Um Tratado da Doutrina
do Homem
No ensino básico, me ensinaram que
um sapo transformando-se num príncipe era um conto de fadas. Na universidade,
me ensinaram que um sapo transformando-se num príncipe era um fato![1]
RON CARLSON
Charles Darwin, nascido em 1809 e
falecido em 1882, era natural de Shrewbury, na Inglaterra. Foi educado em
Cambridge e trabalhou como naturalista. Com base em suas próprias pesquisas e
em ideias alheias, ele produziu sua grande obra sobre a origem das espécies,
que apareceu pela primeira vez a 24 de novembro de 1859.
Ele acredita que a origem e a história do homem, que seria apenas uma
espécie animal entre outras, podem ser explicadas por meio da hipótese de uma
seleção natural em que as variações favoráveis sobrevivem, e as desfavoráveis
perecem. Esse fator também traz à existência novas espécies, de tal modo que
ocorre a sobrevivência das espécies mais aptas. Por detrás da mesma,
naturalmente, temos de pensar na suposição de que a matéria inanimada foi a
fonte da primeira célula viva, produzida por processos químicos.
O problema difícil
De onde veio a primeira vida? Esse é o problema mais difícil para os
darwinistas. Se os darwinistas não têm explicação para a primeira vida, então
qual a razão de se falar sobre novas formas de vida? O processo de
macroevolução, se é que é possível, não pode nem mesmo ter início a não ser que
haja uma vida preexistente.
A posição dos darwinistas é ainda mais problemática quando se considera que
nem mesmo têm uma explicação para a fonte dos elementos químicos inanimados,
quanto mais uma explicação para a vida. Uma das mais profundas perguntas a
serem feitas é: "Se não existe Deus, por que existe alguma coisa além de
nada?". Os ateus não têm uma resposta plausível para essa pergunta.
Sugerir uma possibilidade não é suficiente – eles precisam apresentar provas,
se quiserem ser científicos.
Microevolução versus macroevolução
Chandra Wickramasinghe [que é ateu] disse:
"Acreditar que a vida surgiu por acaso é como acreditar que um Boeing 747
surgiu depois de um tornado ter passado por um ferro-velho". Você precisa
ter muita fé para acreditar nisso!
Você se lembra da macroevolução — do angu até tu, passando pelo
zoológico. É a crença de que todas as formas de vida descendem de um ancestral
comum — a primeira criatura unicelular — e que tudo isso aconteceu por meio de
um processo natural destituído de qualquer intervenção inteligente. Deus não
foi envolvido. Foi um processo completamente cego.
Os darwinistas dizem que isso aconteceu por seleção natural. Mas a
expressão "seleção natural" é incorreta. Uma vez que o processo de
evolução é, por definição, feito sem inteligência, não existe
"seleção" em tudo o que está acontecendo. É um processo cego. A
expressão "seleção natural" simplesmente significa que as criaturas
que sobrevivem são aquelas que melhor se adaptam. E daí? Isso é verdade por
definição — o mais adaptado sobrevive (isso é tautologia um argumento circular
que não prova coisa alguma). Logicamente essas são as criaturas mais bem
equipadas genética ou estruturalmente para lidar com condições ambientais
mutáveis (é por isso que elas sobrevivem).
Como exemplo de "seleção natural", considere o que acontece com
uma bactéria atacada por antibióticos. Quando a bactéria sobrevive a uma luta
com os antibióticos e se multiplica, esse grupo sobrevivente de bactérias pode
ser resistente àquele antibiótico. A bactéria sobrevivente é resistente àquele
antibiótico porque a bactéria mãe possuía a capacidade genética de resistir ou
uma rara mutação bioquímica de algum tipo a ajudou a sobreviver (dizemos
"rara" porque mutações são quase sempre prejudiciais). Uma vez que a
bactéria sensível morre, a bactéria sobrevivente multiplica-se e passa a ser
dominante.
Os darwinistas afirmam que a bactéria sobrevivente evoluiu. Tendo se
adaptado ao ambiente, a bactéria sobrevivente nos dá um exemplo de evolução.
Muito bem, mas que tipo de evolução? A resposta que estamos prestes a dar é
absolutamente crítica. De fato, definir "evolução" é talvez o ponto
de maior confusão na controvérsia evolução-criação. É aqui que os erros e as
falsas afirmações darwinistas começam a multiplicar-se tal como uma bactéria se
não forem verificadas por aqueles que acreditam que a observação é importante
para a ciência. É aqui que a observação nos diz: a bactéria que sobreviveu
continua sendo bactéria. Ela não evoluiu para outro tipo de organismo. Isso
seria macroevolução. Nunca se observou a seleção natural criando novos tipos. A
seleção natural pode ser capaz de explicar a sobrevivência de uma
espécie, mas não consegue explicar o surgimento de uma espécie.
Mas macroevolução é exatamente aquilo que os darwinistas afirmam dos dados.
Eles dizem que essas microtransformações observáveis podem ser extrapoladas
para provar que uma macroevolução não observável aconteceu. Não fazem nenhuma
diferenciação entre microevolução e macroevolução e, assim, usam a evidência da
micro para provar a macro. Ao deixarem de fazer essa distinção fundamental, os
darwinistas podem tapear o público em geral, fazendo as pessoas pensarem que
qualquer mudança observável em um organismo prova que a vida desenvolveu-se com
base em uma primeira criatura unicelular.
Por isso é essencial que se façam as distinções corretas e que todas as
suposições ocultas sejam expostas quando se discute a controvérsia
criação-evolução. Assim, se alguém um dia perguntar-lhe: "Você acredita na
evolução?", você deve responder com a seguinte pergunta: "O que você
quer dizer com evolução? Quer dizer micro ou macroevolução?". A
microevolução já foi observada; mas não pode ser usada como prova da
macroevolução, que nunca foi observada.
Os darwinistas são mestres em definir o termo "evolução" de uma
maneira ampla o suficiente de modo que a prova de uma situação possa ser
contada como prova de outra. Infelizmente para eles, o público está começando a
perceber essa tática, em grande parte devido às obras populares do professor de
Direito da Universidade de Berkeley, Phillip E. Johnson. Johnson
foi o primeiro a expor o truque de manipulação dos darwinistas em seu livro
arrasador intitulado Darwin on Trial [Darwin no tribunal]. É nessa obra
que ele destaca que "nenhuma das 'provas' [para a seleção natural] nos dão
uma razão persuasiva para acreditar que a seleção natural possa produzir novas
espécies, novos órgãos ou quaisquer outras mudanças importantes, nem mesmo
mudanças menores que sejam permanentes". O biólogo Jonathan Wells
concorda quando escreve que “mutações bioquímicas não podem explicar as
mudanças em larga escala nos organismos que vemos na história da vida”.
Confundir processos inteligentes com processos não inteligentes é um erro
comum dos darwinistas.
Complexidade irredutível
A complexidade irredutível significa que uma nova vida não pode vir a
existir por meio do método darwinista de pequenas e sucessivas mudanças durante
um longo período de tempo. O darwinismo é semelhante ao ato de forças naturais
— sem nenhuma ajuda inteligente — produzindo o motor de um carro de corrida
(i.e., uma ameba) e depois modificando o motor irredutivelmente complexo em
sucessivos motores intermediários até que as forças naturais finalmente
produzam o ônibus espacial (i.e., o ser humano). Os darwinistas não podem
explicar a fonte dos materiais que compõem o motor, muito menos de que maneira
o primeiro motor irredutivelmente complexo veio a existir. Também não podem
demonstrar o processo não inteligente por meio do qual qualquer motor tenha
evoluído até se transformar num ônibus espacial enquanto fornecia algum tipo de
propulsão nos passos intermediários. Isso fica evidente com base na completa
ausência de explicações darwinistas sobre a maneira pela qual um sistema
irredutivelmente complexo possa ter surgido gradualmente.
Michael Behe expõe as afirmações
vazias dos darwinistas:
A ideia darwinista da evolução molecular não está baseada na ciência. Não
há explicação na literatura científica — em periódicos ou em livros — que
descreva a evolução molecular de qualquer sistema bioquímico real e complexo
que tenha ocorrido ou que até mesmo possa vir a ocorrer. Existem afirmações de
que tal evolução aconteceu, mas absolutamente nenhuma delas é apoiada por
experimentos pertinentes ou por cálculos. Uma vez que não há autoridade na qual
basear as afirmações de conhecimento, pode-se verdadeiramente dizer que a
afirmação da evolução molecular darwinista é simplesmente arrogância[2].
Os darwinistas acham que a similaridade do DNA entre homens e macacos, por
exemplo, que varia de 85% a 95%, implica claramente a existência de um
relacionamento ancestral.
Mas essa é a evidência para um ancestral comum ou para um criador comum?
Poderia ser interpretada das duas maneiras. Talvez os darwinistas estejam
certos – é possível que tenhamos um código genético comum porque todos nós
sejamos descendentes de um ancestral comum. Mas, do mesmo modo, eles poderiam
facilmente estar errados — talvez tenhamos um código genético comum porque um
criador comum nos planejou para que vivêssemos na mesma biosfera. Além do mais,
se toda criatura viva fosse bioquimicamente diferente, provavelmente não
existiria uma cadeia alimentar. Talvez não seja possível existir vida com
diferentes formas bioquímicas. Mesmo que isso fosse possível, talvez ela não
sobreviveria nessa biosfera.
Similaridade e progressão
A similaridade de projeto prova a existência de um ancestral comum ou de um
projetista comum?
Será que o caldeirão evoluiu da colher de chá?
Embora seja verdade que há muitas semelhanças entre os homens e os
antropoides[3], e estas
sejam maiores do que as existentes entre o homem e outros animais, também é
verdade que há muitas diferenças entre o homem e os antropoides, algumas das
quais são bastantes significativas.
Alguns estudos mostram, por exemplo, que a similaridade do DNA de humanos e
de determinado macaco pode ser de cerca de 90%, outros estudos mostram que a
similaridade do DNA dos humanos e dos ratos também é de cerca de 90%.
Há algum significado?
O niilismo é a opinião de que a vida não tem significado intrínseco ou objetivo.
Muitos caminhos serpeiam em direção ao niilismo, mas nenhum é mais sedutor do
que aquele que diz que os seres humanos não são nada além de uma coleção de
moléculas arranjadas de modo útil, seres que surgiram por puro acaso da sopa
primordial. Onde está o significado em seres desse tipo? Do ponto de vista da
Bíblia, o significado da vida está vinculado ao fato de sermos criados por
Deus, à Sua imagem, e para Deus, com um destino eterno. Isso muda radicalmente
nossa percepção do que os seres humanos são. Do contrário, andamos em direção
ao que um filósofo chamou de “incoerência autorreferencial”. O que ele
pretendia dizer com essa expressão é que nos comparamos a nós mesmos. Não temos
padrões externos pelos quais alguma coisa deva ser julgada; não podemos achar
uma âncora para nosso ser, em nenhum lugar. Por isso, mergulhamos em prazeres
temporários, ou na busca de dinheiro, ou na autopromoção, mas não temos uma
âncora que nos firma e nos dá um significado que esteja além de nós mesmos[4]. No
entanto, as Escritura ensinam que os seres humanos são a imagem de Deus e que
foram criados para um propósito sublime de glorificar a Deus e alegrar-se n’Ele
para sempre. Sim, há um significado e um grande propósito!
O claro ensinamento bíblico de que há propósito na obra divina da criação
parece incompatível com a característica aleatória da teoria evolutiva. Quando
as Escrituras relatam que Deus disse: “Produza a terra seres viventes, conforme
a sua espécie: animais domésticos, répteis e animais selváticos, segundo a sua
espécie” (Gn 1.24), elas retratam um Deus que fazia as coisas deliberadamente,
e cada uma delas com um propósito. Mas isso é o inverso de permitir que as
mutações avançassem de modo inteiramente aleatório, sem que tivesse
propósito nenhuma das milhões de mutações que, segundo a teoria evolutiva,
gerariam uma nova espécie[5].
As Escrituras ensinam que a força propulsora no desenvolvimento dos novos
organismos é o desígnio inteligente de Deus, que criou “os grandes
animais marinhos e todos os seres viventes que rastejam, os quais povoavam as
águas, segundo as suas espécies; e todas as aves, segundo as suas espécies” (Gn
1.21).
O que diz a Bíblia?
O primeiro livro da Bíblia, Gênesis, indica uma criação “especial”
do homem. O texto nos diz que Deus o formou do pó da terra e soprou nas suas
narinas o fôlego da vida, de tal maneira que ele se tornou uma alma vivente
(2.7). O homem foi criado à imagem de Deus (1.27). Os primeiros capítulos de Gênesis
ensinam claramente que o homem, desde o início, estava separado das espécies
animais, era moralmente responsável, e por sua própria escolha alienou-se de
Deus e se tornou pecador. A Bíblia descreve de capa a capa a misericórdia de
Deus ao enviar o Seu Filho para redimir os homens das consequências do pecado
pelo qual eles eram responsáveis. As Escrituras ensinam que o pecado é o
resultado da escolha do homem; a evolução sugere que é a herança de seus
ancestrais animais. Se, na realidade, o homem se desenvolveu por um processo de
evolução dos ancestrais animais, e se, como resultado deste tipo de
desenvolvimento, continua a violar a lei de Deus, logo, Deus compartilhava de
alguma responsabilidade pela condição pecaminosa do homem. Não seria a
misericórdia de Deus que o levaria a enviar Seu Filho para redimir o mundo; seria
uma obrigação da mera justiça[6].
A influência humanista na teologia
Sob essa influência há todo um movimento que podemos chamar de teologia
liberal, com sua atitude excessivamente extensa de crítica analítica, que
procura remover da Bíblia todos os fatores não racionais e sobrenaturais,
rebaixando a Bíblia a um simples grande livro da religião, em vez de ser a
Palavra de Deus.
Quando se nega a historicidade e a literalidade dos relatos bíblicos,
reduzindo-os a mitos e estórias primitivas, abre-se a porta para toda e
qualquer teoria conflitante com a revelação divina.
A interpretação figurada do relato da criação em Gênesis parece
enfraquecer doutrinas fundamentais da fé cristã. Ao negar a historicidade do
primeiro Adão, esta posição também é um convite ao ceticismo no tocante ao
significado da cruz de Cristo, o Segundo Adão (Rm 5.12-21), como evento
histórico e, desta maneira, coloca em perigo toda estrutura da mensagem cristã.
O darwinismo e a ética
Já que o homem é produto da evolução, a ética humana, portanto, também
seria um produto da evolução. Na opinião de Charles Darwin terminamos em
uma ética relativa, segundo a qual os padrões se alteram à medida que se altera
a biologia do ser humano. O ser humano é um ente que está crescendo ou
evoluindo também na compreensão apropriada dos princípios éticos, através do
seu processo de evolução.
O evolucionismo colocou o homem numa caixa eticamente relativa, sem padrão
moral, mediante o qual possa avaliar os valores morais conflitantes que observa
em si mesmo e nos outros.
Derivados de quê?
Infelizmente os evolucionistas teístas aceitam a explicação naturalista que
diz que a humanidade é geneticamente derivada de um ancestral não-humano. Além
disso, em Gênesis 2.7 declara-se que “formou o Senhor ao homem do pó da
terra, e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma
vivente”. Embora não seja especificado o processo de formação, parece
transmitir o conceito da criação especial a partir de matéria inorgânica, em
vez da criação derivada, através de alguma forma já vivente.
Nós cristãos que acreditamos na Bíblia e na verdadeira ciência aceitamos
que toda a criação tem um desígnio ativo e deliberado da parte de Deus, e já
não há necessidade do acaso nem de nenhum desenvolvimento oriundo de mutação
aleatória. Admitimos que Deus criou imediatamente cada uma das criaturas,
descartando as milhares de tentativas fracassadas apoiadas pelo evolucionismo.
Acreditamos e afirmamos que a Palavra criadora de Deus gerava resultados
imediatos. Quando a Bíblia fala da Palavra criadora de Deus, enfatiza o poder
dessa Palavra e sua capacidade de realizar o Seu propósito. Lemos no Salmo
33.6,9: “Os céus por Sua Palavra se fizeram, e, pelo sopro de Sua boca, o
exército deles. [...] Pois Ele falou, e tudo se fez; Ele ordenou, e tudo passou
a existir”.
Esse tipo de declaração parece incompatível com a ideia de que Deus falou
e, após milhões de anos e milhões de mutações aleatórias nas coisas vivas, Seu
poder finalmente produziu o resultado que Ele demandava. Antes, assim que Deus
ordena “Produza a terra relva”, já o próximo período nos diz: “E assim se fez”
(Gn 1.11).
Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini
Soli Deo Gloria
[1] GEISLER,
Norman & TUREK, Frank. Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu, pg.
101. São Paulo, SP, Brasil: Editora Vida Acadêmica, 2006. – (versão em PDF).
[2] Apud GEISLER,
2006, p.108.
[3] Os
macacos antropoides, que não têm rabo, são os animais mais semelhantes ao ser
humano. “Antropoide” significa “que se parece com um homem”. Algumas
classificações incluem o próprio homem no grupo dos antropoides. Homens e
macacos antropoides pertencem ao grupo de animais que os cientistas chamam
primatas. As demais espécies de macacos também são primatas, mas os antropoides
são diferentes deles em muitos pontos. Por exemplo, os antropoides têm um
cérebro mais complexo. As outras espécies de macacos têm rabo; os antropoides,
não.
[4] CARSON,
D. A. O Deus Presente, p.32-33. São José dos Campos, SP, Brasil: Editora
Fiel, 2012.
[5] GRUDEM,
Wayne A. Teologia Sistemática, p.211. São Paulo, SP, Brasil: Edições
Vida Nova, 1999.
[6] KLOTZ,
J. W. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vol. II E – M,
p.267-268. São Paulo, SP, Brasil: Edições Vida Nova, Reimpressão: fevereiro de
1992.
Nenhum comentário:
Postar um comentário