Tão Grande Salvação!
Por esta razão,
importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que
delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio
de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como
escaparemos nós, se negligenciarmos TÃO
GRANDE SALVAÇÃO? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor,
foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente
com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do
Espírito Santo, segundo a Sua vontade (Hb 2.1–4 ARA).
A situação não é que Deus esteja
longe do homem e o homem deva se esforçar mediante a disciplina e esforço para
aproximar-se dEle, mas que o homem está longe de Deus, que, de Sua parte, fez
em Cristo tudo o que era necessário para remediar a condição do homem: ‘Assim,
pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus que usa de
misericórdia’ (Rm 9.16) – J. Atkinson[1].
(Excerto de nosso futuro livro)
A salvação no sentido teológico está centrada na maior
de todas as pessoas: nosso Senhor Jesus Cristo. É por isso que a doutrina da
soteriologia é em essência a aplicação da obra de Cristo na vida do indivíduo.
Salvação é o que Deus Pai fez por meio de Seu Filho Jesus Cristo pelo eterno
Espírito Santo (Hb 9.14).
A seguir elencamos algumas concepções sobre a doutrina
da salvação, mas antecederemos expondo alguns detalhes em que diferem as
concepções de salvação.
1. A Dimensão do Tempo
Há pelo menos três opiniões acerca da relação entre a
salvação e o tempo. Será que a salvação é um acontecimento único no início da
vida cristã? Ou será um processo paulatino durante a vida toda? Ou ainda uma
obra futura em que o cristão fica em expectativa? Acredito nas três opiniões
sobre a dimensão do tempo na salvação. Esclareceremos isso quando falarmos
sobre “Os Três Tempos da Salvação”.
2. A Natureza e o Lugar da Necessidade
Por que a salvação é necessária e qual é a natureza da
salvação? Há pelos menos três concepções.
A primeira é
a tradicional, a concepção evangélica da salvação, que afirma que a salvação é necessária porque o problema básico do
homem é a separação de Deus, e a natureza
da salvação é restaurar o relacionamento rompido entre Deus e a criatura.
A segunda
concepção afirma que o problema básico do homem é horizontal. Então temos uma
salvação que somente visa resolver os problemas entre pessoas. São várias
teologias que entram neste contexto. E.g., teologias de libertação: negros,
feministas, asiáticos, latino-americano e índios. Dentro das teologias de
libertação “a noção bíblia da salvação é equiparada ao processo da libertação
da opressão e da injustiça. O pecado é definido em termos da desumanidade do
homem para com seu próximo... e equipara amar ao próximo com amar a Deus”[3].
A terceira
concepção afirma que a salvação é necessária
porque o problema básico do homem é interno. A humanidade está contaminada por
sentimentos que precisam ser erradicados – culpa, inferioridade, insegurança[4].
Que tal neste escopo a citação de um grande líder norte americano, Robert
Schüller, quando diz: “a Reforma errou em se centrar em Deus em vez de se
centrar no homem”, pois, “a maior necessidade do homem é a auto-estima”[5].
Essa é uma teologia da auto-estima, autocompreensão, auto-aceitação e auto-ajuda,
pois é disso que a salvação deve tratar afirma tais teologias. A natureza da salvação é elevar o homem. É
o “desenvolvimento de sua autoestima”. Não é a toa que Michael S. Horton diz:
“Se acreditarmos que a religião deva ser centrada no homem e que a maior
necessidade do homem é a autoestima, veremos a congregação como consumidores em
vez de adoradores”[6].
3. O Meio de Recepção da Salvação
Há alguns meios para se receber a salvação destacados
entre teólogos. O primeiro diz respeito
a uma salvação conquistada pelas nossas próprias obras. Por aquilo que fazemos
podemos conquistar os méritos para sermos salvos.
O modelo é encontrado no movimento de evangelho social e
nas teologias de libertação como em outros contextos de teologias baseadas nas
conquistas dos homens. Uma espécie de “teologia das obras”. O meio de
transmissão e recepção da salvação é um ato moral. É um processo de
humanização.
Um segundo[7]
modelo é o exposto neste módulo. O grande apóstolo Paulo já dissera: “Porque
pela graça sois salvos, mediante a fé;
e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”
(Ef 2.8,9 ARA). A graça é a fonte da salvação. A fé o instrumento de recepção.
Deus o Doador da salvação. A salvação é dom de Deus, para que ninguém se glorie. “Não se trata de nossa realização (isto não vem de vós–v.8) nem como
recompensa por quaisquer dos nossos atos de religião ou de caridade (não de obras–v.9). Não havendo, então,
lugar para o mérito humano, também não há lugar para a arrogância humana”[8].
Alfred Martin
comentando a expressão paulina “...mediante
a fé...” escreve: “Paulo não diz nunca por
causa da fé, pois a fé não é a causa, apenas o canal por meio do qual
recebemos a nossa salvação”[9].
A fé é a mão estendida recebendo da fonte da salvação, a graça de Deus, a
salvação de Deus (cf. Rm 3.22,25; Gl 2.16; 1Pe 1.5).
Rev. Hernandes
Dias Lopes destaca:
A fé não é à base da nossa
salvação, mas o seu instrumento de apropriação. A fé é o elo entre o crente e
Cristo (Gl 3.26; Jo 3.16; At 16.31). A fé é a causa instrumental da
justificação (Rm 5.1). Somos salvos pela obra expiatória de Cristo, mas
apropriamo-nos dos resultados dessa obra pela fé. A fé é como a mão estendida
de um mendigo recebendo o presente de um rei. Como a fé recebe Cristo, ela nos
leva à posse de todos os Seus benefícios[10].
João Calvino nos lembra
de que Paulo já havia tratado “...da eleição e da vocação gratuita...” para
chegar a conclusão no v.8 de Efésios 2 “...de que havia obtido a
salvação unicamente por meio da fé. Primeiramente, ele [Paulo] assevera que a
salvação dos efésios era inteiramente obra – e obra gratuita – de Deus; eles,
porém, alcançaram essa graça por meio da fé. [...] a salvação não é um galardão
ou recompensa, mas simplesmente graça. [...] pela instrumentalidade da fé.
[...] Da parte de Deus é graça somente, e nada trazemos senão a fé, a qual nos
despe de todo louvor humano, então segue-se que a salvação não procede de nós”[11].
Acredito que seja oportuno dizer que a salvação tanto no
Antigo quanto no Novo Testamento sempre foi recebida pela fé somente. No Antigo
Testamento, por assim dizer, uma fé que olha para o Messias que havia de vir.
No Novo Testamento, para o Cristo que já veio e virá outra vez. Sabemos que
Abraão creu no SENHOR, e “isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.6). No
texto original, o prefixo hebraico beth
indica que Abraão depositou sua fé confiantemente em Deus (cf. Ex 14.31; Jo
3.5). O relacionamento de aliança estabelecido pela Lei mosaica também implica
que um israelita precisava ter fé no Deus daquela aliança se desejasse Lhe
agradar e não ser excluído dela.
Esta grandiosa
declaração é citada duas vezes por Paulo (Rm 4.3; Gl 3.6) e uma vez por Tiago
(2.23) para confirmar que a justificação sempre foi pela fé (Tiago acrescenta
que a fé deve mostrar-se genuína, 2.18). Esta narrativa e a argumentação de
Romanos 4 apresentam a fé, não como um mérito culminante, mas, sim, como a
disposição para aceitar o que Deus promete. Note-se que a confiança de Abrão
era tanto pessoal (“no SENHOR”) como
relativa à proposição (o contexto é a específica Palavra do SENHOR, nos versículos 4,5 [v.1]).
A frase “...isso
lhe foi imputado como justiça” é “um veredicto judicial por meio do qual
Deus declarou, com respeito a Abraão, ‘não culpado’”[13].
O objeto da fé sempre foi o Deus verdadeiro (cf. Nm
14.11; 20.12; 2Rs 17.14; Sl 78.22; Jn 3.5). Esse Deus Salvador era a única
fonte de salvação, pois a salvação vem unicamente dEle (cf. Sl 3.8; Jn 2.9).
4. A Direção do Movimento na Salvação
O movimento do evangelho social afirma que o problema
básico do homem está num ambiente social doente que os corrompe. Então, Deus
deve atuar, pelos cristãos, alterando as estruturas de nossa sociedade e, depois,
usa essas estruturas para mudar as pessoas que a compõem.
A abordagem bíblica elenca que a natureza humana é
corrompida. O problema não está no ambiente social, mas no coração corrompido
do homem que forma a sociedade (cf. Mc 7.18–23; Rm 3.9–18). Deus, nosso
Salvador, precisa transformar o homem e não o ambiente deste homem.
Infelizmente muitos políticos cristãos tentam
“transformar” o ambiente parlamentar, pensam que isto redundará numa grande
transformação na sociedade.
5. A Extensão da Salvação
Há duas posições neste ponto. A posição particularista
afiança que nem todos serão salvos. Somente os que responderem com fé ao
chamado da graça receberão o dom salvador.
A segunda posição universalista, por sua vez, sustenta
que Deus restaurará todos os homens ao relacionamento com Ele. Deus de alguma
forma simplesmente aceitará todas as pessoas na comunhão eterna com Ele mesmo.
IVAN TEIXEIRA
Minister Verbi Divini
[2] Seguiremos neste ponto a bem
elaborada exposição do grande teólogo Millard J. Erickson em sua excelente obra
introdutória de teologia publicada pelas Edições Vida Nova.
[3] WEBSTER, D. D. em artigo
sobre “Teologia da Libertação” na Enciclopédia
Histórico–Teológica da Igreja Cristã, Editor Walter A. Elwell. Edições Vida
Nova.
[4] Millard J. Erickson, op. cit.
[5] Em Self-Esteem: The New Reformation (Waco , Tex. :
Word, 1985), pp. 63–64. Apud HORTON, Michael S. A Lei da Perfeita Liberdade. Editora
Cultura Cristã.
[6] Op. cit.
[7] Pode haver vários modelos,
mas acredito que todos os demais podemos empacotá-los no primeiro, uma salvação
baseada nas obras dos homens.
[8] STOTT, John. A Mensagem de Efésios: A Nova Sociedade de
Deus. Editora ABU.
[9] Em Comentário
Bíblico Moody [Epístola aos Efésios], Vol. 5, Romanos a Apocalipse. Editora Batista Regular.
[10] Tirado de um de seus sermões.
[12] Série Cultura Bíblica: Gênesis: Introdução e Comentário.
Edições Vida Nova.
[13] RYRIE, Charles C. A Bíblia Anotada. Editora Mundo
Cristão.
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