O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO E FOGO
Muitas obras de
teologia sistemática não apresentam um capítulo específico a respeito do
batismo no Espírito Santo. Na realidade, de modo geral, a Pessoa e a obra do
Espírito Santo têm sido grandemente negligenciadas.
William Barclay escreve: "A
história da Bíblia é a história de homens cheios do Espírito. Mesmo assim...
nosso modo de pensar acerca do Espírito é mais vago e indefinido que nossas
formulações teológicas acerca de qualquer outro elemento da fé cristã".
Carl F. H. Henry observa, com pesar:
"Os teólogos do passado... não nos deixaram nenhuma delineação plena do
ministério do Espírito Santo".
Felizmente a
Igreja hodierna, em sua totalidade, está, finalmente, dando maior atenção ao
Espírito Santo. Obras como as de Frederick
D. Bruner e James D. G. Dunn
indicam interesse crescente pelo assunto entre os não-pentecostais. Isto se
deve, em grande medida, à persistência e ao crescimento do Movimento
Pentecostal. Os líderes eclesiásticos agora citam o Pentecostalismo como
"uma terceira força na Cristandade", lado a lado com o catolicismo e
o protestantismo.
Essa
"terceira força" passou a merecer a atenção dos teólogos,
principalmente em razão de sua presença mundialmente visível. Ou seja: os
estudiosos reconhecem o Pentecostalismo porque ele é "uma terceira força
na sua doutrina", especificamente a que trata do batismo no Espírito
Santo.
James D. G. Dunn observa que os católicos
enfatizam o papel da Igreja e dos sacramentos, e subordinam o Espírito à Igreja.
Os protestantes
enfatizam o papel da pregação e da fé, e, subordinam o Espírito à Bíblia. Os pentecostais,
no entanto, reagem a esses dois extremos - ao sacramentalismo que pode se
tornar mecânico e à ortodoxia biblista que pode se tornar espiritualmente morta
- e reclamam uma experiência vital com o próprio Deus no Espírito Santo.
Princípios hermenêuticos
Em sua famosa
gramática de grego neotestamentário (Gramática Exegética do Grego
Neo-testamentário, Ed. Cultura Cristã), o escritor William Chamberlain nos aponta cinco princípios que devem ser
levados em conta na interpretação de um texto bíblico.
1. Interpretar Lexicamente;
2. Interpretar Sintaticamente;
3. Interpretar Contextualmente;
4. Interpretar Historicamente;
5. Interpretar Analogicamente
Duas passagens
bíblicas onde esses princípios de interpretação devem ser levados em conta é,
sem dúvida alguma, Mateus 3.11 e Lucas 3.16. Nesses textos, João, o
batista, diz que o Messias seria aquele que batizaria “com o Espírito Santo e
com fogo”. O sentido atribuído
por alguns a essas Escrituras, grosso modo, é que Jesus batiza os crentes com o
Espírito Santo e os ímpios com o fogo da condenação. Há, portanto, segundo essa
interpretação dois batismos: um com o Espírito Santo e outro com fogo.
Os pentecostais
são acusados de fazer uma exegese superficial desses textos porque divergem
desse entendimento. Mas uma
exegese que leva em conta os princípios de interpretação enumerados acima não
deixa dúvida que a expressão “batismo com o Espírito Santo e com fogo” se
refere a uma única experiência e que está ligada ao evento de Pentecostes,
conforme registra Atos 2.1-4. Em outras palavras, a expressão “batismo no
Espírito Santo e com fogo” é uma referência à chama pentecostal que veio sobre
os discípulos no Cenáculo.
Não há dúvida
que todo teólogo sério, despido de preconceito confessional, e que leva em
conta os princípios hermenêuticos e exegéticos de interpretação sabe que o
entendimento pentecostal desse texto conta com sólida fundamentação exegética.
Impressiona a maneira dogmática de alguns teólogos na análise desse texto.
Motivados por um zelo de natureza simplesmente confessional e, muito mais por
um anti-pentecostalismo radical, não se dão conta quem nem mesmo estão
observando as regras que são exigidas na interpretação de um texto bíblico.
Parece que se valem da velha máxima ensinada por Arthur Schopenhauer para se ganhar um debate. Schopenhauer ensinou
como se ganhar um debate, mesmo sem ter razão. De acordo com ele quando alguém
está em desvantagem em um debate, isto é, não tem razão, a única forma de
tentar vencê-lo é acusando ou ironizando o desafiante. Parece-me que muitos estão recorrendo a esse
método para tentar desqualificar a hermenêutica pentecostal - (Pr. José Gonçalves).
Pois bem, há
muito a erudição conservadora tem mantido entendimento idêntico aquele que os
pentecostais clássicos têm dos textos de Mateus
3.11 e Lucas 3.16. Divergem,
sim, quanto à função, mas não quanto a forma.
D. A. Carson, cuja erudição é
inquestionável e que é considerado como uma das maiores autoridades em
manuscritos do Novo Testamento Grego, ao comentar essa passagem, diz:
Muitos
veem isso como um duplo batismo, um no Espírito Santo para o justo e outro no
fogo para o impenitente (cf. o trigo e a palha no v.12). O fogo (Ml 4.1)
destrói e consome. Há bons motivos, contudo, para falar de “fogo”, junto com o
Espírito Santo, como agente purificador. As pessoas a quem João se dirige estão
sendo batizadas por ele; elas, provavelmente, arrependeram-se. Mais importante,
a preposição en (“com”) não é repetida antes de fogo: uma preposição governa o
“Espírito Santo” e o “fogo”, e isso normalmente sugere um conceito unificado,
Espírito-fogo, ou algo semelhante (cf. M.J. Harris, DNTT, 3.1178; Dunn Baptism
[Batismo], p. 10-13). No Antigo Testamento, fogo, com frequência, tem uma
conotação purificadora, não destrutiva (e.g., Is 1.25; Zc 13.9; Ml 3.2,3). O
batismo de água de João relaciona-se com arrependimento; mas aquele de quem ele
prepara o caminho administrará o batismo de Espírito-fogo que purifica e refina
a pessoa. Em uma época na qual muitos judeus sentiam que o Espírito Santo fora
removido até a era messiânica, esse anúncio só podia ser saudado com animada
antecipação. (CARSON, D.A. O Comentário de Mateus, Editora SHEDD, pp.35).
A interpretação
de Carson, sem dúvida, demonstra a
leitura mais natural desse texto. Carson
não está sozinho. Charles Ellicott
(1848-1905) em sua obra A Bible
Commentary for English Reader tem entendimento igual.
Em seu clássico
Clarke’s Commentary, Adam Clark (1760-1832), erudito inglês,
escreveu:
Não
custa demonstrar que aqui se faz referência às influências do Espírito de Deus.
A religião de Cristo haveria de ser uma religião, e teria seu lugar no coração.
Os preceitos exteriores, por mais que pudessem descrevê-la, não poderiam
descrever a espiritualidade interior. Isto estava reservado ao Espírito de Deus
e somente a Ele. Por conseguinte ele é representado pelo símbolo do fogo,
porque Ele haveria de iluminar e revigorar a alma, penetrar todas as suas
partes, e assimilar toda a imagem do Deus de glória (CLARE, Adam. Comentario de la Santa Bíblia Adam Clarke –
Tomo III, Nuevo Testamento. Casa Nazarena de Publicaciones, USA).
Da mesma forma,
Fritz Rienecker (1897-1965), erudito
alemão, comentando Lucas 3.16, diz:
O
fogo no v.16 designa, ademais, a
atividade do Espírito também sob o aspecto de sua atuação negativa, uma vez que
ele consome tudo o que atrapalha a formação do novo ser humano devotado a Deus
e que precisa ser aniquilado. Por consequência, o fogo é uma imagem de juízo,
mas do juízo misericordioso que purifica e limpa, como o fogo do ourives. O
fogo no v.17, em contrapartida, é a
imagem do juízo final que se furtarem ao fogo sagrado na santificação. Por isso
ele também é expressamente diferenciado do fogo no v.16 por meio do adendo “inextinguível” i.é, eterno (Cf Mt
18.8:incessante. RIENECKER, Fritz. Comentário
de Lucas – comentário esperança. Editora Esperança).
O Expositor
bíblico James Bartley ao comentar Mateus 3.11, observa:
A
pergunta é se fogo representa a ação purificadora de Deus na vida dos que são
batizados no Espírito Santo, ou seja, os crentes ou se é uma referência aos
incrédulos e rebeldes que serão castigados com fogo? Posto que o texto diz os
batizará no Espírito Santo e fogo (v.11), parece que ambas figuras se referem
aos mesmos objetos, ou seja aos crentes (BARTLEY, James. Mateus - Comentário Mundo Hispano. Editorial Mundo Hispano, USA).
Francisco Lacueva, erudito e autor do
clássico Nuevo Testamento Interlinear
Griego – Español, destaca que:
Quem
é batizado com o Espírito Santo, é batizado com fogo. O fogo é iluminador?
Assim é o Espírito Santo, um Espírito de iluminação. O fogo acalenta? E não
ardia seus corações dentro deles? O fogo consome? E não consome o Espírito de
Juízo a escória de nossas corrupções? Não tem o fogo a tendência de subir e faze
com que as coisas que alcança se assemelhe a ele? Assim o Espírito faz a alma
semelhante a ele e sua tendência é subir até o céu.
Outro
comentário que é de grande valia é o de São
João Crisóstomo:
Não
se diz que Jesus “dará o Espírito Santo”, mas “os batizará com Espírito Santo”.
No
dice, pues, "os dará el Espíritu Santo", sino "os bautizará en
el Espíritu Santo". La misma argumentación metafórica de que se vale hace
resaltar la abundancia de la efusión de la gracia. En el fuego demuestra la
vehemencia de la gracia, que no puede contrariarse, y para que se conozca que a
semejanza de los antiguos y grandes profetas, puede transformar a los suyos.
Por ello, pues, hace mención del fuego, porque muchas de las visiones de los
profetas se verificaron por medio del fuego (Comentário sobre o Evangelho de São Mateus, p.16 – PDF).
Como bem
colocou o grande comentarista William
Hendriksen “Ora, é verdade que toda vez que uma pessoa é retirada das
trevas e posta na maravilhosa luz de Deus, ela está sendo batizada com o
Espírito Santo e com fogo” (Comentário
do Novo Testamento, vol.1, p.294. São Paulo, SP, Brasil: Cultura Cristã,
2000).
No período da
Reforma, tanto Erasmo de Roterdã,
católico, como João Calvino,
protestante, entendiam essa Escritura como se referindo ao fato único.
Respondendo à pergunta: Como Entender Mateus
3.11?, Calvino, responde: “Que
terá querido João dizer então, quando afirmou que ele batizava com água, mas
que depois viria aquele que batizaria com o Espírito Santo e com fogo? Isso
pode ser explicado rapidamente. João não quis distinguir entre um Batismo e o
outro, mas o que fez foi uma comparação da sua pessoa com a de Jesus Cristo. E
então se declarou ministro da água, e Cristo o doador do Espírito Santo, e que
ele manifestaria esse poder por meio de um milagre visível no dia em que
haveria de enviar o Espírito Santo aos seus apóstolos mediante línguas de fogo”
(CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã, vol 3, pp.164. Editora Cultura
Cristã).
Fica cada vez
mais claro que essa é a interpretação mais apropriada desses textos. Se esse é
o entendimento natural dessas Escrituras, de onde vem a interpretação do duplo
batismo? Há um consenso entre os eruditos que essa interpretação é conhecida a
partir de Orígenes.
O expositor
bíblico Johan Friedrich Von Meyer
(1800-1873) defende a tese do duplo batismo e credita a Orígenes a paternidade
desse entendimento. Mas o próprio Meyer reconhece que eruditos da envergadura
de Erasmus de Roterdã, Beza e Calvino tem entendimento contrário. Deve ser destacado que o
próprio fato em se associar a figura de Orígenes (185- 254 d.C) à interpretação
de Mateus 3.11 e Lucas 3.16 deveria levar aqueles que
defendem a tese do duplo batismo a serem mais cautelosos em seus dogmatismos. Orígenes, que foi um dos primeiros pais
da igreja, sofreu influência do platonismo, pois foi discípulo de Ammonius Saccus, o fundador do
neoplatonismo e do alegorismo de Filo
de Alexandria. A sua forma de interpretar a Bíblia é duramente criticada por
abusar do subjetivismo e alegorismo.
O escritor Paulo Anglada ao se referir ao método
usado por Orígenes, diz: “esse
método pode fornecer interpretações muito interessantes, mas tira o verdadeiro
sentido que o texto tencionou transmitir, desviando a atenção do leitor do seu
verdadeiro significado” (ANGLADA, Paulo. Introdução
à Hermenêutica Reformada).
Em seu clássico
Greek Testament Commentary
(Comentário do Novo Testamento Grego), o erudito e crítico textual Henry Alford (1810–1871), quando
comenta Mateus 3.11, chama a atenção para esse fato. Ao analisar o texto de Mateus 3.11, diz: “Isto foi
literalmente cumprido no dia de Pentecostes, mas Orígenes e outros se referem as palavras para o batismo dos justos
pelo Espírito Santo, e dos ímpios pelo fogo. Eu não tenho nenhuma dúvida de que
isto (o que eu estou surpreso de ver confirmada pelo Neander, De Wette, e Meyer) é um erro no presente caso,
embora aparentemente (para o leitor superficial) corroborada pelo v.12 (...) Para separar pneuma
hagio (Espírito Santo) como pertencente a um conjunto de pessoas, e puri (fogo) como pertencente a outro,
quando ambos estão unidos em (hymas,
vos), está no último grau de dificuldade, além de introduzir confusão no todo.
Os elementos de comparação neste versículo são estritamente paralelos um do
outro: o batismo por água, o fim do qual é metanoia
(arrependimento), um estado de transição simples, uma nota de preparação, - e o
batismo através Espírito Santo e fogo, o fim do qual é (v.12) santificação”.
Os eruditos Robert Jamieson, A.R.
Fausset e David Brown no
clássico Comentario Exegetico y
Explicativo de La Biblia, ao comentarem Mateus 3.11, destacam:
Ver
esse batismo como sendo algo distinto ao do Espírito, ou seja um batismo dos
não arrependidos com o fogo do inferno, é algo fora do normal. Sem dúvida esta
era a ideia de Orígenes entre os
“pais” e de Neander, Meyer, De Wette e Lange entre
os modernos. Não ajuda muito pensar que esse fogo no último dia, quando a terra
e as obras que há nela serão queimadas. Em nosso conceito, se trata do caráter
flamejante da obra do Espírito na alma que esquadrinha, consome, refina e
sublima. É assim como os bons intérpretes entendem essas palavras (vol. II,
pp.19).
A hermenêutica
pentecostal destaca que esse é o entendimento que se deve manter acerca dos
eventos do Jordão, ocorridos por ocasião do batismo realizado por João Batista.
E faz dessa forma porque entende que as palavras do batista, quando se referiu
ao “batismo de fogo” estão intimamente ligadas as “línguas de fogo” do Cenáculo
(At 2.1-4).
Ao comentar a
passagem: “E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e
pousou uma sobre cada um deles” (At 2.2), o teólogo Simon Kistemaker, diz:
Este
é o cumprimento da descrição de João Batista acerca do poder de Jesus: Ele vos
batizará com o Espírito Santo e com fogo (Mt 3.11; Lc 3.16). No Antigo
Testamento, o fogo é frequentemente usado como símbolo da presença de Deus em
relação à santidade, ao juízo e à graça (KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Atos, volume 1. Editora Cultura
Cristã).
Semelhantemente
o expositor Samuel Pérez Millos em
sua série de comentários exegéticos, feitos a partir do texto grego, destaca o caráter
purificador que o batismo no Espírito Santo teria sobre os cristãos (MILLOS,
Samuel Perez. Comentario Exegético Al
Texto Griego Del Nuevo Testamento: MATEO.
Editorial CLIE). Em seu exaustivo comentário de Atos, com 1963 páginas, Millos destaca esse vínculo entre o
Jordão e o cenáculo. “Este bendito batismo será também com fogo. O próprio
acontecimento do Pentecostes com a descida do Espírito Santo sobre a igreja,
harmoniza plenamente com as línguas como de fogo, repartidas sobre cada um dos
presentes (...).
O simbolismo do
fogo está ligado a representação de Deus. O fogo é sinal da presença de Deus,
como quando apareceu a Moisés como chama de fogo (Ex 3.2). Nesse mesmo sentido
o fogo foi sinal de aprovação divina, como na construção do Tabernáculo (Lv
9.24); no sacrifício de Elias no monte Carmelo (1Rs 18.38). Sinal da proteção
divina, como ocorreu com a condução de Israel (Ex 13.21) (MILLOS, Samuel Perez.
Hechos – Comentario Exegético Ao Texto
Griego Del Nuevo Testamento, pp. 139. Editorial CLIE).
O teólogo
anglicano John Stott, cuja
hermenêutica é claramente anti-pentecostal, reconhece que o vínculo existente
entre Mateus 3.11 e Atos 2.3. Comentando esta última
referência bíblica, diz:
Se
permitirmos que outras partes das Escrituras nos guiem na interpretação, parece
que esse três sinais (vento, fogo e fala) representavam pelo menos o início da
nova era do Espírito (João Batista havia associado o vento ao fogo) e nova obra
que ele viera realizar. Se for esse o caso, o som como de um vento pode
simbolizar o poder (que Jesus havia prometido, para que testemunhassem, Lc
24.49; At 1.8), a visão do fogo, a pureza (como a brasa viva que purificou
Isaias, 6.6-7) e o falar em outras línguas, a universalidade da igreja cristã”
(STOTT, John. A Mensagem de Atos.
ABU Editora. Grifos meus).
De forma
análoga, o expositor William Hendriksen
associa Atos 2.3 a Lucas 3.16, quando comenta esta última:
“A menção ao fogo (“Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”)
harmoniza essa aplicação com o Pentecostes, “quando lhes apareceram divididas
línguas de fogo, repousando sobre cada um deles (At 2.3). A chama ilumina, o
fogo purifica. O Espírito faz ambas as coisas”. (HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento, Lucas, vol.
1. Editora Cultura Cristã).
Esse vínculo
também é visto pelo comentarista Werner
de Boor. Em sua obra intitulada Atos
dos Apóstolos, ao comentar a expressão: “E apareceram-lhes línguas
separando-se, como de fogo”, diz: “João Batista já havia falado do batismo “com
o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). Desde sempre o “fogo” foi, como “luz” e
a “tempestade”, um sinal da essência e da atuação divinas” (BOOR, Wener. Atos dos Apóstolos. Editora Esperança).
Os cristãos,
identificados na tradição protestante como históricos, acreditam que o batismo
no Espírito Santo está relacionado à habitação do Espírito enquanto nós
pentecostais acreditamos que essa relação é de capacitação. No primeiro
aspecto, a experiência do batismo no Espírito se confunde com a conversão
enquanto no segundo ela é distinta e separada da mesma. O ponto aqui é que o
batismo no Espírito Santo e com fogo profetizado por João, o batista, é visto
pela ampla maioria dos eruditos conservadores como se tratando de uma única
experiência e está associada à vida cristã.
Alguns escritores interpretam de outra
maneira
O escritor Charles Erdman em seu Comentario al Evangelio de Mateo
entende que o Rei Jesus batizará o pecador arrependido com Espírito Santo para
dá uma intimidade espiritual com uma Pessoa Divina. E descreve o “fogo” como o
juízo vindouro (El Evangelio de Mateo:
Uma Exposiición, p.21 – PDF).
Charles Ryrie entende o “batismo com
Espírito Santo” como o identificar os membros do corpo de Cristo com o próprio
Cristo, a Cabeça ressurreta do Corpo (1Co 12.13). E entende o “fogo” como uma
provável referência aos julgamentos associados à Segunda Vinda de Cristo (v.12;
Ml 3.1-5; 4.1-3). – (A Bíblia Anotada,
p.1186. São Paulo, SP, Brasil: Mundo Cristão, 1994).
John MacArthur afirma que todos os
crentes em Cristo são batizados com o Espírito (1Co 12.13). E identifica o
“fogo” como uma referência a um “batismo de castigo” sobre os que não se
arrependem (Bíblia de Estudo MacArthur,
p.1212. Barueri, SP, Brasil: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010).
Darrel L. Bock entende que “a ideia de
ser batizado com o Espírito e com fogo representa uma presença e uma
purificação que dividi (cf. Is 4.4-5)”, então “o batismo do Espírito reunirá
algumas pessoas, enquanto que outras serão levadas pela força do vento (cf. Lc
12.49-53; 17.29-30)” – (Comentarios
Bíblicos con Aplicación: LUCAS, p.102. Miami, Florida, USA: Editorial Vida,
2011).
Juan Mateos traça o seguinte
comentário: “O batismo do Messias efetuará um juízo: para os que se
arrependeram, será de purificação e efusão do Espírito (força de vida e
fecundidade), efeito do favor de Deus; para os que não mudam de conduta, será a
destruição expressada antes, manifestação da ira divina (3.10)”. – (MATEOS,
Juan & CAMACHO, Fernando. El
Evangelio de Mateo: Lectura comentada, p.37. Huesca, 30-32, Madrid, España:
Ediciones Cristiandad, 1981 – PDF).
Antonio Rodríguez Carmona descreve o
“batismo com Espírito Santo e com fogo” como dois batismos. O primeiro, batismo
com Espírito Santo, é o mesmo que se ordena no mandato final (28.19), e, o
segundo, batismo de fogo, faz referência ao fogo purificar do juízo (cf. Is
1.25; Zc 13.9). Jesus é mais forte que João, o Filho do Homem que agora perdoa
e depois julgará – (Comentarios a la
Nueva Biblia de Jerusalén: Evangelio de Mateo, p.51. Sevilla, España:
Editorial Desclée De Brouwer, S.A., 2006 – PDF).
R. V. G. Tasker sugere que “o batismo
do Messias podia dotar aqueles que se submetessem à Sua influência com o poder
santificador”. Mas, também separaria os verdadeiros (trigo) dos falsos (palha).
– (O Evangelho Segundo Mateus:
introdução e comentário, p.38. São Paulo, SP, Brasil: Vida Nova, 1980 –
PDF).
O Espírito
Santo e o fogo não são duas coisas distintas nesta passagem ou dois batismos.
Mas o fogo é uma figura do Espírito Santo que fala de Seu poder de penetrar e
purificar os corações endurecidos assim como o fogo penetra e purifica os
metais mais duros. Então, o mesmo fogo que purifica (v.11), também queimará a
“palha” (v.12). – (BONNET, Luis & SCHROEDER, Alfredo. Comentario del Nuevo Testamento, vol. I, Los Evangelios Sinópticos,
p.79. Casa Bautista de Publicaciones – PDF).
Em seu
exaustivo comentário (págs. 2143) Samuel
Perez Millos entende que “Espírito Santo” e “fogo” referem-se a um único
batismo e, aponta o derramamento do Espírito no Dia de Pentecostes como
evidência, pois línguas como de fogo, pousou uma sobre cada um deles (At 2.3).
E ainda acrescenta que o fogo é um dos símbolos do Espírito Santo: “a força do
fogo animou com o calor divino as vontades dos cristãos (At 4.13, 19, 20, 33).
O fogo do Espírito permite o fervor
cristão (Rm 12.11), desenvolvendo também um cálido afeto desconhecido
anteriormente (At 2.44-47; 3.6; 4.32)”. (Comentario
Exegético Al Texto Griego del Nuevo Testamento, p.195. Viladecavalls,
Barcelona, España: Editorial CLIE, 2009 – PDF).
Chego a conclusão,
não apenas pelas exposições acima, mas também por uma leitura do próprio texto, que reza não dois batismos, apenas um.
Texto do pastor José Gonçalves com modificações e acréscimos
Ivan Teixeira
Sola Scriptura e Tota
Scriptura