quinta-feira, 31 de maio de 2018

O "FOGO" DO BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO NÃO É JUÍZO, MAS PURIFICAÇÃO!



Batismo com o Espírito Santo E FOGO!

Muitos advogam que “fogo” nos textos de Mateus (3.11) e Lucas (3.16) significa juízo ou condenação. Porém, outros eruditos afirmam que significa uma obra purificadora do Espírito Santo na vida dos salvos. Então, batismo com o Espírito Santo e fogo descreve um único batismo com dois aspectos.
O aspecto da purificação (“e fogo”) do batismo com o Espírito Santo não é invenção dos intérpretes, mas uma promessa de Deus no Antigo Testamento. Particularmente, creio que os textos do Novo Testamento devam ser interpretados à luz das promessas do Antigo Testamento. E acredito que assim como podemos interpretar o “fogo” como purificação na vida dos salvos nos textos de Mateus 3.11 e Lucas 3.16, não devemos negligenciar que nos textos de Mateus 3.12 e Lucas 3.17 temos uma referência ao fogo (“inextinguível”) do julgamento.
Charles C. Ryrie comenta: “O batismo com o Espírito Santo ocorreu no dia de Pentecostes, ao passo que o batismo com fogo se refere aos juízos que acompanharão a Segunda Vinda de Cristo”[1]. Deve-se pontuar que ele escreve de uma perspectiva não pentecostal, mas dispensacionalista. Ele identifica o “batismo com o Espírito Santo” como aquele que “identifica os membros do corpo de Cristo com o próprio Cristo, a Cabeça ressurreta do Corpo (1Co 12.13)”[2]. O comentarista J. V. McGee concorda ao escrever:
João batizou com água. Jesus tem batizado com o Espírito Santo há mais de mil e novecentos anos. Ele também deve batizar com fogo em Sua Segunda Vinda. O fogo fala de julgamento. Algumas pessoas pensam que esta é uma referência ao Dia de Pentecostes quando o Espírito Santo veio, e houve a aparência de fogo nas cabeças daqueles reunidos. No entanto, é importante notar que em Atos 2.3 era “… como de fogo…” - não era fogo. A vinda do Espírito Santo não foi o cumprimento do batismo de fogo. Isso acontecerá na Segunda Vinda de nosso Senhor[3].

No entanto, o comentarista Alfred Plummer nos traz as seguintes colocações:
καὶ πυρί (kaì purí). Esta adição notável está ausente em Marcos. Várias explicações são sugeridas.
(1) Que as línguas de fogo no Pentecostes são significadas, é improvável. Há algum dos ouvintes de João Batista que receberam o Espírito no Pentecostes? [você pode dizer ou provar que eles não estivessem? Argumento do silêncio não é argumento]. Além disso, em Atos 1.5 καὶ πυρί (kaì purí) não é adicionado [acredito que não precisava, pois Teófilo e os demais ouvintes de Lucas entenderiam que Atos 1.5 transmite a mesma ideia de Lucas 3.16. Lucas não precisou repetir o que seu(s) destinatário(s) estava ciente].
(2) Que distingue dois batismos, o penitente [crente] com o Espírito, e o impenitente [descrente] com fogo penal, é muito improvável. As mesmas pessoas (ὑμᾶς = hymãs) devem ser batizadas com o Espírito e com fogo. No v.17 os bons e os maus são separados, mas não estão aqui. Esta frase não deve ser feita paralela ao que se segue, pois a pá de joeira não é batismo. [é interessante esta colocação, pois para os crentes temos a figura do “batismo” que identifica; para os descrentes a figura da “pá” que separa].
(3) Mais provavelmente o πυρί se refere ao poder iluminador, estimulador e purificador da graça dada pelo batismo do Messias (comp. Ml 3.2).
(4) Ou as provações de fogo que aguarda o discípulo que aceita o batismo de Cristo pode ser entendido: comp. Lc 12.50; Mc 10.38 e 39. A passagem é uma entre muitas, cujo significado exato deve permanecer duvidoso; mas a purificação do crente em vez da punição do incrédulo parece ser intencional[4].

Podemos colocar da seguinte maneira: Mesmo que “fogo” não esteja presente no dia de Pentecostes, coisa que acredito que esteja presente, ele não significa “julgamento”, mas está ligado ao batismo com o Espírito Santo, sendo uma obra iluminadora, purificadora e estimuladora da graça dada pelo Messias que batiza (cf. Is 4.2-6; Ml 3.2). Esse “batismo com o Espírito Santo e fogo” não se refere a dois batismos, mas a um único batismo com dois aspectos. Tendo em vista o (ὑμᾶς = hymãs = “vos”), o batismo com o Espírito Santo E fogo é para o mesmo grupo, que acreditamos seja os salvos.
Se os tradicionais acreditam que o “batismo com o Espírito Santo E fogo” é uma referência ao “batismo num só corpo” (descrito por Paulo em 1ª Coríntios 12.13), então é incoerente a afirmação de muitos deles que no texto de Mateus e Lucas temos dois batismos: um para os crentes e o outro para os descrentes! Visto que (ὑμᾶς = hymãs = “vos”), claramente, descreve que o “batismo com o Espirito Santo E fogo” é uma promessa para as mesmas pessoas. A simple gramática coloca por terra o argumento de dois batismos nos textos de Mateus 3.11 e Lucas 3.16.
Acrescento ainda as observações gramaticais do estudioso respeitado do Novo Testamento, D. A. Carson, cuja erudição é inquestionável no meio reformado/tradicional e que é considerado uma das maiores autoridades em manuscritos do Novo Testamento Grego, ao comentar essa passagem de Mateus 3.11. O Dr. Carson claramente demonstra que o batismo em Mateus 3.11 (e Lc 3.16) não se refere a dois batismos, um “no Espírito Santo para os justos e outro no fogo para os injustos”. Ele escreve:
Muitos veem isso como um duplo batismo, um no Espírito Santo para o justo e outro no fogo para o impenitente (cf. o trigo e a palha no v.12). O fogo (Ml 4.1) destrói e consome. Há bons motivos, contudo, para falar de “fogo”, junto com o Espírito Santo, como agente purificador. As pessoas a quem João se dirige estão sendo batizadas por ele; elas, provavelmente, arrependeram-se. Mais importante, a preposição en (“com”) não é repetida antes de fogo: uma preposição governa o “Espírito Santo” e o “fogo”, e isso normalmente sugere um conceito unificado, Espírito-fogo, ou algo semelhante (cf. M.J. Harris, DNTT, 3.1178; Dunn Baptism [Batismo], p. 10-13). No Antigo Testamento, fogo, com frequência, tem uma conotação purificadora, não destrutiva (e.g., Is 1.25; Zc 13.9; Ml 3.2,3). O batismo de água de João relaciona-se com arrependimento; mas aquele de quem ele prepara o caminho administrará o batismo de Espírito-fogo que purifica e refina a pessoa. Em uma época na qual muitos judeus sentiam que o Espírito Santo fora removido até a era messiânica, esse anúncio só podia ser saudado com animada antecipação[5].

Minha conclusão é: Baseado simplesmente na gramática grega o argumento de dois batismos, um com o Espírito e outro com fogo, cai por terra! ὑμᾶς = hymãs = “vos” se refere às pessoas que estão sendo batizadas por João e que recebem a promessa do batismo, por isso elas não podem ser ao mesmo tempo batizadas com o Espírito para salvação (visão tradicional) ou para revestimento (visão pentecostal) e ao mesmo tempo batizadas com fogo para condenação/julgamento ou juízo. A promessa do “batismo com o Espírito Santo e fogo” é para aqueles que são “batizados com água, para arrependimento”. Também devemos salientar que muitos esquecem que ‘fogo’ no Antigo Testamento não está relacionado exclusivamente ao julgamento, mas, principalmente relacionada a promessa do derramamento do Espírito Santo, com purificação (cf. Is 1.25; 6.6-7; 4.4; Ml 3.2-3). A conclusão sábia e clara no texto é que o batismo com Espírito Santo E fogo, regida por UMA ÚNICA preposição grega (en = em/com), e tendo em mente o pronome pessoal[6] (hymãs = vos), normalmente sugere um conceito unificado, “Espírito-fogo”, que, concordando com João Calvino[7], se cumpriu no Dia de Pentecostes, pois “apareceram, distribuídas entre eles, línguas como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles” (At 2.3).
Leon Morris, respeitadíssimo erudito do Novo Testamento, depois de analisar outras interpretações, conclui: “são as mesmas pessoas [hymas = “vos”] que são batizadas com o Espírito Santo e com fogo (e os dois são governados por um en no grego). Parece melhor ver João pensando em aspectos positivos e negativos da mensagem do Messias. Aqueles que o aceitam serão purificados como por fogo (cf. Mal. 3.1 e segs.) e fortalecidos pelo Espírito Santo”[8].
Mesmo sabendo que outros eruditos, como Robert Stein[9], advogam que “fogo” se refere ao julgamento ou juízo, entendo que não seja errado ou um malabarismo hermenêutico do pentecostalismo afirmar que se refere a um único batismo, “Espírito-fogo”, cumprindo-se no Dia de Pentecostes. Acrescento como pentecostal que tal batismo é para todos os salvos como uma obra subsequente da salvação como Pedro esclareceu em Atos 2.39: “[...] para vós outros é a promessa [At 1.4-5], para vossos filhos, e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus chamar”. Mesmo sabendo que o pastor Marcos Granconato fez gracejos em um de seus vídeos quando um pentecostal afirmou que foi batizado (ou que crê) com Espírito Santo E FOGO! Granconato não fez exegese, apenas gracejo! Baseou-se em sua crítica em caricaturas, não em argumentos da teologia pentecostal. Por isso, sua explicação por si só cai por terra! A promessa do batismo com o Espírito Santo E FOGO é para todos os que creem!
Também esclareço que as referências de Mateus 3.12 e Lucas 3.17 fazem menção ao “fogo de julgamento”. Para aqueles que aceitam o Messias, Jesus Cristo, e são batizados em água por causa do arrependimento, recebem a promessa de serem batizados com o Espírito Santo e fogo para capacitação e purificação. Porém, aqueles que rejeitam o Messias serão queimados como “a palha em fogo inextinguível” (Lc 3.17). Veja que a palavra “fogo” é tomada em cada frase (de Lc 3 v.16 e do v.17) com sentidos que a frase-contextual lhes dá. No v.16 refere-se a um fogo purificador; no v.17 refere-se a um fogo de julgamento. Se o sentido de “fogo” no versículo 16 estivesse “obscuro”, então como bons intérpretes nós procuraríamos entender pelo contexto pré-imediato ou pós-imediato, no entanto no contexto da própria frase encontramos o significado.
Sei que cada estudioso advoga estar sendo fiel ao contexto (da frase, pré-imediato, pós-imediato, geral – como Lucas usa a expressão “fogo” e etc.,), porém devemos observar que na prática ou no dia a dia podemos usar uma palavra em duas sentenças sucessivas com significados diferentes, que é o que Lucas e Mateus o fazem, assim creio. Por exmplo, posso usar a expressão “morrendo” com significados diferentes em duas sentenças na mesma fala: “É meu amigo a nossa reunião está se estendendo e estou morrendo de fome! Mas é triste sabermos que muitas pessoas na África estão morrendo de fome de verdade!”. Na primeira sentença “morrendo” está no sentido figurado (eufemismo) para demonstrar que estou com bastante fome e não literalmente morrendo de fome. Já na segunda sentença, a referência é literal, pois pessoas realmente estão morrendo de fome. Veja, que num mesmo fôlego usei a expressão “morrendo” com significados diferentes. Então, afirmou que mesmo usando a expressão “fogo” Mateus e Lucas entendem dois significados: purificação (Mt 3.11; Lc 3.16) e julgamento (Mt 3.12; Lc 3.17).

Na visão pentecostal, nós fazemos a distinção do “batismo com o Espírito Santo” como uma obra subsequente à conversão, do “batismo num só corpo” que se refere à conversão. No primeiro caso, entendemos que o Senhor Jesus batiza o crente no Espírito Santo e fogo para capacitá-lo para a obra do ministério. No segundo caso, compreendemos que o Espírito Santo introduz (batiza, mergulha) o que crê em Jesus como Salvador e Senhor no Corpo dos eleitos – a igreja!
Igualmente, entendemos a distinção das terminologias usadas por Lucas (e Mateus) e Paulo.


[1] RYRIE, Charles C. Bíblia Anotada, p.1274 (nota de rodapé, Lc 3.16). São Paulo, SP, Brasil: Mundo Cristão, 1994.
[2] RYRIE, 1994, p.1186 (nota de rodapé, Mt 3.11).
[3] MCGEE, J. V. (1997). Thru the Bible commentary (electronic ed., Vol. 4, p. 259). Nashville: Thomas Nelson.
[4] PLUMMER, A. (1896). A critical and exegetical commentary on the Gospel according to S. Luke (p.94–95). London: T&T Clark International.
[5] CARSON, D. A. O Comentário de Mateus, pp.135, São Paulo, SP, Brasil: Editora SHEDD, 2010.
[6] Designa as pessoas a quem se dirige.
[7] CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã, vol.3, pp.164. Editora Cultura Cristã.
[8] MORRIS, L. (1988). Luke: an introduction and commentary (Vol.3, p.114–115). Downers Grove, IL: InterVarsity Press.
[9] Cf. STEIN, R. H. (1992). Luke (Vol.24, p.134–135). Nashville: Broadman & Holman Publishers.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

A VOZ DO ESPÍRITO SANTO PELAS ESCRITURAS E DIRETAMENTE!


 O Espírito Santo fala com a igreja!

Nós pentecostais acreditamos que o Espirito Santo fala conosco principalmente por meio das Escrituras pela Sua obra de iluminação dos textos Sagrados que Ele mesmo revelou e inspirou (cf. 1Co 2.9ss). Nós também acreditamos que o Espírito Santo fala, orienta e direciona os crentes pessoalmente por vários meios que Ele soberanamente utiliza: sonhos, visões, profecias, línguas e interpretação de línguas, impressão de certa verdade ou palavra na mente, certezas sentadas no coração e etc.,
Particularmente creio que seja assim, pois o Novo Testamento, especialmente o livro de Atos nos descreve. O teólogo Leon Morris faz a precisa descrição da orientação do Espírito Santo:
Há muitas referências à orientação que o Espírito Santo deu aos servos de Deus. Jesus disse aos Seus seguidores que não ficassem ansiosos quando fossem levados perante tribunais hostis, porque o Espírito Santo lhes ensinaria o que dizer (Lc 12.11-12). A impressão que os primeiros cristãos causaram em seus juízes (p. ex., At 4.13) mostra como isso funcionava. Eles encontravam a voz do Espírito também nas Escrituras: o Espírito falou por Davi (At 1.16; 4.25) e Isaías (At 28.25). Ele também falava às pessoas da época, a exemplo de Simeão (2.26), Filipe (At 8.29) e Pedro (At 10.19; 11.12). O Espírito falou à igreja em Antioquia (At 13.2) e iniciou a primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé.
Há uma consciência clara tanto da presença do Espírito quanto da capacidade de discernir Sua orientação ao formularem a decisão do Concílio de Jerusalém: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós...” (At 15.28). Semelhantes a essas são as palavras de Pedro e dos outros apóstolos: “Nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo...” (At 5.32).
O Espírito está em evidência no relato da ida de Paulo para Jerusalém. Ao terminar seu trabalho em Éfeso, ele “resolveu, no Espírito”, ir para Jerusalém (At 19.21). O fato de ele ter ido “compelido pelo Espírito” (At 20.22, NVl) parece significar que ele estava sendo obrigado pelo Espírito a fazer a viagem, apesar de não saber qual seria o resultado. Contudo, ele sabia um pouco das dificuldades que teria pela frente, pois disse: “O Espírito Santo, de cidade em cidade, me assegura que me esperam cadeias e tribulações” (v. 23). Em Tiro havia cristãos que, “movidos pelo Espírito, recomendavam a Paulo que não fosse a Jerusalém” (At 21.4); isso é uma constatação que nos deixa perplexos, pois era por compulsão do Espírito que Paulo estava a caminho de lá. Provavelmente o Espírito lhes revelou que Paulo iria sofrer em Jerusalém e, angustiados com isso, fizeram pressão para que ele não fosse. Marshall explica assim o fato: “Ê possível que os discípulos em Tiro não estivessem bem informados dos aspectos mais detalhados da predestinação, e assim pensaram poder dizer a Paulo: 'Se é isso que vai lhe acontecer, não vá”'[1]. Vemos uma situação parecida em Cesaréia, onde, quando o profeta Ágabo tomou o cinto de Paulo, amarrou-se com ele e disse: “Isto diz o Espírito Santo: assim os judeus, em Jerusalém, farão ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios” (At 21.11), os cristãos do lugar insistiram com Paulo para que não fosse. Todavia, naturalmente ele achou que devia obedecer à orientação do Espírito, mesmo que isso significasse sofrimento. Por acaso, encontramos Ágabo em outra ocasião, e ali, como aqui, ele previu o futuro com exatidão, “pelo Espírito” (At 11.28).
No ministério de Paulo e Silas temos um exemplo muito interessante de como o Espírito dirigia os crentes. Depois que Paulo e Silas tinham “percorrido a região frígio-gálata", o Espírito os proibiu de pregar na província da Ásia, e eles foram para a Bitínia, mas novamente o Espírito não o permitiu. Então Paulo teve uma visão em que um macedônio lhe pedia ajuda, e todos os cristãos concordaram que era nessa direção que o Espírito os estava dirigindo (At 16.6-10). Não nos é informado como eles sabiam que o Espírito os estava proibindo de ir para a Ásia e a Bitínia, mas os missionários tinham certeza disso. A orientação não sobreveio a todos ao mesmo tempo. Eles tentaram mais de um caminho antes de descobrir aonde o Espírito queria que eles fossem.
O Espírito, portanto, estava muito atuante, dirigindo e orientando os primeiros crentes. Ele também "arrebatou” Filipe após o batismo do funcionário etíope (At 8.39). Ele “enviou” os missionários (At 13.4). Ele deu “conforto” à igreja (At 9.31) e “constituiu bispos” sobre ela (At 20.28).
Há uma consciência clara tanto da presença do Espírito quanto da capacidade de discernir Sua orientação ao formularem a decisão do Concílio de Jerusalém: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós...” (At 15.28). Semelhantes a essas são as palavras de Pedro e dos outros apóstolos: “Nós somos testemunhas destes fatos, e bem assim o Espírito Santo...” (At 5.32).[2].
Deus Espírito Santo falava e agia poderosamente nas igrejas, na vida e ministério dos cristãos do 1º século. Nós pentecostais acreditamos que o Espírito Santo continua atuando semelhantemente. Não cremos que tais ações do Espírito Santo tenham ficado num passado distante para se tornar arquivos mortos. Não! Assim como um corpo sem o espírito é morto, uma igreja sem o Espírito Santo é morta!

A Pessoa e a Obra do Espírito Santo não podem ser desprezadas!
A partir de tudo isso se conclui que o Espírito é um personagem muito importante, que não deve ser desprezado. Jesus ensinou que uma palavra proferida contra o Filho do Homem podia ser perdoada, mas que quem blasfemasse contra o Espírito Santo não teria perdão (Lc 12.10). Esse pecado é maior do que a mera pronúncia de palavras; é um modo de pensar e viver que se recusa a tratar o Espírito como santo, que o descarta e o rejeita. Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo (At 5.3) e “entraram em acordo para tentar o Espírito do Senhor” (v. 9). Sua punição exemplar não foi por causa da mentira, mas pela atitude dos dois em relação ao Espírito Santo. E Estêvão se queixou de que seus acusadores sempre resistiam ao Espírito, do mesmo modo como seus antepassados (At 7.51). Para Lucas, é importante ter a atitude certa em relação ao Espírito.

O Livro de Atos registra um período empolgante na vida da igreja. Está claro que Lucas via o Espírito como vivo e atuante, cuja presença iluminava e inspirava a igreja. Distorcer ou passar por cima desse ensino significa deixar de lado o único elemento que capacita a igreja de Deus para o trabalho ao qual ela foi chamada e que lhe permite ser a igreja que deve ser.
Não despreze o Espírito Santo!
Como pentecostal não quero nada que não venha do Espírito Santo, mas também não quero negligenciar nada que venha d’Ele!

Ivan Teixeira
Minha consciência é escrava da Palavra!




[1] MARSHALL, I. Howard. The Acts of the Apostles, Leicester, 1980, p.339 (publicado no Brasil por Edições Vida Nova com o título Atos: introdução e comentário).
[2] MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento, p.233-234. São Paulo, SP, Brasil: Edições Vida Nova, 2003.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

AMADURECIMENTO DO PENTECOSTALISMO


Os movimentos de avivamentos, reformas e despertamentos tendem a amadurecer com o tempo; foi assim com a Reforma e também com o Pentecostalismo.
Os ensinamentos da Primeira das Ondas [Pentecostalismo Clássico] do despertamento do Espírito Santo do século XX foram delineados oportunamente. Desenvolvimentos doutrinários foram formulados principalmente em resposta a experiências religiosas e interagindo com as narrativas do livro de Atos. A compreensão radical wesleyana da santificação como a conquista da perfeição cristã como uma etapa inicialmente caracterizou o movimento, mas foi seriamente desafiada pela visão de William Durham da obra acabada de Cristo. A teologia da subsequência, no entanto, ainda era mantida, já que a experiência difundida da glossolalia era vista como a porta de entrada necessária para a vida no Espírito (ou evidência física inicial do batismo no Espírito). Desta forma, o movimento permaneceu vulnerável a uma divisão elitista dos crentes em dois campos, um espiritualmente superior ao outro.
No entanto, o significado doutrinário positivo desta Primeira Onda [Pentecostalismo Clássico] é difícil de superestimar. Além disso, as forças de amadurecimento da inevitável autocorreção já estavam em vigor em um movimento no qual o amor a Deus e às Escrituras era primordial. O próprio Cristianismo passava por uma autocorreção, libertando-se do binarismo funcional [ênfase apenas nas pessoas do Pai e Filho] através desse despertar global [uma séria preocupação da Pessoa e Obra do Espírito Santo]. A vida completa no Espírito, completa com a gama de carismas do Novo Testamento, estava sendo abraçada novamente depois de muitos séculos de negligência [O Espírito Santo foi considerado a "Cinderela da Teologia”]. A ocorrência das curas atuais abalava as fundações das teorias protestantes conservadoras do cessacionismo, e o milagroso estava sendo reintegrado à vida cristã normal.
Em todas as tradições confessionais, um período de amadurecimento é normalmente requerido para trazer o fervor inicial e o depósito doutrinário frequentemente desequilibrado desse fervor para um alinhamento mais próximo com as Escrituras. O Pentecostalismo não foi exceção. Dado o ambiente cultural do modernismo e seu impacto devastador sobre toda a Igreja - especialmente através da eliminação da dimensão sobrenatural - não é de surpreender que o dom de línguas racional ou não-racional pudesse ser usado por Deus para refrear a arrogância do intelectualismo humano tão incrustado nas paredes do pensamento e teologia das Igrejas Tradicionais da época. Infelizmente, isso levou a que esse dom fosse elevado além da garantia bíblica. Como o movimento continuou, isso se tornaria uma questão importante, como é visto nas reflexões sobre a Segunda Onda [Renovação Carismática]. O que permanece primordial, no entanto, foi o retorno do fervor evangelístico, lutando pela santidade, a abertura a todos os dons do Espírito e a capacitação espiritual para viver a vida cristã. Este é o legado inquestionável da Primeira Onda [Pentecostalismo Clássico][1].

IVAN TEIXEIRA.


[1] LIDERLE, Henry I. Theology With Spirit: The Future of the Pentecostal & Charismatic Movements in the 21 Century, p.106-107. Public by Word & Spirit Press, Tulsa, Oklahoma, USA: 2010. (format epub).

As raízes modernistas da rejeição do pentecostalismo


PONTO CENTRAL: A rejeição inicial do movimento pentecostal por muitos da herança protestante do início do século XX se deu não por um estudo exegético das Escrituras, mas pela influência das proposições do modernismo (pressuposiçõe filosóficas) que naquela época estava tão encrustado na parede do pensamento deles que foi difícil removê-los, mas mesmo com todo esse antagonismo as poderosas ondas do pentecostalismo bateram de frente removendo as grandes crostas! Que vitória! Como diz um de nossos corinhos: "Se essa obra é de Deus ela não pode parar!". (Ivan Teixeira).
A reação extrema contra a rejeição total da Rua Azusa e sua total rejeição por parte de alguns crentes evangélicos comprometidos não podem ser adequadamente entendidas como uma resposta às inovações teológicas do movimento (que eram relativamente pequenas). Os novos ensinamentos do movimento pentecostal não eram totalmente estranhos à tradição cristã e podiam ser ilustrados e apoiados no livro de Atos, nas cartas de Paulo e na experiência da Igreja primitiva. Houve, reconhecidamente, sérios questionamentos sobre a exegese de várias passagens importantes dos primeiros líderes pentecostais, mas suas visões não pareciam colocá-las além dos limites aceitáveis ​​da diversidade doutrinária dentro da tradição cristã. Praticamente toda Comunhão Cristã teve algum ensinamento que muitos outros cristãos acharam estranho: a visão católica romana sobre a infalibilidade papal para pronunciamentos oficiais e a assunção de Maria ao céu; o ensino calvinista sobre expiação limitada e a dupla pré-destinação (uma ordenação de Deus do povo tanto para o céu como para o inferno antes da fundação da terra); a posição Wesleyana sobre a santificação, como a erradicação instantânea da raiz do pecado do coração humano - para mencionar apenas alguns exemplos - tem sido questionada por outros cristãos sem rejeitar estes agrupamentos confessionais.
O pentecostalismo, no entanto, foi encontrado em muitos lugares por críticas vingativas e uma censura estridente e total [E lamentavelmente isso acontece hoje!]. O auge dessa reação, talvez, foi a Declaração de Berlim de 1909, em que as associações evangélicas e pietistas da Alemanha declararam publicamente que “o movimento de línguas” da Califórnia emanava “de baixo”, referindo-se, é claro, ao reino demoníaco. Manifestações carismáticas foram consideradas como sinais de desequilíbrio mental, ou mesmo insanidade. Um proeminente pregador norte-americano chamou o movimento pentecostal de “o último vômito de Satanás”, e reportagens de jornais em Los Angeles usaram frases inflamatórias como “um amálgama de vodu africano e insanidade caucasiana”.
Essa rejeição fanática do pentecostalismo inicial causou muito dano. Isolou os pentecostais e os transformou contra a cultura, como se vê, especialmente, nas fortes posições anti-intelectuais e anti-médicas que expressaram nas primeiras décadas do século XX. O ridículo e a perseguição dos “santos roladores”, “balbuciadores histéricos” e assim por diante, desencadearam ou fortaleceram uma mentalidade de perseguição e uma mentalidade de “Cristo contra a cultura” entre os primeiros pentecostais. Em muitas igrejas tradicionais, eles eram tratados como párias e classificados como sectários ou cultos.
A causa fundamental dessa censura equivocada deve ser encontrada, não na teologia, mas, antes, no fato de que os pentecostais estavam questionando as mais básicas pressuposições filosóficas da cultura modernista. Cristianismo protestante, após um século ou dois de interação com formas deístas e naturalistas do modernismo científico, eventualmente, ficou cara a cara com sua herança de sobrenaturalismo e decidiu que era muito caro e embaraçoso para ser mantido. O esqueleto da crença em sinais e maravilhas milagrosos foi armazenado de forma segura no armário dos fundos, a fim de obter respeitabilidade intelectual na sociedade moderna. Alguns duvidavam que os milagres dos Evangelhos já tivessem ocorrido, enquanto outros - mais evangélicos e conservadores em sua doutrina da Escritura - mantinham firmemente a crença no sobrenaturalismo nos tempos bíblicos, mas evitavam o embaraço contemporâneo ao relegar todos esses fenômenos ao passado obscuro e distante. O cristianismo moderno caricaturou o pentecostalismo de forma abusiva porque o pentecostalismo abalou as próprias fundações do modernismo- o paradigma e a estrutura difundidos que o modernismo cristão tinha lutado para desenvolver ao longo de vários séculos, à medida que se acomodava ao racionalismo científico secular da época.
A atração e ameaça do pentecostalismo era precisamente esta: aqui estava uma nova e vibrante linhagem do cristianismo que pretendia representar uma fé apostólica, manifestando o mesmo poder miraculoso do Espírito Santo do primeiro Pentecostes de Atos 2. Foi esse testemunho que trouxe centenas de milhares de visitantes para a Azusa Street. Esta mensagem pentecostal tocou um nervo cru e incomodou a consciência desconfortável dos cristãos modernistas. Muitos cristãos conturbados reconheceram que a Igreja havia comprometido a verdade do evangelho ao entregar sua crença nos dons sobrenaturais do Espírito em sua ânsia de se encaixar em seu contexto cultural e ser aceita nos corredores da academia secular. Diante do crescente interesse entre a população no reavivamento pentecostal e sua afirmação desarmante de que Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje, (Hebreus 13.8), os cristãos modernistas tendiam a responder emocionalmente e a ridicularizar e isolar os cristãos pentecostais, considerando-os heréticos e satanicamente influenciados ou, na melhor das hipóteses, sectários. Essa rejeição gerou mais uma reação prejudicial: o surgimento do pentecostalismo de visões extremas ou desequilibradas. Como resultado, levaria de trinta a quarenta anos para que os não-pentecostais levassem a sério os ensinamentos desse novo movimento de reavivamento. Essa atitude favorável em relação ao pentecostalismo ocorreu no que ficou conhecido como a Segunda Onda ou o movimento de Renovação Carismática denominacional das décadas de 1960 e 1970. Ao mesmo tempo, as primeiras igrejas pentecostais estavam amadurecendo em seu pensamento teológico.
O termo “pentecostalismo clássico” foi cunhado pelo ecumenista católico Kilian McDonnell para distinguir o movimento pentecostal original dos movimentos posteriores. A veemência da reação contra o Pentecostalismo Clássico é uma ilustração do livro de registro de como os fatores não-teológicos - neste caso , filosóficos - frequentemente se tornam primordiais nas lutas entre as igrejas cristãs. Como um paralelo histórico, considere a atenção excessiva dada ao pequeno movimento sociniano nos tratados teológicos do século XVII. Em última análise, a luta não foi tanto sobre os argumentos teológicos ou a influência social dos seguidores do reformador italiano, Faustus Sozzini, trabalhando na Polônia, mas sim sobre os pressupostos filosóficos e epistemológicos que eles representavam. Os socinianos foram os primeiros a criticar o sobrenaturalismo bíblico a partir de uma perspectiva modernista e, como resultado, todos os apologetas ortodoxos da época deram às heresias socinianas uma atenção desproporcional. A explosão do pentecostalismo no começo do século XX representa o inverso desse movimento. Os socinianos, com sua negação de todos os aspectos sobrenaturais do cristianismo, podem ter sinalizado o início do modernismo desenfreado na Igreja, e o despertar da Rua Azusa, com seu sobrenaturalismo desenfreado, pode de fato ter sinalizado o fim iminente da era moderna e o começo da pós-modernidade!

By Henry I. Lederle em Theology With Spirit: The future of the Pentecostal & Charismatic Movement in the 21a Century (copyright 2010). Publicado pela Word & Spirit Press, Tulsa, Oklahoma, USA.

UM GRITO PELA SANTIDADE!

MEU LAMENTO!
O veterano historiador da Igreja Vinson Synan, o especialista indiscutível neste campo, concluiu que é seguro dizer que o pentecostalismo na América "nasceu em um berço de santidade".
E hoje lamento que a busca pela santificação tem diminuído ou, me arrisco, até desaparecido em nosso meio pentecostal.
Lembro-me prazerosamente que nos anos 90 nós os jovens novos convertidos eram exortados a viver uma vida de santificação visto que o Senhor Jesus poderia voltar a qualquer momento. Isso era marcante e poderoso no testemunho público!
Hoje, sob influências de outras vertentes e movimentos, o pentecostalismo tem sofrido de uma imoralidade marcante no meio dos seus líderes, pregadores e membros. Alguns críticos aproveitam a maré baixa da santificação no meio dos pentecostais e tentam ridiculizar e desacreditar o pentecostalismo como se o mesmo tivesse como fundamento a falta de santificação. Isso é desonesto e não bíblico!
Agora, como pentecostal, lamento pela escassez da santidade e da busca de santificação em nossos arraias. Todavia, como pentecostal exorto o povo de Deus a voltar-se para as raízes bíblicas do pentecostalismo.
Não é estranho que anos atrás certo pentecostal, pastor José Armando S. Cidaco, escreveu um livro com o título: UM GRITO PELA SANTIDADE! (ANO 1999, CPAD).
O nobre pastor exorta: "A santidade gerada pela Palavra de Deus devolver-nos-á o poder de que tanto precisamos para sacudir uma sociedade que jaz enferma pelo pecado e pela corrupção. Na verdade, nunca houve um reavivamento autêntico sem que antes tenha havido um retorno à Bíblia como única regra de fé e prática. Em tempos de reavivamento, a Palavra tem um lugar de destaque na vida dos cristãos. É ela, e não os discursos humanos, que norteia a vida da Igreja de Cristo".
Precisamos entender que somente um povo santo poderá ser usado por Deus para mudar o rumo que as coisas estão tomando. Apesar de todo o avanço tecnológico que possa ser usado para fazer o Cristianismo acontecer, não devemos nos esquecer que Deus está primordialmente buscando homens, mulheres e jovens, que expressem, no seu dia-a-dia, aquilo que pregam. É cada vez maior o número de crente que pregam algo de tremendo, mas vivem algo horrível.

IVAN TEIXEIRA!