A Tentabilidade e a
Impecabilidade de Jesus Cristo
Duas grandes verdades sobre o Redentor, Jesus Cristo, que todo cristão deveria entender para sua edificação para a glória de Deus!
Sua
Tentabilidade
É importante destacar esta doutrina
cristológica. Sabemos pelas Escrituras que Jesus é Deus e que Deus não pode ser
tentado (cf.. Jo 20.28,31; Tg 1.13). Então como podemos afirmar que Jesus,
sendo Deus, foi tentado? Isso é invenção dos teólogos ou um ensino doutrinário
das Escrituras Sagradas?
Devemos afirmar com as Escrituras que Jesus é
Deus-Homem, o Verbo que se fez Homem (carne). Ele é verdadeiramente Deus e
verdadeiramente Homem. Há uma única personalidade no Redentor, mas duas
naturezas. Então, podemos afirmar que a tentação do Senhor Jesus foi possível
dada à Sua natureza humana, como também afirmamos a verdade consequente: Ele
não poderia pecar por Ser Deus! Sua impecabilidade, como Deus-Homem, é um dos
efeitos da unio personalis na Pessoa
do Redentor.
A Tentabilidade do Salvador é escriturística:
Mateus 4.1: “A seguir, foi Jesus
levado pelo Espírito ao deserto, para
ser tentado pelo diabo” (grifo nosso); Lucas
4.1: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão, e foi guiado pelo
mesmo Espírito, no deserto, durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos
quais teve fome” (grifo nosso).
A intenção de Satanás na tentação era levar
Cristo a pecar, frustrando assim o plano de Deus para a redenção do homem,
desqualificando o Salvador.
O propósito Divino (observe que foi o
Espírito Santo quem conduziu Jesus ao deserto para a tentação) era provar que
Seu Filho era sem pecado e, assim, um Salvador digno.
Hebreus
4.15: “Porque não temos sumo
sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes foi Ele tentado em todas as coisas, à
nossa semelhança, mas sem pecado” (grifo nosso).
Esta frase não significa que Cristo tenha
experimentado todas as tentações pelas quais os homens passam, mas que Ele foi
tentado em todas as áreas em que os homens são tentados (a concupiscência da
carne, dos olhos e a soberba da vida, 1Jo 2.16), e com tentações especialmente
preparadas para Ele. Tal provação só foi possível por ter Ele assumido a
semelhança de carne pecaminosa (Rm 8.3), pois se não tivesse havido encarnação,
Jesus não poderia ter sido tentado (cf. Tg 1.13)[1].
Fica claro que Jesus foi realmente tentado; é
igualmente claro que ele era (e permaneceu) sem pecado. O texto de Segunda Coríntios 5.21, não diz que
Jesus se tornou um pecador, mas que Deus o fez pecado por nós. Ele não cometeu
pecado algum, mas levou, como Cordeiro Imaculado, os pecados de Seu povo que
Ele quis redimir.
Mas já que o Senhor Jesus Cristo era Deus, as
tentações foram reais? Sim, porque o
propósito delas era mostrar a pureza de Cristo (a não existência de pecado n’Ele)
e mostrar que Ele está qualificado como Salvador. E, como Homem, o Senhor Jesus
foi capaz de resistir à tentação ao depender (a) do poder do Espírito Santo e (b) da verdade da Palavra de Deus.
Sua Impecabilidade
Que
Cristo não pecou é plenamente compatível com o ensinamento das Escrituras
Sagradas. Assim sendo, Ele pôde oferecer-Se como sacrifício perfeito pelos
pecados dos outros porque Ele não precisava fazer sacrifício por Si mesmo (cf.
Jo 1.29; 1Pe 1.18-20; 1Pe 2.21,22; Hb 4.15; 7.26,27; Jo 18.38).
Será
que Cristo, por ser humano, tinha a capacidade de pecar? Era Ele pecável ou
impecável?
A chave para a solução do problema é o fato
de Cristo ser Uma Pessoa e não duas pessoas. A união das duas naturezas –
divina e humana –, sem confusão, sem
mudança, sem divisão, sem separação concorreu em uma única Pessoa (prosõpon) e uma subsistência (hypostasis).
Há uma falácia no raciocínio que diz: ‘Assim
como o primeiro Adão, um ser humano não caído, pôde pecar; de alguma forma a
humanidade não caída de Cristo poderia ter pecado’. Como diz Lewis S. Chafer: “É nessa altura que o
erro entra”[2].
É inadmissível afirmar que Cristo poderia
pecar! Ou, mesmo afirmar que a humanidade de Cristo poderia pecar. A grande
causa de muita confusão geral em nossas mentes é o fato de nos esquecemos de
que Ele é uma só Pessoa, e quando Ele age é uma Pessoa agindo, não uma de Suas
naturezas agindo independentemente de Sua Pessoa. É uma Pessoa que diz: ‘Tenho
sede’ (Jo 19.28), mesmo que seja uma propriedade de Sua natureza humana o ter
sede. Também, é uma e a mesma Pessoa que diz: ‘Se alguém tem sede, venha a Mim,
e beba’ (Jo 7.37; cf. Jo 4.10,14), mesmo que seja uma propriedade de Sua
natureza divina ser o que dessedenta a sede de todos os que creem. Então, “por
causa da unidade de Sua Pessoa, Sua humanidade não poderia pecar sem que
necessariamente Deus pecasse”[3].
Perguntam-se: ‘Cristo poderia pecar’? Assim
formulada essa questão seria reduzida à pergunta tola que diz: “Deus poderia
pecar?”. Se é admitido que Deus não pode
pecar (1Jo 1.5; Tg 1.17) – não meramente não pecaria, deveria ser admitido que Cristo não poderia pecar – não meramente não pecaria. Pois Cristo é Deus! Falta somente observar que, visto
que Ele é “o mesmo ontem, hoje, e eternamente” (Hb 13.8), tivesse sido capaz de
pecar na terra, ainda é capaz de pecar agora. Em tal situação, a posição do
crente que permanece em Cristo deve
também estar numa situação de profundo dano. É uma questão de Uma Pessoa
Teantrópica poder pecar[4].
A Pessoa impecável do Cristo é bem
demonstrada pelo Dr. Charles Lee
Feinberg:
Primeiramente, a
união hypostática deu ao mundo uma Pessoa impecável [...]. Não é
suficiente dizer que Cristo não pecou; deve ser declarado inequivocamente que Ele não poderia pecar. Acalentar por um
momento o pensamento de que Cristo poderia pecar, envolveria questões que
justificam uma revolução radical em nossa concepção da divindade. Dizer que
Cristo não poderia pecar não é equivalente a manter que Ele não poderia ser
tentado. Porque era homem, poderia ser tentado; mas porque era Deus, não
poderia pecar, porque não havia princípio em Cristo que poderia ou que
responderia à solicitação do pecado. Quando Satanás tentou o Último Adão no
deserto, Ele foi tentado e testado em todos os pontos (1Jo 2.16) como aconteceu
com o primeiro Adão, e com a raça humana desde então; todavia, no caso de
Cristo, sem pecado. O pecado como natureza inerente ou como um ato exterior foi
estranho a Cristo. Lucas registra que o anjo revelou a Maria que dela seria
nascido um ‘ente Santo’ que seria
chamado ‘Filho de Deus’ (Lc 1.35). A
natureza hereditária do pecado que Maria havia recebido mediatamente de Adão
através de seus progenitores não foi transmitida a Cristo por causa da Sua
concepção miraculosa através da operação do Espírito Santo. Cristo pôde desafiar
posteriormente, não a Seus amigos, mas a Seus inimigos, que queriam convencê-Lo
de pecado (Jo 8.46). Ele sabia que quando o príncipe deste mundo viesse, este
nada teria com Cristo (Jo 14.30). Paulo diz d’Ele que Deus fez pecado por nós,
aquEle que nenhum pecado cometeu (2Co 5.21). Embora tentado em todas as coisas
como nós, Ele, não obstante, era sem pecado (Hb 4.15); na verdade, é-nos dito
que Ele era santo, sem mancha, sem defeito e separado dos pecadores (Hb 7.26).
Em resumo, o testemunho combinado da Escritura revela que n’Ele não há pecado
(1Jo 3.5)[5].
Pecabilidade do Redentor?
Há
certas pessoas nos círculos evangélicos que defendem a pecabilidade do
Redentor. Você notou que neste livro defendo a impecabilidade de nosso Salvador
e Redentor, Jesus Cristo, e, por conseguinte rejeito a pecabilidade do Redentor.
Entendemos, pelas Escrituras, que nosso Redentor não era pecável, mas tentável.
Ele poderia ser tentando, por ter assumido a natureza humana, mas não poderia
ser pecável por Ser Deus. A diferença está entre a heresia e a verdade.
Muitos
argumentam contra a impecabilidade perguntando: se Ele não poderia pecar, como
avaliaremos a sua real humanidade? Essa questão pode levar à conclusão errônea
de que a pecabilidade tem necessariamente algo a ver com a humidade, o que não
é verdade. Na verdade, o fato do Senhor Jesus ter impecabilidade não afeta em
nada a Sua verdadeira humanidade, antes a evidencia. A humanidade de uma pessoa
não está vinculada à sua capacidade ou possibilidade de pecar. Chegará o dia em
que nunca mais haveremos de pecar, e, todavia, continuaremos a ser
perfeitamente seres humanos[6].
O que fica bem claro é que Cristo não pecou e
não poderia ter pecado e, assim
sendo, preencheu os requisitos de Deus para Se tornar o Redentor e Mediador entre
Deus e os homens (1Tm 2.5).
Cristo
é o “...Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29. E, se Cristo
Jesus não tivesse sido o ‘Cordeiro sem mácula’, em cuja a boca não se achou
engano (2Pe 2.22), Ele não só não teria garantido a salvação de ninguém, mas
Ele próprio teria necessidade de um Salvador. A multidão de pecados que Cristo
carregou sobre Si na cruz requeria um sacrifício perfeito. Tal sacrifício tinha
de ser feito por alguém que fosse isento de pecados[7].
Ele o foi!
Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini
[1]
RYRIE, Charles C. A Bíblia Anotada,
p.1540 (Hb 4.14). São Paulo, SP, Brasil: Mundo Cristão, 1994.
[2] Em Teologia Sistemática – Vols. Um e Dois – Editora
Hagnos.
[3]
SHEDD, W. G. T., apud CHAFER,
Lewis S., ibid.
[4]
CHAFER, Lewis S., ibid.
[5]
Apud CHAFER, Lewis S. ibid.
[6]
CAMPOS, 2004, p.359.
[7] SPROUL, R. C., ibid.