Calvino comenta: “A não ser que o Espírito fosse algo subsistente em Deus, de modo nenhum outorgar-se-lhe-iam arbítrio e vontade” (As Institutas, I.13.14).
[6] Elmer Towns em Os Nomes do Espírito Santo, Editora e Publicadora Quadrangular, 1995.
[7] Herbert Lockyer em APOCALIPSE: O Drama dos Séculos – Editora Vida.
[8] Elmer Towns, idem ibidem.
[9] Charles Hodge em Teologia Sistemática Editora Hagnos.
[10] Para maiores detalhes consulte EU CREIO: No Pai, no Filho e no Espírito Santo de Hermisten Maia Pereira da Costa, Edições Parakletos - 2002.
[11] Podemos concordar com a declaração de Elmer Towns em seu livro Os Nomes do Espírito Santo, Editora e Publicadora Quadrangular, 1995, quando diz que “O nome favorito de Jesus para o Espírito Santo era provavelmente “Ajudador”. Dentre todas as coisas que o Espírito Santo faz, Ele nos ajuda a obter a salvação pessoal que foi alcançada para nós na Cruz”.

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