sexta-feira, 18 de setembro de 2020

ARREBATAMENTO DA IGREJA_ESCATOLOGIA VITORIOSA!

 


PAULO, autor de 13 epístolas do Novo Testamento mencionou a Segunda Vinda de Cristo 50 vezes. A 1ª Epístola aos Tessalonicenses é considerada a primeira carta que Paulo escreveu. Nela, ele fez menção A Segunda Vinda de Cristo em cada capítulo (Veja 1.10; 2.19; 3.13; 4.13-18; 5.2,23). Ele repetiu essa ênfase ainda em grandes detalhes em 2Tessalonicenses (veja 1.7-10; 2.1-12; 3.5).

Sem dúvidas, a doutrina da Segunda Vinda de Cristo era um tema constante das pregações, ensinos e escritas do grande apóstolo Paulo. O apóstolo dos gentios e os cristãos do primeiro século viviam em constante expectativa do retorno iminente do Senhor Jesus. Essa, sem sombra de dúvidas, foi a mola propulsora do dinamismo evangelístico e missionário da Igreja no poder do Espírito Santo nos primeiros anos.

 

Quatro temas da vida cristã primitiva!

Quatro temas no contexto da vida cristã estão relacionados e interagem intimamente nas páginas do Novo Testamento: (1) santificação-vigilância pois o Senhor pode voltar a qualquer momento (Mateus 24.36,42-44; 25.13); (2) revestimento de poder do Espírito para testemunhar sobre o Senhor que breve voltará (Atos 1.6-11); (3) Evangelização e missão em obediência ao Grande Mandato do Senhor até que Ele venha na consumação dos séculos (Mateus 28.19-20; Atos 3.19-21) e a (4) Vinda do Senhor para levar os crentes à Casa do Pai (1Coríntios 1.6-8; 1Tessalonicenses 4.13-18; 5.23).

Tais temas – e outros essenciais – são peculiares a todas as famílias da Cristandade, mas, principalmente como distintivo e não como exclusividade ao Pentecostalismo. Dificilmente tem um Movimento da Cristandade que mais fale, pregue ou ensine sobre a doutrina da Segunda Vinda do Senhor Jesus do que o Pentecostalismo. Entristeço-me quando noto a escassez desse tema hoje em nossos rincões pentecostais. Principalmente nas igrejas pentecostais clássicas como as Assembleias de Deus. Creio que precisamos urgentemente de um “Novo Pentecostes” para reavivar temas tão caros e preciosos aos primeiros pentecostais!

Como já declaramos noutro capítulo, o tema integrador do querigma pentecostal é a Segunda Vinda do Senhor Jesus, mormente em sua ênfase no arrebatamento da Igreja. A visão bíblica pentecostal de uma Vinda a qualquer momento, iminente, exige que os cristãos vivam apercebidos, vigilantes e em santificação, e demanda que eles preguem o evangelho para a salvação dos perdidos e que busquem o revestimento de poder para o cumprimento da Grande Comissão, conforme a orientação do próprio Senhor ressurreto quando ordenou que antes de saírem para pregar o evangelho deveriam esperar a promessa do Pai, o batismo no Espírito Santo (cf. Lucas 24.49; Atos 1.4,5,8). Essas são crenças distintivas pentecostais e que faziam (e devem fazer!) parte do querigma (pregação) pentecostal.

Foi o próprio Paulo que escreveu: “Se alguém não ama o Senhor Jesus Cristo, seja anátema; Maranata!” (1Coríntios 16.22).

 

Escatologia derrotista e futurismo pessimista?

Particularmente é difícil acreditar que estudiosos como Harold R. Eberle & Martin Trench (preteristas parciais) acusem descaradamente os que creem na doutrina do arrebatamento a qualquer momento de derrotismo, negligência, pessimismo, indiferença social e etc., afirmando que “Precisamos de uma mudança que conduza a Igreja de uma mentalidade de arrebatamento a uma teologia de colheita”. Tal crítica é por demais infundada. Por que devemos mudar a mentalidade de arrebatamento? Ela não é bíblica? Claro que é! É difícil acreditar nas palavras encontrada no livro: “Os cristãos que estão focados na colheita não têm realmente muito tempo para se preocupar com o arrebatamento. Seu objetivo é levar tantas pessoas quanto possível para o Reino nessa preparação para as bodas. Uma escatologia vitoriosa deixará a mentalidade de arrebatamento para trás e colocará a obra da colheita diante de você”[1]. Como assim? Não devo me preocupara com o arrebatamento da Igreja? Os autores tentam nos fazer acreditar que a “mentalidade de colheita” é incompatível com a “mentalidade de arrebatamento”! Isso é ridículo! Por exemplo, hoje o Movimento Pentecostal, mentalidade de arrebatamento pré-tribulacional, é a maior força missionária, principalmente no Sul Global. É fundamental sobre a nossa crença de um arrebatamento a qualquer momento que façamos missões hoje no poder do Espírito Santo, pois não sabemos a que horas virá o Senhor!

Com os autores eu afirmo altissonante que nós que acreditamos num arrebatamento a qualquer momento não somos uma “Igreja fracassada, que foge pela porta dos fundos enquanto o diabo entra com violência pela porta da frente”[2]. Pelo contrário, os pentecostais invadem até mesmo as periferias e os mais distantes lugares para destronar Satanás, expulsar demônios, impor as mãos sobre os enfermos e até a falar novas línguas em nome de Jesus Cristo!

Se eles analisassem o impacto do Movimento Pentecostal nas vidas e na sociedade como um todo teriam uma abordagem diferente ou honesta e mais respeitosa. Eles deveriam entender a visão de vitória dos pentecostais, o vitorioso Cristo venceu e é poderoso para salvar. Os pentecostais creem que Jesus continua o mesmo ontem, hoje e eternamente por isso pregam que Ele continua curando e libertando as pessoas. Quantas vidas e famílias inteiras não foram salvas e ressocializadas? As igrejas pentecostais pré-tribulacionistas estão bem presentes nas periferias mais do que outras (poderia traçar uma dura crítica aqui a outras denominações, mas não o farei!). As pregações autenticamente pentecostais trazem impacto no ser humano demandando aos que creem uma vigilante santificação, bem como uma viva esperança no arrebatamento da Igreja.

Acusar os pré-tribulacionistas que creem no arrebatamento da Igreja a qualquer momento de escapismo e derrotismo é ser bastante ignorante do impacto eclesial, missional e social que estas verdades causaram, estão causando e podem causar quando os pentecostais começarem a rejeitar ensinos alienígenas ao seu curriculum histórico e retomar no poder do Espírito os cinco pilares do querigma pentecostal.

É claro que nós pentecostais também acreditamos que “a Igreja se levantará em vitória e poder antes da volta de Jesus Cristo”[3]. Isso tem sido verdade no Movimento Pentecostal, apesar dos seus devaneios!

Nossa escatologia também é vitoriosa, pois cremos que Cristo virá pessoalmente para implantar o Seu Reino com poder e glória. Cristo, não a Sua Igreja, diferentemente da crença dos autores, é quem irá estabelecer o Reino de Deus aqui na Terra (cf. Daniel 2.34,35,44,45; João 18.36; 2Timóteo 4.1; Apocalipse 2.26—28; 19.11–20.9). Nenhum cristão edifica o Reino de Deus, e nem a igreja implanta o Reino de Deus. É o Cristo que o faz! Posso dizer que uma “escatologia vitoriosa” é cristológica e não eclesiológica. Noutras palavras, a vitória escatológica da igreja encontra-se e resulta da cristologia, do Cristo vitorioso (Apocalipse 3.21). Cristo é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores (19.16). A igreja é mais do que vencedora por meio daquele que a amou! (Romanos 8.37). Temos uma escatologia vitoriosa não porque a igreja irá implantar o Reino, ou rejeitar a “mentalidade de arrebatamento”, mas porque Cristo já venceu na cruz, foi assunto aos céus, está a destra do Pai, derramou o Espírito Santo e voltará outra vez pessoalmente para estabelecer o Seu reino aqui na terra, e a igreja regerá as nações juntamente com o Rei com vara de ferro (Daniel 7.13,14,18,22,27; Apocalipse 2.26-28; 12.5; 19.15; 20.4). Isso é escatologia vitoriosa!

Nós pentecostais não adotamos uma escatologia derrotista, uma “mentalidade de arrebatamento” sem missões ou mesmo uma “visão pessimista do futuro” como afirmam os autores Eberle & Trench sobre aqueles que adotam a doutrina do arrebatamento da Igreja. Nós não negamos, juntamente com Paulo, que “os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (2Timóteo 3.13), e que nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis (3.1), e que ainda os homens serão mais “amigos dos prazeres que amigos de Deus” (v.4), e também nos últimos dias as pessoas “não suportarão a são doutrina” (4.3), todavia, nós também cremos que Deus nos últimos continua derramando o Seu Espírito sobre os Seus filhos e filhas para exercerem um ministério carismático e de poder testemunhal do Cristo que virá (Atos 2.17,18). Isso, senhores, não é escatologia pessimista e derrotista, mas realista, esperançosa e pneumática! Assim é uma escatologia de um pentecostal pneumático!



[1] EBERLE, Harold R. & TRENCH, Martin. Escatologia Vitoriosa: Uma Visão Preterista Parcial, p.12. Brasília, DF, Brasil: Editora Chara, 2014.

[2] EBERLE, Harold R. & TRENCH, Martin. Escatologia Vitoriosa: Uma Visão Preterista Parcial, p.12. Brasília, DF, Brasil: Editora Chara, 2014. Essa frase vem de Cal Pierce no Prefácio, mas claramente reflete a ideia dos autores.

[3] EBERLE, Harold R. & TRENCH, Martin. Escatologia Vitoriosa: Uma Visão Preterista Parcial, p.11. Brasília, DF, Brasil: Editora Chara, 2014.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

A DOUTRINA DO ARREBATAMENTO SOB ATAQUE!

 


 Tenho notado ultimamente um ataque atabalhoado e paupérrimo à doutrina bíblica do arrebatamento da Igreja. Muitos no afã de desacreditarem essa doutrina bíblica tão querida aos cristãos que aguardam o Senhor voltar a qualquer momento têm elencado caricaturas ridículas que não merece nossa preciosa atenção, mas apenas salientar o quão ridículo tem sido o desespero dos críticos para negar essa tão cara e importante doutrina do Cristianismo histórico, principalmente do pentecostalismo histórico e bíblico. Apesar de entender que a articulação Sistemática da doutrina do arrebatamento como a temos hoje surgiu inicialmente sob os auspícios dos professores e eruditos do Trinity College, em Dublin, e nas Conferências proféticas de Powerscourt (1831–1833) no século XIX, nós temos observado, de uma forma ou de outra, que certos estudiosos antigos têm tido uma visão de uma Vinda pré-tribulacional de Cristo Jesus para livrar a Sua Igreja da Grande Tribulação. O que prevalece nos Pais da Igreja e noutros teólogos posteriores – tirando o desvio interpretativo alegorizante do amilenismo e pós-milenismo – é um claro entendimento sobre uma vinda a “qualquer momento” e sobre um reino literal de Cristo na Terra. O entendimento de uma “Vinda a qualquer momento” é importante na articulação sistemática do arrebatamento pré-tribulacional. Novamente afirmo com o Dr. Erickson, que é pós-tribulacionista: “Com certeza, o pré-milenismo dos primeiros séculos da Igreja pode ter incluído uma crença num Arrebatamento pré-tribulacional da Igreja [...]”[1].

Deve-se pontuar que a primeira metade do século XIX viu crescer a crença “milenarista desenvolvida a partir das Igrejas Tradicionais que passava pelos canais perfeitamente sensatos de tratados teológicos, periódicos especiais e conferências em casas aristocráticas”[2] e não a partir de lunáticos escanteados ou de um profetismo individualista. Foram o ensino desenvolvido a partir das Igrejas Tradicionais e de grandes professores da época que influenciou tremendamente o pensamento de John N. Darby.

As Conferência Proféticas de Albury Park, no Surrey, em 1826–28, tiveram como anfitrião Henry Drummond, ex-membro da Câmara dos Comuns. Com raras exceções, Drummond convidava leigos e clérigos das igrejas nacionais da Inglaterra e da Escócia. Sobre as Conferências Proféticas Sandeen observou:

Nas reuniões da Conferência propriamente ditas, o programa era igualmente entre os três tópicos de maior interesse na época – cronologia profética, segundo advento e restauração dos judeus. Não se apelava a qualquer argumento ou autoridade nessas sessões a não ser a autoridade de citações bíblicas diretas ou de um argumento cujo objetivo fosse conciliar referências bíblicas[3].

 

Tais Conferências trouxeram um reavivamento profético em Londres e chegaram ao conhecimento de John N. Darby por meio de um certo Bellert em 1827.

Isso diferente muito das argumentações contra o Arrebatamento que são mais baseadas no que teólogo fulano de tal falou, no lugar de uma análise exegética e uma metodologia apropriada, pois um raciocínio claro favorece conclusões claras sobre as doutrinas bíblicas. Análises irônicas, desrespeitosas e vulgares trazem mais confusão do que edificação para a Igreja de Deus. Quando você compara o debate respeitoso e honesto sobre o tema do Arrebatamento de homens do quilate dos doutores Gleason Archer (midi-tribulacional) Paul Feinberg (pré-tribulacionista) e Douglas Moo (pós-tribulacionista)[4] com comentários desrespeitosos e atabalhoados de muitos hoje, você percebe o quanto esses estão distante da erudição honesta. Isso sem falar do amor fraternal cristão!

Mas, lamentavelmente, homens como o erudito N. T. Wright e John Gerstner e o estudioso Hank Hanegraaff chegaram ao absurdo e a desonestidade em suas afirmações contra os que ensinam o Arrebatamento pré-tribulacional dispensacionalista. Já o erudito Vern Poythress, no seu livro Understanding Dispensationlists (Entendendo os Dispensacionalistas), faz uma crítica ao dispensacionalismo de uma maneira respeitosa que se concentra em questões reais. O teólogo aliancista O. Palmer Robertson demonstrou uma crítica gentil e apropriada digna de respeito. Ele escreveu: “[...]. Espera-se que o contínuo intercâmbio possa ser baseado no amor e no respeito”[5]. Mas nem sempre é assim como se ver nas redes sociais e em certos livros.

John Gerstner acusa os dispensacionalistas de ensinarem vários caminhos da salvação[6]. Hanegraff usa um tom “desprezível”, chegando a afirmar que o ensino dispensacionalista é “perigoso! Ameaça o evangelho de Jesus Cristo! Promove uma vida sem lei. Ameaça a divindade de Cristo. E ainda conduz ao racismo. Ele chega a comparar a visão dispensacionalista com as seitas! Diante de tais acusações deixo apenas um ponto para quebrar as “penas” de Hanegraff sobre a acusação “promove uma vida sem lei”: o Dr. John MacArthur é conhecido mundialmente como o grande defensor do senhorio de Cristo. Ele é dispensacionalista pré-tribulacionista e pré-milenarista! Para quem não sabe, a doutrina do senhorio postulada em três grandes livros do Dr. MacArthur afirma uma vida cristã com a lei de Cristo. Aceita-se Jesus como Salvador e como Senhor também!

Já o erudito N. T. Wright fala com desprezo quando diz: “A obsessão americana com a segunda vinda de Jesus – especialmente com interpretações distorcidas dela – continua inabalável. Visto do meu lado do Atlântico, o sucesso fenomenal dos livros Deixados para Trás parece intrigante, até bizarro. Poucos no Reino Unido acreditam que a popular série de romances se baseia: que haverá um “arrebatamento” literal em que os crentes serão arrebatados para o céu, deixando carros vazios batendo em rodovias e crianças voltando da escola apenas para descobrir que seus pais foram levados para estar com Jesus enquanto eles foram "deixados para trás". Esta versão pseudo-teológica [...] supostamente assustou muitas crianças a algum tipo de fé (distorcida)”[7].

Triste perceber que o Dr. Wright se esquece (?) que as Conferências Proféticas que postularam as primeiras sistematizações do arrebatamento pré-tribulacional aconteceram “do meu lado do Atlântico”. E o mais triste é perceber que um erudito do quilate dele elenca contrapontos baseados na série do Dr. Tim Lahaye e Jerry B. Jenkins que todos sabemos que nada mais é do que uma obra ficcional que narra os últimos dias na Terra. Não é um tratado teológico! O Dr. Wright ainda enfatiza que “Jesus não falou de Seu retorno de maneira tão vívida, mas sugere que apenas Paulo o fez”. No entanto, ele se esquece da afirmação de Paulo: “Isto vos dizemos pela PALAVRA do Senhor” (1Tessalonicenses 4.15)!

O arrebatamento da Igreja é sem dúvidas um ensino bíblico e não meramente uma “metáfora” para falar da transformação que os crentes experimentarão no final dos tempos como sugere o Dr. N. T. Wright! O arrebatamento e os eventos a ele relacionados como a ressurreição dos crentes mortos e a transformação dos crentes vivos é uma verdade e um evento literal que há de acontecer a qualquer momento e que será “num abrir e fechar de olhos” (1Tessalonicenses 4.13-18; 1Coríntios 15.51-53).

 

O ARREBATAMENTO FUNDAMENTADO

Tenho debruçado num trabalho amplo sobre a doutrina do arrebatamento da Igreja. Aqui, faço apenas pequenas observações bíblicas.

O ensino neotestamentário de que Cristo poderia voltar a qualquer momento e arrebatar a Sua Igreja sem sinais ou advertências prévias (i.e. iminência) é um argumento tão poderoso em favor do pré-tribulacionismo que se tornou uma das doutrinas mais ferozmente atacadas pelos oponentes da posição pré-tribulacionista. Eles percebem que, se o Novo Testamento de fato ensinar a iminência, um arrebatamento pré-tribulacional estará praticamente assegurado. Essa é uma das chaves hermenêuticas do Sistema teológico dispensacional.

Uma vez que é impossível saber exatamente quando ocorrerá um evento iminente, não se pode contar com a passagem de determinado período de tempo antes que tal evento iminente ocorra. À luz disso, é preciso estar sempre preparado para que ele aconteça a qualquer momento.

As exortações paulinas à Igreja não são para que se prepare para a Grande Tribulação e a morte, mas para que espere a Cristo, que vem do céu (Filipenses 3.20; Tito 2.13; Hebreus 9.28). Também devemos velar e ser sóbrios (1Tessalonicenses 5.6-8; Mateus 24.42, 48; 25.13; Apocalipse 16.15). Outras citações paralelas têm o propósito de manter os cristãos em uma atitude de expectativa, de estarem alerta, porque a qualquer momento o Senhor Jesus Cristo o Salvador pode chamá-los para os Ares (Marcos 13.32-37; Lucas 12.35-40; 21.34-36; Romanos 8.23; 1Coríntios 1.7; 1Tessalonicenses 1.10).

O Dr. John Walvoord declara: “A exortação a que aguardemos a ‘manifestação da glória’ de Cristo para os Seus (Tito 2.13 ARA) perde seu significado se a Tribulação tiver que ocorrer antes. Fosse esse o caso, os crentes deveriam observar os sinais”. Se a posição pré-tribulacionista sobre a Iminência não for aceita, então haverá sentido em procurar identificar os eventos relacionados à Tribulação (i.e., o Anticristo, as duas testemunhas, etc.) e não em esperar o próprio Cristo. O Novo Testamento, todavia, uniformemente instrui a Igreja a olhar para a Volta de Cristo, ao passo que os santos da Tribulação são exortados a observar os sinais.

A exortação neotestamentária a que nos consolemos mutuamente por causa da Volta de Cristo (João 14.1; 1Tessalonicenses 4.18) não mais teria sentido se os crentes tivessem, primeiro, que passar por qualquer porção da Tribulação. Em vez disso, o consolo teria que esperar a passagem pelos eventos da Tribulação. Não! A Igreja recebeu uma “Bendita Esperança”, em parte porque a Volta do Senhor é, de fato, Iminente.

O arrebatamento da Igreja não é mera ficção científica, não é produto dos cineastas de Hollywood e muito menos uma crença espalhafatosa de sensacionalistas futuristas, mas, como disse Paulo, é a “Palavra do Senhor”!

 

Ivan Teixeira!



[1] ERICKSON, Millard J. Contemporary Options in Eschatology, p.112. Grand Rapids: Baker Book House, 1977.

[2] HEMPTON, D. N. “Evangelicalism and Eschatology”, p.182-183. Journal of Ecclesiastical History 31 (Abril de 1980).

[3] SANDEEN, Ernest R. The Roots of Fundamentalism: Britihs and American Milleniarism 1800 – 1930. p.18-21. Chicago: The University of Chicago Press, 1970.

[4] ARCHER, Gleason L. FEINBERG, Paul & MOO, Douglas. The Rapture: Pre-, Mid-, or Post-Tribulational. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1984.

[5] ROBERTSON, O. Palmer. The Christ of the Covenants, p.202. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 1980.

[6] GERSTNER, John H. Wrongly Dividing the Word of Truth: A Critique of Dispensationalism, p168. Brentwood, TN: Wolgemuth & Hyatt, 1991.

[7] Apud HINDSON, Ed & HITCHCOCK, Mark. Can We Still Believe in the Rapture? Copyright © 2017. Publicado por Harvest House Publishers. Eugene, Oregon 97408.

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

O CASO DO ARREBATAMENTO PRÉ-TRIBULACIONAL E O DR. JOHN GILL

 

 O Dr. William E. Bell em sua dissertação doutoral A Critical Evaluation of the Pretribulation Rapture Doctrine in Christian Eschatology (Uma Avaliação Crítica da Doutrina do Arrebatamento Pré-Tribulacional na Escatologia Cristã) descreve critérios necessários para que seja provada a antiguidade do ensino sobre o Arrebatamento pré-tribulacional, sendo seu desafio, citar alguma evidência ou indício de que alguém tenha ensinado um arrebatamento pré-tribulacional da Igreja antes de 1830. Essa postulação desafiadora tem sido um ponto basilar no argumento pós-tribulacional.

Tenho algumas observações a princípio. Primeiro, quem deu poderes a qualquer erudito para estabelecer certos critérios pessoais, claro, baseado na sua visão Sistemática, sobre a validade de uma doutrina que ele discorda? Segundo, quem estabeleceu o princípio de que a validade de uma doutrina bíblica é comprovada pela antiguidade do seu ensino meramente? Terceiro, ensino antigo não significa que é bíblico. Muita coisa que foi ensinado por estudiosos antigamente não têm bases bíblicas, são claramente produtos da especulação pessoal filosófica. Quarto, para mim a validade de um ensino repousa não em sua antiguidade nos anais de ensino do Cristianismo, apesar de sua importância, mas em seu embasamento bíblico. Então a pergunta certa não é: “Qual teólogo antigo ensinou?”. Mas, “a Bíblia ensina?”. Ainda podemos pontuar que as doutrinas bíblicas tiveram seus desenvolvimentos em pontos importantes da História da Igreja, e também afirmamos que não temos na Bíblia um tratado arrumadinho (Sistemático) das doutrinas bíblicas.

A incoerência desses críticos é tão grande que se fôssemos aplicar os critérios deles noutros temas da Teologia Sistemática ficaria mais uma vez revelado a pobreza argumentativa. Será que acharíamos as postulações calvinistas ou arminianistas antes de Calvino e Armínio respectivamente? Claro que não! Pode-se encontrar ideias seminais, mas não o sistema tal como postulado por eles e, principalmente pelos seus discípulos. Assim é com o dispensacionalismo. Nunca encontraremos suas postulações antes do seu grande sistematizador, e não vamos encontra-lo tal como sistematizado pelos eruditos posteriores tal como temos hoje. Mas as ideias, as sementes e certos pontos podem ser localizados.

O Dr. Wayne Grudem salienta que o trabalho do teólogo sistemático é reunir todos os dados ou referências sobre determinado assunto bíblico e daí construir o entendimento e implicações da doutrina em pauta. E, sem dúvidas, a doutrina do arrebatamento pré-tribulacional pode ser elaborada a partir das referências bíblicas.

Entretanto, meu ponto neste artigo não é trazer os dados escriturísticos, fá-lo-ei oportunamente, mas pontuar que o ensino do arrebatamento pré-tribulacional pode ser visto antes de 1830. Meu argumento é provar que este ensino não foi produto de John Nelson Darby ou invenção da jovem Margaret MacDonald como tem pontuado certos críticos. Aliás, vale pontuar que o Dr. Darby foi o grande sistematizador da doutrina, mas não o professor que a originou. Noutro artigo fiz uma citação do Dr. Erickson provando a possibilidade das “sementes do pré-tribulacionismo nos Pais da Igreja”.

O Dr. John N. Darby foi influenciado pelos mestres da Universidade Trinity College. Temos três influenciadores da teologia de Darby: o Deão da escola Richard Graves (1763–1829); Edward Hincks bibliotecário-assistente do Trinity College em 1814 e Thomas Elrington, que serviu como administrador de 1811 a 1820. Cada um desses grandes eruditos do Trinity College tiveram participação na formação teológica do brilhante estudante John Nelson Darby. Então, apesar de seu brilhantismo acadêmico na sistematização da doutrina dispensacionalista pré-tribulacional, o Dr. Darby não originou o ensino, mas apenas se tornou, claramente, o “pai sistematizador” do ensino das Escrituras. Ele se alinha a muitos outros grandes teólogos que sistematizaram os ensinos bíblicos como Agostinho, Tomas de Aquino, João Calvino, Jacó Armínio e muitos outros.

 

John Gill e seus postulados pré-tribulacional!

Enfim, em 1748 um famoso teólogo calvinista chamado John Gill publicou seu comentário sobre o Novo Testamento. Comentando sobre 1Tessalonicenses 4.15-17, o ele indica que Paulo estava ensinando “algo novo e extraordinário”. O Dr. Gill chama o traslado dos santos de “Arrebatamento” e exorta à vigilância porque “será súbito e desconhecido de antemão e ocorrerá quando menos considerado e esperado”[1]. Esse é o ensino mais claro e detalhado sobre o Arrebatamento Pré-Tribulacional iminente encontrado antes de John N. Darby colocando por terra a crítica que afirma que o Dr. Darby “inventou” o “rapto secreto antes da Grande Tribulação”. Não tem como negar e é significativo que o calvinista John Gill tenha ensinado um Arrebatamento iminente, súbito, que podia acontecer a qualquer momento. Ao comentar sobre 1Tessalonicenses 5.1 ele escreveu: “Era fato bem conhecido que isso [o arrebatamento] aconteceria subitamente, em hora desconhecida, como a vinda de um ladrão na noite”.

 

Citação completa do Comentário de John Gill

John Gill no seu comentário de 1Tessalonicenses 4.13-18 salienta que o ensino do apóstolo Paulo sobre a Vinda do Senhor deve “[...] despertar o cuidado, circunspecção, diligência e vigilância dos santos, visto que não se poderia saber quando o Senhor virá: no entanto, daí parece que haverá santos vivos na Segunda Vinda de Cristo; Ele sempre terá uma semente para servi-lo até que volte; [...]”. Esse comentário de John Gill salienta o que Paulo ensinou que nem todos os cristãos morrerão, mas, por ocasião da Vinda do Senhor, muitos cristãos estariam vivos: “[...] nós, os que ficarmos vivos para a Vinda do Senhor, [...] (v.15).

Sobre a frase paulina: “Dizemo-vos, pois, isto, pela Palavra do Senhor” (v.15), John Gill comenta:

O apóstolo tem algo novo e extraordinário para revelar, a respeito da vinda de Cristo, a primeira ressurreição, ou a ressurreição dos santos, a transformação dos santos vivos, e o arrebatamento tanto dos ressuscitados quanto dos vivos nas nuvens para encontrar Cristo no ar, [...]; seja em alusão aos profetas antigos, aos quais se diz que a palavra do Senhor viria, e que geralmente apresentavam suas profecias com um “Assim diz o Senhor”; [...] significando que o que ele estava prestes a dizer não era uma fantasia e conjectura própria, o fruto e produto de seu próprio cérebro, mas o que ele poderia afirmar sobre um fundamento seguro, sobre a melhor e maior autoridade, sim, a palavra do Senhor; [...], ele recebeu imediatamente de Cristo; e pode ser quando ele mesmo foi arrebatado ao terceiro céu, e teve uma experiência em si mesmo de algo daquilo que os santos vivos e ressuscitados sentirão, quando eles forem arrebatados juntos nas nuvens; visto que a mudança dos santos vivos, no momento da ressurreição dos mortos, é um mistério que parece ter sido primeiro dado a conhecer e descoberto pelo apóstolo Paulo (cf. 1Coríntios 15.51)[2].

Percebe-se que o ensino da ressurreição dos que dormem em Cristo, e a transformação dos crentes vivos e o arrebatamento deles juntamente para o encontro do Senhor nos ares é algo “novo” e produto da “palavra do Senhor” a Paulo. Não há tão ensino antes, mas é produto da progressividade da revelação. Ensinos anteriores sobre a Vinda do Senhor não descrevem essa “fase” que se dará particularmente para ressuscitar os mortos crentes e transformar os crentes vivos para depois, num abrir e fechar de olhos, arrebata-los para o encontro do Senhor nos ares. No entanto, percebemos que um dia antes da crucificação o Senhor Jesus no Cenáculo Alto começou a descortinar esse aspecto da Sua Vinda para os Seus apóstolos (João 14.1-3). Creio que Paulo se referiu a esse ensino do Senhor quando disse: “Dizemo-vos, pois pela Palavra do Senhor” ou mesmo a partir dela desenvolvido o entendimento de 1Tessalonicenses 4.13-18. Então, para ser mais preciso, é “novo” no sentido de esclarecer e revelar detalhes desse ensino do Senhor sobre o “arrebatamento” (1Tessalonicenses) ou o “tomar” (João) dos crentes para Si. Com o Dr. Gill, também podemos presumir que Paulo “[...] recebeu imediatamente de Cristo; e pode ser quando ele mesmo foi arrebatado ao terceiro céu, e teve uma experiência em si mesmo de algo daquilo que os santos vivos e ressuscitados sentirão, quando eles forem arrebatados juntos nas nuvens; [...]”[3].

 

Arrebatados a encontrar o Senhor nos ares!

v.17: [...] seremos arrebatados [...] a encontrar o Senhor nos ares, [...]. John Gill comenta:

[...] para onde ele descerá, e então limpará as regiões do ar de Satanás e seu bando de demônios, que agora vagam por ali, tendo todas as oportunidades e aproveitando todas as vantagens para fazer o mal na terra; estes então cairão como relâmpagos do céu, e serão amarrados e encerrados no abismo sem fundo, até que os mil anos terminem: [Nos ares] Cristo irá parar e será visível a todos, e tão facilmente discernido por todos, bons e maus, como o corpo do sol ao meio-dia; ainda não descerá à terra, porque não é adequado recebê-lo; mas quando isso e suas obras forem queimados, e for purificado e limpado pelo fogo, e se tornar uma nova terra, Ele descerá sobre ela e habitará com Seus santos nela: e isso sugere outra razão pela qual Ele permanecerá nos ares, e Seus santos o encontrarão lá, e a quem Ele levará com ele ao terceiro céu, até que a conflagração geral e o incêndio do mundo acabem, e para preservá-los disso; e então todos os eleitos de Deus descerão do céu como uma noiva adornada para seu marido, e Ele com eles, e o tabernáculo de Deus estará com os homens (Apocalipse 21.1)[4].

 

Como salientado pelo Dr. Grant R. Jeffrey, embora haja uma certa ambiguidade no ensino do Dr. Gill sobre a cronologia e a sequência dos eventos proféticos, é vital notar o que ele declarou[5]:

1. O Senhor descerá até aos ares;

2. Os santos serão arrebatados para encontra-lO nos ares;

3. Nos ares Cristo parará e será visível a todos;

4. Cristo não descerá imediatamente à Terra, pois esta não estará pronta para recebe-lO;

5. Ele levará os santos com Ele para o terceiro céu, até que a conflagração, purificação, limpeza e queima do mundo terminem;

6. O objetivo de o Senhor levar os santos para os ares e depois para o terceiro céu é “para preservá-los disso”, ou seja, do período de purificação, limpeza e conflagração na Terra (Grande Tribulação?);

7. Depois disso todos os eleitos de Deus descerão do céu.

8. Então eles estarão com Ele, esteja onde estiver;

a) Primeiro nos ares, onde O encontrarão;

b) Depois no terceiro céu, para onde irão com Ele;

c) Depois na terra, para onde descerão e onde reinarão com Ele por mil anos.

 

Apesar da ambiguidade da cronologia profética em seus escritos, visto que ele não postula uma cronologia profética tal como a temos nos compêndios Sistemáticos atualmente, o Dr. John Gill percebe que passagens bíblicas implicam num arrebatamento tanto dos vivos transformados quanto dos mortos ressuscitados aos ares para o encontro do Senhor que conduzirá o povo de Deus ao terceiro céu para depois voltar à Terra para o reino de mil anos com o Messias. Apesar de hoje os calvinistas sejam em sua maioria pós-milenistas ou amilenistas, o Dr. Gill sendo calvinista é claramente pré-milenista. No seu comentário ele cita fontes judaicas sobre o reinado do Messias na Terra após a ressurreição dos santos: “nossos Rabinos dizem duas coisas, ou dão duas razões, por que os pais amavam ser enterrados na terra de Israel, porque os mortos na terra de Israel, “vivem” ou “ressuscitam primeiro”, nos dias de o Messias, e desfrutarão os anos do Messias”[6].

Nós temos uma declaração do calvinista e comentarista John Gill, mas de 80 anos antes do ensino do Dr. Darby em 1830, sobre a iminência pré-tribulacional da vinda do Senhor Jesus para arrebatar a Igreja. Então, os que atacam o Arrebatamento pré-tribulacional afirmando ser ele uma inovação doutrinária e, consequentemente uma mera teoria de escape do século XIX, mas jamais ensinada ao longo da História da Igreja, precisam familiarizar-se com esse e outros importantes textos que veremos oportunamente. O escritor francês Joubert escreveu certa vez: “Nada torna os homens mais imprudentes e vaidosos como a ignorância do passado e o desprezo por velhos livros”[7]. Voltemo-nos, pois, às fontes (Ad Fontes), mormente das Escrituras nas quais oportunamente trataremos do assunto!

Devo concluir afirmando que consultando as obras do Dr. John Gill e doutros teólogos como Efraim, o Sírio (373 d.C) e os Pais da Igreja como Ireneu, nós não encontraremos uma postulação Sistemática sobre o Pré-Tribulacionismo Dispensacional tal como encontrada HOJE nas obra de teólogos como Lewis Sperry Chafer, Henry C. Thiessen, Paul Enns, Charles Ryrie, Charles e John Feinberg, John Walvoord, Dwight Pentecost, Arnold Fruchtenbaum, Tim Lahaye, Thomas Ice, Ed Hindson, Grant R. Jeffrey, Larry V. Crutchfield, Mal Couch e grande outros eruditos pré-tribulacional dispensacionalistas, mas, sem dúvidas, como se tem demonstrado encontraremos pensamentos, ensinos e postulações seminais sobre a verdade escriturística do Arrebatamento Pré-Tribulacional, mormente no conceito chave da doutrina da iminência. Afirmo em alto e bom som: não se pode formular uma doutrina do arrebatamento pré-tribulacional das obras de John Gill ou de qualquer outro teólogo antecedente, tal como a temos hoje em nossas Sistemáticas, mas podemos observar entendimentos seminais do Arrebatamento. Nota-se que tais teólogos não tiveram a dedicação no assunto como outros a partir dos mestres do Trinity College e em especial com John Nelson Darby tiveram. O notável teólogo Charles Hodge, humildemente, escreveu sobre o seu conhecimento da Segunda Vinda, um dos tópicos importantes da escatologia:

ESTE é um assunto muito vasto e difícil. Ele está intimamente relacionado a todas as outras grandes doutrinas que se enquadram no título de escatologia. Ele despertou tanto interesse em todas as idades da Igreja que só os livros escritos sobre ele formariam uma biblioteca. Este tópico não pode ser discutido adequadamente sem examinar todos os ensinamentos proféticos das Escrituras, tanto o Antigo quanto o Novo Testamento. Esta tarefa não pode ser realizada de forma satisfatória POR ALGUÉM QUE NÃO TENHA FEITO DO ESTUDO DAS PROFECIAS SUA ESPECIALIDADE. O autor, sabendo que não está qualificado para esta tarefa, pretende limitar-se amplamente a um exame histórico dos diferentes sistemas de interpretação das profecias das Escrituras sobre esta questão[8].

 

Nota-se, para tratar do assunto de forma satisfatória, segundo o Dr. Hodge, precisa fazer das profecias um estudo especializado de sua dedicação. Tal dedicação e especialização não foram vistas em muitos estudiosos do passado! Mas, pode-se dizer, a partir de John Nelson Darby as profecias bíblicas tiveram atenção maior e especializada no estudo Sistemático. Eis a razão de termos hoje as grandes obras sobre a temática da escatologia bíblica pré-tribulacional dispensacionalista. Depois da epístola de Paulo aos Romanos o livro de Apocalipse é o mais comentado da Bíblia.

Assuntos que são tão claros hoje em nossa mente por causa da dedicação e entendimento de grandes teólogos que se debruçaram na temática, antes não o eram, haja vista, a dedicação noutros assuntos que demandavam mais atenção. A própria obra do Dr. Charles Hodge é uma interação e refutação da posição Católica Romano dos assuntos Sistemáticos.

Concluo citando novamente as palavras do pós-tribulacionista Dr. Millard Erickson descrevendo o ensino dos Pais da Igreja: “Com certeza, o pré-milenismo dos primeiros séculos da Igreja pode ter incluído uma crença num Arrebatamento pré-tribulacional da Igreja [...]”[9], no mínimo as sementes estiveram lá.

Que o Senhor Jesus nos conceda graça para analisar qualquer pensamento Sistemático das doutrinas à luz das Escrituras sem, contudo, desprezar entendimentos dos estudiosos do passado!

 

 

Ivan Teixeira



[1] ICE, Thomas & DEMY, Timothy J. (General Editors). The Return: Understanding Christ’s Second Coming and the End Times, p.113. Grand Rapids, MI 49501, USA. Kregel Publications, 1999.

[2] GILL, John. ([s.d.]). The Expositions of John Gill (1Ts 4.15). – Complete Work.

[3] GILL, John. ([s.d.]). The Expositions of John Gill (1Ts 4.15). – Complete Work.

[4] GILL, John. ([s.d.]). The Expositions of John Gill (1Ts 4.17). – Complete Work.

[5] ICE, Thomas & DEMY, Timothy J. (General Editors). The Return: Understanding Christ’s Second Coming and the End Times, p.115rew. Grand Rapids, MI 49501, USA. Kregel Publications, 1999.

[6] GILL, John. ([s.d.]). The Expositions of John Gill (1Ts 4.16). – Complete Work.

[7] ICE, Thomas & DEMY, Timothy J. (General Editors). The Return: Understanding Christ’s Second Coming and the End Times, p.116. Grand Rapids, MI 49501, USA. Kregel Publications, 1999.

[8] HODGE, Charles. Teología Sistematica, Volumen Segundo, p.625. Terrassa, Barcelona, España: Editorial CLIE, 1991.

[9] ERICKSON, Millard J. Contemporary Options in Eschatology, p.112. Grand Rapids: Baker Book House, 1977.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Dispensacionalismo, Pré-Tribulacionismo, Israel e Pentecostalismo


Pode-se dizer que quando o Movimento Pentecostal se iniciou no epicentro histórico de Topeka e Azusa no século XX tanto o dispensacionalismo quanto o pré-tribulacionismo milenarista com sua crença na restauração futura de Israel já eram sistemas escatológicos de interpretação bem presentes e crescentes desde o século XIX.

O Pentecostalismo por ser de per si um movimento pneumatológico, ou seja, do Espírito, necessariamente postularia uma forte visão escatológica em seu contexto.

Tal como se ver no Novo Testamento após o derramamento do Espírito, o Pentecostalismo também foi marcado por uma forte expectativa do Retorno do Senhor Jesus. Os temas integrantes dos cristãos primitivos como a primeira vinda do Messias na plenitude dos tempos, a chegada do Reino de Deus com poder e o derramamento do Espírito Santo e as manifestações dos Seus dons, também foram temas integrantes e importantes num movimento oriundo e marcado pelo derramamento do Espírito. Não se pode negar que o tema integrador do pregação pentecostal dos cinco pontos (Jesus salva, cura, santifica, batiza e voltará) foi a escatologia (doutrina das últimas coisas).

Pode-se dizer que os primeiros pentecostais se consideravam o povo dos últimos dias, pois acreditavam que estavam experimentando as “últimas chuvas” (late rain) que os preparariam para a grande colheita de almas e para a vinda do Senhor Jesus.

As Assembleias de Deus, maior denominação pentecostal do mundo, tanto no Brasil quanto nos EUA, são notoriamente dispensacionalista, pré-tribulacional e pré-milenarista. Nossa Declaração de Fé postula verdades escatológicas dispensacionalista pré-tribulacional e pré-milenarista:

Cremos na volta iminente, no arrebatamento pré-tribulacional, num período específico e profético de tempo chamado de Grande Tribulação, e na Segunda Vinda em glória.

(1) CREMOS, professamos e ensinamos que a Segunda Vinda de Cristo é um evento a ser realizado em duas fases. A primeira é o arrebatamento da igreja antes da Grande Tribulação (1Tessalonicenses 1.10; 5.9), momento este em que “nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados” (1Tessalonicenses 4.17); a segunda fase é a Sua vinda em glória depois da Grande Tribulação e visível aos olhos humanos: “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele. Sim! Amém!” (Apocalipse 1.7). Nessa vinda gloriosa, Jesus retornará com os santos arrebatados da terra: “na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os Seus santos (1Tessalonicenses 3.13)[1].

 

Cremos também no Milênio com duração de mil anos, e na prisão de Satanás. Não acreditamos num reino simbólico e numa prisão simbólica.

(2) O Milênio é o Reino de Cristo com duração de mil anos que terá início por ocasião da vinda de Cristo em glória com os Seus santos. Todos os que estiverem vivos na terra após esses acontecimentos serão submetidos ao governo de Jesus Cristo (Zacarias 14.16; Filipenses 2.10,11). Nesse período, Satanás estará aprisionado no abismo (Apocalipse 20.2,3)[2].

 

Esses dois pontos da nossa Declaração de Fé são suficientes para destacar os postulados credais de nossa denominação: Arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação e a Volta em glória de Cristo com Sua igreja no final da Tribulação para iniciar o milênio. Estes são pontos distintivos da escatologia pentecostal encontrada já no início do Movimento e se tornou uma das bandeiras doutrinárias de nossas Assembleias de Deus no Brasil. É digno de pontuar que estes e outros assuntos escatológicos sempre estiveram presentes no kerygma (pregação) e na didaskalia (ensino) dos pregadores pentecostais. Como membro das assembleias de Deus desde minha tenra adolescência sou testemunha ocular que os temas escatológicos eram bem presentes nas pregações, ensinos, EBD’s e conversas particulares. Os pentecostais são o povo do Espírito e do porvir!

As Assembleias de Deus dos EUA nos seus 16 Artigos da Declaração de Verdades Fundamentais também postulam uma escatologia dispensacionalista pré-tribulacional e pré-milenarista. A Declaração de Verdades Fundamentais foi preparada em 1916 primariamente por Daniel Warren Kerr[3], depois revisada e ampliada por uma comissão em 1960, e adotada pelo Concílio Geral em 1961, e exposta por William Menzies no seu livro Understanding Our Doctrine e depois revisado e ampliado por Stanley Horton em Bible Doctrines; A Pentecostal Perspective[4]. O Dr. Horton acentua seguintes três grandes verdades de nosso interesse na temática escatológica:

(1) Clara crença na doutrina da iminência (diferente da brasileira, a Declaração de fé dos nossos irmãos americanos é mais clara nesta importante doutrina chave para o arrebatamento da Igreja antes da Grande Tribulação) numa Vinda em duas fases: A ressurreição e o arrebatamento dos que dormem em Cristo, juntamente com os santos que estiverem vivos, é a iminente e bendita esperança da Igreja (Romanos 8.23; 1Coríntios 15.51,52; 1Tessalonicenses 4.16,17; Tito 2.13)[5]. A definição da “segunda vinda de Cristo” é bastante ampla; é vista pelo menos de duas maneiras diferentes. É localizada, às vezes, para indicar o drama dos tempos do fim, abrangendo tanto o arrebatamento da Igreja quanto a revelação de Cristo em glória no monte das Oliveiras (Zacarias 14.4). Outras vezes, é enfocada especificamente para diferençar a revelação de Cristo do arrebatamento da Igreja que a antecederá”[6]. “Após o arrebatamento, haverá um tempo de terrível tribulação e angústia predito pelos profetas do Antigo Testamento”[7].

Claramente a 13ª Verdade Fundamental trata do arrebatamento iminente e pré-tribulacional da Igreja.

 

(2) Clara crença na implantação do Reino messiânico de mil anos na Terra, e a salvação de Israel: A segunda vinda de Cristo inclui o arrebatamento dos santos, nossa bendita esperança. É seguida pela volta visível de Cristo com seus santos, para reinar sobre a terra por mil anos (Zacarias 14.5; Mateus 24.27,30; Apocalipse 1.7; 19.11-14; 20.1-6). Esse reino trará a salvação a Israel (Ezequiel 37.21,22; Sofonias 3.19,20; Romanos 11.26,27) e o estabelecimento da paz universal (Salmos 72.3-8; Isaías 11.6-9; Miquéias 4.3,4)[8].

(3) Claramente a 14ª Verdade Fundamental prescreve a Vinda pré-milenar e um Reino literal de mil anos na Terra. MENZIES & HORTON pontuam: “A Igreja Primitiva acreditava que Cristo retornaria para estabelecer o Seu Reino e reinar em Jerusalém como o verdadeiro e final Herdeiro do trono de Davi. Aceitava-se como literal a promessa de Jesus de que os 12 apóstolos sentar-se-iam sobre 12 tronos, para julgar e governar as 12 tribos do Israel já restaurado (Mateus 19.28)”[9].

 

Notamos claramente mais dois pontos chaves do dispensacionalismo: a interpretação e cumprimento literal das profecias e a distinção bíblica de Israel e da Igreja. Cremos que a Igreja se iniciou no dia de Pentecostes e de maneira nenhuma substituiu ou tirou Israel do plano de Deus. Na hermenêutica assembleiana, seguindo a interpretação dispensacionalista, não se confunde Israel com a Igreja e nem espiritualiza as bênçãos de Israel para aplica-las a Igreja como sinal de que a Igreja substituiu Israel. Como disse Paulo: “Deus não rejeitou o Seu povo, que antes conheceu” (Romanos 11.2). Portanto, rejeitamos peremptoriamente a “teologia da substituição” ou o “supersessionismo”. Respeito os seus proponentes, mas tal ensino deve ser rejeitado como não bíblico, pois se baseia apenas nas inferências teológicas distantes do pensamento dos autores bíblicos, alinhando-se apenas a certa Sistematização da Teologia.

 

Restauração e salvação futuras de Israel!

Nós entendemos que a salvação e a restauração de Israel são reafirmadas no Novo Testamento (cf. Mateus 19.28; 23.93; Atos 1.6; 3.19-21; Romanos 11.26-27). A Declaração de Fé das AD’s do Brasil pontua: “O Senhor Jesus assentar-se-á sobre o trono de Davi e, de Jerusalém, reinará sobre toda a humanidade (Miquéias 4.2-4). Esse reino trará salvação a Israel (Ezequiel 37.22,23); será a conclusão do programa divino sobre o povo de Deus, Israel (Sofonias 3.19,20)”[10].

Cremos piamente que Deus não reformulou, ressignificou, reinterpretou, alegorizou ou espiritualizou as profecias relacionadas a Israel. Abraçamos a mesma compreensão das profecias que são tomadas, interpretadas e entendidas no sentido usual comum, literal, gramatical e histórico que possibilitou o cumprimento literal das quase 120 profecias em Cristo.

Cremos que a incredulidade e o endurecimento de Israel não ressignificou as profecias e as promessas referentes a Israel e as transferiu para a Igreja, mas apenas, como disse Paulo, possibilitou que os gentios com os judeus crentes formassem a Igreja para posteriormente, completado a “plenitude dos gentios”, Deus tratasse novamente com o Seu povo, Israel, segundo Suas alianças e promessas incondicionais.

Não ignoramos que Paulo falou sobre a “queda”, a “diminuição” e até a “rejeição” de Israel, mas sem negar sua “plenitude”, e futura “admissão” e “salvação” (Romanos 11.12,15,26). A “rejeição” foi temporária para demonstrar uma misericórdia ainda maior. Isso já tinha sido discorrido pelo profeta Isaías: “Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei. Com um pouco de Ira escondi a Minha Face de ti por um momento; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o SENHOR, o teu Redentor” (54.7-8; 49.14-16; 54.1-5, 9-17). Promessas fantásticas!

Segundo o apóstolo dos gentios a situação atual de “endurecimento” (v.25) e “incredulidade” (v.20,23) de Israel, “veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado” (v.25). “E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E esta será a minha Aliança com eles, Quando Eu tirar os seus pecados” (Romanos 11.25-27). Não tem como negar a literalidade do cumprimento destas profecias (e outras!) do Antigo Testamento sobre a futura restauração e salvação de “todo o Israel” no programado profético de Deus! Pergunta-se: Deus “rejeitou o Seu povo, que antes conheceu”?, com Paulo eu digo altissonante: “De modo nenhum!” (Romanos 11.1,2).

Eu digo uma coisa: A segurança e permanência da eleição de Israel garante a segurança e a permanência da eleição da Igreja! Se Deus rejeitou Israel permanentemente como ensinam algumas teologias, quem garante que a Igreja pela sua incredulidade, endurecimento e pecados não faça com que Deus também não a rejeite, se assim Ele o quiser?

Só em pensar nesta possibilidade da quebra das Alianças por parte de Deus nos deixa trêmulos! No entanto, as palavras de Paulo são fortes: “Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; MAS, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Romanos 11.28). O mesmo Deus que encerrou Israel debaixo da desobediência para salvação dos gentios, irá, quando se completar a “plenitude dos gentios”, fazer com que todo o Israel alcance a misericórdia: “para com todos usar de misericórdia” (v.32).

Por tamanha revelação e misericórdia todos devem fazer o que Paulo fez: adorar! (vv.33-36):

Ó profundidade da riqueza, tanto da sabedoria como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis, os Seus caminhos!

Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o Seu conselheiro?

Ou quem primeiro deu a Ele para que Lhe venha a ser restituído?

Porque d’Ele, e por meio d’Ele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!

 

Ivan Teixeira

 



[1] Declaração de Fé das Assembleias de Deus: Jesus salva cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará, p.185. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 5ª impressão, 2018.

[2] Declaração de Fé, 2018, p.189.

[3] BRUMBACK, Carl. Like a River: The Early Yars of the Assemblies of God, p.55. Springfield, Mo.: Gospel Publishing House, 1977.

[4] Lançado no Brasil pela CPAD como Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Nossa Fé.

[5] MENZIES, William & HORTON, Stanley. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Nossa Fé, p.174. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 1995 – (10ª impressão).

[6] MENZIES & HORTON, 1995, p.179.

[7] MENZIES & HORTON, 1995, p.181.

[8] MENZIES & HORTON, 1995, p.190.

[9] MENZIES & HORTON, p.193.

[10] Declaração de Fé das Assembleias de Deus, p.189. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: CPAD, 5ª impressão, 2018.