A Cinderela da Teologia
(Capítulo 1 de nosso futuro livro sobre o ESPÍRITO SANTO).
A doutrina do Espírito
Santo tem sido durante muito tempo a “Cinderela da Teologia”. Tem sofrido muito
abandono e tem sido sempre uma das doutrinas mais difíceis de tratar. Em
especial no que concerne aos Seus dons e Seu poder, temos presenciado grandes
controvérsias e, infelizmente, divisões no corpo da Cristandade.
A igreja eventualmente
formulou uma precisa declaração de sua visão do Espírito Santo. O Credo Niceno prescreve: “E no Espírito
Santo, Senhor e Vivificador, que procede do Pai e do Filho, que com o Pai e o
Filho conjuntamente é adorado e glorificado, que falou através dos profetas”. O
Credo Atanasiano repete as
afirmações de muitos dos Pais da Igreja quando escreve: “Assim, o Pai é Deus, o
Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. Contudo, não há três Deuses, mas um só
Deus. [...] O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede
do Pai e do Filho”.
Entende-se que a doutrina
do Espírito Santo não chamou muita a atenção dos teólogos, que se concentravam
nas controvérsias em torno da Pessoa de Cristo. Apesar de um aparente abandono
da doutrina do Espírito Santo, os teólogos incluíram como lemos nos Credos, o
Espírito Santo como a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, adorado com as
Pessoas do Pai e do Filho. “A razão disso, em parte, foi a consciência de que a
Igreja era o templo do Espírito Santo”[1] e,
que o Espírito atuava através dela.
Atualmente, sem dúvidas,
tem-se mantido (acertadamente), principalmente no meio reformado, atenção em
Cristo Jesus, no entanto não estão tão seguros a respeito do Espírito Santo e
Seus dons. Apesar das afirmações sobre o Espírito Santo, Ele tem sido relegado
ao segundo plano, mesmo no meio pentecostal, tanto no campo de estudos como na
vida e testemunho das igrejas locais[2].
Isso acontece especialmente nas igrejas influenciadas pelo movimento
neo-pentecostal ou carismático que reduz o Espírito Santo a um mero poder para
se alcançar sucesso e êxito na vida por meio das conhecidas “campanhas
litúrgicas”[3].
Se as igrejas e os
cristãos desejam ser efetivos em um mundo pós-moderno, devem deixar de limitar,
negligenciar, entristecer e apagar o Espírito Santo e dá passos para recuperar
uma perspectiva bíblica da Pessoa e da obra do Espírito Santo na vida e no
ministério. Como disse certo escritor: “Todo o resto, incluindo o fruto e os
dons (ou seja, a vida ética e as expressões carismáticas na adoração), servem a
este propósito”[4]. Por
isso, é crucial recuperar a doutrina bíblica da Pessoa e obra do Espírito Santo
para a vida e ministério das igrejas locais.
Não
sejais ignorantes
Paulo escrevendo aos coríntios disse: “A
respeito dos dons espirituais não quero, irmãos, que sejais ignorantes” (1Co 12.1, grifo nosso), revelando que eles
ignoravam um assunto de suma importância para a edificação da igreja. Não digo
que se Paulo escrevesse hoje diria:
“A respeito do Espírito Santo não
quero, irmãos, que sejais ignorantes”, pois escrevendo como ele o fez já
implica que também não devemos ser ignorantes (não informados) sobre a Pessoa
do Espírito Santo. Como escrevi num de nossos livros, “Paulo era inimigo da
ignorância doutrinária. Paulo sabia que a ignorância é prejudicial em todos os
aspectos da vida e prática da igreja”[5].
Estou convicto de que se
muitos pentecostais-carismáticos “entristecem” o Espírito Santo, muitos
reformados-cessacionalistas “apagam” e “ignoram” as manifestações do Espírito
Santo. Como cristãos não devemos entristecer ou ignorar o Espírito Santo, mas
procurar ser bíblicos em nosso entendimento para que nossa prática não fique
aquém (cessacionistas) ou além (carismáticos) do que ensina as Escrituras sobre
a Pessoa e obra do Espírito Santo.
Não devemos, por
conseguinte, permanecer ignorantes desta importantíssima doutrina[6].
A
importância da doutrina do Espírito Santo
A doutrina do Espírito
Santo precisa ser preciosa e encantadora para todos os verdadeiros crentes.
Pois o Espírito Santo é o ponto em que a Trindade torna-se pessoal para o que
crê. O Espírito Santo é ativo dentro da vida dos que creem; Ele reside dentro
de nós. Individualmente o nosso “corpo é santuário do Espírito Santo” (1Co
6.19). Como Igreja, somos o santuário de Deus, e o Espírito de Deus habita em nós
(1Co 3.16). O Espírito Santo é a Pessoa específica da Trindade por meio de quem
toda a Divindade Triúna atua e habita em nós.
Os estudiosos concordam
que vivemos na “Era do Espírito”. Ou seja, vivemos no período em que a obra do
Espírito Santo é mais proeminente que a dos outros membros da Trindade. Se
quisermos, portanto, estar em contado com Deus hoje, precisamos estar à par da
atividade do Espírito Santo. Sem o Espírito Santo a igreja não passa de mera
organização humana. É o Espírito Santo que dá vida e poder à igreja.
A importância da doutrina
do Espírito Santo surge pelo fato de que a cultura atual dá muito valor à
experiência, e temos contemplado uma enxurrada de experiências ditas cristãs
que não tem nada a ver com o Espírito Santo. Compreendendo a Doutrina da
Pessoa, da obra e do poder do Espírito Santo teremos verdadeiras experiências
com Deus. Pois é por meio de Sua Pessoa e Obra que a vida cristã recebe uma
verdadeira tangibilidade e a Igreja é avivada e restaurada para testemunhar
ousadamente de Jesus Cristo.
Divórcio
silencioso
Sabemos que nos divórcios
às vezes os filhos ou ficam com as mães ou com os pais. Mas nunca com os dois
juntamente. Para que haja união é preciso manter o casamento.
Infelizmente, vemos um
divórcio silencioso nas igrejas cristãs, por assim dizer, entre a Palavra e o
Espírito Santo. Nesse divórcio, há aqueles que estão do lado da Palavra e
aqueles que estão do lado do Espírito.
Qual a diferença, você
pode perguntar? A diferença é que quem está do lado da Palavra enfatiza
batalhar fervorosamente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos,
a pregação expositiva, a teologia profunda e etc.
Quem está do lado do
Espírito enfatiza retornar ao livro de Atos dos Apóstolos, aos sinais,
maravilhas e milagres, aos dons do Espírito Santo e etc.
Mas, o que há de errado
nestas opiniões? Absolutamente nada. O erro subjaz no divórcio silencioso. As
pessoas separam a Palavra e a teologia do Espírito Santo e Seus dons
manifestos, como se fosse benéfico para a saúde e vitalidade da Igreja. Não
devemos separar o Espírito Santo da Palavra que Ele mesmo inspirou.
A doutrina bíblica do Espírito Santo é importante
hoje em dia para aprendermos a não fazer tal divórcio, mas abraçar tanto a
Palavra como também os dons e as manifestações do Espírito Santo. Não sabemos
nada do Espírito Santo a não ser pela Bíblia. Não entenderemos nada da Bíblia
sem o testemunho direto e imediato do Espírito Santo. É inadmissível separar o
que Deus uniu para o bem da edificação, da vitalidade e do testemunho da igreja
e da evangelização do mundo.
O
Espírito Santo não é nossa propriedade
O Espírito Santo não pertence
a você. Você é um pentecostal ou carismático? O Espírito Santo é maior que seus
eventos com sinais e maravilhas. Você é um reformado ou cessacionista? O
Espírito Santo não está limitado a sua teologia. O Senhor Jesus disse sobre a
obra do Espírito Santo: “Ele sopra onde quer”[7].
Tal como a história da
Cinderela muitos desprezam ou a Pessoa ou a obra do Espírito Santo. Devemos
abraçar toda a verdade bíblica, mesmo que isso vá de encontro ao nosso pensar
denominacional. Lamento ver pastores/líderes deixando de crer e pregar certas
verdades por medo de perderem seus “empregos”. Eles preferem, pelo menos neste
sentido, os aplausos dos homens a aprovação divina. Sendo servos e servas de
Deus, nós devemos evitar não deixar de falar todo o conselho de Deus. O Espírito
Santo não é nossa propriedade particular, somos, sim, dependentes da Pessoa e
da obra do Espírito Santo para tudo que concerne a nossa salvação e ao nosso ministério.
IVAN TEIXEIRA
Ministério Verbi Divini
copyright@ F. Ivan Teixeira da Silva
Soli Deo Gloria!
[1]
WAINWRIGHT, Arthur W. La Trinidad en el
Nuevo Testamento, p.235. Salamanca,
España: 1976. Secretariado Trinitario Salamanca.
[2] Isso não deveria acontecer no meio
Pentecostal, mas infelizmente está acontecendo a todo vapor. As pessoas não são
mais ensinadas a buscar os dons e o poder do Espírito Santo para capacitá-las
no serviço de edificação da igreja e da evangelização dos perdidos. Pelo
contrário, me parece que o Espírito Santo tem sido relegado a um meio de
conseguir êxitos materiais. Vejo isso no movimento de “Campanhas” inserido,
pelos neopentecostais /carismáticos, nas igrejas pentecostais. Minha pergunta
é: Até que ponto as Igrejas Pentecostais são pentecostais?
[3] Trataremos mais desse assunto
posteriormente neste livro.
[4] FEE, Gordon D. Pablo, El Espíritu y El Pueblo de Dios, p. XXIII. Miami, Florida,
USA: Editorial Vida, 2007. – (Biblioteca Teológica Vida).
[5] TEIXEIRA, Ivan. Ceia do Senhor: Uma Exposição Bíblica, Histórica e Sistemática,
p.13. Brasília, DF, Brasil: Editora Cristã, 2015.
[6] EVANS, William. Las Grandes Doctrinas de La Bíblia, p.112. MOODY PRESS. – (texto em
PDF).
[7] KENDALL, R. T. Fuego Santo, p. xxxvii. Lake Mary, Florida 32746, USA. Casa
Creación, 2014.
Muito bom Reverendo!!! Esse Despertar para o Divórcio que tem ocorrido de forma silenciosa é sério, urgente e muito relevante! Parabéns e continue sendo instrumento para nossa vida. Paz!
ResponderExcluirGrande abraço meu nobre irmão.
ExcluirPrecisamos nos refugiar nas Escrituras e não em sistemas absortos de certas teologia.
Shalom!