segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

MAGIA GOSPEL E SEUS COMPANHEIROS!


A MAGIA DO FIM DE ANO; OS PROJETOS PROFÉTICOS; O EMPREENDEDORISMO DO PALCO ECLESIÁTICO E A TEOLOGIA COACHING

Essa é minha forma de lhe dizer: FELIZ 2019!!!

Graças a Deus chegamos ao término de mais um ano e o próximo ano se avizinha. Como sempre os sentimentos e as emoções dominam as pessoas (isso é bom). Ouvimos e vemos renovação de laços de amizades, e grandes promessas na igreja local e por aí vai. Muitos se vestem de branco, outros de vermelho e ainda têm os que gostam de preto, acendem velas e verbalizam muitas promessas e decisões. Claro que no meio gospel não tem sido diferente. Lemos, vemos e ouvimos essa “magia” do fim de ano presente nas preparações de final de ano. Pessoas que "nada" fizeram durante o ano que se passou, agora se erguem com promessas mirabolantes para o próximo ano. Outros elencam projetos proféticos para as igrejas locais como se num passe de mágica as coisas mudassem sem nenhuma perseverança, meditação nas verdades do evangelho, e sem nenhuma filosofia de ministério teologicamente sadia e implantada paciente e persistentemente ao longo dos tempos. Claro que isso não nos admira, pois é apenas a colheita da semeadura do pragmatismo e das campanhas mirabolantes.

Às vezes me pergunto: “Porque nossos pastores não leem a Bíblia para entender o que Deus quer de Sua igreja e daí elabora uma filosofia ministerial e eclesiástica e perseverantemente durante dias, meses e anos a colocam em prática, independente da “magia” do fim de ano?”.
Muitos não sabem ou ignoram que Deus já esboçou o PROJETO ministerial e eclesiástico. O que devemos fazer é deixar de sermos tolos e de ficar encantados com o canto da sereia do pragmatismo, da teologia da prosperidade e do entretenimento gospel. Precisamos de pastores que sejam cheios do Espírito Santo e da Palavra (as duas coisas são sinônimas: Ef 5.18 e Cl 3.16). Líderes que guiem o rebanho de Deus diária e perseverantemente nas verdades do evangelho, não apenas quando contagiados pela “magia” do fim de ano. Eu creio que Deus é poderoso para levantar pastores sábios e inteligentes para liderar continuamente o Seu povo nas grandes verdades do santo evangelho!

A TEOLOGIA COACHING
E para complicar mais e mais as coisas no mundo gospel brasileiro, presenciamos uma nova teologia (alguns dizem que é a substituta da teologia da prosperidade, pois essa já está desacreditada) adentrando sorrateiramente nossos arraias eclesiásticos. A Cultura do Coaching penetra a filosofia ministerial e eclesiástica desvirtuando as pessoas mais e mais do santo evangelho. O Coach (treinador) gospel tem a função de estimular, apoiar e despertar em seu cliente (os crentes), também conhecido como Coachee (Coachrentes – kkk), o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja. Se na teologia da prosperidade Deus era um meio (como um gênio de uma lâmpada) para minhas conquistas e enriquecimento, na Teologia Coaching Deus é descartado, pois EU TENHO A FORÇA INFINITA PARA REALIZAR O QUE DESEJO. Para isso basta eu saber configurar minha mente (MindSet) para encontrar o meu potencial e o caminho do sucesso. Tudo num passe de mágica! Nesta teologia não há espaço para trabalho duro, perseverança na doutrina, na oração e na comunhão da igreja local, ou seja, indiretamente "descarta" os elementos bíblicos para a saúde, crescimento e edificação da igreja. Tudo depende do meu treinador (Coach) me ensinar a despertar a força que está dentro de mim. Os novos "H-Mans" gospel já estão em cena com seus Castelos de Grayskull’s. Os fazedores de Campanhas (os Coaching gospel) terão um prato cheio para atrair os coachrentes.....
Junto com a Teologia do Coaching cresceu o que chamo de “Empreendedorismo de Pacto Eclesiástico”. São líderes que fazem seminários nas igrejas ou em hotéis e etc., e trabalham com palestras motivacionais (ou uma espécie do evangelho psicologizado e terapeutizado e etc). Faço uma citação penetrante de ÍCARO DE CARVALHO no seu artigo POR QUE O EMPREENDEDORISMO DE PALCO IRÁ DESTRUIR VOCÊ?
O empreendedorismo é a nova religião do homem moderno. Materialista e secular, ele substituiu os Santos do seu altar por fotografias de homens bem sucedidos; os seus Evangelhos são livros como “O sonho grande” e “A força do Hábito”. Ele acredita, de alguma maneira, que tudo aquilo irá aproximá-lo do seu objetivo principal: sucesso, fama e dinheiro…de preferência agora!

Essa cultura construída em torno do coaching e do Empreendedorismo de Palco é em sua maioria materialista. O objetivo de muitos é o sucesso financeiro, e isso significa enriquecer. Com um fator especial: o mais rápido possível (imediatismo). É comum ler e ouvir grandes promessas e ensinamentos sobre como trabalhar menos e ganhar mais. O foco está no esforço intelectual e físico daquele que está buscando seu lugar ao sol. É dessa cultura de palco, sonhos, riquezas e promessas que estou falando. Já viu onde isso vai chegar à igreja? Vamos falar disso agora! (apud Pedro Pamplona).

O Coaching na Igreja (aqui transcrevo a excelente exposição de Pedro Pamplona com algumas observações minhas).
Eu já vi (Pedro Pamplona) palestras de coaching acontecendo onde deveria haver uma pregação da Palavra. Isso mesmo, em pleno culto público. Infelizmente essa cultura chegou a muitas igrejas. E se eu já não me dou bem com ela no mercado de trabalho, na igreja não tenho medo de dizer que ela é minha inimiga. Assim como repudio a Teologia da Prosperidade também o faço com essa nova onda da Teologia do Coaching. Em alguns sentidos essa segunda chega a ser pior do que a primeira. Vamos analisar três pontos que constroem a Teologia do Coaching.

HUMANISMO: O coaching utiliza de técnicas humanas num indivíduo que é o centro de tudo para que este alcance seus objetivos humanos. Muitos pastores e líderes têm enveredado por esse caminho. Tratam suas pregações como palestras motivacionais da fé que confundem fé com força e vontade, evangelho com motivacionismo e Cristo com um palestrante. O foco está naquilo que o homem pode fazer através da sua fé pessoal. A TUA FÉ GERA – VOCIFERA MUITOS NAS CAMPANHAS. Fé essa que passa por Cristo, mas que tem seu objeto na própria pessoa e nos seus esforços dirigidos. Muitas “pregações” tem o mesmo objetivo do coaching, ou seja, estão “visando à conquista de grandes e efetivos resultados [pragmatismo] em qualquer contexto, seja pessoal, profissional, social, familiar, espiritual ou financeiro”. O apelo pode ser até espiritual, mas ainda assim você já deve ter escutado muito coisas do tipo “como ser o melhor marido”, “como atrair e fidelizar pessoas para o reino”, “alcançando sucesso através da fé.”. Tudo isso travestido de espiritualidade…

MATERIALISMO: há um desejo enorme em conquistar coisas. Sejam elas produtos do mercado como carros, casas, roupas, viagens ou algo mais “espiritual” como paz, pessoas, bom casamento, filhos educados, castidade, etc. As pessoas querem conquistar, possuir e avançar, sendo tudo isso fruto não da humilhante auto confrontação e negação de si mesmo, mas da autoafirmação. O papel do pastor se tornou muito parecido com o do coach: “estimular, apoiar e despertar em seu cliente (ovelha)… o seu potencial infinito para que este conquiste tudo o que deseja”. É exatamente isso que essa mistura humanista-materialista busca: o potencial infinito de cada ser humano para conquistar aquilo que ele deseja [VOCÊS SÃO DEUSES – A AFIRMAÇÃO DA SERPENTE PARA EVA: “SERÃO DEUSES!”]. Há uma conexão com o existencialismo, onde o indivíduo e sua busca pessoal por significado em si mesmo passa a ser o centro do pensamento filosófico.

CETICISMO: Humanismo e materialismo são marcas de seres céticos. A crença no Deus da Bíblia é cada vez mais fraca onde esse tipo de cultura se manifesta. Como eu já disse, a Teologia do Coaching busca descobrir o potencial de todas as pessoas para que ela alcance seus próprios objetivos. Dependência de Deus é algo apenas fantasiado. Orações são feitas apenas para que Deus abençoe nossos planos e para que Ele nos dê apoio em nossa própria empreitada. O sobrenatural é esquecido e Deus vai ficando cada vez mais distante. Na Teologia do Coaching o soberano é o indivíduo com suas decisões de fé e sucesso. Em muitas igrejas tudo que você vai encontrar nos púlpitos são mensagens sobre o que os homens podem fazer para serem alguma coisa melhor do que já são. Até a mistura com conteúdos de coaching, marketing pessoal e psicologia você encontrará. Aliás, tem sido comum pastores e líderes entrarem nesses cursos e palestras para serem mais persuasivos, contagiantes e teatrais (pra não usar manipuladores). O Espírito Santo não tem muito espaço na Teologia do Coaching, mesmo que usem seu nome. [A PREGAÇÃO BÍBLICA EXPOSITIVA É DESCARTADA COMO ANTIQUADA E SEM SUCESSO].

A SUBSTITUTA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE, TODAVIA MAIS MORTÍFERA
São por esses motivos principais que digo que a Teologia do Coaching está substituindo a Teologia da Prosperidade. Esse discurso tem atraído jovens, empresários, profissionais liberais, e todo o tipo de gente, principalmente na classe média. E aqui está a transição entre as duas abordagens. A Teologia da Prosperidade faz uma barganha com Deus crendo que Ele efetuará milagres para benefício material e espiritual do homem. A Teologia do Coaching eliminou a barganha ao deixar Deus de longe, mas passou a ter no próprio homem a força “milagrosa” para seu benefício material e espiritual. Na Teologia da Prosperidade ainda há certa dependência de Deus e seu agir sobrenatural, enquanto na Teologia do Coaching o homem declarou sua independência. O relacionamento de barganha foi substituído para o relacionamento de plateia. O Deus da Teologia do Coaching está assistindo e torcendo pelos grandes empreendedores no palco da fé. Talvez você ache ruim o uso da palavra coaching, mas quero que você entenda a expressão completa “teologia do coaching” que estou usando para definir esse tipo de abordagem.
Essa é uma teologia mais sutil, que parece mais humilde, mas na verdade transborda soberba ainda mais do que a tenebrosa Teologia da Prosperidade. Seu ambiente menos escandaloso e mais conformado a cultura secular permite que esse tipo de abordagem lote igrejas e obtenha grande aceitação. Geralmente se fala o que as pessoas querem ouvir e pecados são tratados como pedra e obstáculos no caminho que devem ser superados [ALIÁS, VOCÊ SUPERA TUDO – AUTOAJUDA E NÃO AJUDA DO ALTO. AQUI NÃO PRECISA DO EVANGELHO]. A pregação fica até mais dinâmica, com uso de mídias, frases de efeito e motivação mútua. Tudo isso associado com o desejo material dos nossos dias só contribuem para que a Teologia do Coaching ganhe terreno. Logo nós teremos grandes problemas com ela e talvez ela chegue ao mesmo patamar da Teologia da Prosperidade. Que Deus nos livre e proteja disso!

Tenho me preocupado com o rumo que os líderes e as igrejas locais têm tomado por conta disso.
Precisamos voltar para o CRISTIANISMO PURO E SIMPLES exposto por C. S. LEWIS; precisamos entender a CONTRA CULTURA de JOHN STOTT; precisamos abraçar SIMPLESMENTE CRENTE ensinado por MICHAEL HORTON e também precisamos de uma IGREJA ORDINÁRIA, segundo a mensagem pregada por JOHN MACARTHUR.

Aliás, precisamos resgatar os Cinco Pontos do Pentecostalismo bíblico:
JESUS SALVA,
JESUS CURA,
JESUS SANTIFICA,
JESUS BATIZA e
JESUS VOLTARÁ OUTRA VEZ!

FELIZ 2019!
QUE DEUS ESPÍRITO SANTO NOS GUIE PARA SUA PALAVRA!

Ivan Teixeira
Minister Verbi Divini

domingo, 30 de dezembro de 2018

HERMENÊUTICA PENTECOSTAL: PRECEDENTE HISTÓRICO


HERMENÊUTICA PENTECOSTAL: A Importância do “Precedente Histórico” para formulação da Teologia da Subsequência.
(Alguns insights)


Interpretação Bíblica
Desde que o reavivamento pentecostal dos tempos modernos começou, os crentes cheios do Espírito viram a Bíblia como a Palavra de Deus e tomaram isso como valor nominal. Sua experiência do Espírito Santo moldou sua compreensão da Bíblia como a Palavra de Deus, que “não representa apenas testemunho de Deus, mas é a própria Palavra de Deus” (ARCHER, Kenneth J., “Pentecostal Hermeneutics,” Journal of Pentecostal Theology = “Hermenêutica Pentecostal”, Jornal da Teologia Pentecostal). Ainda fiéis a essa visão das Escrituras, os eruditos pentecostais tornaram-se mais hábeis em interpretar as questões do Espírito do que alguns dos intérpretes anteriores. Seguir princípios bíblicos sólidos de interpretação é vital para uma hermenêutica pentecostal.

A experiência pentecostal não deve nos levar a desconsiderar o contexto histórico de uma passagem da Escritura nem seu significado gramatical ao interpretá-la. Todos os princípios de interpretação são importantes, incluindo a experiência e a iluminação do Espírito Santo (ver ARRINGTON. French L. “Hermeneutics, Historical and Charismatic,” Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements = “Hermenêutica, Histórico e Carismático”, Dicionário dos Movimentos Pentecostais e Carismáticos). As Escrituras são espirituais, portanto devem ser entendidas espiritualmente - isto é, pela ajuda atual do Espírito Santo. O próprio Paulo ensina que a iluminação do Espírito é essencial para compreender o significado mais amplo de um texto bíblico.

Até que o Espírito Santo, que tem pleno conhecimento das coisas profundas de Deus, ilumine o texto, sua verdade permanece obscura (1 Coríntios 2:6-16). O Espírito Santo preenche a lacuna de tempo entre a inspiração no passado e a interpretação no presente (MOORE, Rickie. “Pentecostal Approach to Scripture,” The Seminary Viewpoint 8, no. 1 = “Abordagem Pentecostal da Escritura”, O Ponto de Visto do Seminário 8, nº 1). Portanto, assim como a Escritura tem o selo do Espírito sobre ela, a interpretação sonora também tem a marca do Espírito sobre ela (STRONSTAD, Roger. Spirit, Scripture & Theology = Espírito, Escritura e Teologia). Em suma, o que foi dado pelo Espírito deve ser interpretado pela ajuda do Espírito.

Ensinando Doutrina a partir das Narrativas Bíblicas
Alguns estudiosos modernos rejeitaram as narrativas bíblicas como base para o ensino da doutrina. Devemos ter em mente que toda a Escritura é inspirada por Deus e é proveitosa para a doutrina (2Tm 3:16). Uma gama completa de gêneros (formas literárias) pode ser encontrada na Bíblia - narrativa histórica, código legal, poesia, parábolas, escrita apocalíptica, evangelhos, epístolas e assim por diante. A narrativa compõe mais da Bíblia do que qualquer outra forma, e tanto Jesus como Paulo usaram as narrativas do Antigo Testamento para ensinar a doutrina (Marcos 2:25-26; 10:6-9; 1 Coríntios 10:1-11). Isto significa que quando lemos as histórias da Bíblia, não apenas aprendemos fatos históricos, mas também que o escritor inspirado tem uma perspectiva teológica sobre o que aconteceu, isto é, verdades que devem ser tiradas da história. Frequentemente, ele escolherá histórias com um tema básico (ou temas) e enfatizará repetidamente a verdade específica que ele deseja ensinar (KEENER, Craig S., “Rightly Understanding God’s Word,” = “Compreender Corretamente a Palavra de Deus”, The Pneuma Review 8, no. 2).

Lucas escreveu o terceiro Evangelho e o Livro de Atos, ambos narrativos históricos e constituem um único trabalho. Além de historiador, Lucas é creditado por vários eruditos bíblicos como sendo um teólogo em seu próprio direito. Isso significa que Lucas viu Deus trabalhando na história e que ele usa a história para apresentar sua teologia, esperando que seus leitores tirem lições doutrinárias e morais dos relatos. Falando a este ponto, J. Ramsey Michaels, um proeminente erudito não pentecostal, diz: “Não há nada de errado em princípio com derivar crenças e práticas normativas das narrativas” (“Evidências do Espírito, ou o Espírito como Evidência?”. - Reflexões pentecostais = “Evidences of the Spirit, or the Spirit as Evidence? Some non-Pentecostal Reflections,” Initial Evidence, ed. by Gary B. McGee).

O livro de Atos, portanto, não deve ser visto meramente como história, mas também como base para a doutrina. De fato, é apropriado estabelecer doutrina não apenas nas porções didáticas da Escritura, mas também nos relatos narrativos em Atos sobre o derramamento do Espírito Santo (2:1-4; 8:14-24; 10:1-48; 19:1-7). Nestas narrativas, Lucas registra a experiência pentecostal, com base no que tem sido chamado de "precedente histórico", que alguns negam deve ser usado para estabelecer a doutrina. Roger Stronstad observa atentamente:
A teologia pentecostal não é derivada principalmente da narrativa histórica com base no precedente histórico. Ao contrário, a teologia pentecostal é derivada das chamadas porções didáticas da narrativa de Lucas. Especificamente, ela é derivada das seguintes porções didáticas: (1) o ensino de Jesus, (2) os sermões e ensinamentos dos apóstolos e (3) termos teológicos que estão embutidos na narrativa histórica cujos significados são moldados por sua pré-história e não do que da própria narrativa (“Hermenêutica Pentecostal”, Pneuma 15, nº 2).

Alguns insistem que as narrativas são apenas descritivas e que o precedente histórico não deve ser usado para estabelecer o que deve ser fundamental para a experiência e doutrina cristãs, como um batismo pós-conversão no Espírito acompanhado de falar em línguas. É verdade que, como os não-pentecostais apontam, não há declaração escriturística de que a experiência dos discípulos no Pentecostes é para todos os crentes e as línguas são a evidência da experiência. Da mesma forma, não há afirmação de que Deus existe em três pessoas nem que Cristo é totalmente Deus e totalmente homem, mas concluímos pelo ensino da Escritura que ambos são verdadeiros. De que outra forma poderíamos justificar a doutrina da Trindade e que Cristo é humano e divino, mas uma só pessoa?
No entanto, Lucas em seu Evangelho faz um relato narrativo da vida e ministério de Cristo, e faz o mesmo em Atos em relação à vida e ministério da igreja primitiva. Nos dois livros, Lucas registra a história e ensina a doutrina. A unidade de Lucas-Atos exige que reconheçamos a unidade do histórico e doutrinal em ambos os livros (ver STRONSTAD, Spirit, Scripture & Theology). Com a atividade do Espírito Santo central para Lucas-Atos, na narrativa de abertura deste Evangelho, o dom carismático do Espírito é concedido a Jesus no Seu batismo por João (Lucas 3:21-22). Da mesma forma, no início da narrativa de Atos, o Espírito enche os discípulos no dia de Pentecostes (Atos 2:4). A partir desse derramamento do Espírito, vemos um padrão recorrente que inclui o batismo no Espírito que é distinto e separado da conversão e acompanhado pela glossolalia (8:14-24; 9:17; 10:44-46; 19:1-7). O Batismo no Espírito é uma experiência para todos os crentes não limitada a qualquer grupo étnico, classe social ou localização geográfica: “Porque a promessa é para vocês e seus filhos e para todos os que estão distantes, tantos quantos o Senhor nosso Deus quiser chama a si mesmo” (2:39). Deus iniciou e comandou essa experiência (Lucas 24:49; Atos 1: 8; 2:14 e segs.).
A experiência dos discípulos em Atos 2 seguiu o padrão estabelecido pela experiência de Jesus no Seu batismo (Lucas 3:21-22), e a experiência dos discípulos no Dia de Pentecostes é o modelo para todos os outros crentes - incluindo os crentes em Samaria, Saulo de Tarso, a casa de Cornélio e os discípulos em Éfeso. Assim, além de Atos 2, Lucas dá quatro outros relatos narrativos de experiências semelhantes às dos discípulos no Pentecostes. Ao examinarmos e revisarmos esses cinco relatos do derramamento do Espírito, nosso foco está no fenômeno de falar em línguas (idiomas) como a evidência física inicial do batismo no Espírito. - (ARRINGTON, French. Issues in Contemparary Pentecostalism. Copyright © 2012 pela Pathway Press. 1080 Montgomery Avenue, Cleveland, Tennessee 37311).

O teólogo pentecostal Gordon Fee, após discutir o uso hermenêutico da narrativa histórica em geral elenca três princípios específicos para o uso do precedente histórico na formulação da Teologia da Subsequência. Termino esse pequeno ensaio, postulando estes três princípios do Dr. Fee:
1. O uso do precedente histórico como uma analogia para estabelecer uma norma nunca é válido em si.
2. Embora possa não ter sido o propósito primordial do autor, as narrativas históricas têm e, às vezes, valor de “padrão”.
3. Em questões de experiência cristã, e ainda mais na prática cristã, os precedentes bíblicos podem ser considerados padrões repetitivos - mesmo que não devam ser considerados como normativos.

FEE, Gordon D., “Hermeneutics and Historical Precedent - A Major Problem in Pentecostal Hermeneutics,” in Perspectives on the New Pentecostalism, edited by Russell P. Spittler (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1976), 118-132.

Com base em suas diretrizes para o uso de precedentes históricos, Fee então discute a relação entre os distintivos pentecostais (o batismo no Espírito Santo com o falar em línguas como evidência, e distinto de, e subsequente à conversão) e precedente histórico. Fee afirma, “...para Lucas (e Paulo), o dom do Espírito Santo não era algum tipo de complemento à experiência cristã, nem era uma espécie de segunda e mais significativa parte da experiência cristã. Foi antes o elemento principal no evento (ou processo) de conversão cristã”.
Além disso, “A questão de saber se as línguas são a evidência física inicial da qualidade carismática da vida no Espírito é um ponto discutível”(Ibid.,130) ...insistir que é o único sinal válido parece colocar muito peso no precedente histórico de três (talvez quatro) exemplos em Atos.”(Ibid.,131).
“O que então,” pergunta Fee, “os pentecostais podem dizer sobre sua experiência em vista dos princípios hermenêuticos sugeridos neste artigo [No artigo de Fee]?”(Ibid.,131) Para sua pergunta, Fee dá uma resposta quíntupla, concluindo:
Já que falar em línguas era uma expressão repetida dessa dimensão dinâmica, ou carismática, da vinda do Espírito, o cristão contemporâneo também pode esperar isso como parte de sua experiência no Espírito. Se os pentecostais não disserem que alguém deve falar em línguas, ele certamente dirá: por que não falar em línguas? Ele tem precedentes bíblicos repetidos, tem um valor evidencial na casa de Cornélio (Atos 10:45-46) e - apesar de muito do que foi escrito em contrário - tem valor tanto para a edificação do indivíduo crente (1Co 14:2-5) e, com interpretação, para a edificação da igreja (1Co 14:5,26-28).(Ibid.,132).


IVAN TEIXEIRA.

sábado, 29 de dezembro de 2018

PENTECOSTALISMO DE CINCO PONTOS!


Convite para abraçar o “Evangelho Quíntuplo”!
Quando se analisa os desenvolvimentos históricos do Movimento Pentecostal, percebe-se algumas crenças distintivas deste precioso Movimento. Sendo conciso, encontramos àqueles que, dentro da tradição wesleyana de santidade, afirmavam o quadrilátero pentecostal: (1) Jesus salva, (2) Jesus cura, (3) Jesus batiza com o Espírito Santo e (4) Jesus Voltará como Rei. Por outro lado, mormente aqui no Brasil, os missionários pioneiros elencaram a Trilogia Pentecostal: (1) Jesus salva, (2) Jesus batiza com o Espírito Santo e (3) Jesus Voltará. Contudo, estudando a herança histórica do Pentecostalismo, percebemos que também houve uma ênfase quíntupla, também chamada de Evangelho Pleno.
Particularmente, como pentecostal, incentivo e convido a todos a retornarem aos distintivos doutrinários do que ficou conhecido historicamente como o Evangelho Pleno (Full Gospel). Os distintivos doutrinários do Evangelho Pleno, como também nos anteriores, são cristocêntricos (centrados em Cristo): (1) Jesus salva; (2) Jesus santifica; (3) Jesus batiza com o Espírito; (4) Jesus cura e (5) Jesus voltará como Rei.
Deve-se entender que por causa do crescimento do Movimento Pentecostal e de suas características distintas em vários lugares, os distintivos doutrinários variavam entre a trilogia, o quadrilátero e o Evangelho Quíntuplo. Todavia, não se entende que os itens ausentes eram negligenciados, mas apenas postulados dentro dos outros elementos. Por exemplo: Jesus salva e cura; Jesus santifica e batiza com o Espírito Santo.  Baseio isso tanto por experiência própria quanto pela leitura de vários livros sobre o pentecostalismo.
Tendo ciência destas verdades, como pentecostal, elenco um convite a todos os que pertencem esta preciosa herança a abraçarem o Evangelho Quíntuplo! Assim como a herança reformada abraça um ministério tríplice de Cristo (Sacerdote, Profeta e Rei) em suas formulações teológicas, convido os pentecostais brasileiros a articularem mais e mais um ministério quíntuplo de Cristo (Salvador, Curador, Santificador, Batizador e Rei que virá) como ênfase e herança do gigantesco Movimento Pentecostal.
Por que faço esse convite? Porque o cenário em muitas igrejas pentecostais é lamentável! Têm-se perdido estes distintivos. Em outros rincões, nunca se ouviu falar! Noutros lugares, foram anuviados pelas campanhas mirabolantes. Isso sem falar do pragmatismo, da psicologização da fé, da socialização da missão da igreja e etc., e etc., e etc.,
Tenho lamentado alhures que muitas igrejas pentecostais já foram despentecostalizadas, mormente no sentido do Pentecostalismo Clássico. Todavia, Deus em Sua bondade tem levantado em nossa nação a Editora Carisma bem como homens e mulheres comprometidos com essa rica herança do Movimento Pentecostal para tornar sua História, Hermenêutica, Doutrina/Teologia e Práxis conhecidos do povo brasileiro.
Como Pentecostais cremos que as narrativas contidas no Livro de Atos não são para meras informações históricas de uma igreja que se passou, mas postulados instrutivos para aquilo que a igreja deve ser. Entendemos que o Cristo Ressurreto e Exaltado continua governando Sua igreja sob os auspícios da Obra, unção e poder do Espírito Santo. Esse Cristo é Aquele que salva, cura-liberta, santifica, batiza e que um dia virá arrebatar Sua igreja – Jesus Cristo é o Sujeito ativo de todas as obras! Por isso, tenho enfatizado a cristocentricidade do pentecostalismo.
Queira Deus avivamo-nos outra vez!

Ivan Teixeira

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

PENTECOSTALISMO HAGIOMÁTICO: O Coração da Doutrina da Salvação.


Santificação como Preocupação de Doutrina

Para os pentecostais, a santidade é o coração da doutrina da salvação. Entende-se, que, se você é salvo deseja a santificação. O coração da vida cristã pulsará ardentemente por santificação. Essa santificação advém da “comunhão do Espírito Santo” sob os auspícios da predestinação do Pai para que todos os Seus filhos e filhas se tornem semelhantes a Jesus (Romanos 8.29). Em outras palavras, o Espírito Santo burila os filhos e filhas de Deus até que se tornem semelhantes a Jesus. Essa semelhança com Cristo é resultado da obra do Espírito Santo na vida de todos os que creem em Jesus. Essa obra pode ser chamada de “o Fruto do Espírito Santo” (Gálatas 5.22). O “fruto do Espírito” nada mais é do que o caráter de Cristo sendo formado nos filhos e filhas de Deus. Tal formação, caráter ou semelhança com Cristo tornar-se-á uma obra finalizada, visto que a santificação é um progresso, por ocasião da Vinda do Senhor Jesus quando todos os filhos e filhas de Deus o verem como Ele é (1João 3.2).
Apesar de alguns postulados básicos, os pentecostais mantêm visões diferentes sobre o lugar e o efeito da santificação na ordem da salvação. Mais visivelmente, pentecostais estão divididos sobre a recepção exata da santificação como uma obra da graça; aqueles que seguem a tradição Wesleyana da Santidade falam da santificação como a experiência de uma 'segunda bênção' (subsequente à regeneração) enquanto outros seguem a visão reformada da santificação progressiva através da vida do crente[1].
Vale pontuar que cada alternativa se origina da experiência e práticas tradicionais, seja em aprovação da ideia ou na rejeição da convicção do outro grupo. As articulações doutrinais mais imediatas da santificação entre os Pentecostais Clássicos emergiram do Movimento de Santidade do século XIX, embora as raízes do ensino pentecostal remontem ao pietismo luterano no final do século XVI e início do século XVII,[2]. A controvérsia teológica do movimento é mais evidente nos debates em torno do ensinamento de John Wesley de que a “inteira santificação” ou “completa perfeição” é atingível na vida presente[3]. Alguns Pentecostais Clássicos abraçaram a noção de que a “inteira santificação” pode ser recebida como uma segunda obra da graça ou uma segunda bênção após a conversão. Para outros, essa experiência tornou-se sinônimo de justificação, por um lado, ou batismo do Espírito, por outro. Como um postulado do evangelho pleno ou quíntuplo (Jesus salva, santifica, cura, batiza e voltará), a santificação permanece um momento teologicamente distinto no caminho da salvação.
Tendo esclarecido estes distintivos históricos, pontuamos que a santificação, no desenvolvimento teológico do pentecostalismo, é vista como uma posição (somos santos em Cristo!), um processo (estamos sendo santificados!) e um alvo (seremos plenamente santificados e glorificados em Cristo!). Tudo isso por meio do Espírito Santo que habita gloriosamente em todos os que estão em Cristo Jesus.


[1] Menzies, William W., ‘Non-Wesleyan Pentecostalism: A Tradition’, AJPS 14, no.2 (2011): 187–98. Apud VONDEY, Walfgang. Pentecostal Theology: Living the Full Gospel, p.107. (minha tradução e paginação em PDF).
[2] See Melvin Dieter (ed.), The 19th-Century Holiness Movement, vol. 4 of Great Holiness Classics (Kansas City, MO: Beacon Hill, 1998). Cf. Roger E. Olson, ‘Pietism and Pentecostalism: Spiritual Cousins or Competitors?’ Pneuma 34, no. 3 (2012): 319–44.
[3] See Robert Webster, ‘The Holy Spirit and the Miraculous: John Wesley’s Egalitarian View of the Supernatural and Its Problems’, in The Holy Spirit and the Christian Life: Historical, Interdisciplinary, and Renewal Perspectives, ed. Wolfgang Vondey, CHARIS 1 (New York: Palgrave Macmillan, 2014), 143–59.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

DEUS NA MANJEDOURA


O Fato Surpreendente do Nascimento Virginal

(Capítulo 01 do livro).

By JOHN MACARTHUR

Os nascimentos extraordinários certamente não são sem precedentes na história bíblica. Como parte do Concerto/pacto Abraâmico, Deus prometeu enviar um filho a Abraão e Sara (Gn 17:19-22). Ambos estavam além da idade normal de gravidez e riam da perspectiva de serem pais, mas no final, eles testemunharam a chegada milagrosa de seu filho, Isaque (Gn 21:1–3). Em Juízes 13, um anjo do Senhor disse a Manoá e sua esposa estéril que eles teriam um filho especial. Fiel às palavras do mensageiro celestial, Sansão entrou no mundo e por algum tempo libertou os israelitas da opressão dos filisteus.
Samuel, o primeiro profeta, juiz final e ungidor de reis, também demonstrou em seu nascimento o poder providencial de Deus. Ele era a resposta para as orações fiéis e perseverantes de sua mãe piedosa, Ana, que permanecera sem filhos até então. A mãe de João Batista, Isabel, também não conseguiu ter filhos até que Deus graciosamente interveio quando tinha sessenta ou setenta anos e a fez mãe do precursor de Cristo (Lucas 1:15-17,76-79). Mas nenhum desses nascimentos especiais foi tão surpreendente quanto o nascimento virginal do Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

SOBRE O NASCIMENTO VIRGINAL
Embora o fato do nascimento virginal de Jesus seja clara e concisamente declarado nas Escrituras, a mente não convertida da humanidade pecadora, como em todas as doutrinas essenciais da fé cristã, resiste a abraçar a verdade de Seu nascimento único.
Em primeiro lugar, as mitologias antigas e as religiões do mundo falsificaram o nascimento virginal de Cristo com uma proliferação de histórias bizarras e paralelos imprecisos. Essas histórias minaram e minimizaram a singularidade e o profundo impacto do nascimento de nosso Senhor. Vários relatos ilustram o ponto. Os romanos afirmaram que Zeus fecundou Semele sem contato e produziu Dionísio, senhor da terra. A religião babilônica afirmou que um raio de sol na sacerdotisa Semiramis concebeu Tamuz, o deus sumério da fertilidade (Ezequiel 8:14). A mãe de Buda supostamente viu um grande elefante branco entrar em sua barriga quando ela concebeu o filósofo indiano deificado. O Hinduísmo ensina que o divino Vishnu, depois de viver como um peixe, tartaruga, javali e leão, entrou no ventre de Devaki e se tornou seu filho, Krishna. Satanás propagou outras lendas semelhantes, todas com o propósito de minar a natureza do nascimento de Cristo e enganar as pessoas e vê-lo como apenas outro mito ou nada excepcional.
Além disso, a era científica e o surgimento de teologias modernas e pós-modernas durante os últimos dois séculos corroeram a confiança de muitos professos crentes na realidade do nascimento virginal. (Junto com essa tendência tem sido um declínio notável na porcentagem de "cristãos" que acreditam na divindade de Cristo.) Mas tal pensamento cético é tolo e diretamente contrário ao ensino explícito de todos os quatro Evangelhos, das Epístolas e testemunho histórico de toda a igreja primitiva de que Jesus não era outro senão, o Filho de Deus, nascido de uma virgem.
Infelizmente, uma atitude sincera de incredulidade em relação à identidade de Jesus caracterizou a maioria dos homens e mulheres desde a Queda. Os judeus que se opuseram a Cristo ilustraram vividamente essa atitude em mais de uma ocasião (João 5:18; 7:28–30; 10: 30–39). Mas tal hostilidade e falta de fé não devem nos desencorajar nem nos impedir de abraçar e defender a verdade do nascimento virginal de Cristo. O apóstolo Paulo nos lembra: “E se alguns não cressem? Sua incredulidade fará a fidelidade de Deus sem efeito? Certamente não! De fato, seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso” (Rm 3: 3-4, 10:16; Is 53: 1). A opinião do mundo, por mais popular que seja, raramente é uma fonte confiável de verdade.
Sem dúvida, portanto, o Espírito Santo agiu com um propósito significativo ao dedicar uma passagem inicial do Evangelho de Mateus, na frente do Novo Testamento, para estabelecer imediatamente a humanidade e divindade de nosso Senhor. Sua encarnação, devidamente entendida, é fundamental para o cristianismo. Não poderia ter havido nenhuma obra genuína de redenção, a não ser o fato de Deus se tornar homem e, sendo ambos completamente Deus e completamente homem, reconciliando as pessoas com Ele através de Sua morte substitutiva e ressurreição física. Se Jesus não fosse humano e divino, não haveria evangelho. (Para uma discussão mais aprofundada sobre a necessidade de acreditar e proclamar a verdade do nascimento e divindade virgem de Cristo, ver capítulo 8 do meu livro Nothing but the Truth: Nada Além da Verdade [Wheaton, Ill .: Crossway, 1999]).
Muitos comentaristas céticos do Novo Testamento admitem que Mateus e outros autores das Escrituras acreditavam e ensinavam sinceramente que o Espírito Santo concebeu Jesus sem qualquer assistência de um pai humano. Mas tais intérpretes, no entanto, desconsideram a validade das alegações da Escritura, afirmando imediatamente que seus escritores eram ingênuos, sem instrução e sujeitos aos mitos e superstições dos tempos antigos. De acordo com os críticos, os escritores dos Evangelhos simplesmente adaptaram algumas das lendas familiares do nascimento da virgem à história do nascimento de Jesus.
Mas nada poderia estar mais longe da verdade. O relato de Mateus, por exemplo, é lido como história, mas é história que ele poderia conhecer e registrar somente porque Deus o revelou e realizou por intervenção milagrosa. As palavras de Mateus são muito superiores à natureza imoral e repulsiva das histórias seculares que ele e os outros escritores supostamente tiraram. Aqui está a sua narrativa clara e descomplicada da Encarnação:
Agora, o nascimento de Jesus Cristo foi o seguinte: Depois que Sua mãe Maria foi prometida em casamento a José, antes que eles se reunissem, ela foi encontrada com o filho do Espírito Santo. Então José, seu marido, sendo um homem justo, e não querendo torná-la um exemplo público, teve o cuidado de colocá-la em segredo. Mas enquanto pensava sobre estas coisas, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo: “José, filho de Davi, não tenha medo de lhe levar Maria, sua mulher, por aquilo que nela é concebido, pois é do Espírito Santo. E ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.
Então tudo isto foi feito para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor através do profeta, dizendo: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamarão o seu nome Emanuel”, traduzido em: "Deus conosco."
Então José, sendo despertado do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara e tomou para si sua mulher, e não a conheceu até que ela tivesse dado à luz seu primogênito. E ele chamou o seu nome Jesus. (Mateus 1: 18–25).

Mateus declara a linhagem divina de Jesus nesta passagem e revela cinco aspectos de Seu nascimento virginal: seu primeiro anúncio, a resposta de José a ele, o esclarecimento do anjo sobre ele, sua conexão com a profecia e sua ocorrência real.

O NASCIMENTO VIRGINAL ANUNCIADO
Mateus precisa de apenas um verso (1:18) para anunciar o fato do nascimento virginal de Cristo. Uma afirmação tão concisa, embora não provem por si só, sugere fortemente que a noção do nascimento virginal de nosso Senhor e Salvador não era simplesmente uma história feita pelo homem. Um autor humano, escrevendo estritamente por sua própria iniciativa, caracteristicamente tenderia a descrever um evento tão grandioso e surpreendente de uma maneira expansiva, detalhada e elaborada. Mas não o apóstolo Mateus. Ele relaciona circunstâncias adicionais que cercam o nascimento virginal, mas o fato básico é declarado em uma frase simples: “Depois que Sua mãe Maria foi prometida a José, antes que eles se reunissem, ela foi encontrada com o filho do Espírito Santo.”.
Mateus dedica os dezessete versos anteriores à genealogia humana de Jesus, mas apenas essa parte de um verso de sua genealogia divina. Como o Filho de Deus, Jesus “descende” de seu Pai celestial por um milagroso e nunca repetido ato do Espírito Santo; mesmo assim, o Espírito Santo escolheu anunciar essa verdade surpreendente por apenas uma frase breve e declarativa. Como toda a Palavra de Deus, a declaração simples de Mateus contém o tom solene de autenticidade. Em contraste, uma fabricação humana tenderia a ter esse falso anel de exagero, sendo preenchida com muito mais material "convincente" do que o necessário para essa versão inspirada.
As Escrituras nos dão pouca informação sobre Maria e menos ainda sobre José. Maria era, sem dúvida, uma jovem piedosa, provavelmente nativa de Nazaré, que vinha de uma família relativamente pobre. José era o filho de Jacó (Mateus 1:16) e era um artesão, provavelmente um carpinteiro (13:55). Mais significativo, ele era um “homem justo” (1.19), alguém que depositava confiança na vinda do Messias.
Muito provavelmente Maria e José eram ambos muito jovens quando estavam noivos (“prometidos”). Ela pode ter doze ou treze anos e não ter mais de quinze ou dezesseis anos. Essa juventude no momento do envolvimento de um casal era padrão para essa cultura. Outro aspecto padrão do noivado judaico era sua natureza vinculante - a sociedade considerava o homem e a mulher legalmente casados, embora a cerimônia formal e a consumação pudessem ocorrer um ano depois. O objetivo do período de compromisso era confirmar a fidelidade de cada parceiro quando os dois tinham pouco ou nenhum contato social entre si.
Maria e José se abstiveram fielmente das relações sexuais entre si durante o período de compromisso, conforme o contrato exigia. Isso também estava de acordo com a alta consideração da Bíblia pela pureza sexual e os mandamentos de Deus para a abstinência sexual antes da cerimônia de casamento e depois para a fidelidade sexual. Assim, a virgindade de Maria foi um importante indicador de sua piedade.
No entanto, a virgindade de Maria protegia algo muito mais importante do que sua própria moralidade e reputação piedosa. Assegurou a divindade de Cristo e apoiou a veracidade de Seu ensino e trabalho como o Filho de Deus. Se Jesus tivesse sido concebido por meios naturais, com José ou qualquer outra pessoa como Seu pai, Ele não teria sido Deus e não teria sido um verdadeiro Salvador dos pecadores. Para estar de acordo com o que as Escrituras relataram sobre Sua vida, Ele teria que fazer afirmações falsas sobre Si mesmo, e Ele teria que endossar histórias falsas ou falsos sobre a Ressurreição e Ascensão. Enquanto isso, todos permaneceriam espiritualmente mortos, condenados para sempre por seus pecados não perdoados. Mas sabemos que tudo isso é absolutamente contrário ao que a Palavra de Deus ensina.
O apóstolo Paulo, por exemplo, também foi muito claro e conciso quando reiterou a verdadeira natureza da Encarnação: “Mas quando a plenitude do tempo chegou, Deus enviou Seu Filho, nascido de uma mulher” (Gál. 4:4). Paulo não menciona um pai humano para Jesus porque, de acordo com o plano divino, Deus era seu pai. Jesus tinha um parentesco humano (Maria) para que pudesse ser homem e identificar de perto o que significa ser humano (Fp 2: 5-7; Hb 4:15). E Ele tinha um parentesco divino para que pudesse viver uma vida sem pecado, cumprir perfeitamente a Lei de Deus para nós e fazer o sacrifício perfeito pelos nossos pecados.
Reconhecidamente, todos esses séculos após o Evangelho divinamente inspirado de Mateus declararam que Jesus nasceu de uma virgem, Sua concepção milagrosa permanece impossível de ser entendida apenas pela razão humana. Deus escolheu não explicar os detalhes para nós, assim como Ele escolheu deixar inexplicáveis as complexidades de criar o universo a partir do nada, a maneira exata como Ele poderia ser um Deus em três Pessoas, ou exatamente o que acontece quando pecadores depravados nascem novamente, quando eles se arrependem de seus pecados e confiam em Cristo. Muitos dos fundamentos do cristianismo Deus quer que os crentes aceitem pela fé. O entendimento completo terá que esperar até o céu: “Por enquanto, vemos em um espelho, vagamente, mas depois cara a cara. Agora sabemos [em parte], mas então [nós] conheceremos [plenamente]” (1Coríntios 13:12).

RESPOSTA DE JOSÉ AO NASCIMENTO VIRGINAL
As primeiras notícias da condição de Maria apresentaram a José um problema duplo. Cuidadoso e responsável, preocupado em fazer a coisa certa, José não estava disposto a prosseguir com seus planos originais, uma vez que percebeu que uma parte crucial desses planos não era mais aceitável. Sua dificuldade foi intensificada pela realidade de que ele era um homem justo, genuinamente preocupado em fazer o que era moral e eticamente correto de acordo com a lei de Deus. Primeiro, quando José percebeu que Maria estava grávida, ele sabia que não poderia prosseguir com o casamento. Ele sabia que ele não era o pai e, com base no que ele sabia na época, ele tinha que assumir que outro homem era.
A segunda decisão difícil de José dizia respeito a como ele deveria tratar Maria. Porque ele era um homem bom e amoroso, ele se entristeceu com o pensamento de humilhá-la publicamente (uma prática comum naqueles dias em que uma esposa era infiel), e ainda mais na perspectiva de exigir sua morte, como previsto em Deuteronômio 22:23-24. Nós não sabemos se ele sentiu raiva, ressentimento ou amargura, mas ele certamente sentiu vergonha do que ele tinha que assumir que era verdade. No entanto, a preocupação de José não era principalmente com sua própria vergonha e constrangimento, mas com a de Maria. Mateus 1:19 diz: “não querendo torná-la um exemplo público, [José] estava disposto a colocá-la em segredo”.
Portanto, o plano de José era se divorciar de Maria secretamente para que ela não tivesse que suportar a desgraça de todos na comunidade, sabendo sobre seu suposto pecado. Não são muitos os maridos que demonstram um amor tão firme e profundamente sentido por suas esposas. É claro que, eventualmente, quando o casamento não ocorreu, todos teriam descoberto que algo estava errado. Mas pelo menos enquanto isso, Maria seria protegida da humilhação e da morte.
O Senhor, porém, em Sua soberana providência e maravilhosa graça, interveio diretamente na situação e poupou José do trauma adicional de realmente realizar seus planos de divórcio. “Mas, enquanto pensava sobre estas coisas, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo: 'José, filho de Davi, não tenha medo de receber a Maria, tua mulher, por que o que nela foi concebido é do Espírito Santo'” (Mateus 1:20). Este verso ressalta a natureza milagrosa do nascimento virginal e o caráter sobrenatural que envolve todo o evento do nascimento de Cristo. Também provê garantia divina a José (“filho de Davi”) e a nós que Jesus tinha uma linhagem real legítima que legalmente veio através de José como um descendente do rei Davi.

O ANJO EXPLICA O NASCIMENTO VIRGINAL
Mas qual era o significado da gravidez de Maria, embora ela não tivesse tido relações com José ou qualquer outro homem? José provavelmente teria passado algum tempo intrigado com essa questão se o mensageiro divino não tivesse imediatamente esclarecido seu pronunciamento com estas palavras: “E ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de os seus pecados'” (Mateus 1:21).
O anjo diz a José que Maria realmente vai ter um filho. E não apenas qualquer filho, mas Jesus, que “salvará o seu povo dos seus pecados”. Deus escolheu o nome de Jesus para Seu Filho porque o seu significado definia o propósito básico e fundamental para a vinda do Filho à terra. Jesus é a forma grega do hebraico Josué, Jeshua ou Jehoshua, cada um dos quais significa que “Jeová (Javé) salvará”. O bebê que Maria havia concebido pelo poder do Espírito Santo e, por conseguinte daria à luz no plano de Deus cresceria para testificar a salvação do Pai e seria Ele mesmo essa salvação. Por Sua própria morte sacrificial na Cruz e ressurreição triunfante da sepultura Ele salvaria Seu próprio povo – todos aqueles que são atraídos do pecado para o arrependimento e que recebem fé para abraçar Sua obra expiatória.

O NASCIMENTO VIRGINAL PROFETIZADO
Na época em que o anjo contou a José sobre o nascimento único de Jesus, a ideia de um nascimento virginal não era completamente estranha à compreensão que os judeus tinham de suas Escrituras. Embora tenham interpretado erroneamente, muitos dos rabinos enxergam Jeremias 31:22 (“Porque o SENHOR criou uma coisa nova sobre a terra; uma mulher cercará a um homem”) de uma maneira que sugeria que o Messias teria um nascimento incomum. Sua explicação fantasiosa desse versículo ("O Messias é para não ter pai terreno", e "O nascimento do Messias será como o orvalho do Senhor, como gotas sobre a grama sem a ação do homem") pelo menos preservou a ideia geral que o nascimento do Messias seria único.
Na verdade, o Livro do Gênesis nos dá o primeiro vislumbre de que o nascimento de Cristo seria especial: “'E porei inimizade entre você e a mulher, e entre a sua semente e a sua semente'” (3:15). Tecnicamente, a semente da mulher pertence ao homem, mas a fecundação de Maria pelo Espírito Santo é o único exemplo na história em que uma mulher tinha uma semente dentro dela que não se originou de um homem humano.
A promessa divina posterior a Abraão dizia respeito a seus “descendentes” (hebraico, “semente”; Gênesis 12:7), um modo comum do Antigo Testamento de se referir à descendência. A única referência em Gênesis 3:15 a “sua Semente” olha além de Adão e Eva para Maria e para Cristo. As duas sementes desse verso podem ter uma dupla ênfase. Primeiro, eles podem primeiramente se referir a todas as pessoas que fazem parte da progênie de Satanás e todos os que são parte de Eva. Os dois grupos constantemente guerreiam uns contra os outros, com o povo da justiça derrotando as pessoas do mal. Segundo, a palavra traduzida “Semente” pode ser singular e se referir principalmente a um produto final e glorioso de uma mulher - o próprio Senhor Jesus, nascido sem semente humana. Nesse sentido, a profecia é definitivamente messiânica.
Mateus 1:22–23 identifica claramente o nascimento virginal de Jesus como um cumprimento da profecia do Antigo Testamento: “Tudo isto foi feito para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor por intermédio do profeta: 'Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e eles chamarão o seu nome Emanuel, 'que é traduzido,' Deus conosco'.”. A citação de Mateus de Isaías 7:14 confirma que o profeta de fato prediz o nascimento virginal de Jesus Cristo.
O profeta Isaías fez essa importante profecia durante o reinado do perverso e idólatra rei de Acaz. O rei enfrentou uma grande ameaça militar do rei israelita, Peca; e o rei da Síria, Rezim; ambos queriam derrubar Acaz e substituí-lo por um monarca mais complacente. Em vez de buscar a ajuda do Senhor durante essa crise, o rei Acaz se voltou para Tiglate-Pileser, o governante brutal dos assírios pagãos. Acaz até induziu sua assistência oferecendo-lhes ouro e prata roubados do Templo de Deus.
Acaz se recusou a ouvir o relato de Isaías de que Deus libertaria o povo das mãos de Peca e Rezim. Portanto, o profeta falou a notável profecia de Isaías 7:14, que disse a Acaz que ninguém destruiria o povo de Deus ou a linhagem real de Davi. E com certeza, embora Tiglate-Pileser tenha destruído o reino do norte (Israel), deportado sua população e invadido Judá quatro vezes, Deus finalmente preservou Seu povo exatamente como prometeu.
Isaías também disse que antes que outra criança (Maher-Shalal-Hash-Baz) estivesse muito madura ou ciente dos eventos, os territórios de Rezim e Peca seriam abandonados (Isaías 7:15-16). Novamente, as palavras divinamente inspiradas do profeta foram completamente precisas. Antes que a outra criança, nascida da esposa de Isaías, tivesse três anos de idade, os dois reis inimigos estavam mortos. Assim como Deus cumpriu essa antiga profecia sobre o filho de Isaías, Ele estava prestes a cumprir aquele referente ao nascimento virginal do Senhor Jesus Cristo. Ambos eram sinais do Senhor de que Ele não abandonaria o Seu povo, mas o maior dos dois era obviamente o segundo: que Seu Filho realmente nasceria de uma virgem, viveria entre o Seu povo e morreria pelos seus pecados.
Em seu pronunciamento original em 7:14, Isaías usou a palavra hebraica 'alma para ‘virgem'. Esse é um termo significativo, e é importante entender por que o profeta o usou. 'Alma’ ocorre seis outras vezes no Antigo Testamento (Gn 24:43; Êxodo 2:8; Sal. 68:25; Pv 30:19; Cantares 1 3; 6 8), e em cada caso, conota ou denota "virgem". Até tempos recentes, tanto estudiosos judeus como cristãos sempre traduziam a palavra dessa maneira.
É interessante que, no hebraico moderno, 'alma ou betula pode significar ‘virgem'. No entanto, Isaías não usou betula porque no hebraico do Antigo Testamento pode se referir a uma mulher casada que não é virgem (Dt 22:19; Joel 1:8). É aparente, portanto, que ele usou 'alma em 7:14 com a clara e precisa convicção de que a mulher que levaria o Messias seria de fato uma jovem que nunca teve relações sexuais com um homem.
O uso de Mateus da profecia de Isaías seguiu diretamente no caminho do profeta. O apóstolo não estava dando 'alma uma “torção” cristã para fazer seu uso se encaixar em uma teoria do nascimento virginal. Em vez disso, Mateus deu ao termo o mesmo significado que Isaías pretendia, demonstrado por sua tradução de 'alma com o grego parthenos, a mesma palavra usada pelos tradutores judeus do Antigo Testamento grego.
Embora a credibilidade do nascimento virginal não se apoie apenas no uso de uma palavra hebraica, uma compreensão geral do contexto e do uso de 'alma fortalece nossa crença no nascimento único de Cristo. Também nos ajuda a ver que Mateus, sob a inspiração do Espírito Santo, sabia exatamente o que estava fazendo quando relatou Isaías 7:14 ao nascimento de Jesus e declarou novamente as verdades igualmente surpreendentes de que “a virgem estará grávida, e dará à luz um Filho, e eles chamarão o seu nome Emanuel.”. Em Seu nascimento virginal, Cristo era, no sentido mais literal, o Filho que era “Deus conosco”.

A OCORRÊNCIA DO NASCIMENTO VIRGINAL
Toda a explicação de Mateus sobre o significado do nascimento virginal veio dentro do sonho revelador que Deus deu a José. Tal comunicação extraordinária e direta evidentemente ocorreu enquanto José se engajou na atividade comum de dormir. Mateus não registra qualquer detalhe da reação imediata de José, exceto para dizer que ele acordou e obedeceu às instruções do anjo: “Então José, sendo despertado do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara e tomou para si sua esposa, e não a conheceu até que ela trouxe seu filho primogênito. E ele chamou o seu nome de Jesus” (1:24-25).
Você pode imaginar como os sentimentos de surpresa, alívio e gratidão de José devem ter sido quando ele percebeu o que o Senhor, por intermédio do mensageiro celestial, lhe dissera. Não só ele poderia ir em frente e alegremente tomar Maria como sua esposa com honra e retidão, mas também ele poderia se alegrar com o privilégio de ser o pai adotivo do próprio Filho de Deus.
A cerimônia de casamento de José e Maria provavelmente ocorreu logo depois que José recebeu o anúncio do anjo. Mateus deixa claro que Maria permaneceu virgem até depois do nascimento de Jesus, sugerindo que as relações conjugais normais começaram depois daquele tempo. Isso, juntamente com as referências aos irmãos e irmãs de Jesus (Mt 12:46; 13:55-56; Marcos 6:3), prova que Maria não foi virgem durante toda a sua vida, como alguns afirmam.
Finalmente, José seguiu o mandamento de Deus em Mateus 1:21 e nomeou o bebê Jesus, indicando, como já vimos, que Ele era o Salvador.
O surpreendente fato da concepção sobrenatural de Jesus é a única maneira de explicar a vida perfeita e sem pecado que Ele viveu na terra. Um cético que negou o nascimento virginal uma vez perguntou a um cristão: “Se eu lhe disser que aquele filho nasceu sem um pai humano, você acreditaria em mim?” “Sim”, o crente respondeu, “se ele vivesse como Jesus viveu”.
O nascimento virginal de Cristo é um componente necessário que nos ajuda a acreditar e dar sentido a toda a história de Sua pessoa e obra. Sua extraordinária concepção e nascimento, não antes ou desde então, é uma realidade surpreendente que nós devemos com alegria e gratidão nunca dar por garantido.


MACARTHUR, J. F., Jr. (2001). God in the manger: the miraculous birth of Christ. Nashville, TN: W Pub. Group.

sábado, 22 de dezembro de 2018

HERMENÊUTICA “Isto é Aquilo” e “Isso Não é Aquilo”.


Baseando-se no discurso de Pedro em Atos 2, os estudiosos pentecostais apelam para os textos bíblicos empregando uma tensão entre o que pode ser rotulado como hermenêutica "isto é aquilo" e "isso não é aquilo"[1].
O apóstolo Pedro explicou o evento do pentecostes com as seguintes palavras: “Mas o que ocorre É O QUE foi dito por intermédio do profeta Joel” (At 2.16). A interpretação de Pedro contrasta com a interpretação daqueles que estavam “atônitos e perplexos” (v.12) e, zombando, diziam que os cristãos estavam “cheios de vinho” (ou embriagados, v.13 - ARA).
Pedro argumentou que o evento do dia de Pentecostes “não é aquilo” que eles pensavam, (“hermenêutica do vinho”), mas é “aquilo” que Deus falou por intermédio do profeta Joel (“hermenêutica do pentecostes/Espírito”): “E acontecerá depois que derramarei o Meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os servos e sobre as servas derramarei o Meu Espírito naqueles dias” (2.28-29).
Com essa “hermenêutica do Espírito” (“Isso é Aquilo”) Pedro descarta e rejeita a “hermenêutica do vinho” (“isso Não é Aquilo”) postulada pelo público zombador presente. Com isso, Pedro pontua que o Cristo glorificado, ao receber a Promessa do Pai, derramou sobre Seus servos e servas a dádiva do Espírito Santo objetivando capacitá-los para a obra missionária tal como já havia falando antes de Sua ascensão. Essa hermenêutica do Espírito é consequentemente uma hermenêutica missiológica. Guarde isso! “Uma interpretação do Evento Pentecostes (hermenêutica do Espírito) que não nos leva para uma compreensão da missão da igreja (hermenêutica missiológica) falha em seu labor na compreensão do objetivo do revestimento de poder”. Claro, que esse revestimento espalha-se para outras áreas da vida e ministério daqueles que recebem e desfrutam do cumprimento da promessa. Porém, o aspecto missiológico é basilar no construto hermenêutico do contexto do Evento Pentecostes.

Pedro deixa de lado a “hermenêutica intoxicada ou embriagada” elencada pelos presentes e, altaneiramente, chama a atenção para uma hermenêutica de transbordamento espiritual que se baseia na realidade bíblica da promessa feita por Deus no passado por intermédio do profeta Joel, e a identifica como constituindo o começo de uma Nova Era. A hermenêutica do Espírito contém a Era do Espírito tal como profetizada no Antigo Testamento e tão esperada pelos judeus e rabinos. Estes esperavam que a Era Messiânica traria a Era do Espírito Santo. Agora, Pedro, hermeneuticamente, diz que essa Era chegou! Jesus, o Messias, veio e vocês o rejeitaram, diz Pedro, mas Deus o ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas. Exaltado, pois, à Destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou ISTO que vedes e ouvis” (At 2.32-33). É como se Pedro dissesse: “As intoxicações das especulações hermenêutica acabaram, pois o Pentecostes chegou!”.
Essa hermenêutica do Pentecostes preocupa-se não primariamente com formulações sistemáticas, (isso apenas posteriormente) mas, por ser uma teologia mística, emerge, identifica, preserva e retorna à experiência fundacional do Espirito Santo para capacitar os “chamados” para serem testemunhas ousadas de Jesus Cristo (cf. At 1.8). Nesse sentido, a teologia pentecostal não é estritamente dogmática; não busca a articulação da doutrina como a tarefa principal da teologia[2]. Em vez disso, a teologia pentecostal busca uma relação entre espiritualidade e doutrina para que a teologia viva se torne um constante e recíproco movimento de vaivém entre crenças, afeições e ações, por um lado, e a articulação da doutrina, por outro[3].

Pentecostes como símbolo teológico
Da experiência do pentecostes que os discípulos tiveram, e da interpretação de Pedro do evento como cumprimento da Promessa do Pai entendemos que “a formulação da doutrina é sempre submetido à experiência do Espírito Santo, ou, diferentemente, a teologia pentecostal é sempre experiencial”[4]. A formulação da doutrina depende da articulação dessa experiência, isto é, a teologia pentecostal sempre conduz através da narrativa e do testemunho.
Estudiosos têm proposto que “os contornos e o conteúdo da teologia pentecostal é o seu endividamento fundamental para o dia de Pentecostes”, afirmando que, “o Pentecostes é o próprio prolegômenos a teologia pentecostal, porque o pentecostalismo é uma forma de viver fundamentalmente preocupado com a obra renovadora de Deus, que surge do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes”. Nesse labor do construto de uma teologia pentecostal o estudioso “leva a sério o dia de Pentecostes como símbolo raiz do pentecostalismo”.
No construto da teologia pentecostal, o estudioso não faz “uso” simplesmente da doutrina como um fim da teologia dissociado da experiência original. Em outras palavras, “a teologia pentecostal não busca a doutrina como um fim em si mesma, mas sustenta a possibilidade da atualização contínua do encontro com Deus, que torna a articulação da experiência como doutrina principalmente desnecessária. No meio da crise epistêmica global desnudada pelas construções da pós-modernidade, a teologia pentecostal não representa simplesmente outro construto epistêmico. Antes, na raiz do Pentecostalismo está o Espírito de Pentecostes como o espírito de liberdade ilimitada (e inesperada) de tais construtos”[5].
Os pentecostais definem a teologia não em primeiro lugar e acima de tudo por seu resultado como produto do encontro com Deus, mas por sua natureza como a expectativa da experiência contínua de Deus no mundo. Essa antecipação é o instinto fundamental do Pentecostes e o batimento cardíaco das experiências pentecostais.
O batimento cardíaco da hermenêutica pentecostal é a experiência do Espírito Santo tornada possível pelo Evento de Pentecostes.
  
Ivan Teixeira.



[1] ARRINGTON, French L., The Acts of the Apostles: Introduction, Translation, and Commentary (Peabody, MA: Hendrickson, 1988), 25–32; STRONSTAD, Roger. The Charismatic Theology of St. Luke (Peabody, MA: Hendrickson, 1984), 55–57; idem, ‘The Influence of the Old Testament on the Charismatic Theology of St. Luke’, Pneuma 2, no. 1 (1980): 32–50.
[2] VONDEY, Wolfgang. Beyond Pentecostalism, p.98–108; idem, Pentecostalism, p.82–84.
[3] STEPHENSON, Types of Pentecostal Theology, p. 114–19.
[4] VONDEY, Wolfgang. Pentecostal Theology: Living the full Gospel. – (Series: Systematic Pentecostal and Charismatic Theology). Editors: Wolfgang Vondey & Daniela C. Augustine.
[5] VONDEY, Wolfgang. Pentecostal Theology: Living the full Gospel. – (Series: Systematic Pentecostal and Charismatic Theology). Editors: Wolfgang Vondey & Daniela C. Augustine.